Sem Sono



Há cinqüenta anos dorme um homem na minha cama.

Ele pouco sabe de mim e eu dele nada sei!

Acordo no meio da noite e me ponho a sondá-lo.

Não reparei quando chegou que avançaria sobre o tempo.

Não lhe perguntei se estava de partida. Ou se iria a algum outro lugar.

 

Não sei o verdadeiro nome dele ou se gosta de lírios.

Nunca o vi estender as mãos para alimentar os pássaros

Ou recolher borboletas que brincam nos dias ensolarados.

Jamais o encontrei debaixo das amoreiras a adivinhar sabores.

 

Mas foi ficando. Assim meio que sem querer ficar.

Quase não sorria. Tinha os pés fincados na realidade.

E me acostumei com a sua sombra e com a música do seu sono.

Mas me inquieta um homem dormindo há tanto tempo na minha cama.

Queria saber seu nome, os gostos, os prazeres!

Queria tê-lo além do sono, em orgias sobrenaturais.

 

Escrever-lhe-ei um bilhete com data e hora para resposta.

Vou convidá-lo para dançar e dizer que a mulher ao lado deseja compartilhar sonhos.

 

Talvez acorde. Talvez sorria.

Ou simplesmente volte a dormir.
Autor: Nara Junqueira


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