Anticoncepção de emergência: Será que a pílula do dia seguinte funciona mesmo?



Atualmente temos inúmeras métodos anticoncepcionais. Uma pergunta muito freqüente no consultório é a respeito do uso dos chamados anticoncepcionais de emergência, ou as pílulas do dia seguinte. Será que esse método pode mesmo ser utilizado com frequência?
A resposta objetiva para essa questão é NÃO. Como o próprio nome mesmo diz, é para ser utilizado somente em casos de emergência. Mas ainda restam dúvidas... São confiáveis mesmo em casos de emergência? E quando podemos chamar de situação de emergência? Sua eficácia depende de quais fatores? Se eu já tomo um anticoncepcional, preciso tomar a pílula do dia seguinte? O que pode acontecer após o uso da pílula do dia seguinte? Quais são seus efeitos adversos, ou efeitos colaterais?
Para responder essas perguntas precisamos lembrar algumas coisas:
Primeiramente nenhum método anticoncepcional é 100% seguro. Todos têm um índice de falha conhecido como índice de Pearl.O Índice de Pearl é uma fórmula matemática que avalia a eficácia de um método contraceptivo. O índice foi introduzido por Raymond Pearl em 1933 (1) e varia de acordo com os anticoncepcionais utilizados (preservativos, anticoncepcionais hormonais orais, injetáveis, diu, siu, implante subdérmico, etc). Como estamos avaliando as pílulas do dia seguinte, temos uma variação desse índice de acordo com o tempo de administração da medicação em relação ao evento em questão. Apresenta índices de falha que variam de 0,2-3% (2) dos casos.
As situações indicadas para o uso desse método são(3):
1. Relação sexual desprotegida e não planejada.
2. Uso inadequado e ou irregular de anticoncepcionais orais (esquecimento de 2 ou mais comprimidos durante o tratamento)
3. “Acidentes” com o uso de preservativos (rotura ou retenção na vagina) ou diafragma.
4. Violência sexual.
Mecanismo de ação:
São descritas várias composições farmacológicas para tal método, entre eles os combinados de estrogênios e progestagênios, e os de uso puro de progestagênios. O método atualmente mais utilizado, conhecido por método de Yuspe (7) consiste na administração de duas doses de 100 mcg de etinilestradiol com 500 mcg de levonorgestrel (NEOVLAR®, EVANOR® MICROVLAR® NORDETTE®) em duas tomadas com intervalo de 12 horas entre cada dose. ( A primeira dose deve ser o mais próximo possível da relação sexual desprotegida até no máximo 72 horas. Vale lembrar que a eficácia diminui quanto maior esse intervalo.) O método de progestagênio utilizado é o uso do levonorgestrel de 750 mcg (POSTINOR®), com as mesmas orientações que o combinado. (Até no máximo 72 horas após o coito desprotegido e com a segunda dose após 12 horas da primeira dose). Ainda existem medicações de dosagem única (POSTINOR UNO®)
Seu mecanismo de ação vai ser diferente dependendo da fase do ciclo menstrual em que é usado, podendo interferir com a ovulação – supressão ou atraso; com a nidação – alteração da resposta endometrial, ou – com a fecundação – pode alterar a função do corpo lúteo e a motilidade tubária. Apesar de sua eficácia constatada, uma vez iniciado o processo de nidação, tais anticoncepcionais perdem a efetividade, e, no caso de falha, não há evidências de efeitos nocivos para o embrião ou piora no prognóstico da gestação (4,5,6).

Já em relação aos efeito colaterais, podemos dizer que a maioria das queixas relaciona-se com a presença de náuseas (aproximadamente metade das pacientes no método combinado e 16% no uso de progestágeno puro) e vômitos (22% no método combinado e 3% no progestágeno puro). Outros efeitos possíveis são os sangramentos irregulares, atraso menstrual, dor de cabeça (CEFALÉIA), cansaço, e aumento da sensibilidade nas mamas. (2)
Se a paciente apresentar vômitos em até 2 horas da medicação, deverá ser repetida a medicação.

De maneira equivocada inúmeras pessoas acham que a anticoncepção de emergência é um método abortivo, mas isso não deve ser considerado. O aborto só é considerado aborto após a nidação (implantação do embrião no útero), e se isso já tiver ocorrido, esse método perde sua efetividade, como já citado anteriormente.

De maneira geral os métodos anticoncepcionais de emergência são seguros e tem boa eficácia se bem utilizados ou se utilizados em tempo correto. A orientação para as indicações do método são importantes para a população bem como a disposição da medicação. O que não pode ocorrer é o uso repetido e sistemático como único método anticoncepcional. Deve-se utilizá-lo como uma segunda opção no caso de falha de um primeiro método. Tem um índice de falha pequeno, mas apresenta falha como qualquer outro.
Fontes Bibliográficas:
1. WIKIPEDIA . http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Pearl.
2. A survey of knowledge, attitudes and practice of emergency contraception among university students in Cameroon. BMC Emerg Med. 2007; 7: 7. Eugene J K, Pius N, Nelson F, Charles SW, Luc K, and Anderson SD- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1933435/
3.Anticoncepcionais de emergência: Por que não usar? Antonio AN,Francisco JCR, Omero BPN. http://www.fmrp.usp.br/revista/2000/vol33n1/anticoncepcionais_emergencia_porque_nao_usar.pdf.
4 - LING WY; ROBICHAUD A; ZAID I; WRIXON W & MAC LOOD SC. Mode of action of dl-norgestrel and ethinyl estradiol combination in postcoital contraception. Fertil Steril 32: 297-301,1979.

5 - BRACKEN MB. Oral contraception and congenital malformations in offspring: a review and meta-analysis of the prospectives studies. Obstet Gynecol 76: 552-557, 1990.

6 - WEBB A & TABERNER D. Clotting factors after emergency contraception. Adv Contracept 9: 75-82, 1993.

7 - YUZPE A; SMITH RP & RODEMARKER AW. A multicenter clinical investigation employing ethinyl estradiol combined with dl-norgestrel as a postcoital contraceptive agent. Fertil Steril 37: 508-513, 1982.
Autor: Ricardo Luba


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