Crueldades da vaquejada, uma “novidade” para o Brasil



Lendo notícias recentes da mídia alternativa animalista do sul-sudeste, pude perceber como a vaquejada, mesmo com muitas décadas de abuso e exploração de animais, ainda é tão pouco conhecida fora do Nordeste (exceto pela Vaquejada de Xerém, realizada em Duque de Caxias/RJ, e por algumas ocorrências no Pará). No Sul-Sudeste, onde as organizações de defesa dos direitos animais são mais robustas e estão em notório crescimento, é vista como se fosse praticamente uma novidade, uma nova e exótica modalidade de exploração animal por entretenimento.

Ainda se tem muito pouco conhecimento, nos atuais polos de militância pelos direitos animais, sobre o pseudoesporte nordestino. Além de serem raros os sites sul-sudestinos que dedicam uma ou mais páginas à denúncia das vaquejadas e da maldade que lhes é intrínseca, quase todos entre estes ainda se restringem a falar de noções básicas – “o que é vaquejada?”, “em que consiste?”, “por que é um pseudoesporte abusivo?”. Constata-se isso em algumas notícias que falam, por exemplo, “Se você ainda não sabe o que é vaquejada…”, assumindo que há pouco conhecimento sobre as mesmas fora do Nordeste.

Esse desconhecimento tem um lado relativamente bom, aliviante, e um muito ruim, preocupante. O bom é que isso demonstra que a vaquejada não conseguiu (ainda) se estabelecer fora do Nordeste (exceto Duque de Caxias/RJ, algumas cidades do Pará e ocorrências isoladas em outros estados), os organizadores ainda não se preocupam tanto em explorar animais fora dos limites regionais, preferindo a influência local.

O lado mau, por sua vez, é que fica clara a fraqueza e baixa expressividade nacional do ativismo de direitos animais nordestino, o qual ainda não tem forças para mobilizar pessoas dispostas a, por exemplo, gravar com câmera escondida o que acontece nos bretes das arenas de vaquejadas e mesmo a protestar contra esse tipo de atividade.

Também não se vem conseguindo expor para o Brasil, com força, as transgressões éticas da vaquejada a partir das arenas nordestinas. Mesmo os poucos esforços para escancará-las nacionalmente vêm ou de fora da região, com ONGs sul-sudestinas lançando seus explicativos introdutórios ou denunciando os crimes das poucas vaquejadas não-nordestinas, ou de gatos-pingados nordestinos que lançam seus artigos ainda pouco apreciados pela população brasileira.

Além disso, vídeos de denúncia de origem nordestina são muito raros, mesmo nos maiores e mais populares sites de vídeos da internet. Embates de polêmica com explanações argumentativas contrárias e favoráveis à existência da vaquejada apenas pingam, mesmo dentro do Nordeste – no caso, restringindo-se a portais de comunicação locais ou estaduais, sem expressão nacional ou mesmo regional.

O contrário disso acontece com a farra do boi catarinense: apesar de ser um entretenimento muito menos disseminado do que a vaquejada – predomina no litoral de Santa Catarina, enquanto vaquejadas ocorrem em centenas de cidades interioranas e metropolitanas de todos os estados nordestinos e no Pará –, é muito mais denunciada e exposta ao Brasil, bem mais bombardeada por ONGs de defesa dos animais e, assim sendo, chama muito mais atenção do Poder Público e pressão popular para que seja extinta.

Assim sendo, é de se esperar que a vaquejada, mesmo com um alicerce histórico secular, transpareça aos olhos dos brasileiros praticamente como uma novidade, algo de que até há pouco nunca se tinha ouvido falar. Da mesma forma não surpreende que a luta contra esse pseudoesporte, carente de força regional e atenção nacional, esteja tão atrasada em relação aos rodeios, à farra do boi, à exploração de animais em circos e outras formas de entretenimento abusivo que usam bichos.
Autor: Robson Fernando


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