Alguns recusam o empréstimo da vida para evitar o débito da morte



A frase título deste texto foi escrita pelo psicólogo Otto Rank, nascido no ano de 1884 e falecido em 1939. Mesmo sendo escrita há mais de décadas, acredito que esta frase nunca será antiga e fora de contexto, pois se trata de um assunto que sempre estará presente na vida de todas as pessoas: a morte.
Refletir sobre a vida é mais fácil, ela está presente, estamos vivenciando-a. Mas quando falamos sobre “débito da morte”? Acredito que a palavra morte, assusta muitas pessoas. Poucas pessoas gostam de sentir o gosto dessa palavra em suas bocas e o som dela em seus ouvidos. Afinal nunca a vivenciamos e este é o grande mistério, o que acontece quando ela chega?
No entanto, desde criança a morte está presente e começamos a percebê-la. Mas ela se passa como algo muito distante de nós, ocorre quando algum animal de estimação morre ou quando morrem nossos avôs, no entanto, quando crianças, não temos consciência exata de sua grande imensidão.
E o medo da morte começa a surgir quando começamos a tomar consciência de que ela não está tão distante, quando nossos amigos e conhecidos falecem, nossos familiares e até mesmo pessoas da nossa idade ou mais jovens. Nós percebemos que ela está se aproximando quando começam a surgir doenças graves devido à idade ou não, quando chega à aposentadoria ou mesmo por qualquer outro motivo que nos mostra frágeis em relação ao tempo e a nossa existência. E então não temos como nos enganar, ela sempre esteve e sempre estará por perto.
Muitas vezes o medo de ela: a morte se aproximar, pode não ser consciente. E como Otto Rank disse, muitos recusam o empréstimo da vida para evitar o débito da morte, ou seja, evitam agarrar as oportunidades que a vida nos oferece porque tudo um dia, no final irá para sempre. Alguns preferem não se casar, pois pode haver uma separação. Preferem não viajar nas férias, pois será um investimento muito grande para pouco tempo. Preferem não ver o pôr do sol, pois ele logo irá embora. Preferem não ter amigos, para não haver uma futura decepção. Preferem não ser gentis, pois a vida pode lhe retribuir sendo amarga. Enfim, preferem não viver, pois no final ela, a morte nos pegará de qualquer jeito e o que passamos será enterrado para sempre junto conosco.
O que fazer então para evitar o débito da morte? Bom, com certeza todos nós um dia, iremos passar pela cobrança do “empréstimo da vida” e lhe pagaremos com a morte. Mas e ENQUANTO isso? Enquanto ela não vem, será que evitando o “empréstimo da vida” não estamos evitando a própria vida? Evitando os amores, as viagens, a contemplação da natureza, as amizades e o contato social com as outras pessoas ao nosso redor não estamos antecipando nosso “débito”?
E quando o dia chegar, quais serão seus arrependimentos? De ter feito demais ou de ter feito de menos? Se arrepender do que fez ou se arrepender do que deixou de fazer? Se arrepender de ter se afastado das pessoas ou de não perceber quão bom é estar perto delas?
O psiquiatra Irvin Yalom em seu livro “Mamãe e o sentido da vida” relata que com sua experiência profissional percebeu que as pessoas que morrem mais felizes são as que melhor viveram suas vidas. E acredito que isso se deve ao fato de que elas não têm grandes arrependimentos por não ter vivido suas vidas. Afinal não precisam se arrepender de ainda não ter dito as pessoas ao seu redor como as ama, pois já disseram. Não se arrependem de não ter contemplado a beleza da natureza e da vida, pois já a fizeram. Não se arrependem de não ter rido e ter se divertido mais, pois fizeram de suas vidas uma grande alegria. Ou seja, não temem tanto a morte, pois já foram se despedindo de suas vidas aproveitando todas as oportunidades que ela lhe ofereceu.
Entretanto, quando pessoas que evitaram o “empréstimo da vida” ao se deparar com a morte, percebem que faltaram muitas coisas a serem vividas, muitas coisas a serem ditas e muitas coisas a serem ouvidas e sentem que na verdade não tem medo da morte, sempre tiveram é o medo da vida. E quando se dão conta disso, já pode ser tarde e o que precisariam seria uma nossa vida para retomar a vida que passou e que não foi vivida.
A morte pode nos trazer sentimentos de solidão, tristeza e isolamento. Mas será que devemos então antecipar estes sentimentos? Porque não aceitar o “empréstimo da vida”? O final será igual para todos, o percorrer desta grande caminhada, a vida, é que depende de cada um para ser diferente. E para as pessoas que só sabem dizer não? Porque não dizer mais sim às suas vidas? Ir em encontro com amigos, confraternizações, visitar amigos e parentes e buscar mais contato social com as outras pessoas?
Não devemos dizer “sim” a tudo e a todos, mas podemos dizer “sim” as oportunidades que a vida sempre nos deu e sempre nos recusamos por medo da própria vida. Enfim, o grande prazer da vida não é apenas atingir metas e objetivos e sim vivenciar todos os processos que passamos para chegar até eles. Sendo assim, o grande medo da morte pode não ser dela mesmo, mas do processo percorrido para chegarmos até ela: a vida.
No entanto, em relação à morte não somos nós que escolhemos, não depende de nós sua vontade. Mas nossas vidas são feitas de nossas escolhas e vontades, nós podemos refletir sobre ela e podemos mudá-la. E enquanto o “débito da morte” não chega, porque não desfrutar do “empréstimo da vida”?

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Autor: Claudia Goellner Signoretti


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