Liberdade Para Amar Pelo Espírito - Final



5: 22, 23 . Mas o fruto do Espírito é: amor,alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.

Em contraste às obras da carne, Paulo nos oferece o "fruto" do Espírito. O homem não pode produzi-lo (cf. Jo 15:4). Por isso esse fruto não é obra sua e nem lhe pertence. Nenhum esforço humano e nenhuma personalidade poderão apresentá-lo como um troféu ou um "grande feito". Não obstante, o cristão tem recebido a presença pessoal do Espírito de Cristo (Rm.8:9) e, por isso, não precisa ele está constantemente orando para recebê-lo.

Na verdade, cabe ao cristão apenas deixar que o Espírito manifeste o caráter de Cristo nele! É isto que evidencia que somos seus discípulos e seus amigos (Jo 15: 8,13,15) e em nós, Cristo como a videira (Jo 15:5) produz o caráter-fruto como indicativo de que estamos Nele e o conhecemos, assim como Dele somos conhecidos (cf. Mt.7:16,20; 12: 33; 1Jo 4:8; Jo 10:14).

Assim, Paulo conclui sua lista de atitudes e práticas, dizendo que "contra estas coisas não há lei".

Ora, de um modo geral, não há nenhuma lei moral que condene tais atitudes, pois este tipo de comportamento pode atender as demandas de toda conformidade ética. Daí podemos tirar as seguintes conclusões:

1.De acordo com Tim. 1:9, as leis são promulgadas não para o justo, mas para gente má, de modo que seu objetivo operacional é restringir o comportamento destes. Portanto, o "fruto do Espírito" que é produzido apenas no contexto da liberdade cristã, não pode ser restringido pela lei. Em outras palavras, a liberdade cristã não pode ser cerceada por leis, mandamentos , ou quaisquer meios que visem coibi-la ou anulá-la;

2.É pretensiosa ou dissimulada, mas em todo caso, tola, a pessoa "bem-intencionada" que - como os judaizantes, talvez – pretende que a força da lei possa impedir as "obras da carne" e, portanto, possa também contribuir para a produção do caráter de Cristo, forçando os indivíduos a cumprir o que ela prescreve. Entretanto, não há e nunca haverá nenhuma lei, norma ou regulamento que possam produzir ou gerar o caráter do amor de Deus nas pessoas!

5:24 E os que são de Cristo de Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.

Reiterando a supremacia do Espírito sobre a auto-orientação da "carne", e relatando o triunfo da "obra consumada" (cf. Jo 19:30) de Cristo na cruz, Paulo quer fazer claro que o conflito carne/Espírito não é um jogo entre forças equivalentes que terminaria num "0 x 0" . Por conclusão lógica, Paulo declara: "E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências".

5:25 "Se vivemos no Espírito,andemos também no Espírito."

Embora alguns considerem este versículo o início de um novo parágrafo, os conceitos relacionados com o versículo anterior (5:24) são muito estreitos para significar uma quebra do pensamento. O contraste carne/Espírito é ainda enfatizado, bem como o contraste morte/vida do "crucificando a carne" e "vivendo pelo Espírito". "Se [e este é o caso do cristão] vivemos no Espírito, andemos também no Espírito". Tendo começado (3:3) a viver pelo Espírito em nossa conversão e regeneração iniciais, quando o Espírito de vida (Rm. 8:2; I Co. 15:45), o Espírito de Cristo (Rm. 8:9), trouxe Sua "novidade de vida" (Rm. 6:4) em nosso espírito por Sua própria presença (1 Jo 5:12), não poderíamos progredir, como conseqüência objetiva desta condição, para as legalistas-libertinas expressões da carne (3:3); pelo contrário, iremos permitir que o Espírito de Cristo exerça Seu senhorio em nossas vidas no sentido de nos guiar e nos manter numa conduta que corresponda a uma consistente expressão do caráter d'Aquele que vive em nós.

Tendo "passado da morte para a vida (Jo 5:24; 1 Jo 3:14) na regeneração, nosso santificante "andar no Espírito" (cf. 5:16) deve representare expressar de forma consistente essa nossa vida. (Col. 3:4). A nossa vida cristã apresenta o fruto do Espírito (5:22) pela receptividade em fé de Sua atividade em nosso comportamento (Col. 2:6).

5: 26 . Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros.

Quando nós "andamos no Espírito" (5:16, 25) ou seja, manifestando, o "fruto do Espírito"jamais seremos "cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros" pela importante razão de que tais sentimentos e comportamentos não são produzidos pelo Espírito e, portanto, não são condizentes com o caráter de Cristo. Pelo contrário, eles são as "obras da carne" (5:19-21) com as quais Paulo havia se deparado nas igrejas da Galácia.

Assim, tanto o legalismo quanto a libertinagem são expressões possíveis de uma vida religiosa fora do contexto da liberdade cristã e, por isso, são violações dessa liberdade que nos possibilita a ser tudo que Deus quer que sejamos pela expressão do Seu caráter.

Em lugar de humildade(cf. Fil. 2;3-8) que reconhece o lugar do homem em relação a Deus e aceita que não é o que fazemos, mas o que Ele faz que é de valor, a "carne" opera o "conceito vazio" de partidarismo, de vanglória, do "orgulho espiritual".

Desse modo, o orgulho invejoso leva a competitivos jogos de podere a conflitos e provocações relativos a sistemas de crenças, padrões morais, posição pessoal, etc; tanto quanto a ressentimentos por causa desucesso, prosperidade ou posição de outrem.

A expressão "uns aos outros" que Paulo emprega indica que ele está enfatizando o tipo de relações interpessoais que devem existir entrepessoas cristãs.

A humildade e aceitação, harmonia e unidade que estão presentes no comportamento coletivo cristão quando estes, "através do amor, servem uns aos outros" (5:13) e "carregando as cargas, uns dos outros" (6:2) são, muito rapidamente, pervertidosquando os cristãos deixam de cumprir a lei de Cristo e passam a "morder e devorar uns aos outros" (5:15) e "mesmos possuídos de vanglória, invejar e provocar uns aos outros".Nessa atmosferae pervadido por essas emocionalidades, intencionalidades, moralidades e práticas, a comunidaderefleteas "obras da carne" e formam, assim, uma caricatura do Corpo de Cristo.

Paulo irá continuar, portanto, a tecer considerações acerca da centralidade que os relacionamentos entre cristãostem dentro dacomunidade eclesial nos versos seguintes(6:1-10).

Ao contrário das inevitáveis tentativas dos judaizantes de interpretar como licenciosidade o evangelho da graça e liberdade pregado por Paulo, o apóstolo explica que nossa liberdade é tão-somente para amavelmmente servir uma aos ooutros enquanto cristãos pela dinâmica operativa do Espírito. Somente assim, os cristãos serão livres para funcionar como Deus planejou que a humanidade funcionasse para sua glória.

È muito importante perceber que os cristãossó podem expressar esse relacionamento de amorse concebe asi mesmo como alguém que sabe queo "Cristo em vós" é um "Cristo em mim para-o-outro". Não basta um reconhecimento individual ou coletivo apartado da realidade de que o caráter de Cristo é amor e que os frutos do Espírito é a evidência de Sua presença.Corpos justapostos não comungam o amor de Cristo, apenas aqueles que servem uns aos outros através do amor, amam através do serviço realizaas palavras de Jesus: "Mas entre vós eu sou como aquele que serve" (Lc 22:27).

Não há dúvida de que há cristãos que compreenderam o sentido da liberdade cristã, nos quais Cristo está formando o Seu caráter e isso é visível no modo como exercem sua liberdadecujo limitese dá no serviço do amor de uns pelos outros. Entre eles ninguém manda e ninguém é mandado, mas todos, igualmente, servem.

Que o Senhor Jesus vivo quer manifestar Seu caráter de amor, e é competente para assim fazer pelo Seu Espírito, é uma importante ênfase desta passagem. Nós temos notado quea ação do Espírito é o maior poder que subjuga as propensões da carne (cf. 5:16). Avisão dominantede como Paulo vê a vida cristã não é a da "carne" medindo força e ganhando terreno em relação ao Espírito, mas, pelo contrário, o poder do Espírito queopera no cristão para conquistar a vitória sobre o pecado. Isto é consistente com o ensino de Paulo aos Romanos: "A lei do Espírito de vida te livrou da lei do pecado e da morte." (Rm 8:2). Qualquer ajuntamento humano, organizado com base em leis outras, mandamentos outros e práticas outras, ainda que pretensamente cristãs, que não são aquelas que caracterizam o Corpo de Cristo no qual cada membro se vincula aos demais pelo amor (e demais frutos do Espírito) irá enfatizar a inabilidade ou a incapacidade do cristão, sua fraqueza, suas tendências pecaminosas, suas "obras da carne" e ao fazê-lo , faz vigir entre eles a velha religião e faz surgir entre eles os velhos judaizantes, os "falsos irmãos" tão "bem-intencionados" hoje quanto foram na Galácia.

Entretanto, o Evangelho da graça e da liberdade reconhece a suficiência da "obra consumada" de Jesus Cristo para vencer os poderes do pecado e liberar os cristãos para serem gente como Deus planejou, gente que manifesta o caráter e a vida de Jesus (Cf. 2Co 4:10,11). Ora, a pregação de Paulo não é a de uma teologia de perfeccionismo passivo ou trinfalismo transcendente, mas do Evangelho da Graça que reconhece a vitória de Cristo e a suficiência de Deus pelo Seu Espírito na comunidade e na vida cristãs.

Outra observação aplicável pode ser feita ainda a respeito da ênfase de Pauloem "servindo uns aos outros" (5:13) em contraste com "mordeis e devorais unsaos outros" (5:15) e ainda: "provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros" (5:26). Esses contrastes indicam a diferença entre as obras do Espírito e as obras da carne , sendo que estas últimas podem se dá num ambiente religioso, mas nunca num relacionamento entre cristãos que exercem a liberdade de amar, a qual escandaliza a religião.

A religião é, por natureza legalista e libertina, pois se realiza fora dos limites amorosos da liberdade cristã, mas sem, contudo, perder o "prestígio" (cada vez menor, diga-se) de ser uma respeitável instituição social. Por essa razão, a religião nunca vai engendrar ou gerar amor ágape! Ela está fadada a produzir apenas as "obras da carne" (5:19-21), transformar Paulo's em Saulo's (1:13) e cristãos em "falsos irmãos" (2:4).


Autor: Adir Freire


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