Podemos ainda ser felizes?



Este belo artigo de ORLANDO SABKA relata parte de sua história e de muitos imigrantes/migrantes:

Fomos criados dentro de princípios morais rígidos, morando, inicialmente no interior do Rio Grande do Sul, numa fazenda. Posterior, fomos estudar na sede do município de Ijuí. Somos descendentes de imigrantes alemães e húngaros. Tanto os avós maternos como os paternos aportaram no Brasil no início do século passado e se estabeleceram nos pampas gaúchos.
Lembro com saudade daqueles bons tempos, mesmo não dispondo de todas as facilidades à nossa disposição atualmente, mas lembro também que ladrão tinha cara de ladrão e bandido, cujas faces eram cruéis, facilmente identificados, como se fosse uma marca registrada, porém eram poucos, não igual aos dias atuais, que convivem em nosso meio sem sabermos quem são, de modo que os roubos e crimes se banalizaram e se tornaram corriqueiros.
Naqueles tempos de outrora os pais, tios, avós, professores e vizinhos eram dignos de respeito. Havia afeto. Responder com grosseria aos mestres, aos pais e aos idosos, então, nem pensar, não havia respaldo para tanto. Havia confiança nos adultos e os medos existentes eram do escuro, de bicho papão e outras coisas do imaginário das crianças.
Observo, nos dias atuais, o quanto que perdemos e isso me deixa triste. Vejo medo nos olhos de nossas crianças, nos jovens, adultos e velhos. A incerteza está presente. Filhos matam os pais e avós, crianças são violentadas, os sequestros e os roubos são diários, tirar proveito próprio virou instituição. As multas de trânsito se tornaram indústria e policiais na blitz abusam da autoridade, a ponto de haver morte de pessoas inocentes.
Aos cidadãos honestos deveres dos mais diversos, direitos humanos para os criminosos e regalias nas prisões. São taxados de bobo quem paga em dia seus compromissos, enquanto que os caloteiros são anistiados e não levar vantagem é considerado um otário.
A inversão de valores é de tal monta que os maiores ladrões usam terno e gravata, pedofilia virou moda e assassinos têm cara angelical e isso sem contar dos mais variados golpes aplicados nas pessoas de bem e no comércio de modo geral. Vemos crianças morrendo de fome, professores são agredidos em sala de aula, traficantes de drogas e armas ameaçam comerciantes e nós somos obrigados a nos proteger pondo grades em nossas portas e janelas, como também cerca elétrica.
Afinal, o que aconteceu conosco? Que valores são esses?
Os abraços nos filhos se tornaram raros e eles, quando passam de ano na escola querem um carro ou uma moto, como se isso fosse uma obrigação dos pais. Nas mochilas o que menos tem são livros escolares, mas o celular e o MP3 são imprescindíveis. No quarto dos adolescentes não pode faltar a TV, DVD, videogame, fotos dos famosos, pôster de filmes e assim por diante.
Algo simples como um gostoso bate papo deixou de existir. Já não existem mais lares como antigamente. Os jovens estão ausentes, assim como os pais. Vida moderna e corrida, o tempo a passar muito rápido e nossos jovens querendo ser adultos antes do tempo. Um tempinho para uma boa conversa, nem pensar. Não se observa mais o mundo ao nosso redor, muito menos um por do sol ou as estrelas no céu.
Por acaso sabemos o nome do nosso vizinho ao lado, ou à nossa frente? Quando foi que oferecemos um prato com comida e roupa sem sentir medo, até de olhar nos olhos do pedinte? Quando foi que nos fechamos para a realidade? No que se transformou o mundo, sendo que esse mundo somos nós, parte integrante?
Queremos de volta a lei e a ordem, a nossa dignidade, a nossa paz, a liberdade e a segurança. Queremos sentar num banco de praça e poder observar as pessoas passando, as crianças brincando, os pássaros a cantar e sentir no rosto a brisa suave do vento. Queremos flores em nosso jardim e poder tocá-las. Ao invés de grades nas portas e janelas, deixa-las escancaradas nas noites de verão. Sentar novamente na calçada sem preocupação, a conversar com amigos.
Queremos a vergonha, a solidariedade e a honestidade como motivo de orgulho. Queremos a retidão de caráter, o olho no olho e a cara limpa sejam luzes resplandecentes e que de fato haja esperança e muita alegria e que todos possam ter moradia, trabalho e comida na mesa três vezes ao dia. Vamos valorizar mais o “Ser” e deixar em segundo plano o “Ter” e que haja o retorno da verdadeira vida simples, sem rodeios e sem meias palavras, aquela vida transparente e bela de outrora. Voltar a ser gente de fato, com sentimentos e discordar dos absurdos. Que a solidariedade, o amor e a fraternidade tenhamos como base. Que tenhamos também indignação diante da falta de ética, do respeito e de moral.
Que possamos construir sempre um mundo melhor, com melhores opções, justo, humano, de modo que haja respeito e solidariedade entre as pessoas, não só aqui no Brasil, mas em todo o Planeta Terra. Querer essas coisas seria por acaso utopia? Pensamos que não, pois se cada um fizer a sua parte, certamente teremos um mundo cada vez melhor e evitaremos milhares de aborrecimentos.

(*) ORLANDO SABKA é morador em Rondonópolis - E-mail: [email protected]
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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