A César o que é de César e a Deus o que é de Deus



Todo aquele que “anuncia o nome de Deus e não tem medo de ir até as últimas conseqüências” é um profeta. Partindo deste princípio e querendo arrumar desculpas para condenar Cristo, os partidários de Hérodes e os fariseus lhe fizeram o questionamento. “É lícito ou não pagar impostos a César?” (Mc 12, 14b) A resposta dada por Jesus faz parte deste movimento profético, pois ao afirmar “devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12, 17), Jesus diz que o projeto de reino de seu Pai nada tem a ver com o projeto de Roma. Ele condena as práticas do templo, que servia apenas para comercializar e recolher produção. Por isso ele questionava: “Por que zombam da casa de meu pai? Esta é uma casa de oração, não é casa de comércio”. Além do que, aos imperadores eram dados dois títulos: o primeiro era de “Augusto” (que representava o filho dos deuses) e o outro, de “César” (o senhor das legiões). Inclusive, eram devido a estes títulos que os imperadores se consideravam deuses! E Jesus também estabelece uma crítica partindo daí: Não existe um Deus para os pobres e outro para os ricos. Existe um só Deus, que não era o imperador!

Mas o problema não era apenas este: o imposto era o sinal da dominação romana; os fariseus o rejeitavam, mas os partidários de Hérodes (os herodianos, que pensavam em poder, riqueza) o aceitavam. Se Jesus acaso respondesse “sim” ao questionamento que havia lhe sido feito, os fariseus poderiam desacreditá-lo diante do povo; se ele dissesse “não”, os partidários de Hérodes poderiam acusá-lo de subversão. Jesus, astuto, não colocou em momento algum a questão do imposto em xeque. A preocupação dele é com povo: a moeda é de “César”, mas o povo e a terra são de “Deus”. O imposto é justo quando se reverte em benefício à população. Jesus condenou a transformação do povo em mercadoria, que enriquecia a dominação interna e estrangeira.

Daí um ponto que merece ser discutido: de fato, religião e política são temas que não se relacionam?

A realidade de conjunto entre religião e poder começou no século IV, quando Constantino se declarou cristão, filho de um só de Deus, Pai de todos, e legalizou o cristianismo (que até então, todo aquele que fosse cristão era, no mínimo, mandado à fogueira). Surge então o período medieval, que foi a soma de religião e poder. E nesse contexto é importante retomarmos importantes pensadores, como Agostinho de Hipona (Santo Agostinho). Para ele, a relação entre as duas dimensões é de ligação. Para Tomás de Aquino (São Tomás), no entanto, o Estado conduz o homem até certo ponto, quando então se exige o poder da Igreja. Para Tomás, a fé está sobre a razão, pois é o Estado quem chega a Deus. O poder, portanto, é divino. Daí um sistema teocrático, pois Deus deveria ser o centro do universo.

Partindo deste princípio, é possível sim chegar a conclusão de que religião, política e ciência precisam estar em conjunto, uma vez que uma complementa a outra.

Se Jesus condenou Roma devido aos tributos, fico imaginando se ele fizesse uma visita breve ao nosso país, cada dia mais corrompido devido a sociedade sustentada única e exclusivamente pelo mercado. O verbo, hoje em dia, é “TER”, e não "SER". Só Deus para nos amparar!
Autor: Tiago Cosmo da Silva Dias


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