O PROFETA JEREMIAS: SEU TEMPO, SUA MENSAGEM, SUA VOCAÇÃO.
O PROFETA JEREMIAS:
SEU TEMPO, SUA MENSAGEM, SUA VOCAÇÃO.
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INTRODUÇÃO
ð Jeremias, chamado por Deus para o ofício de profeta, era membro do sacerdócio levítico. Jeremias havia sido educado por seu pai e desde a infância havia sido predestinado para uma santa função. Como profeta, Jeremias esteve atuando por quarenta anos sob os holofotes de Deus diante da nação de Israel como testemunha da verdade e da justiça. Num tempo de apostasia sem paralelo, devia ele exemplificar na vida e no caráter a adoração do verdadeiro Deus. Durante o terrível cerco de Jerusalém, ele seria o portavoz de Yahweh. Prediria a queda da casa de Davi, e a destruição do belo templo construído por Salomão. E quando aprisionado e torturado por causa de suas destemerosas afirmações, devia ainda falar tonitroantemente contra o pecado. Jeremias foi desprezado, odiado, rejeitado dos homens, perseguido pelo patricios, maltratado pelos reis, desprezado e rechasado pelos falsos profetas; todavia, escolhido por Deus e vocacionado desde a eternidade para ser um interprete de Lei, uma cidade, um muro, um coluna, um trator, e uma testemunha ocular dos oraculos de juizo e de restauração de Yahweh.
ðO livro de Jeremias se compõe de uma série de sermões proféticos, combinados com dados históricos e biográficos concernentes aos últimos dias do reino de Judá. Fazendo uso de tudo que estava a seu alcance, Jeremias procurou conter a decadência e a apostasia de Judá, que foi desencadeada pela depravação moral de seus lideres. Mas seus esforços em favor da nação foram quase totalmente inúteis. Suas exortações ao arrependimento sempre caíam em ouvidos surdos. Todavia, suas mensagens continuavam a convidar o povo a abandonar o ritualismo externo e superficial da religião para voltarem-se ao interno e real sentimento para com Yahweh. Ensinava que a corrupção tem sua origem num coração ímpio (17:9), e que sem um novo coração, novas intenções e um novo espírito, o homem é incapaz de fazer o bem (13: 23). Tal mudança só poderia ser efetuada por um ato soberano e criador de Deus (24: 7; 31: 31-34). Como outros profetas, Jeremias advertiu contra as alianças perigosas com outras nações (2:36), admoestou a Judá para que se submetesse ao jugo babilônico, e assinalou que a rebelião levaria a nação ao colapso.
I. SEU TEMPO.
o cronologia dos tempos de Jeremias
650
Nascimento de Jeremias (data aproximada).
648
Nascimento de Josias.
641
Acesso de Amom ao trono de Davi.
640
Acesso de Josias.
632
Josias começa sua busca de Deus (2 Cr 34.3).
628
Josias começa as reformas.
627
O chamamento de Jeremias ao ministério profético.
626
O acesso de Nabopolassar ao trono da Babilônia.
622
O livro da lei achado no templo. A observância da lei. Páscoa.
612
Queda de Nínive.
610
Harã capturada pelos babilônicos.
609
Josias é assassinado. Joacaz reina por três meses. O exército assírio-egípcio abandona o cerco de Harã e se retira à Carquemis. Jeoiaquim substitui a Joacaz em Judá.
605
Os egípcios de Carquemis derrotam os babilônicos em Quramati. Os babilônicos derrotam decisivamente os egípcios de Carquemis. primeiro cativeiro de Judá. Jeoiaquim busca alianças com a Babilônia. Nabucodonosor acede ao trono da Babilônia.
601
Batalha inconclusa entre babilônicos e egípcios.
598
Morre Jeoiaquim. Cerco de Jerusalém.
597
Joaquim, feito cativo após os três meses de seu reinado. Segundo cativeiro. Zedequias chega a ser rei.
588
O assédio a Jerusalém começa o 15 de janeiro. Acesso de Hofra ao trono egípcio.
586
19 de julho: os babilônicos entram em Jerusalém. 15 de agosto: queima do templo. Morte de Gedalias. Emigração ao Egito.
A. AMBIENTE HISTÓRICO
ð Quando Deus chamou Jeremias ao ministério profético em 626-627 a.C. a Assíria, senhora do mundo, sujeitara Judá ao seu domínio, cobrando-lhe tributo. Todavia, a própria Assíria gradualmente enfraqueceu, e após a morte de Assurbanipal em 633 a.C, a Assíria entrou numa ruína. Certas províncias do império perderam-se em 614 A. C., e outras no cerco final de dois anos. Assurubalut foi o último monarca reinante, conservando-se em Harran durante, pelo menos, dois anos após a destruição de Nínive em 612 A. C.
ð Potencialmente, o trono da Assíria estava aberto a qualquer cabo de guerra do tempo. Neco, do Egito, conduziu as suas forças até ao norte da Palestina, defrontando e matando Josias, rei de Judá, em Megido em 609 a.C. subjugando a Síria e pondo-se novamente em marcha até ao Eufrates. Foi, porém, enfrentado por Nabucodonosor da Babilônia, que desbaratou os seus exércitos na histórica batalha de Carquemis e o obrigou a recuar para as suas próprias fronteiras, pondo, assim, termo temporário à ambição egípcia de dominar o Oriente. Foi deste modo que Judá, até ali sujeito à Assíria, passou automaticamente para o controle da Babilônia.
ð Depois da morte trágica de Josias, o seu povo ungiu Jeoacaz, seu filho, rei em seu lugar. Neco, porém, depô-lo a favor de Jeoaquim, seu irmão, pensando que ele serviria melhor os interesses egípcios. Que esta convicção tinha bons fundamentos prova-o claramente o tratamento a que Jeoaquim sujeitou o profeta Jeremias. Depois de Carquemis, Nabucodonosor interessou-se menos por Judá, possivelmente por o descontentamento em Babilônia exigir o seu regresso imediato após ter sido desferido um golpe decisivo contra o Egito. Entretanto, Jeoaquim, confiante nas promessas egípcias de auxí1io massiço, fez uma tentativa de sacudir o jugo de Babilônia. Em resultado disso, em 596 A. C., Nabucodonosor, consolidado o seu poder na pátria, atacou Jerusalém, prendeu Jeoaquim, filho do rebelde e agora seu sucessor, e levou-o com algum do seu povo para o cativeiro. Ao mesmo tempo, pôs Zedequias no trono.
ð O Egito não ousava arriscar uma guerra com Babilônia; em vez disso, procurava enfraquecer pela intriga os laços impostos por Nabucodonosor à Síria e Palestina. A Neco sucedeu no trono egípcio Psamatique II, e presumivelmente foi ele quem procurou persuadir estes países a tomarem parte numa aliança com o Egito contra Babilônia. Zedequias foi um dos monarcas abordados, e parece haver fortes indícios de ter existido um partido pró-Egito na corte. Ananias, o profeta, salientava-se bastante nesta conjuntura, mas Jeremias opôs-se firmemente à proposta. Ver, por exemplo, o capítulo 28, com o seu oráculo do jugo de ferro.
ð Jeremias opunha-se vigorosamente a estes funcionários da corte. Como porta-voz de Jeová, denunciava-os como falsos profetas, afirmando que as suas atividades pró-Egito eram contrárias à Sua vontade e teriam um resultado trágico. Sem dúvida se consideravam verdadeiros patriotas, e é evidente que o seu ódio feroz a Jeremias se fundamentava no fato de, na opinião deles, o profeta ser um traidor confesso. Chamando-lhes falsos profetas, Jeremias não implica necessariamente que fossem homens cruéis, mas antes que a sua intuição ou critério não eram inspirados por Iavé. A sua acusação contra os seus adversários é que não fora Iavé quem os mandara, mas que eles se destacam por iniciativa própria, pelo que as suas predições não se realizarão. Era, pois, aí que residia a falsidade. Falavam em nome de Iavé quando, afinal, Ele não lhes tinha ordenado que o fizessem. De tudo isto se depreende que a sinceridade não basta; só a inspiração divina é que faz de alguém um profeta.
ð É impossível dizer se Nabucodonosor tinha recebido um aviso direto do descontentamento que grassava, ou apenas boatos, mas o certo é que Zedequias foi intimado a avistar-se com ele e a descrever as condições na sua pátria. O seu regresso implica que deu garantias de fidelidade. É pena que, ao que parece, ele não tivesse a coragem e a força moral para resistir à influência de conspiradores pró-egipcistas como Ananias e os seus confederados. Jeremias instava constantemente com o rei para que permanecesse fiel ao seu compromisso, mas quando Hofra se tornou faraó em 589 A C., sucedendo a Psamatique II, a influência egípcia na corte acentuou-se ainda mais e, em resultado de tramas urdidas em segredo, Zedequias foi finalmente induzido a faltar à sua palavra para com Nabucodonosor. O Egito foi lento ao seu socorro, e o monarca babilônio tornou a pôr cerco a Jerusalém em 587 a.C. Por fim, apareceu o exército egípcio e os babilônios levantaram o cerco temporariamente. Foi nessa altura que Jeremias foi preso como desertor que procurava fugir para os caldeus (ver Jr 37.11-15).
ð A repetição do assédio parece ter provocado uma crise. Jeremias tinha a certeza de que a sua intuição provinha de Deus, de que Ele lhe revelara os Seus propósitos de transformar Babilônia no instrumento da Sua vontade. A confiança no Egito, portanto, só poderia abrir caminho à tragédia e ao exílio. Além disso, os inimigos do profeta serviam-se do nome de Iavé para apóiar a sua política pró-egipcista. Por conseguinte, afirmavam que a atitude e as palavras de Jeremias enfraqueciam a vontade nacional de combater. Esta luta revela-se de forma crucial na pessoa de Zedequias, que se erguia entre as duas facções, sendo atraído ora para um dos partidos, ora para o outro. Costuma-se dizer que Zedequias era um fraco, incapaz de tomar uma decisão e enfrentar as conseqüências. Percebe-se que Jeremias não o conseguiu influenciar de forma a fazê-lo manter-se firme no seu juramento de fidelidade para com Nabucodonosor. A batalha foi ganha pelos falsos profetas e Zedequias arriscou a sua sorte, mas pagou amargamente a sua decisão e delongas. O Egito revelou-se uma cana quebrada; o segundo cerco foi coroado de êxito, os babilônios comportavam-se de forma desapiedada e, com grande desgosto seu, Jeremias assistiu à amarga realização da sua profecia.
ð Este livro dá-nos pormenores referentes à vida de Jeremias até à sua partida forçada para o Egito. Depois, abatem-se as trevas sobre o profeta, atenuadas, se porventura o são, apenas por vagas tradições. Nada há que permita chegar a conclusões definitivas quanto à sua sorte. Segundo uma tradição cristã, alguns cinco anos depois da queda de Jerusalém, foi lapidado em Tahpanhes pelos judeus, que, mesmo então, se recusavam a comungar na sua visão e na sua fé.
II. SUA MENSAGEM.
A. O ENSINO DO PROFETA JEREMIAS.
ð Politicamente, como vimos o profeta perdeu, mas espiritualmente obteve retumbante vitória. Com Amós e Oséias, confiava em como, apesar de a idolatria e a infidelidade a Iavé acarretaram necessariamente o castigo, Israel e Judá não seriam destituídos definitivamente da graça de Deus. Com esses profetas, comungava também na fé que o exílio como disciplina séria, não totalmente trágica, mas uma experiência corretiva. O estado como estado estava condenado, mas a fé em Iavé e a fé de Iavé no Seu povo escolhido permaneceriam e sobreviveriam àquele choque crucial.
ð Viu também que o antigo concerto centralizado no templo e no seu cerimonial era ineficaz. Assim, acabou por descortinar que Iavé escreveria um novo concerto no coração do "remanescente", através do qual a religião vital se manteria dinâmica e seria um veículo de bênção para além das fronteiras da nação.
ð Quando o livro da Lei encontrado por Hilquias nas ruínas do templo provocou a reforma do reinado de Josias em 621 A. C., parece evidente que, de princípio, Jeremias vibrou no mesmo entusiasmo que o monarca, emprestando a este a sua influência e auxílio. Parece igualmente evidente, porém, que, mais tarde, a sua confiança nesse avivamento começou a enfraquecer, considerando-o o profeta demasiado fácil e superficial para satisfazer os requisitos de Iavé. A grande necessidade era de uma mudança de coração, só possível a povo que depositasse a sua fé tão-somente no único e verdadeiro Deus. Ora, a geração de Jeremias recusava-se a conceder essa centralidade de fé.
ð Muitos comentadores têm afirmado que Jeremias, com outros profetas, se opunha ao ritual de sacrifícios, considerando-o algo que não fora ordenado por Iavé e que Lhe repugnava. Todavia, a atitude de Jeremias será melhor interpretada se nós descortinarmos a lição de que, sempre que um sacrifício não constitui um verdadeiro índice da adoração e arrependimento do indivíduo, então esse sacrifício não terá valor, sendo, portanto, contrário ao desejo e vontade de Iavé. Quando muito, um sacrifício só poderia ser um meio para atingir o fim espiritual de um regresso contrito ao Senhor, jamais podendo constituir um fim suficiente em si.
B. A AUTORIA DO LIVRO.
ð Trata-se de um problema muito complexo que não pode ser eficazmente abordado numa breve introdução como esta. Em Introduction to the Old Testament, de E. J. Young, encontrar-se-á formulada a posição conservadora acompanhada de um sumário das várias correntes críticas. O próprio livro diz que Baruque, o escriba, escreveu as profecias que Jeremias pronunciou (ver especialmente Jr 36.32), e declara que "ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes". Duma maneira geral, Baruque parece ter sido fiel amanuense de Jeremias e, note-se, acompanhou-o até ao Egito (Jr 43.6).
ð As próprias profecias não vêm em ordem cronológica, o que pode causar confusão numa mentalidade ocidental, habituada a encarar tais problemas de uma maneira lógica. Em The New Bible Handbook, de G. T. Manley, o leitor encontrará um esquema das datas prováveis correspondentes aos vários capítulos. O problema resulta ainda mais complicado por haver grandes diferenças entre o texto hebraico e o dos Setenta deste livro, fenômeno que se verifica mais nele do que em qualquer outro. Estas diferenças não dizem respeito apenas às palavras mas afetam a ordem de apresentação do conteúdo. Para uma breve análise das discrepâncias e uma hipótese de explicação, ver Introduction to the Old Testament, de E. J. Young, obra a que já se fez referência. No corpo do comentário, apontam-se sempre os passos em que a versão dos Setenta parece derramar luz sobre o texto hebraico.
ð Baruque o amanuense do profeta registra as primeiras palavras da profecia com o título do livro: "As palavras de Jeremias". Na LXX a frase inicial diz: "A palavra de Deus que veio a Jeremias", a qual é parecida a outras que se empregam comummente nos demais livros proféticos do AT (ver Ez. 1: 3; Os. 1:1; Jl 1:1; etc.). O livro recebe seu nome de seu personagem principal, Jeremias. Em hebreu, o nome aparece em duas formas: hy"m.r>yI Yirmeyah ( 1: 1, 1 1; 29: 27; 36: 4; etc.), e (2) Why"m.r>yI Yirmeyahuw (27: 1; 28: 5-6, 10-12, 15; 29:1; etc.). O equivalente em grego para ambas as formas é Ieremían (Ieremian), do qual se deriva "Jeremias" em castelhano. O significado do nome é incerto. A segunda metade, Yahu ou Yah, significa Yahweh, Iavé ou Iáh (ver t. I, pp. 180-18 1; com. Exo. 15: 2; Sal. 68:4). Segundo os papiros arámeus do século V a. C., Yahu era uma forma reconhecida do nome divino entre os colonos judeus da ilha de Elefantina no Alto Egito. A primeira metade do nome foi interpretada de várias maneiras: "lança", "exalta", "estabelece", etc., Portanto, Jeremias significa "Yahweh o Estabeleceu.
ð Quanto à tarefa de Baruque, fiel secretario canônico, filho de Nerías (cap. 36: 4, 27-28, 32); também lhe foi confiado a compilação e preservação do material do livro, contribuindo de igual modo nas narrações biográficas do livro profético. Seu posto como "o escrivão" e secretário de Jeremias implicam que Baruque era muito culto. Segundo Josefo (Antiguidades x. 9.1), Baruque descendia de uma família distinguida de Judá. Parece que seu irmão era o principal intendente de Zedequias, quem acompanhou ao rei a Babilônia (ver com. Jr. 51: 59). Seu nobre caráter e influência se manifestam pelo fato de que o resto de Judá, os poucos que quiseram fugir a Egito acusaram a Baruque de ter exercido pressão sobre o profeta contra eles (cap. 43: 3). Sempre leal a Jeremias, Baruque foi com este ao Egito acompanhando ao resto de Judá (cap. 43: 5-7). O capítulo final do livro (cap. 52) consta de um sumário histórico (não uma profecia) que se estende muito além do tempo de ministério de Jeremias, consequentemente escrito posteriormente por outra pessoa. Antes de adicionar este apêndice histórico, escreveu: "Até aqui são as palavras de Jeremias" (cap. 51: 64).
ð O livro de Jeremias explica a maneira em que foram redigidas as duas versões desta profecia (cap. 36). Durante mais de vinte anos Jeremias tinha procurado persuadir ao povo de Judá para que se voltasse sinceramente a Deus. No quarto ano de Joaquin (604 a.C.), Deus lhe ordenou que escrevesse o conteúdo principal de suas predicações, para que pudesse ser lido publicamente por seu secretário (cap. 36: 1-2). Em obediência a essa ordem Jeremias ditou a Baruque às palavras da primeira versão da profecia, e este as escreveram num rolo de pergaminho (cap. 36: 1-4, 17-18; PR 319).
ð Então se lhe confiou a Baruque a perigosa tarefa de ler estas palavras ao povo no templo, num dia de jejum (cap. 36: 5-8). Mais tarde, quando Jehudí, um dos funcionários de Joaquim, leu o rolo ao rei, este o tomou com enojo, cortando com uma faca, lançando-o ao fogo (cap. 36: 20-23). Isto fez necessário que fossem escritos de novo as mensagens anteriores (cap. 36: 27-28, 32). Jeremias ditou de novo as palavras, e Baruque às escreveu. Esta segunda versão do texto foi de maior extensão, porque continha não só as mensagens da primeira, senão também os recebidos posteriormente (cap. 36: 32).
ð O livro de Jeremias revela vigorosamente a rica personalidade de seu autor. Sua natureza sumamente sensível se reflete numa quantidade de passagens que foram chamados suas "confissões" (cap. 11: 18-23; 12: 1-5; 15: 10-18; 17: 14-18; 18: 18-23; 20: 7-18; cf. cap. 1: 4- 10; 6: 11; 8: 2 1 a 9: 1). Estas passagens nos dão uma autobiografia espiritual deste varão de Deus. Jeremias, por natureza tímido e retraído, com freqüência lutava contra intensos conflitos íntimos; mas mediante o poder divino desenvolveu um valor espiritual que o converteu num herói poderoso para Deus. Além destas passagens muito íntimas, o livro de Jeremias contém uma série de narrações biográficas e históricas.
ð Jeremias vivia em Anatote (cap. 1: 1; 29: 27), hoje Anata, uns 4 km. ao noroeste de Jerusalém. Descia de uma família sacerdotal (cap. 1: 1). Seu pai Hilquias não foi, sem dúvida, o sumo sacerdote do mesmo nome que descobriu o livro da lei (2 Rei. 22: 8). Designa-se ao pai de Jeremias como "dos sacerdotes", e não "o sacerdote" ou "o sumo sacerdote". O fato de que Jeremias vivesse em Anatote significa que era descendente de Elí e da linhagem de Abiatar, a quem depôs Salomão, do sumo sacerdócio (ver com. 1 Rei. 2: 26-27). Jeremias foi chamado ao ofício profético aproximadamente em 627 a. C., o 13º ano do reinado de Josías (cap. 1: 2; ver pp. 20-21 e o t. II, p. 79). Pouco depois Deus ordenou ao profeta que pregasse em Jerusalém (cap. 2: 2); mas não limitou seu ministério a Jerusalém, senão que levou a cabo uma gira de predicação pelas cidades de Judá (cap. 11: 6; PR 316). Quando regressou a Anatote, seus concidadãos se confabularam para matá-lo (cap. 11: 18-23). Para escapar destas persecuções, parece que se transladou a Jerusalém. Ali se atentou outra vez contra sua vida. Sua ousada predicação ao princípio do reinado de Joaquim, filho de Josías, de que o templo chegaria a ser como Silo foi uma abominação as autoridades judaicas da época. Os sacerdotes, aos falsos profetas e ao povo de Jerusalém, exigiram que Jeremias fosse morto (26: 6-11). No entanto, os príncipes o defenderam (26: 16).
ð Mais tarde, quando o exército de Nabucodonosor levantou o lugar final de Jerusalém por um pouco de tempo, para fazer frente à ameaça da aproximação do rei de Egito, Jeremias foi apresado quando procurava ir a Anatote (cap. 37: 11-15). O profeta foi acusado de tentar passar-se aos caldeus, e de novo foi amarado e encarcerado. Esta vez, por pouco perde a vida na masmorra fangosa de Malaquías (cap. 38: 6), mas foi resgatado por Ebed-melec o etíope (cap. 38: 7-13). No entanto, Sedequías indubitavelmente o manteve na prisão, em onde ficou até que caiu Jerusalém (cap. 38: 14-28).
ð Depois da destruição de Jerusalém, Nabucodonosor libertou ao profeta e lhe permitiu que se ficasse em Palestina ou que acompanhasse aos cativos a Babilônia (cap. 40: 1-5). Jeremias preferiu ficar com o resto dos judeus na Palestina sob o governador Gedalías que acabava de ser nomeado (cap. 40: 6).
ð Depois do assassinato de Gedalías, os judeus capitaneados por Johanán fugiram a Egito, contra do conselho de Jeremias, levando o profeta consigo (cap. 42; 43). Ali, em Tafnes, Jeremias predisse que Egito seria invadido por Nabucodonosor (cap. 43: 8- 13), e deu sua última mensagem de advertência aos judeus que tinham fugido a esse lugar (cap. 44). Indubitavelmente foi nesse país estrangeiro onde chegou a seu fim a carreira deste grande profeta.
ðUma nota breve sobre as diferenças entre o texto da LXX e o texto massóretico: Existe notável diferença na ordenação das profecias que se referem aos países estrangeiros. No texto hebreu essas profecias se encontram nos cap. 46-51, mas na LXX se encontram nos cap. 25: 14 a 31: 44. Também há uma diferença na ordem em que se tratam as diferentes nações. No MSS a ordem é: Egito, Filistea, Moab, Amón, Edom, Damasco, Cedar, Hazor, Elam e Babilonia. Na LXX, a ordem é: Elam, Egito, Babilonia, Filistea, Edom, Amón, Cedar e Hazor, Damasco e Moab. Há variantes também no texto. Calcula-se que a LXX tem aproximadamente umas 2.700 à 3.097 palavras a menos, e que é 1/8 mais curto que o texto hebreu. A LXX por régua geral não emprega a frase "diz Yahweh" quando se usa com sentido parentético, nem títulos tais como "o profeta", depois do nome de Jeremias, nem "o rei", depois do nome do monarca reinante. Em general, sucede o mesmo com títulos tais como "o Deus de Israel" ou "o Deus dos exércitos". Certas seções inteiras compostas de vários versículos também não aparecem. As seguintes são as mais notáveis: cap. 8: 10b-13a; cap. 10: 6-10; cap. 17: 1-5a; cap. 27 (cap. 34 na LXX): 1, 7, 13, 21; cap. 29 (cap. 36 na LXX): 16-20; cap. 33 (cap. 40 na LXX): 14-26; cap. 39 (cap. 46 na LXX): 4-13; cap. 48 (cap. 31 na LXX): 45-47; cap. 51 (cap. 28 na LXX): 44c-49a; e cap. 52: 27b-30. Além destas, há diferenças menores que têm do que ver, maiormente com frases e palavras isoladas. Para explicar estas variantes do texto alguns eruditos recorreram à teoria de uma dobre recensión (revisão crítica) do livro de Jeremias. Supõem que uma delas se efetuou em Palestina e a outra no Egito. Outros pensam que o tradutor da LXX encurtou deliberadamente o texto omitindo repetições, simplificando o estilo e abreviando as leituras difíceis. Os eruditos conservadores opinaram que pode ter um pouco de verdade nesta segunda teoria. Por exemplo, a omissão do cap. 8: 10b-12 na LXX poderia dever-se a sua similitude com o cap. 6: 12- 15. Outros opinam que a omissão de um ou duas passagens pode dever-se simplesmente ao erro de um copista ao saltar de uma linha a outra que tem uma terminação semelhante, omitindo assim o texto intermédio, omissão que se chama homoiotéleuton. As variantes já tratadas, ainda que mais extensas do que nos demais livros do AT, não afetam muito o tema básico do texto. Poderia ser que um estudo cuidadoso dos manuscritos hebreus mais recentes arroje luz adicional sobre o texto de Jeremias.
ð É fracamente impossível determinar a seqüência original das profecias contidas no livro do profeta Jeremias. Quanto ao texto da LXX às vezes apresenta uma regularidade de ritmo que falta no texto MSS, mas isto não lhe confere autoridade superior. Dos textos essênios encontrados nas cavernas do Qumran (4QJerb), até onde sabemos, os textos foram preservados em consonância com as formas reduzidas da LXX. Mas as formas de Jeremias na versão massóretico também foram encontradas nas cavernas do Qumran, o que pode apenas sugerir que havia duas versões do livro de Jeremias.
III. SUA VOCAÇÃO1.
Em seu ministério, Jeremias esteve associado com os únicos cinco reis de Judá. Quando foi chamado para seu ministério profético, Jeremias tinha aproximadamente a mesma idade que Josias, entre 21 e 27 anos, Josias estava governando desde que tinha oito anos. S. L. Caiger em Líves of the Prophet (Londres, 1949), p. 174, sugere que Jeremias tinha doze anos no ano de 640 a.C, datando seu nascimento no ano 652, e fazendo-o quatro anos mais velho que Josias. Outra opinião, E. A. Leslie Jeremiah, p. 22, e B, Skinner, Prophecy and Religion, p. 24, sugerem que Jeremias tinha uns 20 anos quando aconteceu seu chamamento. Isto poderia datar seu nascimento depois dos 648 a.C. Para um arranjo cronológico do livro de Jeremias, veja Eimer A. Leslie, Jerermiah (Nova York: Abingdon Press, 1954). Neste arranjo, ele assume (p. 113) que Jeremias permaneceu silencioso desde o período 621 até 609 a.C.
A. O CARÁTER DO PROFETA2
ð Jeremias era, de fato, um homem de Deus, sensível a toda a influência espiritual, suscetível de profunda emoção, dotado de visão clara e critério cristalino. Não podia ser comprado nem cavilosamente convencido. Seguia o caminho traçado pelo seu espírito, este sempre apoiado no sentimento de adoração que vivia dentro dele. Foi um homem de Deus do princípio ao fim e, portanto, um patriota fiel até à tragédia. Não era cego para o pecado e loucura do seu povo. Descortinou com profunda amargura o nexo férreo entre o pecado e o castigo, e previu o exílio como uma punição inevitável e irrevogável, a não ser que se verificasse uma conversão. Foi para provocá-la que despendeu sem reservas todo o seu esforço. Essencialmente, foi um mediador impelido pelo patriotismo e pela fé em Deus; daí a veemência das suas emoções e mensagens, ora contra o seu povo, ora intercedendo junto do Senhor. Daí também o seu isolamento, a sua agonia de espírito, os seus cruciais conflitos íntimos. A sua paixão iluminava-lhe os passos, o que facilitou a sua tarefa, embora a tornando desagradável. Viu a condenação, mas não a tragédia final. Tanto Israel como Judá tinha um futuro em Deus, o Qual seria a sua justiça. Haveria um novo concerto. Em Deus leu promessas, não futilidade, pelo que "ficou firme como vendo o invisível". Neste vulto descarnado, clamante, vemos o que Deus ousa pedir ao homem, e o que um homem assim pode dar. A descoberta do Jeremias autêntico pode bem constituir o renascimento de quem o descobre.
ð Este livro extenso não se presta facilmente a qualquer divisão satisfatória, pelo que analisá-lo não passa, duma maneira geral, de formular uma opinião subjetiva. Seria talvez razoável dividir "Jeremias" em dois livros, terminando o primeiro no capítulo 25 e abrangendo o segundo do capítulo 26 até ao fim. A razão desta divisão é que, duma maneira geral, os oráculos proféticos dominam na primeira metade, e a narrativa na segunda.
B. A CHAMADA DO PROFETA Jr 1.1-19.
a) A ELEIÇÃO DO PROFETA (Jr 1.1-3)
ð A chamada de Jeremias baseou-se num profundo sentido da iniciativa de Deus, como se ele tivesse sido predestinado para o cargo de profeta desde que nasceu, antes, até, de concebido-um caso de determinismo espiritual. Os vers. 1 e 2 dão-nos pormenores referentes à descendência de Jeremias e data em que foi chamado. O texto enfatiza a ação soberana de Yahweh, usando três verbos na primeira pessoa: te formei; te escolhi, te consagrei; te dei. Jeremias não tem escolha, ele está sendo convocado para uma missão, devendo submeter-se alegremente ao chamado eficaz de Deus.
ð Anatote (1), a moderna Anata, alguns quatro quilômetros e meio para nordeste de Jerusalém. No décimo terceiro ano do seu reinado (2), isto é, 626 A. C. Até que Jerusalém foi levada em cativeiro (3), ou seja, no ano 586 A. C., quando Nabucodonosor destruiu a cidade. O ministério de Jeremias prolongou-se para além desta data e duraram uns quarenta a cinqüenta anos ao todo.
· Analise do texto:
~r !j,B,b; Î^Ür>C'a,Ð ¿^r>ACa,À ~r `^yTi(t;n> ~yIßAGl; aybiîn" ^yTi_v.D:q.hi ~x,r<Þme aceîTe A introdução mais comum dos livros proféticos diz: "Veio palavra de Yahweh" (Ez. 1: 3; Os. 1: 1; Jl 1: 1; etc.). Na LXX o primeiro versículo de Jeremias diz: "A palavra de Deus, a qual veio a Jeremias". 84 vezes esta expressão aparece no seu livro. Alguns comentadores judeus sugerem que se usou a introdução hebréia mais curta, porque o livro não só apresenta profecias senão que também relata episódios de Deus da vida de Jeremias (cf. Amós 1: 1). Jeremias apresenta desde o começo suas credenciais como profeta de Deus. Esta vocação não tinha sido sua por eleição humana, senão por decreto e ordem direta de Deus. A convicção íntima do chamado divino foi à força que impulsou seu ministério, sendo seu apoio e sustento em momentos de desânimo. Hilquías que aparece no v.1, é o pai de Jeremias, sumo sacerdote, que tanto se destacou na descoberta do "livro da lei" (2 Rei. 22: 8). O fato de que o pai de Jeremias fora de Anatote, provavelmente o identifique como descendente de Abiatar, quem foi tirado do sacerdócio em tempos de Salomão (1 Rei. 2: 26-27, 35). Jeremias era sacerdote por nascimento e profeta por chamado divino, como o foram também alguns dos outros profetas (Ez. 1: 3; Zc. 1: 1). A palavra hebraica rc;y" yatsar, formar, moldar, modelar. E o térmo comum em todos os periodos do A.T; na linguagem moderna é usado no sentido de produzir ou criar. Este vocabulo se encontra mais de 60 vezes nos textos hebraicos. Aparecendo pela primeirsa vez em Gn 2.7: Yatsar é um termo tecnico utilizado para o oleiro no seu trabalho de moldar o vaso (Is 29.16; Jer 18.4, 6). O vacubulo é utilizado para o artesão que molda as pedras, a madeira, o ferro, ou o aço, esculpindo as formas através da fundição ou do trabalho manual (Is 44.910, 12). Mas, o que nos impressiona no texto é a palavra ~r,j, terem ; antes. O poder da Palavra de Deus chamou Jeremias antes de tudo. Deus abrange toda a existência de jeremias, tanto no antes como no depois. Jeremias não tinha nem concepção de existência, Deus já o havia predestinado para uma missão; Deus já tinha um plano e uma finalidade para o jovem Jeremias. O texto bíblico não nos dá base teológica para a preexistência da alma, não! Antes afirma a Predestinação Absoluta de Deus. (veja Predestinação e Livre-arbítrio nos Profetas; Pastor George Emanuel). Quanto ao verbo [dy yada`, o doutor J. I. Packer, disse: "Conhecer", quando usada em relação a Deus, é uma palavra da graça soberana e mostra que ele tomou a iniciativa de amar, escolher, redimir, chamar e preservar. Que Deus está perfeitamente consciente a nosso respeito, "conhecendonos pelo avesso" por assim dizer, é com certeza parte do significado, como se vê pelo contraste entre nosso conhecimento incipiente de Deus e seu perfeito conhecimento sobre nós em 1Coríntios 13:2; mas não é o significado principal, pois este realmente surge nas passagens que se seguem: O SENHOR disse a Moisés [...] porque tenho me agradado de você e o conheço pelo nome (Êx 33:17). Antes de formá-lo [Jeremias] no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei (Jr 1:5)[crivo meu]. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem [...] e dou a minha vida pelas ovelhas [...] As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço [...] jamais perecerão (Jo 10:14,15,27,28). Aqui o conhecimento de Deus sobre os seus está associado ao propósito da graça salvadora. É um conhecimento que implica afeição pessoal, ação redentora, fidelidade à aliança e proteção providencial para os conhecidos de Deus. [O Conhecimento de Deus; Pág.34]. Te consagrei ou santifiquei; Heb. vd;q' qadash, verbo que na forma que aqui emprega, significa "declarar sagrado". "Consagro-te" (BJ). Dei-Te Profeta. O verbo nathan !t;n" , "dar", também pode traduzir-se como "designar". "Profeta das nações te constituí" (BJ). Em forma similar se escolheu a João, o Batista antes que nascesse (Lc. 1: 15). Jeremias não poderia ter-se negado a aceitar o chamado divino. Ao nascer, todos os homens estão dotados de certas possibilidades, mas eles são responsáveis de desenvolver plenamente essas aptidões. Do mesmo modo, Deus hoje tem um plano para cada pessoa. O lugar específico assinalado para nós na vida é determinado por Deus utilizando nossas aptidões. Devemos descobrir qual é esse lugar e procurar cumprir o propósito e o plano que Deus tem para nós. Para as Nações; Heb. goyim, "pagãos" ou "gentios". Jeremias seria mensageiro de Deus não só para Judá, senão também para as nações vizinhas. Profecias concernentes a nações e cidades Jr 46.1-51.64 · Egito Jr 46.1-28 · Filistéia Jr 47.1-7 · Moabe Jr 48.1-47 · Amom Jr 49.1-6 · Edom Jr 49.7-22 · Damasco Jr 49.23-27 · Quedar e Hazor Jr 49.28-33 · Elão Jr 49.34-39 · Babilônia Jr 50.1-51.64 O quarto ano de Jeoiaquim foi um momento crucial na história política de Judá. Na decisiva batalha de Carquemis, os babilônicos desfizeram os egípcios, e assim, subseqüentemente, os exércitos triunfantes de Nabucodonosor ocuparam a Palestina. Com o desenvolvimento dos problemas internacionais tão graves para Judá, o profeta Jeremias emite um número de adequadas mensagens datadas no quarto ano de Jeoiaquim. Significativas entre elas figuram as profecias que concernem às nações. Não só Egito sofre a derrota em Carquemis, senão que, por último, Nabucodonosor avança 800 km Nilo acima para castigar Amom em Tebas (46). Por contraste, Israel será tranqüilizado. Filistéia será arruinada por uma invasão procedente do norte (47). A vida nacional de Moabe será destruída bruscamente e sua glória convertida em vergonha. A causa de seu orgulho, não pode escapar à destruição, mas seu retorno do cativeiro, no final, está assegurado (49.1-6). Edom também é condenada. Repentinamente, será reduzida desde sua exaltada posição, de tal forma que os transeuntes assobiarão diante dele (49.7-22). Damasco, Quedar, Hazor e Elão, de igual forma, esperam seu juízo correspondente (49.23-39). Babilônia recebe a mais extensa consideração nas profecias contra as nações (50.1-51.64). Esta, que é a maior e mais poderosa de todas as nações durante as duas últimas décadas da vida nacional de Judá, será humilhada por seu pergunta. O Senhor dos Exércitos enviará os medos contra ela. Ante o Deus Onipotente e grande Criador, a poderosa nação de Babilônia, com seus ídolos, se encara com a destruição. Com essas palavras de denúncia, Jeremias convida a Seraías, um irmão de Baruque, à Babilônia (51.59-64). Após ler esta mensagem de juízo sobre a Babilônia, Seraías amarra o rolo a uma pedra e o lança ao Eufrates. De uma forma similar, Babilônia está condenada à perdição para não voltar a levantar-se jamais. b) A RELUTÂNCIA DO PROFETA (Jr 1.4-10) O jovem Jeremias fica aterrorizado ante a idéia de ser profeta. Foi assaltado pelo sentimento de indignidade; sua natureza rejeitava uma tarefa que o obrigaria a ser diferente de seus contemporâneos. Como o indica uma amarga queixa posterior (15: 10), temia a inimizade dos homens e dos falsos profetas. ðCalvino, disse: ...Quando a uma se insurgiram contra Jeremias e, ameaçadores, se jactavam de que não era possível que a lei perecesse ao sacerdote, o conselho ao sábio, a palavra ao profeta? [Jr 18.18]. Jeremias é enviado sozinho contra toda essa horda de profetas, para que da parte do Senhor denunciasse que acontecerá que a lei perecerá ao sacerdote, o conselho ao sábio, a palavra ao profeta! [Jr 4.9]. 1. A objeção de Jeremias: a. Eu não sei falar. Jeremias argumentou que carecia da eloqüência necessária para exercer o ofício profético. Um profeta deve dirigir-se a pessoas importantes e a grandes multidões. Como não era um hábil orador, como poderia atrair o atendimento do povo ou influenciar nele em favor de Deus? (Ver com. Exo. 3: 11; 4:10.) Pensou que não poderia expressar suas mensagens na linguagem apropriada. b. Eu sou uma criança (v.6). Heb. ná"ar, "jovem" (Gn. 41: 12; Ex. 33: 11). A julgar pela duração de seu ministério, é provável que Jeremias tivesse neste tempo menos de 25 anos, minha opinião é que jeremias tinha entre 18 e 20 anos. Em outras passagens se emprega a palavra ná"ar para designar a adultos jovens (Gn. 41: 12; ver com. 1 Rei. 3: 7). Sou uma criança (6; Septuaginta, "demasiado novo"), dando a entender que a sua falta de capacidade era devida à sua juventude. Todavia, esta objeção é arredada no próprio momento em que é feita, e o futuro profeta se sujeita com pleno consentimento da sua personalidade-atitude típica de Jeremias, para quem a vontade de Deus deve vir em primeiro lugar, logo que for conhecida. 2. DEUS NÃO ADMITE DESCULPAS. ðO Dr. M.L.Jones, no seu livro Spiritual Depression its causes and cure, disse: Alguns de nós, por natureza e devido ao nosso temperamento, somos mais suscetíveis a esta doença chamada depressão espiritual do que outros. Pertencemos ao mesmo grupo que Jeremias, João Batista, Paulo, Lutero e muitos outros. Uma companhia muito seleta! Sim, mas não se pode pertencer a ela sem ser especialmente vulnerável a esse tipo específico de tribulação. ðMas, as ordens que recebeu (6-7) eram claras. Existe nestes dois versículos um contraste entre o recuo ante uma tarefa difícil e o insuflamento de inspiração para que ela fosse realizada. Jeremias é o mais psicológico de todos os profetas. ðNão digas (v.7). Deus se negou a aceitar as escusas do profeta, e respondeu com uma declaração categórica de sua vontade. Quando Deus ordena, estão fora de lugar os pensamentos que giram em torno do eu. Não fica mais do que um caminho: a completa obediência. Jeremias devia ir a qualquer parte e dirigir-se a qualquer pessoa que Deus escolhesse, já fora a reis idólatras, a sacerdotes corruptos, a profetas mentirosos, a juízes injustos, a homens de toda hierarquia, sem importar cuán proeminentes ou poderosos fossem. Jeremias declarou: "Não sei falar"; mas Deus lhe respondeu: "Dirás todo o que te mande". Deus o capacitaria para fazer todo o que se lhe indicasse que devia fazer (cf. Exo. 4: 10-12; Mat. 10: 18-19). ðEu estou contigo (v. 8). Deus prometeu ajudar e proteger a seu profeta. A convicção de que Deus o acompanhava, fez que Jeremias se elevasse por em cima de seu temor e timidez, tornou-o invencível. Foi acossado por muitos inimigos poderosos, e com freqüência se encontrou em grave perigo por causa de seus ensinos impopulares e sua dura condenação da impiedade. Mas esta promessa, repetida ao menos duas vezes (1:19; 15:20), foi uma fonte de imensa fortaleza e de grande consolo para Jeremias. Do mesmo modo, é a maravilhosa e refrigerante promessa de Jesus: "Eu estou convosco todos os dias" (Mt. 28: 18-20), é motivo de ânimo e fortaleza para os cristãos que procuram obedecer a grande comissão de pregar o Evangelho. ðDeus tocou em Jeremias (v.9) tornando-o Seu mensageiro, com poder para destruir ou recriar. É esta a incumbência dupla que explica o que tão freqüentemente intrigou os comentadores de épocas translatas, a saber, o pessimismo e, paradoxalmente, a esperança de Jeremias. O seu pessimismo não brota de um sentimento de fatalidade, mas sim da catástrofe inevitável que se produzirá se houver um afastamento das veredas da fé e da fidelidade. No entanto, mesmo que aconteça o pior, Jeremias sabe que o castigo de Deus não passa do prelúdio de um dia melhor. Como noutros profetas, a profecia era condicional; o castigo seria abolido se a nação se arrependesse da sua maldade. Deus tocou em jeremias e realizou este solene ato de consagração, como símbolo da comunicação de novos poderes de pensamento e expressão. Apenas recebeu este toque em seus lábios (Isa. 6:6-7), Jeremias se sentiu seguro de que não teria incerteza em sua mensagem. Sairia a pronunciar as palavras que o Espírito de Deus colocasse em seu coração (Jr. 5: 14; 15: 16; cf. Isa. 51: 16; 59: 21; Mt. 10: 20; 2 Pd. 1: 21). ðFAZENDO DELE UM PROFETA PARA AS NAÇÕES (V.10). O profeta foi investido com a autoridade de Deus como seu representante. A forma verbal traduzida "pus", significa "designar a uma pessoa para desempenhar um posto de autoridade" (Gn. 39: 4-5; Nm. 1: 50; 2 Rs. 25: 23). Jeremias foi designado por Deus para ser seu representante, e lhe foi dada autoridade para declarar os propósitos que Deus tinha para as nações. Sua palavra teria de ser a palavra de Deus (Isa. 55: 10-11). ð A DESIGNAÇÃO DE DEUS PARA JEREMIAS. (V.10) Olha, ponho-te neste dia sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares, e para derribares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares. Representa-se ao profeta que anuncia os propósitos de Deus como se ele mesmo os executasse. (Jr. 5: 14; Isa. 6: 10; Ez. 43: 3). A obra de Jeremias teria de ser dobre: uma obra tanto destruidora como de edificação. As metáforas de Jr. 1: 10 foram baseadas na arquitetura e a agricultura. Empregam-se quatro verbos para expressar o aspecto destruidor dos castigos, e dois para declarar o propósito divino de restaurar e sanar. O livro de Jeremias constitui um comentário sobre estas afirmações. c) AS VISÕES DO PROFETA (Jr 1.11-16) ð A chamada de Jeremias está imediatamente associada com duas visões que lhe podem ter sido concedidas para comprovar a sua vocação e dar-lhe coragem. A revelação autêntica a missão que lhe é confiada. Através destas visões, Deus faz determinada declaração ao profeta e, através dele, ao povo. ðA VISÃO DA AMENDOEIRA (V.11) revela ao leitor como Jeremias amava e compreendia a natureza sob o seu aspecto de agente revelador de Deus. Há aqui um trocadilho que gira em torno de duas palavras hebraicas3: amendoeira (shaked) e "desperto" (shoked). A amendoeira é a primeira árvore a despertar na primavera; assim também YAHWEH desperta e Se ergue em castigo. Uma panela a ferver (13); literalmente, uma panela sobre a qual alguém sopra - aliás, segundo outra tradução, um caldeirão, ou seja, uma vasilha utilizada para vários fins, como culinária, lavagens, etc. Aponta-se para a banda do norte, dando a entender que é daí que se deve esperar castigo. O texto é difícil, mas o sentido é bem claro. Se descobrirá (14); seguindo a versão da Septuaginta, "se soprará", dando a entender que Iavé transformará um povo setentrional em agente do Seu castigo. O motivo deste é a idolatria (16), que equivale à infidelidade e implica tensão entre dois amos, Baal contra Yahweh. ðA VISÃO DA PANELA FERVENTE. Heb. Rysi / hr'ysi SIR ou SIRÁH, vasilha doméstica que se usava para cozinhar (2 Rs. 4: 38) e lavar (Sl. 60: 8). Esta segunda visão representava à "palavra" sobre a qual Deus vigiava para pô-la por obra, e dava a conhecer o instrumento que cumpriria essa palavra. O texto massóretico fala de uma "panela soprada", quer dizer, uma panela que está sobre um fogo ao qual se sopra para que faça ferver com maior força o conteúdo da panela (cf. Jó. 41: 20). A PANELA VIRADA PARA O NORTE, no MSS, "desde o norte". Evidentemente, a panela estava ladeada, e a ponto de transborda seu conteúdo fervente para o sul, sobre a terra de Judá. ðAinda que Babilônia ficasse ao este de Judá, os caminhos militares e as rotas de invasão para Palestina avançavam para Judá desde o norte. Era quase impossível que os exércitos cruzassem o deserto que estava diretamente ao este de Palestina. Por isto os hebreus com freqüência se referiam a Babilônia como se estivesse no norte. A direção não se refere à localização do país de origem do invasor, sírio à rota que seguiria para invadir a Judá, pois tanto os invasores do norte como os do este, vinham desde o norte. Diz-se que os cativos foram levados ao país do norte, e que desde ali Jeová os faria voltar (Jer. 3: 18; 23: 8; 31: 8; Zac. 2: 6). Jeremias vê o mau. Esse mal que os profetas tinham predito por tanto tempo (Miq. 3: 12). A voz hebréia ra"ah, aqui traduzida, "mal", não sempre se refere ao mal moral. Muitas vezes se emprega para descrever dificuldades, desgraças ou calamidades. o Conclusão: 15 Porque eis que eu convoco todas as famílias dos reinos do norte, diz o SENHOR; e virão, e cada um porá o seu trono à entrada das portas de Jerusalém, e contra todos os seus muros em redor, e contra todas as cidades de Judá. 16 E eu pronunciarei contra eles os meus juízos, por causa de toda a sua malícia; pois me deixaram, e queimaram incenso a deuses estranhos, e se encurvaram diante das obras das suas mãos. 17 Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te envergonhe diante deles. 18 Porque, eis que hoje te ponho por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. 19 E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar. ðPreparem-se, a Ira de Yahweh está vindo: Eu convoco é um verbo hebraico, não expressa tempo futuro, senão uma ação que já se iniciou: "Eu estou convocando". Os reinos do norte. Ver com. vers. 14. As tribos ou clãs que formam o reino do invasor que vem do norte (ver cap. 25: 9). A passagem também poderia traduzir-se: "Eu convoco a todas as famílias, os reinos do norte". O emprego do plural tem por objeto acentuar a magnitude da calamidade que avança. Das portas de Jerusalém: No antigo Próximo Oriente, a porta da cidade era o lugar habitual onde se administrava justiça (ver com. Gn. 19: 1; Js. 20: 4; Jó 29: 7). Os príncipes dos exércitos conquistadores estabeleceriam a sede de sua autoridade nas portas de Jerusalém. (Jr. 39: 3-5; CF.CAP. 43: 9-10). Contra os que me deixaram: Os pecados mencionados tinham sido muito notáveis durante o reinado do ímpio Manassés (2 Cro 33: 1-7). ðYahweh protegerá seu Servo: Cinge teus lombos. Esta metáfora se baseia no costume do Próximo Oriente de cingirem-se as longas vestimentas soltas com uma facha ou um cinto, como preparação para viajar ou realizar algum trabalho (1 Rs. 18: 46; 2 Rs. 4: 29; 9: 1; ver com. Sl. 65: 6). Jeremias devia preparar-se resolutamente para sua tarefa (cf. Lc. 12: 35; 1 Pd. 1: 13). Tinha que apresentar com franqueza e sem temor qualquer mensagem que Deus lhe desse. Para que não te faça eu quebrantar. As repetidas exortações a ter ânimo indicam a timidez natural do jovem profeta (cf. 1 Tim. 4: 12; 6: 13; 2 Tim. 2: 3). Também implica que Jeremias acharia muita oposição a sua obra. ðYahweh preparará seu servo para a guerra: Eu te pus. O "eu" deste versículo está em oposição ao "você" do versículo anterior. Ambos os pronomes são enfáticos no hebraico. O profeta devia fazer sem temor sua parte. Enquanto Yahweh, com certeza, concedendo-lhe a proteção e o poder que lhe fossem necessários, iria lhe tornar, inexpugnável como uma fortaleza; inabalável como uma coluna de ferro; e inaccessível (sem brechas) como um muro de bronze. Jeremias estava sendo preparado para uma guerra. 1. Contra toda a terra; da Judéia, e todos os habitantes. 2. Contra os reis de Judá, como Jeoacaz, Joaquim, Jeoaquim, ou Jeconias, e Zedequias. 3. Contra os príncipes; estes desejavam a morte do profeta. 4. Contra os sacerdotes; estes estavam totalmente corroídos pela apostasia e ardiam em ódio contra o profeta. Jr 8:10. 5. Contra o povo da terra, que eram viciados na idolatria, e em todos os tipos de abominação a Deus. Pastor George Emanuel. Fortaleza 22 de julho de 2008 Bibliografia Sugerida: · R. K. Harrison; Jeremias e Lamentações - Introdução e Comentário; Edições Vida Nova · Davidson F.;O Novo Comentário da Bíblia; Edições Vida Nova. · Thompson, J. A. The Book of Jeremiah; New International Commentary on the Old Testament; Hardcover. · Calvin, John; Find all the books, read about the author, and more. See search results for this author Are you an author? Learn about Author Central · Commentaries on the Book of the Prophet Jeremiah and Lamentations; translated from the Latin, and edited by the Rev. John Owen (5 Volumes);Unknown Binding. Notas: __________________________________ [1] COMO ENFRENTAR BARREIRAS NA LIDERANÇA: Todo ministério verdadeiramente ungido enfrenta barreira e oposição, as quais devem ser encaradas como um bom sintoma, quando se anda na presença de Deus e em harmonia com as Escrituras (2 Tm. 3.12).Será que foi porque Jeremias queria ser profeta ou porque procedia de família sacerdotal que foi comissionado? Não! Deus mesmo explica a vocação de Jeremias: Antes de formar-te no ventre, eu te conheci, e antes de saíres da madre, eu te santifiquei. Eu te constituí profeta para as nações. É uma designação da parte de Deus. Está Jeremias disposto a ir? Não! Humildemente, ele apresenta a desculpa: Sou apenas rapaz. Mas, Deus não aceita desculpas e o tranqüiliza, dizendo: Eis que pus as minhas palavras na tua boca. Vê, comissionei-te no dia de hoje para estares sobre as nações e sobre os reinos, para desarraigares, e para demolires, e para destruíres, para derrubares, para construíres e para plantares. Jeremias não deve temer... Por certo lutarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti, pois eu estou contigo, é a pronunciação do Senhor, para te livrar.(1:5, 6,9,10,19). A. Analisemos com mais detalhes: 1. Jeremias retruca dizendo que não sabe falar. Ah! Senhor Deus, eis que eu não sei falar, porque ainda sou uma criança! (Jr 1,6). 2. Deus predestinou Jeremias: Não tenhas medo deles, para que eu não te aterrorize à vista deles (Jr 1, 17). Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constitui profeta para as nações (Jr 1:5). 3. A vocação de Jeremias foi marcada por medo e crise: Jeremias é um profeta medroso. Se o seu nascimento foi marcado pela alegria na casa paterna (Jr 20,15), ele, no entanto, quando já crescido amaldiçoa o dia do seu nascimento: Maldito o dia em que nasci (Jr 20,14). 4. Jeremias e a barreira da autocomiseração: A sua mãe levou a culpa: Minha mãe teria sido minha sepultura (Jr 20,17). Mãe, minha desgraça é a vida que a senhora me deu (Jr 15,10). A comunidade de Jeremias, ao contar a sua vocação, quis mostrar como Jeremias se parecia com o grande profeta Moisés. Este também teve medo, disse que não sabia falar, etc., mas foi um profeta. 5. Jeremias e a barreira da solidão ministerial e conjugal: Conhecedor do sofrimento de seu povo, Jeremias sabia que algo deveria ser feito, mas ele tinha medo. No ano 627 antes da Era Comum, no décimo terceiro ano do governo de Josias, Jeremias sente o chamado de Deus. O livro que leva o seu nome descreve os elementos essenciais desta vocação nos seguintes pontos: Deus quando chama alguém é porque este já é íntimo e eleito seu. Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei (Jr 1,1-5). Com estas palavras, Jeremias narra a sua experiência de Deus. Jeremias tem consciência que ele é um ungido de Deus para a missão profética: Eu te consagrei (Jr 1,5b). Por isso, ele não sabe fazer outra coisa senão ser profeta. O medo e outras limitações humanas são inerentes à vocação. Isto não é diferente com Jeremias, que, de tanto medo, apela para o não saber falar. Eu sou criança (Jr 1,6). O profeta é porta-voz de Deus (Jr 1,7). Jeremias terá que falar em nome de Deus e em sintonia com o povo ao qual ele foi enviado por Deus. E Deus estará com ele sempre. O profeta é arauto de Deus. As palavras de Deus são colocadas em sua boca, de modo que ele fale em seu nome (Jr 1,10). O profeta é seduzido por Deus. Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir (Jr 20,7). Estas palavras proferidas por Jeremias demonstram como ele compreendeu o mistério da vocação em sua vida. Para o profeta Jeremias: 1. Pregar implicava em morte (Jr. 11,21);2. Sua santidade e justiça só produziam rixa e maldição (Jr. 15.10).3. Eram freqüentemente feridos pelas línguas os adversários (Jr. 18.18).4. Sua palavra atraía violência e ódio (Jr.20.1,2; 26.1-15). 5. Haveria confrontações com falsos profetas (Jr. 28.1-17). [2] Jeremias descendia de uma família de sacerdotes, era filho de Hilquias, sacerdote que servia na cidade de Anatote (Jr 1.1). Ao que parece, Jeremias também foi educado para ser um sacerdote, visto que o ofício sacerdotal era hereditário. Por isso, não é de admirar que Jeremias, desde muito jovem, demonstrasse tamanho zelo às praticas religiosas prescritas por Deus. Anatote era uma pequena cidade que ficava a uns 5 quilômetros a nordeste de Jerusalém, para onde haviam sido exilados o sacerdote Abiatar e sua família na época do reinado de Salomão (1 Rs 2.26-27). É provável que Jeremias descendesse desta família. Jeremias era um homem sensível, meigo, emotivo (Jr 9.1), e porque não dizer, tímido; qualidades não muito recomendáveis a uma pessoa que passaria pelo que passaria. Além disso, seu chamado acabou restringindo ao máximo as suas perspectivas pessoais futuras; sua vida pessoal, dali para frente, se confundiria com a sua missão, ela se reduziria a uma existência marcada por dissabores e lutas, servindo a Deus num dos piores momentos da história do povo escolhido. Até mesmo o direito natural de se casar e ter filhos lhe foi vedado por Deus (Jr 16.1-4). Jeremias deveria ser um sinal vivo e visível do que Deus faria ao povo. Jeremias sabia que a sua vida seria oferecida integral, exclusiva e absorventemente ao serviço de Deus. Portanto, não haveria tempo e nem ocasião oportuna para se envolver com compromissos temporais. Além disso, Deus explicitamente chamara a atenção do profeta para o caos que se abateria sobre todo o povo, inclusive sobre as crianças. Tendo em vista a certeza da tragédia futura, podemos ver nesta proibição de Deus uma maneira de preservar Jeremias de maiores sofrimentos. Poucos homens na história da redenção serviram a Deus de maneira tão abnegada e absorvente. Jeremias faz parte de um pequenino rol de homens e mulheres que dedicaram toda a sua existência neste mundo, explícita e exclusivamente, ao serviço de Deus. Poderíamos mencionar também Jesus, Elias, Eliseu, João Batista, Paulo e alguns outros poucos. Além das privações temporais, o chamado de Jeremias ao profetismo o levou necessariamente a se opor tanto às pessoas poderosas de sua época como ao povo que, de uma forma geral, estava vivendo insensivelmente no pecado.Com isso, Jeremias acabou atraindo sobre si o desprezo e a incompreensão das pessoas do seu tempo, incluindo os seus próprios parentes. O texto de Jeremias e de Lamentações nos mostra que o profeta tinha uma facilidade muito grande de exprimir aquilo que ia em sua alma. O seu relato não somente expressa a conturbada relação entre o povo de Judá e IAVÉ, como também os seus conflitos internos, seus dilemas existenciais, sua fé e esperança, sua tristeza e dor, reflexos desta. conturbada relação. Jeremias apresenta muitos traços encontrados na pessoa de Jesus. Na época de Cristo o povo até chegou a achar que Jesus era Jeremias ressuscitado (Mt 16.14). 1. Um Ministério de Lutas e Oposições Constantes: Jeremias sabia que o seu ministério não seria nada fácil ou agradável. Sabia que seria um profeta a quem ninguém daria ouvidos (Jr 6.10; 7.21-28). Deus, desde muito cedo, já havia deixado isso muito claro (Jr 1.4-10, 18-19). A oposição já era perceptível bem no início de seu ministério profético, antes de sua estada em Jerusalém, quando ainda morava na sua cidade natal, Anatote, na época do reinado de Josias. O primeiro atentado sofrido por Jeremias foi perpetrado pelas mãos de seus concidadãos e até mesmo de seus próprios parentes que, incomodados com a sua pregação e, provavelmente, com o seu apoio às reformas religiosas inauguradas pelo rei Josias, queriam matá-lo (11.18-12.6). A trama dos seus concidadãos e parentes levou Jeremias a sentir o gosto amargo da traição: sentia-se como um animal indefeso que está prestes a ser morto pelos seus donos, mas não o sabe. Tal acontecimento levou Jeremias a abrir seu coração diante de Deus, e indagar a respeito daqueles que prosperam fazendo o que é mal. Deus, então, chama a atenção de Jeremias para o fato de que coisas piores ainda sobreviriam a ele. A oposição sofrida em Anatote nada mais era que uma demonstração preliminar daquilo que ele teria que enfrentar quando fosse para Jerusalém. Se ele havia sido perseguido pelos seus, em Jerusalém seria pior. Deus ainda adverte a Jeremias, que em virtude da situação crítica na qual ele se encontrava, ele não deveria confiar em ninguém, nem na sua família; tão somente em Deus deveria pôr a sua confiança. No período do reinado de Josias, ao que tudo indica, Jeremias ainda morava em Anatote. Foi principalmente nos reinados de Jeoaquim e Zedequias que Jeremias, já exercendo o seu ministério em Jerusalém, sofreu suas maiores perseguições. Jeremias se chocou contra os interesses de gente poderosa. Durante o seu ministério ele foi diversas vezes agredido e aprisionado (20.1-2; 32.1-3; 37.11-16; 38.1-12). Nesta época, autoridades do povo juntamente com os sacerdotes, tramavam contra a sua vida (18.18-23). Certa vez, depois de haver pronunciado palavras duras asseverando que por causa do pecado do povo e de seus governantes o reino de Judá seria subvertido e a cidade de Jerusalém seria destruída (Jr 19.1-15), Pasur, chefe do templo, feriu a Jeremias e mandou prendê-lo no tronco. Na época do reinado de Jeoaquim, Jeremias foi muito maltratado. Jeremias predisse a destruição da cidade de Jerusalém e do templo. Em virtude deste pronunciamento tão grave, todo o povo começou a conspirar contra a sua vida (26.1-19). Mais tarde, na época do rei Zedequias, Jeremias passou a ser chamado de traidor, porque advertia o povo a respeito da dominação babilônica e da necessidade de uma rendição sem resistência para que inúmeras mortes fossem evitadas. Quando Judá já havia sido anexada à Babilônia, e no lugar de Joaquim, Nabucodonosor havia colocado Zedequias como rei fantoche, e este, por sua vez, começou a se insurgir contra o rei da Babilônia, Jeremias o advertiu para que abandonasse aquela idéia insensata. Resultado:Jeremias foi lançado no cárcere. Em outra ocasião, ainda no reinado de Zedequias, quando o exército babilônico sitiava a cidade de Jerusalém, Jeremias foi mais uma vez encarcerado sob a suspeita de ser um desertor, por ter deixado a cidade de Jerusalém num momento extremamente crítico, e ter ido à cidade de Anatote. Num outro momento, Jeremias foi novamente preso, só que agora numa cisterna úmida e lamacenta, por ser acusado de estar minando o moral dos soldados de Judá, com vaticínios de morte e destruição. 2. AS CRISES EXISTENCIAIS E A FÉ DO PROFETA: Diante de tamanha oposição, ele experimentou crises existenciais que o levaram a pensar temporariamente na possibilidade de Deus tê-lo abandonado, mas Deus sempre o confortava e o encorajava (Jr 15.10-18). Jeremias era um ser humano muito sensível, e o escárnio do povo e a aparente demora de Deus em cumprir suas ameaças o faziam entrar em constantes crises existenciais; mas nada que abalasse a sua fé. Era uma situação muito constrangedora para Jeremias ouvir o constante escárnio do povo de Judá, que incessantemente ria dele porque as suas profecias que falavam da dominação e invasão estrangeiras com a conseqüente destruição do Reino de Judá não se cumpriam. Num de seus diversos desabafos Jeremias insinua ter Deus colocado-o nesta condição (Jr 20.7-10). O drama do profeta chegou a um ponto tal, que ele amaldiçoou o dia de seu próprio nascimento (Jr 20.14-18). No entanto, ele sabia que Deus estava consigo (Jr 16.19; 20.11-13). E que depois do castigo, o povo seria novamente abençoado (Jr 31.1-9). Embora fosse desprezado e desrespeitado nos seus dias, Jeremias passou a ser considerado como um herói pela geração posterior de judeus que estava no exílio, em virtude do cumprimento de suas predições e por causa da promessa de libertação por ele também vaticinada. [Curso Oferecido pela Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Ebenézer de São Paulo: FÉ, ESPERANÇA E OBEDIÊNCIA FRENTE AO SOFRIMENTO: UM ESTUDO NOS LIVROS DO PROFETA JEREMIAS E LAMENTAÇÕES; PROFESSORES; REV. FABIANO DE ALMEIDA OLIVEIRA; PRESB. IRACÍLIO MARQUES HERMESDORFF; MARCELO DE ALMEIDA. São Paulo, 2006] [3] A primeira interpretação desse texto pode derivar da leitura atenta do original hebraico. Apresentamos aqui o texto consonantal visando à apresentação de alguns aspectos morfológicos, semânticos e estilísticos importantes na construção do sentido do texto. Analisando o texto original hebraico, percebemos que há a utilização intencional de um recurso estilístico chamado paronomásia, que consiste na utilização de dois parônimos (formas distintas quanto à significação, mas semelhantes na escrita e na pronúncia), (shaqed) e (shoqed), formalmente as mesmas no texto puramente consonantal (), cuja percepção torna-se imprescindível para a penetração plena no nível semântico do texto. Os vocábulos portugueses amendoeira e velo (1a pessoa do presente do indicativo do verbo velar) não mantêm entre si uma relação paronímica, como acontece com os seus correspondentes em hebraico. A explicação da visão da vara de amendoeira feita pelo Senhor, sem a apreensão da paronomásia intencional do original, deixará o leitor sem entender perfeitamente como se estabeleceu o vínculo semântico entre o significante (a visão) e o significado (a explicação). Colocando a questão de um modo mais simples, poderíamos perguntar: Como uma vara de amendoeira pode significar a certeza de que Deus está vigilante sobre a sua palavra para cumpri-la? Tal vínculo semântico deve-se ao fato de o vocábulo amendoeira (em hebraico shaqed) e o verbo velar no particípio masculino singular ativo (em hebraico shoqed = eu velo) derivarem da mesma raiz hebraica, do mesmo morfema lexical (shóresh; shin, qof, dálet), cujo significado é velar, estar atento, estar alerta, manter-se vigilante, estar com os olhos abertos. Assim, nesse caso, o significante shaqed tenciona remeter ao significado shoqed; ou seja, em hebraico, amendoeira remeteria à forma verbal eu velo, referente substantivo, carregando intrinsecamente a ação expressa pelo verbo. Esta é a chave para o estabelecimento do vínculo semântico entre significante e significado. Uma segunda interpretação desta passagem pode derivar-se de nosso conhecimento do mundo. Apesar de ser uma interpretação menos óbvia do que a anterior, serve também para apreendermos a relação entre essa visão e sua explicação. Recorrendo a informações agrícolas acerca da terra de Israel, descobriremos que a amendoeira começa a florescer e a expandir suas folhas em janeiro, quando as outras árvores ainda estão em seu sono de inverno, e assim, é a primeira entre todas as árvores a despertar para a nova vida. A partir da constatação dessa realidade agrícola de Israel, pode-se concluir o sentido de velar, relacionado à vara de amendoeira, pois a amendoeira seria a árvore que estaria acordada enquanto as demais estavam dormindo. Tal conclusão é semanticamente cabível; porém, a informação se torna mais difícil de ser recobrada, visto que depende desse conhecimento prévio do leitor. Entretanto, a paronomásia, que é a intenção primária do texto, sendo a chave para a apreensão imediata do vínculo semântico estabelecido entre o significante e o significado, seria completamente ignorada. Uma terceira interpretação, ainda que muito menos óbvia, pode basear-se no fato de que Deus estava suscitando o profeta Jeremias dentro de um ambiente contencioso semelhante àquele em que foi levantado o sacerdote Arão. Como a vara de amendoeira de Arão floresceu para provar que ele era o escolhido do Senhor para ocupar o ofício de sumo sacerdote, assim também Jeremias, que era da linhagem sacerdotal, estava sendo confirmado em seu ofício de profeta. A autenticidade de seu ministério profético era também a garantia de que ele pronunciaria palavras de inspiração divina e de que o Senhor estaria vigilante sobre elas para cumpri-las. Aqui também, como na interpretação anterior, fica intocada a intenção paronomástica do texto original, além de haver um apelo a elementos altamente arbitrários e de recorrer à analogia de um contexto histórico bem remoto. Em síntese, o caso específico de Jr 1.1112 permite-nos perceber que o conhecimento da língua original do texto, na maior parte das vezes, pode diminuir o nosso caminho na busca da intenção original do autor sagrado. Mais ainda, o conhecimento da língua original pode revelar nuanças lexicais, sintáticas, semânticas ou estilísticas que a tradução às vezes tende a ocultar. Então, o melhor que o tradutor poderia fazer neste caso seria optar pela manutenção da paronomásia original, usando o artifício empregado pela Vulgata, ou manter a tradução literal e remeter o leitor para uma nota explicativa. Porém, nem sempre isto será possível, pois exigiria elevada dose de criação literária do tradutor e, quase sempre, um afastamento demasiado do texto original.
Autor: George Ferreira
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