A ética nossa de cada dia



Há um fato, no mínimo curioso, que não pude deixar de notar. Vasculhando comunidades sobre o curso de direito no site de relacionamentos “Orkut”, encontrei uma nomeada assim: Odeio estudantes de direito. Pois é, diante disto quis saber o porquê desse “ódio”. No geral as pessoas dizem, e não só na internet, que os estudantes de direito se acham melhores que os estudantes de outras áreas, que se consideram a “nata da sociedade”, que sofrem de “juizite” ou “procuradorite” antes mesmo de concluírem o curso.
Não pretendo defender nada e nem ninguém. Creio que esta defesa só deve ser incumbida a quem se comporta desta maneira. Penso também que as pessoas tendem a generalizar sempre e sempre. A falta de ética pode ser observada em todas as classes sociais, em todos os cursos, em todas as profissões, porém ela se torna ainda mais melodramática quando os personagens principais são os tais estudantes de direito.
Quando um estudante de direito está envolvido em algum escândalo de corrupção, algum crime, a sociedade se vira contra TODOS os que pertencem ao curso para então, tentar tirar satisfações. Até mesmo essa comunidade, incitando valores negativos a uma determinada classe de estudantes, com certeza não parece ser nem um pouco moral. Mas... Será que esse ódio realmente foi criado pelos nossos atos?
Realmente não sei responder, não sei se desde o começo o Brasil “nasceu” errado. Se o curso de direito está errado. Se a forma de como aprendemos a lidar com as pessoas está errado. Se as ciências jurídicas sempre foram um mecanismo de controle e contenção das minorias ou vice e versa... A única coisa que sei, é que quero mudar essa imagem que a população tem dos estudantes de direito, dos profissionais do judiciário, dessa falta de confiança e até mesmo agressividade com quem somos tratados.
E para tanto, é necessário criamos uma coisa chamada autocrítica. Ninguém é suficientemente suficiente. Senão Deus teria criado apenas um ser nessa vasta imensidão universal. Não é porque “engolimos” leis e teorias que tão pouco concordamos durante a faculdade, que precisamos estar inertes e apáticos quanto aos problemas sociais da nossa cidade. O curso de direito, caso já tenham esquecido é mais uma ferramenta na resolução de conflitos e na conservação do bem estar social.
Acima das leis escritas pelo homem, de toda pompa, posição social, dinheiro, status social, o estudante de direito tem que perceber que está ali, estudando esses cinco anos e pelo resto de sua vida para tornar a justiça social efetiva. Mas a nossa visão ética (não só dos estudantes de direito) está distorcida. Os nossos valores estão trocados. Muitos querem exercer cargos no poder judiciário para serem respeitados (?) ou ainda para se satisfazerem enquanto podem se sentir superiores aos outros que ali necessitam de sua ajuda (!). Deixando dessa forma, talvez esse ódio demonstrado em sites de relacionamento só seja o resultado da ética (ou falta dela) que nos foi ensinada durante esses longos anos acadêmicos.
A nossa aprendizagem se demonstra puramente técnica. Fiz vestibular para direito porque sempre gostei de história. Estive em choque, negando o direito por um bom tempo, até perceber, com a ajuda de bons colegas, que nós podemos sim fazer diferente. Fazer o Brasil perder a face de país do “jeitinho” e fazer o curso de direito perder a cara de curso para elites, sendo que este é o curso que verdadeiramente procura amenizar as distorções sociais, não podemos mais aceitar juristas que apenas decorem o direito e sejam tão amorais que não percebam sua verdadeira função na sociedade.
Autor: Joyce Camargo Fukushima


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