Por Que Um Acidente Ocorre?



Por Aloisio Trancoso Artigo extraído do Trabalho “Preventionist Behavioral Technology”, apresentado no Congresso do IHHA_ International Heavy Haul Association _ Kiruna, Suécia – Junho 2007



Para a pergunta intitulada poderíamos ter a resposta: Equipamentos, Procedimentos e Comportamentos. Aprofundando um pouco mais, chegaríamos a outro item que são as nuanças atmosféricas, onde o controle humano está longe de ser adquirido. No máximo podemos ter uma previsão, como de catástrofes causadas por um tsunami, ou até mesmo um furacão, raio ou terremoto.

Mesmo tendo a influência do “Comportamento Humano” quando da criação de um “Equipamento”, ou elaboração de um “Procedimento Operacional”, não trataremos, neste artigo, tais fatores que influenciam na geração de um acidente. Trataremos apenas do fator “Comportamento”.

O acidente é um ato inconsciente e indesejável, mas este ocorre através de uma intenção positiva. Podemos concluir que o acidente é indesejável, porém, premeditado a nível inconsciente. Existe base conclusiva de que sempre optamos pela melhor opção de ação, dentre as várias disponíveis, e tal ação ocorre, geralmente, no nível inconsciente e pode resultar em um comportamento crítico a nível consciente, para o próprio sujeito da ação. Entender que optamos, sempre, pela melhor opção disponível, e que tal comportamento, mesmo que seja um comportamento crítico, sempre terá o seu resultado avaliado pelo “Custo x Benefício”, é primordial para o entendimento do “por que?” que um acidente ocorre.

Quando a questão é segurança, não basta optarmos, somente, pela motivação. Quando optamos pela motivação, apenas geramos um motivo para um determinado comportamento, mas este não, necessariamente, gerará um estado de conscientização. Não haverá nenhum conflito, a nível inconsciente, para que uma opção de comportamento seja gerada. Quando geramos um comportamento através da motivação, este só será válido enquanto houver o fator motivador. Como o fator motivador está em um nível diferente do comportamento crítico, estes, em algum momento, deverão se separar, alternando-se entre o comportamento crítico e o não crítico. A motivação ocorre quando criamos uma opção “correta” para o sujeito da ação. Desta forma interferimos, definindo qual é o melhor comportamento para o sujeito da ação. Esta interferência cria uma realidade falsa para a mente inconsciente, o que pode ser muito danoso, resultando em comportamentos críticos e indissolúveis, podendo levar o sujeito a níveis extremos de stress e depressão. Mostrar, em uma palestra, um atleta vencendo uma prova, realmente é um fator motivador, ainda mais se este atleta for um deficiente físico. A pergunta realizada pela mente inconsciente é: “se ele pode, por que eu não posso?”. Isto se chama “Motivação”, ou seja, um motivo para ação. O que tem que ser entendido é que o sujeito da ação não é nenhum atleta, este pode ser um empregado de uma empresa, podendo esta ser de diversos segmentos, onde sua função é executar tarefas de uma determinada atividade. O fator motivador, via palestra, diz que ele dever ser um atleta e que tem que chegar em primeiro lugar. Convenhamos que quando tratamos da produção, esta estratégia mental funciona, pois o sujeito motivado irá produzir mais enquanto o conflito entre consciente e inconsciente não houver. A produção cairá quando o conflito ocorrer, mas, no caso da produção, é só encontrar uma nova fonte motivadora. Quando tratamos de Saúde e Segurança no Trabalho, tal estratégia mental não é válida. Não podemos tratar a vida humana com paliativos, ou seja, a pessoa ficar motivada por um determinado tempo e quando estiver baixando o nível de motivação achar nova fonte para recarregar suas energias. Não podemos, porque neste intervalo, onde o sujeito da ação desperta para a realidade, haverá um comportamento que lhe dê um melhor resultado. A produção recuperamos, a vida humana não. Por mais que as empresas trabalhem a questão de Segurança no Trabalho, considerando a segurança em primeiro lugar, sabemos que o fator “resultado” vem sempre em primeiro lugar. Sempre teremos o produto, em que esta organização se destina, em primeiro lugar. Se a Segurança realmente estivesse em primeiro lugar, o acidente nunca ocorreria. Diminua a velocidade das máquinas, diminua a jornada de trabalho etc, e assim o número de acidentes, com certeza, também diminuirá. E para o acidente nunca ocorrer, como seria? Pare todas as máquinas e de folga por tempo indeterminado para os empregados. Tal observação, em reduzir ou cessar a produção em prol da segurança, obviamente não é uma solucionante para a segurança, é apenas um fator comprobatório, senão não teríamos nenhum desenvolvimento econômico.

Tal afirmação, que a PRODUÇÃO sempre virá em primeiro lugar, não é um ponto de vista e nem uma crítica formada em aversão ao capitalismo. Tal afirmação é FATO, e este fato não tem como ser mudado, pois sempre que tivermos uma atividade sendo executada, está estará imbuída de uma probabilidade, mesmo que ínfima, de um acidente ocorrer.

Se a segurança não vem em primeiro lugar, temos em contrapartida, em algumas empresas, o acidente em primeiro lugar. Tal fato ocorre devido o acidente ser o próprio produto esperado. Tomamos como exemplo a empresa “Formula 1”. O telespectador, como cliente final, recebe tal produto, qualificando-o de acordo com o risco do acidente, onde tais carros estão envolvidos. Quanto maior for o risco do acidente, maior a emoção e satisfação. Fato comprobatório de tal tese é tido quando os noticiários dão ênfase, principalmente, aos acidentes. Esta matéria jornalística é capa de jornal ou ocupa espaço nobre nos telejornais. Analisemos outra “Empresa”, a da “Luta de Box”. Nesta empresa o acidente é o produto oferecido, de forma clara e lícita. Entendamos o processo: O ringe é o ambiente de trabalho; As luvas de Box compõem o EPI; O Juiz representa as Normas de Segurança; A esquiva é o “Quase Acidente”; O golpe certeiro é o “Acidente de Trabalho”; O Mal de Parkinson é a “Doença Ocupacional”.
Quanto maior o número de “Acidentes” ocorridos, maior a satisfação do cliente final, o telespectador. A mente adulta está acondicionada a vibrar com o acidente. Observe nos filmes. Quanto maior o número de “Acidentes” ou “Quase Acidente”, maior a motivação para assistirmos o filme.
Retornamos ao “Custo x Benefício”. Dentro do processo do Comportamento Humano, temos o “Custo x Benefício” como sendo o equilíbrio das nossas ações. Quando estas ações são tomadas de forma consciente, concluímos que houve equilíbrio entre o “Custo” e o “Benefício”.
Quando o “Custo x Benefício” tem a influência da “Mente”, ou seja, do Processo Motivacional, o “Benefício” será modelado pela Motivação, atribuindo a este um valor muito além da realidade que este vale.

O Processo Motivacional é essencial no desenvolvimento de uma nação e, sem dúvidas, agrega valores ao Ser Humano. A observação que chamo a atenção é quanto à utilização inadequada do Processo Motivacional no fator Saúde e Segurança no Trabalho.



Aloisio Trancoso é Administrador de Empresas, Terapeuta Familiar, Consultor e Palestrante nas áreas da Motivação Empresarial, Saúde e Segurança no Trabalho, Marketing, Auditoria, Liderança e Vendas.
ATjuntos - Palestras, Consultorias e Treinamentos Ltda. www.atjuntos.com.br [email protected]
Autor: Aloisio Trancoso


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