É UM CRIME... E DAÍ, QUEM SE IMPORTA?



A inércia da política pública de combate ao mosquito transmissor da dengue e o jogo de empurra entre os governos federal, estadual e municipal, a demora em perceber a ineficácia dos “inseticidas” (na verdade o piretróide tem função temporária de repelência) utilizados nos últimos anos, permitiram que não só o vetor da Dengue, mas também o vetor da Malária, da Leishmaniose, da Elefantíase se estabelecessem para ficar.
Epidemias iniciaram ocorrendo a cada 04, 05 anos. Com o surgimento de epidemias em novas cidades/estado, intercalando-se umas nas outras, agora nosso País vive em situação de constante epidemia.
As autoridades municipais, estaduais e federais não foram capazes de implantar uma política eficaz de combate ao vetor, não parecem ‘enxergar’ onde está o erro na condução das ações:
a) O primeiro erro foi a transferência da responsabilidade no controle aos estados e municípios.
b) A remoção dos servidores da SUCAM, que realizavam o trabalho de controle de insetos vetores.
c) Hoje este controle está por conta dos municípios e se transformou num imenso ‘cabide eleitoreiro’, onde vereadores encaixam seus cabos eleitorais...
d) Capacitação e treinamentos adequados não existem. Também não existe interesse efetivo para fiscalizar ações eventualmente realizadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), considera ‘aceitável’ o índice de infestação de 1%,embora eu insisto em afirmar que o índice deve ser ZERO! Pois nem zero, nem 1% são os dados encontrados: de 5% até 10, 12% é a infestação encontrada!
Podemos dizer que é criminoso o descaso dos governos frente aos números de casos de dengue, aumentou também o numero de pessoas com Dengue Hemorrágica, ou a chamada DCC, Dengue Com Complicações, sempre apresentado casos graves e vários óbitos!
Óbitos por Dengue, muitos dos quais passam despercebidos, pois devido à evolução do quadro para complicações pulmonares, vai aparecer como “pneumonia”, nos casos que a Dengue afetar (quase sempre) o sistema hepático, a Dengue fica ‘esquecida’ e no Laudo irá aparecer ‘complicações hepáticas’ hepatite, etc.
Conheço o caso de um paciente que estava com Dengue, com evolução para o quadro hemorrágico grave, atingindo parte do cérebro. Socorrido e encaminhado à Cuiabá foi atestado AVC, (Acidente Vascular Cerebral), passou por cirurgia e foi retirado líquido ali depositado. E a Dengue? A Dengue ficou esquecida no contexto... Ocorre que a Dengue provoca o rompimento dos capilares. Nos casos graves o número de capilares rompidos é grande, se o paciente não for tratado adequadamente, não receber imediata hidratação e cuidados intensivos o prognóstico não é nada bom...
O repasse de verbas federais aos estados e municípios é feito mensalmente. O controle da aplicação de tais verbas não parece existir...
O Brasil já se livrou do mosquito Aedes aegypti foi erradicado das áreas urbanas nas décadas de 50 e 70. Mas o governo federal, com as alterações implantadas transferindo o controle aos estados e municípios, a substituição de insumos (inseticidas), aliados ao descaso e ai está o resultado!
Depois de cada epidemia, com muitos infectados, muita subnotificação e vários óbitos, ainda temos que assistir incompetentes coordenadores , no momento que ocorre redução de casos, afinal, quem estava suscetível foi infectado, assistimos na mídia algum ‘apadrinhado político’ ocupante de cargo dizer que ‘graças as ações desenvolvidas a Dengue está controlada’... “Rondonópolis apresenta baixo índice de casos de dengue”...
Baixo índice? Controlada? Todos os que tiveram Dengue e sobreviveram estão ai e, caso não seja feito o correto estas pessoas terão a doença novamente e será agravado pelo sintomas hemorrágicos! Esqueceram dos óbitos que houve? Vários adultos, várias crianças, e, não esqueço uma jovem mãe de 03 filhos, que morreu de Dengue e foi sepultada as vésperas do dia das mães em 2009. Nem aquelas duas crianças no início do ano. E agora, 2010, mês de maio, uma jovem gestante que morreu vítima da Dengue Hemorrágica...
Em 2010, também em maio, uma jovem gestante foi a óbito, não só devido a Dengue Hemorrágica, mas muito mais sua morte se deve ao descaso no controle do vetor...
No Rio, para cada adulto que morreu de dengue hemorrágica, morreram cinco crianças, vítimas inocentes e indefesas, à mercê da falta de ações efetivas e concretas.

Alguns ‘mutirões’ (a maioria) possuem conotação política, com muito som e políticos circulando, coisas para a mídia noticiar como trabalho de controle da Dengue!
Nossas autoridades de saúde sejam elas da área municipal, estadual ou federal, e o fazem o quê? Discutem quem é o responsável pelo mosquito, transferem a responsabilidade e culpam a população pelo que ELES NÃO FIZERAM para evitar o que vem acontecendo...
A Promotoria que existe para proteger os direitos do cidadão, não entendendo (e não querendo entender) acata explicações sem consistência e arquiva processos, esquecendo que estão no posto que estão, para verificar e cobrar correções de ações que apresentem desvios, acham mais cômodo declarar “acreditar estar corretas ações” que se executadas correta e adequadamente evitaria que muitas pessoas enfrentassem a doença e os transtornos por ela provocados, ou as lágrimas derramadas pelos que não resistiram e foram à óbito. Milhares de pessoas são anualmente infectadas, entre estas estão os perigosos e fatais casos hemorrágicos, onde a população assustada e indefesa vê pessoas queridas perdendo a vida para um mosquito miserável...
Aceitar a Dengue como uma ‘fatalidade’ atesta uma lamentável falta de capacidade, de inteligência! Há cem anos e com muito menos recursos técnicos pesquisadores desenvolveram ações e controlaram graves problemas de Saúde Pública.
E hoje? Pessoas que não sabem ler um texto e entender o que nele está enunciado estão na coordenação de setores críticos como a saúde, a educação e o resultado é este que ai está: Quando ocorre a redução de casos e a epidemia lentamente vai terminando ainda completam o quadro indo declarar na mídia que ‘graças às ações desenvolvidas a epidemia foi controlada’, uma mentira cruel e deslavada! E mais: com a redução dos casos de Dengue aflora os casos de Leishmaniose, patologia silenciosa e muitas vezes mortal!
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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