A Formação Permanente Do Educador



Para pensar num sistema educacional que promova uma prática pedagógica divergente das tendências atuais, é preciso, segundo uma visão holística, repensar a gênese do projeto pedagógico. É necessário, também, reformular sua análise sob os ângulos do desenvolvimento organizacional, que abrange, além da capacitação do docente, a missão, visão, valores, premissas da instituição e sugestões para a sua implementação. No entanto, a partir do momento em que começamos a conceber uma escola de prática diferenciada com maior isenção e menor espírito de autodefesa, somos capazes de antever. Diríamos até, com certa precisão, que o desequilíbrio existente entre a cronologia biopsicossociológica e o tempo das realizações, na esfera profissional, está com os seus dias contados.

É claro que o reconhecimento do descompasso não tem o poder de diminuir a inquietação gerada no corpo diretivo, docente, discente e na comunidade. Porém a esperança se infiltra quando nos damos conta de que, na nova ordem econômica e social, o futuro pertence àqueles que o estão construindo hoje. Portanto, ao iniciarmos a caminhada da escola que temos hoje para a escola que queremos, faz-se necessário um plano de ação mais abrangente que nos norteie e oriente.

Sem dúvida, um bom começo para a mudança seria a capacitação do pessoal docente, com uma ação estratégica e processual capaz de criar um programa de Formação Permanente do educador. Sua implementação nas instituições de ensino deve partir do pressuposto de que todo educador precisa ser um pesquisador de sua prática pedagógica imediata e ir até as raízes do conhecimento, construindo uma fundamentação teórica de qualidade. Só assim esse profissional estará capacitado para sair do senso comum e da sua realidade, para se tornar um visionário da realidade social.
Na realidade da escola ou universidade adequada à sociedade atual, só as adaptações tecnológicas e organizacionais não conseguem mais responder aos desafios de competitividade; a vantagem competitiva, capaz de projetar no mercado a escola moderna, está na qualidade, na produtividade e na inovação, enfim... nas pessoas.

Estamos na década das "pessoas" e das grandes transformações. As escolas, assim como todas as outras entidades e organizações, estão no mundo, fazem parte deste grande contexto global de mudanças. Essa é a grande visão que desponta no cenário educacional: os professores precisam comandar as mudanças, em vez de serem levados por elas. Quem sabe aonde quer chegar pode contribuir mais com o resultado da empresa. A escola de hoje requer um professor mais crítico, criativo, que participe, que empreenda. Um professor mais inteiro e com mais consciência profissional. O que fazer? Como conseguir que o educador da minha escola garanta essa vantagem competitiva? Promovendo a conscientização de que ele não é simplesmente agente de mudanças, mas um agente nas mudanças fazendo parte delas, não sendo apenas um catalisador do processo. Isso exige uma reformulação na sua prática pedagógica e na concepção do ato de educar.

Se, na filosofia emergente de educação, a ação de educar pode ser concebida como meio de desenvolvimento integral do aluno, o professor deverá ser o elemento estimulador das múltiplas linguagens e inteligências, percebendo o conhecimento de forma não-linear. Se visto como agente formador da consciência crítica do aluno, terá, antes de tudo, de se dar tratamento crítico diante dos conteúdos trabalhados. Lembramos ainda que, no ambiente da escola conservadora, o compromisso maior do professor era com o trabalho em si, com sua execução, não com seu resultado. O professor tinha de estar ocupado cumprindo planos, não pensando sobre sua prática.

No momento em que satisfizer as necessidades do cliente é fundamental para sobrevivência num mercado cada vez mais competitivo, as abordagens que criam condições para o alcance de melhores resultados precisam estar em foco: a reflexão da ação, o aperfeiçoamento da prática e a inovação. Nesse novo contexto, a preocupação com a formação permanente do educador deve, em sua ação mais específica, conseguir que todo o grupo se comprometa com a qualidade de seu trabalho, com os objetivos da organização e com a satisfação dos verdadeiros interesses dos parceiros.
Cabe, portanto, à organização, estabelecer claramente quais os resultados esperados da função do docente e das diversas áreas, ressaltando a sua importância para a instituição. Além disso, terá de envolvê-lo na formulação desses objetivos e nas formas de atingi-los. A formulação de estratégias para essa capacitação é um grande desafio. A implementação de ações coerentes com as estratégias exige muita coragem. Propor a mudança, descortinar o norte organizacional e pedagógico, gerar no grupo a sua visão, o seu sonho, a sua forma de caminhar‚ mais que treinar ou capacitar, é conscientizar que a qualidade de que tanto falamos está situada na relação entre o homem e o mundo. Queremos dizer que ela não está centrada nem no homem nem nos objetos, mas se apresenta como mediadora em todos os âmbitos na vida do homem e do educador, cobrando-lhe continuamente uma atitude de coerência e respeito em todos os seus atos de inter-relação com os outros homens e com o mundo.

Enfim, só poderemos esperar que o professor se disponha a projetar qualidade na sua obra, se primeiro o ajudarmos a entender as transformações que a qualidade pode proporcionar.

Gostaria de terminar nossa conversa citando Joseph Campbell, em O Poder do Mito, 1988: "Heróis são as pessoas que se afastam da senda traçada pela tradição e ingressam na floresta densa da experiência original. A coragem de enfrentar julgamentos e trazer um novo conjunto de possibilidades para o campo da experiência para ser experimentado por outras pessoas é a façanha do herói".

Autor: Maria Tavares Christóvam


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