Tudo vira ideologia



Estava num ônibus ao fim da tarde voltando para casa. Estava cheio e o frio fazia com que as pessoas se amontoassem para ter ao menos um pouco de “calor humano”. Então comecei a ouvir as conversas em cada grupinho de amigos a minha volta
Conversas corriqueiras, dessas próprias para ônibus na hora do “rush”. Até que uma das conversas me chamou a atenção. Deixando as outras vozes soarem apenas como fundo, deixei me apreciar pelo que três adolescentes na média de uns 13 anos ou menos falavam entusiasticamente. De repente uma falou paras as outras se não queriam participar de uma quadrilha. E começou a explicar como seria. Disse que os meninos na hora do cortejo iriam agarrar a menina e que seria segundo ela, “o maior barato”, e que as amigas não podiam perder aquilo.
Essa informação já me seria suficiente para construir uma crônica. Porém, o que eu até então não sabia é que havia muito mais matéria prima para tal construção.
Estava ainda degustando as informações iniciais, quando ela continuou sua descrição da quadrilha. E disse algo que confesso. Deixou-me de cabelos em pé.
Disse que o rapaz que faria o papel do padre na quadrilha interpretaria o papel se fazendo de padre pedófilo. E ficaria durante a mesma acariciando o outro rapaz que seria o coroinha.
Aquilo foi demais! Enquanto as amigas riam junto com a colega, eu tentava entender o que estava acontecendo com nossa juventude. Então cheguei a uma trágica conclusão.
Tudo vira ideologia. Para essas meninas tenho certeza, se perguntasse o que elas pensam sobre os políticos, elas diriam que são todos ladrões. Se perguntasse sobre a polícia, diriam que age de forma arbitrária, se perguntasse sobre as igrejas evangélicas, diriam que querem nosso dinheiro. Pois estas são todas ideologias criadas pela mídia. Assim como para elas, a representação de um padre está ligada à pedofilia. É como se não houvesse bons policiais, políticos, padres e assim por diante. Não há questionamentos sobre as coisas que ouvem na mídia.
Depois disso, uma delas disse que a Copa tinha começado. Outra falou que não tinha graça por que o Brasil não ia jogar com a Argentina. No que a outra retrucou dizendo ninguém gosta da Argentina.
De novo ideologia. Essas meninas não tinham idade suficiente para compreender os aspectos culturais de rivalidade esportiva entre Brasil e Argentina. Repetiam apenas o que ouviram em algum lugar.
Fiquei muito triste em entender que nossos jovens são programados dessa maneira. E que poucos terão oportunidade de fazer uma faculdade onde, se souberem aproveitar, poderão livrar-se dessas falácias que a sociedade jogou sobre eles.
Não é bom que pelo erro de uns todos paguem. Por que alguns policiais, lideres religiosos agem de forma inadequada não podemos condenar todas as instituições a que estão ligados. Existem lá muitos pais de família trabalhadores, líderes sensatos que estão dando o melhor de si para a população. E nem dizer que ninguém gosta de argentino. Isso é mentira. Tenho bons amigos argentinos. O que existe (mesmo com meus amigos) é uma rivalidade esportiva, e isso já faz parte de nossa cultura.
As escolas deveriam explicar isso para as nossas crianças desde cedo nas escolas. Vacinando-as contra essa peste social a ideologia.



Marcelo Bancalero
Publicado no Recanto das Letras em 11/06/2010
Código do texto: T2314794
Autor: Marcelo Bancalero


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