Adélia Prado



Vários discursos, desde a Antiguidade, vêm anunciando a desigualdade de gêneros como natural e legitimando as diferenças hierárquicas entre homens e mulheres.

Todo grupo social, na história da humanidade, construiu e organizou suas maneiras de produzir e distribuir a riqueza social, suas formas de se relacionar, suas instituições, inclusive a família e a relações homem-mulher em consonância com os anseios e as necessidades do grupo social em um determinado momento histórico específico.

A opressão específica vivida pela mulher constitui-se em um fenômeno histórico, portanto, sua submissão não pode ser entendida como um traço inerente à natureza feminina. Porém, a discriminação relativa ao seu sexo faz com que a mulher enfrente uma situação particular, que marca, de forma decisiva a identidade feminina.

Partindo de uma investigação da origem da opressão da mulher e de sua participação na sociedade brasileira, será evidenciado o lugar que a literatura feminina tem ocupado em nosso país, através dos tempos. O confronto entre o discurso feminino e o discurso masculino propiciará a identificação das diferentes noções de "feminino" expressas na literatura.

Posteriormente, cabe demonstrar de que maneira as "condições sexuadas" de Adélia Prado articulam-se com o seu discurso poético. Analisar a obra desta autora, que tem sido considerada como a voz mais feminina de nossa poesia até o presente momento, significa desvelar junto com o universo feminino e descobrir a mulher de hoje, que se liberta dos estereótipos e preconceitos, esboçando novas formas de se relacionar com o homem na sociedade.

Atualmente, um número cada vez maior de mulheres ocupa uma grande porcentagem no mercado de trabalho, chegando a alcançar até mesmo, posições de destaque e prestígio na sociedade. Da mesma forma, elas são, no momento, em grande parte, responsáveis pela sua sexualidade, podendo, inclusive escolher seu próprio destino, seja ele maternal ou social, e não mais se sujeitarem simplesmente na condição submetida pelo poder patriarcal de ser mulher dona-de-casa e mãe.

Além disso, basicamente, a maior parte das mulheres de hoje se pergunta o que quer da vida e não mais cumprem um destino que lhes é dado pelo simples fato de ter nascido mulher, ainda, as mulheres na sociedade não são mais "cidadãs de segunda classe". Apesar de nem sempre serem respeitadas, grande parte das reivindicações feministas já foram incorporadas à sociedade. A nível social, em tese, resta apenas garantir os direitos conquistados. Na prática e no plano pessoal, no entanto, a questão é bem mais complexa e delicada, como discutiremos a seguir, a partir da situação brasileira.

Analisar aa literatura desta escritora (que tem sido considerada a voz mais feminina de nossa poesia), significa descobrir o universo feminino e através de suas poesias desvendar a mulher de hoje que se liberta dos estereótipos e preconceitos, traçando novas formas de se relacionar com o homem na sociedade.

Adélia Prado representa a mulher em vários aspectos, vive como mãe de família, esposa dedicadíssima e, ao mesmo tempo, transforma-se em uma vibrante escritora trazendo para seu universo a poesia e a vida.

Adélia tem mãos de dona de casa, amaciada pela prece da poesia, é escritora e uma mulher possante, com uma personalidade literária, sem abdicar de sua verdadeira natureza, fala sobre o mundo feminino, valorizando a maneira feminina de pensar, com mais sentimentos, amor e sensualidade.

Em seus poemas percebe-se uma feminilidade, pois ela demonstra ser uma mulher forte, extremamente feminina, pois defende a mulher quando afirma que esta é desdobrável; também demonstra e alcança valores que demitem a mulher a culpa e a vergonha social.

A autora pratica sua condição do feminino: suas dores, suas angústias, mas também suas alegrias, cumprindo com zelo as tarefas pré-estabelecidas à mulher, acreditando numa total doação, consciente do seu papel, sem precisar mentir, rompendo barreiras, criando seu próprio destino.

Mostra também a posição da mulher ajudando o contexto da atividade do homem, pois ela é mulher que se completa com a sua família, e ela nos deixa bem claro que não nega parte de sua existência, embora seja uma grande escritora, professora universitária e independente economicamente, não desvalorizando suas funções maternais e domésticas.

Por meio de seus poemas percebe-se que Adélia luta contra a diferença humana que coloca as mulheres nasociedade como submissas, mostrando o vigor da voz feminina numa busca pela fonte libertadora através da cultura, isto é, colocando em exposição seus pensamentos poéticos e revelando a independência da mulher literária.

Na poética adeliana a mulher está poderosamente presente: sua voz, suas dúvidas, suas idéias, pensamentos e muito mais. Mostrando tudo com franqueza, sem preconceitos, libertando-se de questões menores, comunicando-se totalmente nas questões do ser. Portanto, está presente na sua poética a mulher que é muito mais que um ser humano que transgride o modelo social e se faz no patriarcado, suplantado as leis e a autoridade. Revela, assim, a união de fatos comuns, revisa os valores tradicionais, morais e familiares.

Adélia com sua feminilidade, representa o drama humano. Talvez ela represente melhor, pois escreve a verdade de sua experiência feminina, resgatando a concepção do ser humano, numa busca à emancipação da mulher e à construção de sua própria identidade.

Também cria e descreve um mundo onde predomina a feminilidade, mas onde cabe o homem em sua plenitude, singelo, viril, tocável, rijo e cantante, sem nenhuma ameaça, e onde cabe também a mulher em sua plenitude, altiva, profunda, desdobrável, requintada, esquisita, sexual, mulher bíblica, vaidosa, que chora, perfuma e a noite, cumpre com as obrigações, trabalha e ganha seu dinheiro, põe fogo no lixo.

Cabe a Adélia Prado nossa sincera admiração e consideração, pois seus poemas são merecedores de reflexão e elogios, despertando admiração e revelando o intenso prazer em ser mulher.

Algumas mulheres conquistaram sua integração junto à sociedade e encontraram sua própria identidade; mas deixam a desejar nas suas funções como mãe, esposa, companheiras, amiga e amante. Porém também encontramos mulheres que se sentem felizes sendo apenas mãe e esposa, mostrando seu vínculo familiar e a sua importância perante a sociedade porque a sua família depende dela.

Em muitas famílias o homem ainda é provedor oficial; as mulheres ficam com os cuidados domésticos e a criação dos filhos, porém, há famílias em que á mulher, dentro de uma sociedade industrializada, lança mão dos serviços cotidianos do lar e dos filhos e acaba provendo financeiramente a casa, ajudando na manutenção desta.

Adélia mostra como a mulher interage numa sociedade que muitas vezes a focaliza como submissa, que a mulher, através dos tempos, demonstra gradativamente a sua busca para independência e valorização feminina. Através de muita luta pela liberdade de escolha e expressão, a mulher passou a produzir sua própria vida, pois cabe a ela, no seu processo de desenvolvimento, a integração de conteúdos: que façam com que ela se complete; tornando-se independente economicamente e não desvalorizando suas funções maternais e domésticas.

Por isso, os poemas de Adélia Prado relaciona-se com a posição social feminina e com as vitórias que contribuíram para a melhoria da sociedade; demonstrando a mulher atual, aquela que não mais significará oposição ao homem, nem viverá a idéia de seus limites e complementos impostos socialmente, mas sim, aquela mulher que irá demonstrar a sua existência, sua vida; a mulher ser humana. Aquela que demonstra seus sentimentos deixando transparecer em seu rosto a dor, o sorriso, a luta, o amor, a fragilidade, a força, a liberdade e a vitória, ou seja, a conquista de nova identidade fortemente determinada pelo processo de socialização a que as mulheres foram submetidas desde o início da sua vida.


Autor: SANDRA VAZ DE LIMA


Artigos Relacionados


Eu Jamais Entenderei

Pra Lhe Ter...

Exemplo

A Lei Maria Da Penha Nº 11.340/2006

Tu és...

Minha Mãe Como Te Amo

Passarás