Lean manufacturing – Filosofia em crise ?



Os recentes episódios de “recall” da Toyota têm chocado e provocado reflexões, colocando em dúvida a eficácia do sistema de manufatura enxuta.
O sucesso da Toyota no mercado deve-se à combinação de conforto, economia e principalmente confiabilidade de seus produtos. De repente alguma coisa deu errada, mais de 8 milhões de autos podem estar com defeito e não basta pedir desculpas e corrigir, é preciso buscar e apresentar a causa raiz.
Surgem então as primeiras hipóteses como a sobrecarga na organização para se tornar a maior montadora do mundo ou a evasão de executivos ocorrida nos últimos anos. A Toyota, como toda empresa, sofre pressões da concorrência desde sua fundação porém acreditava-se que ela havia desenvolvido um “escudo mágico” chamado lean, cujo questionamento atual pode ser um avanço ou não.
Será positivo vislumbrar em detalhes a diferença entre a utopia e a prática, entre o conceito e as ferramentas; reforçando assim a valiosa mas por vezes esquecida humildade para reconhecer desvios, aprender e retomar a busca da excelência.
Por outro lado, qualquer problema de qualidade de produto não pode ser completamente entendido sem considerar também o ambiente econômico no qual se originam as decisões técnicas.
O estrangulamento dos lucros tem exigido a constante eliminação de custos, atitude coerente desde que sejam de fato desperdícios, o que explica em parte o interesse geral pela implantação da manufatura enxuta em diversos ramos de atividades. Entretanto a ambição, muitas vezes exagerada, tem contaminado as relações humanas e a qualidade de vida dos que tomam as decisões no dia a dia. O engenheiro ou administrador de qualquer empresa atual desfruta o produto que ajuda a construir mas suporta também a pressão por resultados cada vez mais “impossíveis” num circulo vicioso que transforma desafios em ameaças, provocando medo, ações equivocadas e por vezes catástrofes. A crise financeira dos últimos anos demonstrou como é possível e nefasto evitar a vergonha do fracasso e garantir premiação injusta simplesmente ocultando problemas. Conflito importante e cotidiano nas organizações: bastam resultados ou deve-se também defender valores ? Como isso é avaliado e recompensado ?
A filosofia lean vai além da prática de qualquer empresa, além de ferramentas, métodos ou de objetivos e pressupõe a defesa intransigente dos verdadeiros valores da vida, sem os quais ela se torna inútil ou até perigosa. É cada vez mais urgente escavar fundo, descobrir a motivação raiz e sua sustentabilidade.
Carlos Roberto Lopes
Autor: Carlos Roberto Lopes


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