Um tucho no cabeção!!!
Tinha
acabado de fazer uma prova de linguística e saí às pressas, tinha de
estar na cidade de Jandira às 16:00 horas. O leitor sabe que o tempo
para o professor urge mais do que para os outros! A agenda nossa é
cheia, mas o prazer é ainda maior de ensinar e até arrepia um educador
quando o aluno consegue entender o que preparamos! É uma alegria sem
igual! Falo isto, porque tenho certeza que estou na profissão certa de
educador e acredito que deve ser um calvário para aqueles que cairam de
pára-quedas na carreira de professor e não na de educador!
Já
na marginal do Rio Sorocaba, mais uma vez para a labuta. Parou um carro
e eu pedi uma carona. De pronto fui aceito. O veículo estava um pouco
suspeito. Havia no tanque de gasolina, ao invés da tampa, um tucho de
pano no local. Como não tinha escolha, o tempo urgia, entrei. Não sem
antes observar o motorista: ele era um senhor de idade. Usava um rabo
de cavalo, o cabelo não era muito comprido, porém com algumas mechas
brancas, sinais de uma pessoa já bem vivida, sem dúvidas havia passado
várias datas de aniversário. Apresentava-se com um par de botas canos
longos e um chapéu do tipo de um sitiante. Esta imagem me deu segurança!
Entrei,
a razão agora era de a possibilidade de o cara ser um fazendeiro. A
tampa já não era indice de suspeição, mas sim de que, por ventura, no
sítio tivesse perdido a tampa do tanque de combustível. Neste lugares
pouco se preocupam com esse detalhe, na cidade não passaria
desapercebido! Como de costume, perguntei se passaria no pedágio. Uma
vez confirmado fiquei tranquilo. Iniciei uma conversa:
- O Sr. sempre passa por aqui?- Não! Eu estou a serviço na região!- Qual é a sua profissão?- Eu não posso falar da minha profissão, porque é perigoso!- O Sr. sempre dá carona para as pessoas que pedem?- Não, não sou de dar carona!- Então, eu fui um cara de sorte?- Não, é que eu li a placa de professor, então eu parei!- E se eu tivesse usando para enganar as pessoas?- Com certeza, você seria uma cara morto!- Não me diga que me mataria?- Tranquilamente e sem pestanejar!- E o que faria com o meu corpo?- Jogaria aí em alguma estrada vicinal!- Nossa o Sr. fala com tal naturalidade que estou ficando com medo!Ele riu e levantou a perna direita e retirou debaixo dela um revólver e apontou para minha cabeça e disse:- Trate de falar de sala de aula e prove pra mim que é professor ou espere o que vai acontecer!Eu
fiquei meio aturdido com as palavras e pode crer, leitor, que está
sendo muito dolorido na minha cabeça contar para você esta história
agora! As imagens vêm e voltam sempre com aqueles arrepios de medo! Mas
eu aprendi que falar dos próprios medos, ajuda a se livrar deles. Abri
a minha pasta, sempre com o olhar apontado do motorista, retirei o
conhecido diário de classe e mostrei a ele:
- Pode ver... eu sou professor!Ele
olhou, re-olhou e olhou de novo. Não sei se esses olhares eram por
causa do trânsito da Castelo Branco ou porque duvidava de mim.
- Pode olhar, eu tenho até algumas redações para corrigir!-
Pode guardar tudo, eu estava apenas testando você ! Quando parei, eu já
sabia que você era professor. Ontem eu passei por aqui e vi você
pedindo carona! Eu só não levei você ontem, porque o meu trabalho ainda
não tinha terminado por aqui!
- E qual é a sua profissão?-
Eu sou policial militar do Serviço Reservado. Estou investigando alguns
policiais desta cidade! Este carro é um daqueles que o agente esquenta
para poder fazer o serviço! Você vai descer aí na entrada de Jandira,
né?
- Isso mesmo, pode parar ali!O carro parou e desci ainda com um tremor nas pernas e segui na minha missão de ensinar enquanto eu estiver vivo!(Ademar Oliveira de Lima)
Autor: Ademar Oliveira De Lima
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