Ficha Limpa na pátria de chuteiras



Autor: Marçal Rogério Rizzo

Nos últimos dias, a única coisa que tem mexido com as mentes e as almas dos brasileiros parece ser a Copa do Mundo. Tenho visto muita gente em prosas e debates em torno dos gols do Brasil, das declarações polêmicas de Maradona, das várias seleções desclassificadas ou do possível não aproveitamento do Morumbi para a próxima copa, que se realizará aqui no Brasil.

Existem também as discussões intermináveis e midiáticas usadas demasiadamente pelos programas de televisão, jornais e revistas sobre temas como: a bola oficial da copa chamada de “jabulani” ou a briga de Dunga com parte da imprensa. No momento dos jogos do Brasil, tudo para; até parece que as cidades são fantasmas. Isso revela que o futebol é uma paixão nacional. Por outro lado, assistir aos jogos do Brasil virou programação social. É motivo pra churrasco, encontro com amigos e infelizmente, até para se embriagar. Já os tidos como “famosos” vão assistir aos jogos em locais públicos, e assim sair em fotos e ser notícias nas revistas e nos péssimos programas televisivos de fofoca. Será que se perguntarmos os nomes de cinco jogadores titulares da seleção brasileira saberão responder?
Bom, será que em 2010 vamos ter motivos reais para tocar as vuvuzelas? Estou questionando isso não pelos gols de Luis Fabiano e nem pelas pedaladas de Robinho, mas sim pela Lei da Ficha Limpa nas eleições que estão por vir.

Não restam dúvidas temos que limpar o campo político deste país. Quem sabe estaremos fazendo um gol de placa contra o time de bandidos que estão uniformizados de terno e gravata. Aliás, estão lá arrombando os cofres públicos. É nosso dinheiro dos impostos que está alimentando as regalias de muitos bandidos que se dizem políticos. Até castelo particular foi construído com o dinheiro público, mas o dono continua impune nos corredores do Congresso Nacional. É o velho e real ditado: “Colocaram a raposa dentro do galinheiro”. Cabe, no entanto, uma pergunta: quantas raposas estão dentro dos galinheiros?

Nota-se, cada vez mais, que há um processo intensivo de mercantilização da política brasileira, mas o que impressiona é o nível de não comprometimento dos políticos com os anseios e necessidades da sociedade. A política tem-se transformado em um balcão de negócios.

Infelizmente somos um povo acomodado e “adestrado” para as falsas promessas dos políticos. Não podemos generalizar, mas creio que exista uma indignação contida, mesclada de desesperança com essa classe. O atraso é a impunidade de muitos larápios que ocupam a vida pública, criando essa péssima imagem da classe política brasileira.

Atendendo aos anseios da sociedade, um passo importante parecia estar sendo dado, que foi o projeto de lei da “Ficha Limpa”, que surgiu para dar um “cartão vermelho” aos políticos que tivessem sido condenados por crimes graves em órgãos colegiados. O projeto foi aprovado, no entanto já aparecem várias opiniões versando sobre as possíveis brechas no campo da legalidade, que vêm para a alegria dos “larápios de plantão”. Quando se vê, no entanto, a afirmação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski: "O eleitor pode ter certeza de que a Justiça Eleitoral aplicará a Lei da Ficha Limpa com o máximo rigor. Ela vai pegar, pois corresponde ao desejo manifestado pela sociedade brasileira de moralização dos costumes políticos" (Estado de São Paulo, 21-06-2010) –, surge uma razão para esperança.

Não tem cabimento continuarmos vendo tanta corrupção impune no campo político. De todo modo, a sociedade civil organizada deve abandonar o comodismo e encarar novos projetos de lei e, mais ainda, fazer pressão junto ao Congresso Nacional para que melhorar o nível de nossos representantes no executivo e no legislativo.

Escrevo este texto no dia 28-06-2010 (logo após o jogo Brasil x Chile). Fico na torcida para que nosso povo um dia “acorde do sono eterno em berço esplêndido” e se movimente pela busca da melhoria da política, na mesma intensidade com que torcem pelo Brasil. Afinal de contas, nossos jogadores não decidem e nem guiam nossas vidas, diferentemente do que ocorre com a nossa classe política.

OBSERVAÇÃO: Artigo publicado na Folha do Povo - Edição de 02 de julho de 2010 - Ano XII, N. 3.688 - página A-2. Campo Grande (MS).

Artigo publicado no Jornal do Povo de Três Lagoas - Edição de 03 de julho de 2010 - Ano 61, N. 4.481 - página 02. Três Lagoas (MS).

Artigo publicado no jornal Folha Noroeste - Edição de 03 de julho de 2010 - Jales (SP).
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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