O IMAGINÁRIO DOCENTE SOBRE MEIO AMBIENTE NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE MANAUS
INTRODUÇÃO:
As questões ambientais vêm ganhando destaques em meio às questões políticas, econômicas e sociais do mundo devido às transformações que este vem passando, criando necessidades de mudanças de paradigmas capazes de superar a visão distorcida de Meio Ambiente criada no imaginário do homem, decorrente do modelo de produção vigente. Visão essa que, apoiada nos moldes capitalistas, constitui-se de forma fragmentária e alienante, atendendo somente às expectativas do próprio modo de produção.
O novo paradigma deve se apresentar como uma visão de Meio Ambiente mais expandida, indo além de perspectivas naturalistas que visam a natureza como foco principal, deixando de lado todas as relações que nela se travam. Ele busca uma reeducação da humanidade, assim como uma construção crítica e reflexiva do homem, dando a ele autonomia sobre suas ações e mecanismos de desalienação para defender-se dos conflitos em seu meio.
Partindo do campo educacional, o novo paradigma age sobre a instituição que melhor representa a sociedade, a escola, e sendo o professor o transmissor de conceitos dentro dela, firmou-se como objetivo principal deste trabalho, decorrente de uma pesquisa científica, uma compreensão do que costa no imaginário dos professores pesquisados, por meio, é claro, das práticas e das diversas relações que o docente trava na escola.
A pesquisa é de caráter bibliográfico, documental e de campo, e recorre a uma perspectiva qualitativa. Dividida em três momentos, o primeiro teórico - realização de leituras e fichamentos de textos o segundo prático a atuação em campo onde foram realizadas observações e entrevistas semi-estruturadas - e por fim teórico prático, o qual tinha por objetivo a análise de dados coletados.
1.O novo paradigma Meio Ambiente
O conceito de Meio Ambiente que aqui se deseja tratar engloba o ser humano em todas as suas instâncias, sejam elas de ordem social, econômica, política, cultural, ecológica, biológica, etc. O homem, como parte do meio, construtor do ambiente, sujeito do ambiente, capaz de perpassar pelos assuntos e criar uma cadeia de relações entre eles. Nessa perspectiva, um sujeito capaz de entender as ações decorrentes do meio onde vive.
São muitos os conceitos de Meio Ambiente encontrado nas diversas literaturas, ao qual grande parte diz respeito apenas à natureza biológica dos seres, como nos mostra SANTOS (2000, p 31) ao citar o seguinte conceito apresentado pelo PNUMA de 1978: "Meio Ambiente é o conjunto dos sistemas externo físico e biológico, no qual vivem o homem e outros organismos". Baseando-nos por esses conceitos, estaríamos limitando o M.A a um pequeno terreno teórico , ao qual, não corresponde nem de longe seus campos de atuações. Porém alguns autores já trabalham com uma nova perspectiva ambiental.
De acordo com GUTMAN (1998) Apud SANTOS (2002):
O Meio Ambiente é o conjunto de componentes naturais e sociais e suas interações em determinado espaço ou tempo (onde associa-se) a dinâmica, interações sociedade-natureza e suas conseqüências ao espaço que habita o homem e a qual o mesmo é parte integrante.
Sendo assim, Meio Ambiente é uma cadeia de relações que se da entre a natureza e o homem, que é tão parte do meio quanto qualquer outro, visto que, ora exerce função de sujeito e ora exerce a função de autor. Para que isto fique claro basta pensarmos o seguinte: cada vez que o homem modifica a natureza acaba também se modificando, já que dela faz parte.
Situando o homem como um sujeito de importância no meio, fica mais fácil fazer com que se compreendam alternativas, tais como a sustentabilidade, pois à medida que este se insere e começa a pensar criticamente nas suas ações e na utilização que faz dos recursos retirados da natureza, pode analisar de quais formas isso poderá afetá-lo futuramente. Mas para que isso aconteça nos diz SORRENTINO (2002), é necessário "a exigência de políticas públicas voltadas para a inclusão e participação". À medida que tais políticas contribuam no campo da sustentabilidade, também, contribuiriam pela inclusão social, já que não há como pensar em Meio Ambiente sem que se admita a participação e contribuição de todos.
2. A Relação Educação e Meio Ambiente
A Educação, quando relacionada ao Meio ambiente, trabalha sempre de forma a considerar o todo e não apenas as partes como se tem aí feito corriqueiramente nas escolas.
A fragmentação do ensino, por meio de disciplinas específicas, onde cada educador é responsável por sua parte, não cabendo a eles preocupar-se com as demais, deixa aparente a visão individualista e cartesiana que aí se esta implantando, ou melhor, que fora implantada. Por isso não é de se estranhar quando diversas pesquisas apontam para enormes lacunas nas graduações dos docentes, as quais tiveram sua formação acadêmica, voltada unicamente para a sua área de conhecimento. (Nesse sentido afirma SANTOS, 2002 p 16):
[...] cada vez mais tornou-se evidente a importância das interligações dos saberes como condição para construção de conceitos difundidos como verdades inquestionáveis e assim proporreconstrução de uma nova concepção de sociedade e natureza.
Deixando clara a necessidade de uma Educação voltada para os princípios de Meio Ambiente, de modo que, um esteja entrelaçado ao outro, afim de, dar aos sujeitos condições de superação de uma visão cartesiana ultrapassada, que não condiz nenhum um pouco com a realidade de hoje.
3.Educação Ambiental Alternativa para a educação
A educação ambiental na visão de SANTOS (2008, p24.)
[...] é um dos eixos fundamentais para impulsionar o processo de preservação da deterioração ambiental, de aproveitamento sustentável de recursos e de reconhecimento do direito de cidadão e comunitário a um ambiente de qualidade.
Sendo assim, não há como negar que ela é essencial para a sobrevivência da natureza e do homem, e compete para que este saiba lidar com as problemáticas de sua época.
Nesse sentido LOUREIRO (2000a). Nos diz que:
[...] para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em que vivemos a EA por definição, é elemento estratégico na formação de ampla consciência crítica das relações sociais e de produções que situam a inserção humana na natureza.
Trabalhar E.A , é partir de uma perspectiva crítica libertadora. Critica no sentido de que ela, é quem melhor pode atender aos questionamentos atuais, e libertadora pois,a medida que, passamos a nos basear por ela somos capazes de compreender as mudanças ocorridas no sistema, ao qual, estamos inseridos.
3.1O Novo paradigma em ação
Para que se ponha em prática esse novo paradigma, Meio Ambiente, surge a Educação Ambiental, como alternativa de conscientização e esclarecimento das relações sociais, promovendo reflexões sobre diferentes saberes, formando seres críticos, transformando a realidade e as condições de vida dos sujeitos.
O educador que trabalha numa perspectiva ambiental crítica precisa ser capaz de promover mudanças mentais, de formar seres pensantes com capacidade de compreender as relações travadas em seu meio, para que assim possa ele ajudar a sua comunidade na compreensão da problemática ambiental. Apud SANTOS (2002, p90), "trabalhar Educação Ambiental é partir de uma perspectiva que permita contribuir para pensar e repensar a sociedade em seu conjunto".
Uma educação que se diz Ambiental considera todos os sujeitos como seres ativos de mudanças na sociedade, dando margem para que cada um seja suficientemente capaz de tomar suas próprias decisões diante das problemáticas sociais as quais enfrentam no dia-a-dia. Ela confronta de forma direta as ações do sistema, o que implica em profundas transformações no âmbito social, seja como amenizadora de diferenças ou permitindo uma facilidade entre as relações de sujeitos de classes, culturas ou raças distintas.
Para que esse novo paradigma entre em ação, é essencial que se faça um esclarecimento do próprio tema. De acordo com LOUREIRO (2002p,70): "uma das grandes falhas dos processos educativos denominados temáticos ou transversais, que se reproduz na Educação Ambiental, é a falta de clareza no significado da dimensão política".
Essa falta de clareza acaba por trazer diversas dificuldades no nosso modo de viver, visto que problemas atuais como as mudanças climáticas e escassez de recursos naturais são decorrentes do modo de vida ao qual estamos levando. E nosso modo de viver é, sobretudo, uma inculcação oriunda das escolas, inculcação essa que muitas vezes forma um imaginário maneira pela qual pensamos e formamos nossos conceitos - confuso e distorcido da realidade.
4. O Imaginário Docente sobre Meio ambiente
Pensando na falta de clareza da significação do que é o Meio Ambiente, o presente trabalho buscou verificar quais os conceitos sobre M.A contido no imaginário dos docentes da escola pesquisada, através de entrevistas e observações as quais revelaram que os professores possuem diversas concepções do assunto e que boa parte delas está equivocada. Podemos assim dividir as concepções apresentadas pelos docentes em três grupos.
O primeiro diz respeito a meio ambiente sendo a própria natureza, ou seja, a fauna, flora e os rios. O segundo considera Meio ambiente como todos os espaços a nossa volta, casa, escola, trabalho e etc. E por fim o terceiro que compreende Meio Ambiente apenas como políticas conservacionistas de aspectos físicos da natureza. Transcrevo aqui para fins de análise as respostas obtidas por meio das entrevistas com os professores.
Com relação à pergunta "O que é Meio Ambiente?" a professora "A" respondeu que:
"Meio ambiente, são rios, animais, as florestas, toda a natureza".
De acordo com a resposta dada pela professora "A" nota-se que esta limitou seu entendimento sobre meio ambiente a um pequeno aspecto dele, onde o homem não é nem de longe considerado. Não muito diferente foi à resposta dada pelas professoras "B" e "C", a diferença entre as respostas foi apenas uma mudança no espaço ao qual afirmavam ser o Meio Ambiente.
Respostas dadas pelas professoras "B" e "C" respectivamente:
"Meio Ambiente é tudo aquilo que nos cerca; casa, escola, modo de viver, limpeza, organização".
"O meio ambiente é a preservação e a conscientização do lugar onde vivemos".
A partir de uma análise de estudos realizados em São Paulo nos anos de 1991 e 1992 foram visíveis, para os pesquisadores a presença dessas mesmas concepções, onde o ser humano não se faz presente, e aparece quando muito, um observador externo e afastado, ou então como destruidor. Apud, SANTOS ( 2002)
Surpreende-nos perceber que mesmo após dezessete anos, a concepção de Meio Ambiente contido no imaginário do professor não avançou, ao contrário, mostra-se deveras confusa, e os professores investigados ainda mostram grandes dificuldades em compreender as questões ambientais.
Percebe-se que a noção de Meio Ambiente contido no imaginário dos professores, em geral, é referente apenas à natureza, e a realização de trabalhos nesse campo ocorre de forma indevida. As atividades referentes à Educação Ambiental e Meio Ambiente não têm a finalidade de promover o diálogo, de fazer com que os alunos pensem em como a ação realizada pode vir a contribuir para o lugar onde vivem. O Meio Ambiente, quando lembrado, o é apenas nas datas comemorativas e ainda não são devidamente formulados, pois não promovem esclarecimentos nem questionamentos sobre a importância e significado deste. Após a conclusão do trabalho, é possível afirmar que existe uma necessidade de entendimento sobre o significado de Meio Ambiente e como a Educação Ambiental pode ajudar em tal processo a partir da formação dos profissionais que irão atuar como docente na escola, em especial na Educação Infantil e anos iniciais.
Referências Bibliográficas
CAPRA, Fritijof. O Ponto de Mutação- a ciência, a sociedade e a cultura emergente 23 ed. São Paulo: Cultrix, 2002.
CASTRO, Ronaldo S. de; SPAZZIANI, Maria de Lourdes; SANTOS, Erivaldo P. dos. Universidade, Meio Ambiente e parâmetros curriculares nacionais in: LOUREIRO, Carlos Frederico (Org). Sociedade e meio ambiente: a educação ambiental em debate, 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental, Ed: São Paulo: Cortez, 2004.
LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYARARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza (Org) . 2.ed: São Paulo: Cortez, 2002.
SANTOS, Elizabeth da Conceição. Transversalidades e áreas convencionais. Manaus: edições UEA/ Editora Valer, 2008.
SANTOS, Elizabeth da Conceição: Educação Ambiental. Manaus: edições UEA/ Editora Valer, 2002.
Autor: Johara Carmo
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