SAMBAR NÃO CUSTA NADA!



SAMBAR NÃO CUSTA NADA!

Sonhar não custa nada, assim diz um ditado popular e muito usado por todos nós, tema de musica, poema, matérias, este ditado vem sendo usado por diversas classes de personalidades.
O sonho é muito grande para alguns e muito pequeno para outros, grande demais para quem faz uso do poder da desistência e pequeno demais para os que injetam na veia, doses e mais doses de idealismo. Se tratando de país do futebol, é quase que uma unanimidade, os garotos em fase colegial ou pré, sonharem ser jogadores de futebol e sem a menor intenção de levantar polemicas raciais, para os de pele escura, este sonho é ainda maior, pois muitos acreditam piamente, que sua chance de vida está nos gramados!
Outro dia, estávamos na porta de uma festa onde haveria um show de um grupo muito famoso, quando bem na frente dos meus olhos, vivi uma experiencia sociológica incrível. Chegou um rapaz de pele clara, acompanhado de uma moça loira, os dois se dirigiram, apressadamente, a entrada vip e ao vê-los indo em sua direção, o segurança imediatamente abriu os braços e disse: “ não, por aqui não!”, o que foi muito contestado pelo rapaz e pela moça. Em meio a discussão sobre a identidade do rapaz, famoso ou não, chega um outro rapaz, muito bem arrumado, ao contrário do anterior, com um expressivo cordão de ouro e também, uma moça loira, dirigindo-se a porta dos “vip`s, todos foram logo abrindo caminho, mesmo tendo o rapaz a pele escura, após sua entrada, ouvi algumas pessoas comentarem: “ deve ser algum pagodeiro ou jogador de futebol!”
neste momento lembrei dos sonhos, mas também me dei conta que os de pele escura têm mais do que o futebol, tem o samba.
Não quero discutir cor de pele, ou criar um debate racial, mas a questão é que somos o país do futebol e do samba, conhecidos pelo rei de futebol e as mulatas.
Naquela ocasião, já dentro da festa, observei que o rapaz de pele clara era um cantor, que iria se apresentar naquela noite e o de pele escura era apenas um anônimo que conseguira o convite. O que fica claro é que o samba não é coisa de negro, embora sua origem venha das comunidades e o futebol não é a salvação deles também, embora tenhamos Pelé, Leônidas, Carlos Alberto, Jairzinho, Romário e outros jogadores negros que marcaram a história do país, tanto o futebol, como o samba, é patrimônio nacional, livre a todos que assim desejarem deles fazer uso.
Por ter sua origem na classe pobre e ser algo mais sentido do que explicado, o samba sofre até hoje preconceitos, preconceitos inclusive entre os próprios músicos, certa vez ouvi um músico dizer que pagodeiro não é músico e como musico a mais de uma década, entendo que se deva estudar, saber ler partitura, ter domínio sobre as técnicas e métodos musicais, quem não gosta de samba pode ter muita saúde mental e um pé centrado, só não consegue por o coração para tocar, pois por mais que uma bela melodia seja escrita, arranjada e posta nos moldes musicais, sem que o coração toque, será apenas uma mera demonstração de técnica, puro exercício e exercício não inspira as pessoas, exercício não toca na alma.
Por mais que todos os pagodeiros e sambistas, buscassem só os retornos financeiros que o samba pode dar, em algum momento eles precisaram botar o coração na ponta da baqueta e sem ter passado por escolas caras de musica, sem muitas vezes saber ler uma partitura, devemos entender que a musica é a arte de combinar o som de maneira agradável aos ouvidos e para agradar a muitos, com ou sem o retorno esperado, eles tiveram que combinar muito mais do que som, combinando assim a fé a coragem, a determinação, a esperança e a persistência, pois uma banda de outros seguimentos, nasce, cresce e ficam estourados nas paradas de sucesso, em alguns anos, fazendo uso de seus rostinhos bonitinhos, seus país famosos, seu “baita” empresário, recebendo cachês altíssimos, exigindo coisas e objetos inexplicáveis, enquanto lá no morro é feito o samba que luta para não morrer na beira da praia, na porta de uma boate, grupos que chegam ao sucesso, após cinco, dez e mais de dez anos juntos, sem pais famosos, sem empresários, sem rostinhos bonitinhos, sem o menor recurso, apenas com a cara e a heróica coragem, afinal: “sambar não custa nada!”
LUCIANO PIERRE
Autor: LUCIANO PIERRE


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