B de Cloaca
Seu Almério, com o tempo, acabou virando o motorista oficial da Garibaldi. Meu sobrinho-neto só aceita andar no amarelinho do Amélio, como ele o chama. Aldir e Moacyr também só andam com ele.
Ano passado, quando fui buscar o João na creche, comentei com Almério sobre quantos ídolos meus já haviam se sentado em seu táxi. Ele enumerou com um sorriso o nome de diversos. Depois, sem perceber a importância do que proferia, declarou que na próxima quinta-feira, tinha combinado de apanhar o Chico Buarque na Barra e trazê-lo para um encontro com o pessoal daqui.
Tomei um choque e fiquei paralisado. Quando, enfim, me recuperei do impacto, pedi ofegante para avisar-me a hora, mas ele disse que não diria, por uma questão de ética.
Calei-me e bolei um plano. Resolvi esquecer meu livro PreTextos no banco do táxi. Avisei ao Almério e ele concordou que a distância provoca o tédio, e a curiosidade de abrir um livro é sempre grande.
Na quarta deixei meu livro no táxi.
Na sexta liguei pra saber:
— E aí, o Chico leu?
— Não.
— Nem abriu?
— Não.
— Por quê?!
— Ele sentou em cima.
— Jura?
— Ahã...
— Onde está o livro?
— Aqui, todo amassado.
— Com a bunda do Chico?!
— Sim!
— Vou correndo buscá-lo. Nem o Paulo Coelho tem um livro com esse selo.
A banda do Chico passou e eu não segui, mas a bunda dele ficou.
Atualmente, este livro dorme na minha cabeceira. Todas as noites eu me imagino a Geni.
Você, que está me lendo agora, pode jogar pedra, pode cuspir.
Autor: Lucas Leal Barrozo
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