Televisão brasileira: máquina de eliminar cérebros



Autor: Marçal Rogério Rizzo

Tenho certeza de que muitos de vocês já se sentiram “provocados” a escrever sobre questões relacionadas aos programas de televisão. Pensei em iniciar este artigo de outra forma, convidando os leitores para uma reflexão, mas desisti, já que, falar da televisão brasileira, no meu entender, resume-se a lastimar sobre os rumos que ela vem tomando nos últimos anos. Particularmente, sinto que a programação da televisão aberta vem caindo de qualidade dia após dia, porém, o assunto é bastante polêmico.

Meses atrás, quando iniciei este artigo, havia esquentado os botões do controle remoto procurando algo interessante para ser visto, mas não encontrei. Em uma dessas corridas por canais, vi um pequeno momento do reality show, Big Brother Brasil. Digo um pequeno momento porque não consigo assistir a essa aberração televisiva. Sei que essa opinião sobre o baixo nível desse programa é compartilhada por milhares de pessoas. Aliás, como parte da população brasileira consegue dar audiência para programas desse nível? Ainda bem que acabou!

Dia desses, recebi de um amigo do nordeste um e-mail contendo um cordel interessante, que tem como título “Cordel do Big Brother: As be$tas do BBB”, cujo autor é Gustavo Dourado. O cordel dizia o seguinte: “Nádegas na passarela:/ É o besteirol global.../ Desprovidos de cultura:/ Em processo canibal.../ Buscam fama e dinheiro:/ Comandados por Mial.../ A mentira rola solta:/Tola competitividade.../ Mostram a hipocrisia:/ Pra toda sociedade.../ Por um punhado de dólares:/ Praticam a insanidade.../ Palavras de baixo calão:/ O suicídio cultural.../ Só querem aparecer:/ Na tv e no jornal.../ Eta gente interesseira:/ A bobeira é geral...”

Mas, concretamente, a ideia central do artigo é chamar vossa atenção para as anomalias que vêm adentrando em nossos lares por meio da televisão. Aqui, dei o exemplo do BBB, mas poderia ter citado muitos outros programas de baixa qualidade como “Domingão do Faustão”, “Malhação”, “Super Pop”, “Casseta & Planeta” entre tantos outros. Sem falar dos tantos filmes ruins que são exibidos por dezenas de vezes.

A briga por audiência chega a ser patética. Confesso que quando vejo o senhor Pedro Bial chamar os “brothers” de “heróis”, fico revoltado. Antes do 1º BBB, achava o Bial um bom jornalista, mas sua atuação junto a esse programa repugnante manchou sua imagem. Por conseguinte, se olharmos o verdadeiro significado de herói no dicionário, ele se aproxima muito mais dos pais de família que saem de casa na madrugada, tomam um fraco café da manhã, vão até o ponto de ônibus, ficam esperando um bom tempo, adentram no ônibus superlotado e caro, que transita por ruas sujas, esburacadas e perigosas. Já ia me esquecendo: talvez esses pais de família não consigam chegar ao trabalho em razão das enchentes. Infelizmente a televisão está repleta de pessoas como o “Bial”

Continuando sua saga diária, esse homem (herói) trabalha o dia todo e retorna para sua casa, que, muitas vezes, está localizada em uma favela ou invasão, janta, liga a televisão e se depara com programação de péssima qualidade, que não irá lhes acrescentar nada. É horrível não ter ao que assistir, pois, ora são as novelas, jornais sensacionalistas, reality shows, ora são as propagandas de bugigangas ou programação religiosa, que ali vendem pedaços do céu e a salvação.

Para piorar, ainda, há momentos em que a programação é ocupada por políticos que se utilizam de horários como uma “tribuna livre”.

Também, pudera! A televisão é feita por pessoas. Nem sempre o que está chegando até nossas casas é verdadeiro. Muitos interesses individuais ou de grupos estão incutidos por trás da televisão. Hoje, existe uma ditadura televisiva que impõe que o que vai ao ar seja verdade absoluta. Além disso, as pessoas que estão ali parecem perfeitas, os “quase deuses”.

Ilustro essa afirmativa com a figura emblemática do senhor Boris Casoy, que é apresentador do Jornal da Band, e quem o vê falando, jamais imaginaria sua forma de pensar sobre classe dos garis. No dia 31 de dezembro de 2009, o âncora do jornal não percebeu que o microfone estava ligado e, no momento em que uma dupla de garis desejou “Feliz Ano Novo” aos telespectadores do jornal, o senhor Casoy imediatamente declarou: “Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. Dois lixeiros. O mais baixo da escala do trabalho”. Vejam a forma de tratamento com a classe dos garis. Como diria o próprio Boris Casoy na frente das câmeras: “Isso é uma vergonha!”

Sabemos que é impossível fazer qualquer controle da produção e da veiculação jornalísticas e dos programas de televisão. Quando se fala nisso, vem a ideia de “censura”, que seria péssimo para o Brasil.

A televisão brasileira produz heróis, vilões, mocinhos e bandidos. O caso da Isabella foi tão potencializado que se tornou “o maior julgamento da história” e rendeu altos picos de audiência. Agora, vai a pergunta: Será que vão dar destaque para outros casos em que também se espera justiça? Destaco o caso do deputado estadual Fernando Carli Filho (PSB-PR) cujos exames médicos comprovaram que dirigia bêbado quando bateu em outro carro e matou um rapaz de 26 anos e outro de 20 anos.

Ela vende bens e produtos, elege políticos e, depois, os derruba como foi o caso do ex-presidente Fernando Collor de Melo.

Mas, o saldo disso tudo é negativo. Na verdade, é justamente o fruto que nasceu da televisão. Hoje, a criança, o jovem, o trabalhador, a dona de casa, enfim, o brasileiro vem sendo doutrinado pela televisão, sem senso crítico – estando inserido num regime de adestramento, para dizer “amém” aos interesses obscuros que ela defende.

O cenário ideal seria se o povo brasileiro tivesse educação suficiente para cobrar por uma programação de melhor qualidade. Esses programas atrofiam o senso crítico e a inteligência das pessoas, além de desrespeitar qualquer manifestação de uma possível cultura e educação libertadora que esteja fora dos moldes pregados pela elite.

Encerro assim, com um trecho da música “Vida de gado” de autoria de Zé Ramalho: “[...] Eh, ôô, vida de gado/ Povo marcado, ê/ Povo feliz/ Eh, ôô, vida de gado/ Povo marcado, ê/ Povo feliz/ O povo, foge da ignorância/ Apesar de viver tão perto dela/ E sonham com melhores, tempos idos/ Contemplam essa vida, numa cela/ Esperam nova possibilidade/ De verem esse mundo, se acaba [...]”.

OBSERVAÇÃO: Artigo publicado no Jornal Folha Noroeste. Edição de 29-05-2010. Ano 3, no. 0120 - página 2. Publicado na cidade de Jales-SP.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


Artigos Relacionados


Caricatura Do Dip

O Papel Da Televisão No Brasil

Bbb Bate Mais Um Recorde

"big Brother" Brasil: Mais Uma DemonstraÇÃo Da PÉssima Qualidade Da Tv Brasileira

O Que "ocÊ" Foi "fazÊ" No Bbb Maria Chiquinha?

NÃo À Censura

O Papel Social Da MÍdia No Brasil