Todo o Poderio Bélico da China



Há algumas semanas foi anunciada, pelo Governo Chinês, a intenção de reduzir os gastos militares do país a um percentual inferior a 10% do orçamento nacional. Ao revés do que muitos pensam, é motivo de preocupação, e não de alívio.

O Partido Comunista Chinês chegou ao poder, em 1949, após uma sangrenta guerra civil contra os adversários nacionalistas liderados pelo general Chiang Kai-Chek, que fugiu para Taiwan e ali fundou uma república seccionada da China Continental. Por isso, Pequim não reconhece Taiwan como um país independente, considerando-a uma província rebelde.

Em virtude da forma como chegou ao poder e de sua própria necessidade de reprimir brutalmente qualquer dissidência em um país com 1,4 bilhão de habitantes, bem como das constantes ameaças de reanexar Taiwan à força, o regime chinês é essencialmente bélico. Ocorre que tal empreitada, desde a secessão de Taiwan, ainda não ocorreu em virtude do histórico compromisso dos EUA (que já haviam derrotado a China e a Coréia do Norte em uma coalizão internacional legitimada pela ONU na Guerra de 1950-1953) com a defesa da ilha.

Por isso, a redução do orçamento militar chinês, após décadas de ostensiva escalada armamentista, faz com que o mundo deva estar em alerta máximo: afinal, mostra claramente que as Forças Armadas da China (cujo Partido-Estado não mostra a menor evidência de distensão nas relações internas e exteriores,e, por isso, não vai abdicar de sua propalada soberania sobre Taiwan) podem ter atingido um nível tecnológico e estratégico similar às dos EUA (razão pela qual, em meio à crise financeira internacional, o Partido Comunista se mostra à vontade em reduzir gastos nesse setor sem sentir que quaisquer objetivos militares fiquem ameaçados), e com as vantagens de um contingente muito maior de militares ativos e de potenciais reservistas. Por isso, as perdas materiais e humanas dos EUA em um eventual confronto militarmente convencional com a China seriam absurdamente grandes (não haveria risco de guerra nuclear, já que os dois países são potências atômicas e sabem que sofrer uma retaliação atômica também significaria a própria aniquilação total).

Os EUA sabem tudo isso, e, com o desgaste provocado pelas recentes perdas no Iraque e no Afeganistão, bem como pelo interesse em conquistar ainda mais o numericamente maior mercado consumidor do mundo, não farão nada quando a China invadir Taiwan. Não se arriscarão cumprindo um acordo oriundo da Guerra Fria, quando o grande dragão asiático era, de fato, um país de economia socialista e os EUA deslocavam militares para qualquer canto do planeta a fim de impedir a expansão da ideologia marxista.

Taiwan está só. O poder do Partido-Estado chinês contaminou o mundo e um número reduzido de países reconhece a ilha como uma nação independente. Resta saber se, quando a invasão ocorrer, ao menos haverá uma condenação moral em nível internacional ou se a absoluta ausência de liberdade de expressão e manifestação de pensamento que vigora na China Continental já se expandiu, pelo medo, para além de suas fronteiras.

Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho
Autor: Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho


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