IDH no Brasil – O abismo da desigualdade



A desigualdade compromete o padrão de desenvolvimento do Brasil em 19% e a disparidade de renda é o fator que mais influencia negativamente nesse resultado. Essas são conclusões do Programa das Nações Unidas em Desenvolvimento (PNUD), que passou a calcular em 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade (IDH-D).

O indicador não utiliza médias nacionais, mas considera as desigualdades do País em relação à renda, à educação e à saúde. A nova metodologia estabelece uma espécie de punição que altera resultados para países com mais disparidades.

Com essa forma de cálculo, o indicador para a América Latina e o Caribe cai 19,1%, percentual quase igual ao do Brasil (19%). Em alguns países, os resultados são ainda mais negativos: Nicarágua (-47,3%), Bolívia (-41,9%) e Honduras (-38,4%). A diferença é menor em nações como Uruguai (-3,9%), Argentina (-5,9%) e Chile (-6,5%).

Para o diretor do PNUD para a América Latina e Caribe, Heraldo Muñoz, o combate à pobreza deve continuar como estratégia central de programas sociais. "É preciso ir além: a desigualdade por si mesma é um obstáculo para o avanço no desenvolvimento humano, e sua redução deve incorporar-se explicitamente na agenda pública", diz.

Segundo o relatório do PNUD divulgado ontem, a desigualdade de rendimentos, educação e saúde persiste de uma geração para outra num contexto de baixa mobilidade socioeconômica.

Com informações mais detalhadas, é possível traçar políticas públicas com impacto maior para populações mais vulneráveis, explica a professora do mestrado de Avaliação de Políticas Públicas e da Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Elza Braga. Hoje, o Bolsa Família exclui dos repasses sem terra que vivem em ocupações rurais e famílias que vivem em áreas de ocupação sem endereço.

"Quanto mais refinados são os dados, mais vão mostrar desigualdades. O IDH não refletia isso com fidedignidade", diz. Elza Braga defende também que as ações de combate à desigualdade não fiquem reduzidas às transferências de renda e que haja intersetorialidade das políticas públicas.

No Brasil, das três dimensões do IDH a que representou maior perda foi a renda (-22,3%), seguida de educação (-19,8%) e saúde (-12,5%). Segundo o membro da equipe do relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud e mestre em Políticas Públicas, Anderson Macedo, esse é o primeiro relatório sobre o tema para América Latina e Caribe. "Havia uma crítica contra a forma como era medida a renda (pelo PIB per capita) não era viável para países muito desiguais", avalia.

O relatório do IDH-D propõe que as políticas públicas tenham alcance (cheguem a quem precisa), amplitude (contemplem fatores que perpetuam o problema) e apropriação (beneficiados como agentes de seu desenvolvimento).

O IDH-D para a América Latina e o Caribe não é comparável ao IDH divulgado pelo PNUD no relatório de Desenvolvimento Humano internacional, a ser divulgado em outubro. Para o IDH-D foram utilizadas as mesmas dimensões (rendimento, educação e saúde), mas com outros dados. No cálculo da renda, enquanto o IDH utiliza o PIB per capita, o IDH-D usa a renda per capita domiciliar.
Autor: Laura Nunes


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