Para um conceito de organização cooperativa



Conceito significa autoconhecimento. Conceituar é externar uma idéia sobre determinado termo ou assunto.Construir o conceito de Organização Cooperativa, no meu entender, perpassa diversas idéias, quais sejam: a de organização; de cooperação; de indivíduo; de sociedade; de democracia; de capitalismo; de educação...O sistema capitalista, incessantemente, reproduz o germe do individualismo, da dominação e da opressão. O indivíduo luta até contra si mesmo, e o faz quando resiste em ser solidário, em colaborar com o outro. A falta de solidariedade advém da impetuosa e crescente acumulação de bens e valores mobiliários, fruto, também, da exploração do outro por intermédio do labor; causa e, ao mesmo tempo, efeito da dominação capitalista.Ainda bem que o regime democrático oferece opções para a quebra de paradigmas. A realidade negativa constituída pela opressão ao proletariado encontra oposição a partir da educação formal e da qualificação, as quais alongam a singela fileira de massa crítica.Mas as escolas também são espaços de reprodução e legitimação de desigualdades sociais (Bourdieu in Nogueiras, 2002) na medida em que abriga a discriminação econômica entre alunos ? revelada nos intervalos para o lanche e nos adereços de vestuário por conta das diferenças na herança cultural ou na bagagem familiar ? e entre seus pais ? revelada no conteúdo programático voltado para favorecer os interesses econômicos das famílias mais abastadas.Em meio a esse contexto, necessário se faz apresentar alternativa, não para negar o capitalismo, mas para dar continuidade à extração de matéria-prima, à produção, à geração de riquezas e ao consumo de bens e serviços sem desvalorizar o humano. A mobilidade social é um sonho possível de realização no mundo capitalista moderno e sua concretização é diretamente proporcional ao acesso aos bens de consumo. A ascensão a um outro nível social depende de qualificação ou de oportunidades oferecidas pela própria sociedade aos seus membros. Várias alternativas tem sido propostas a fim de que uma quantidade cada vez maior de pessoas seja inserida no mundo do trabalho. O Professor Edemar Rotta diz que:"Entre as propostas em curso estão a economia solidária; o cooperativismo; a redução da jornada de trabalho formal; a criação de um salário social às pessoas que passariam a prestar serviços à comunidade no sentido de garantir lazer, atenção aos idosos, carentes, etc; a abolição do assalariamento vinculado ao trabalho com a criação de uma remuneração da cidadania, na qual o sujeito teria direito a ela pelo simples fato de ser cidadão; a regulação dos postos de trabalho feita pelo Estado, garantindo a todos o seu acesso; a criação de programas de formação com remuneração para retardar a procura dos jovens pelo mercado de trabalho."Vê-se, portanto, luzes no fim do túnel sinalizando caminhos para desatar os nós que amarram o sujeito aquém das mínimas condições de dignidade, impedindo-o do pleno exercício da cidadania. Um desses faróis é representado pelo cooperativismo, cujo movimento surge para salvar vidas e equilibrar as relações sociais e de mercado. "As cooperativas são importantes espaços de práticas sociais de produção e distribuição de bens e riquezas. A história do movimento cooperativo é a história dessas práticas sociais."(FRANTZ, 2008)Organizar-se cooperativamente não significa simplesmente aglomerar-se em associação para assinar atas de assembléias e transformá-la em trampolim para cargos políticoeletivos ou servir-se dela para intermediação financeira a pedidos de políticos de carreira. Não que a organização cooperativa não seja também um espaço de poder e de política, contudo..."O poder construído pela associação e pela cooperação é um poder, em princípio, voltado para fora da organização, mas articulado de dentro. Essa articulação envolve a associação pela comunicação com a empresa. Sendo a cooperativa uma associação que organiza um instrumento de atuação, isto é, uma empresa, em função dos objetivos presentes nessa associação, ela também contém um poder que se exerce na interação dos associados entre si, destes em relação ao mercado, através da empresa-cooperativa e, consequentemente, estabelece-se uma relação da empresa com seus associados."(ibid)Para o perfeito funcionamento da cooperativa é conditio sine qua non a sensibilização dos candidatos a cooperantes (a associados) a fim de que os mesmos estejam psicologicamente preparados para enfrentar os problemas internos e externos e, principalmente, para não serem convencidos a ceder às tentações do capitalismo selvagem ? aquele que preza pelo individualismo e pela dominação em detrimento do trabalhador. É essencial, outrossim, que o treinamento seja perene e focado nas características fundamentais e princípios filosóficos do cooperativismo. A aprendizagem atravessa o período de admissão e segue num processo educativo que se retroalimenta frequentemente com a finalidade de criar uma nova consciência de vida coletiva."A educação (...) aparece como uma ação entre sujeitos ou como uma "prática sobre sujeitos", procurando influenciá-los em suas idéias, modos de pensar, de interpretar a vida social, especialmente a da realidade cooperativa, sugerindo ou levando-os a comportamentos e visões de mundo, favoráveis à natureza da prática cooperativa."(FRANTZ?Dimensões)Sendo assim, o cooperativismo abarca os seguintes princípios filosóficos que o sustentam: humanismo, solidariedade, responsabilidade, justiça social, participação, democracia e liberdade. Suas características estão pautadas numa sociedade livre, de pessoas com fins e riscos comuns, em que todos participam efetivamente da gestão.Logo, Organização Cooperativa é um conjunto legalmente formado por pessoas preocupadas com a valorização do humano e praticantes de ações baseadas em idéias semelhantes relativas à produção e à distribuição coletivas de bens de consumo e riquezas.Referências BibliográficasFRANTZ, Walter. Dimensões da organização cooperativa: sentidos e significados em práticas cooperativas (texto para consulta apenas em sala de aula);_______________. O Associativismo e o cooperativismo na intervenção contra a exclusão social - Uma experiência de educação para a participação: o Projeto PRORENDA._______________.O Movimento Cooperativo como processo de ação-reflexão na construçãode novas relações econômicas e estruturas sociais - Texto apresentado no First ISA Forum of Sociology, Sociological Research and Public Debate Barcelona, Spain. September 5 - 8, 2008. Section: Challenging Empire: THE WORLD SOCIAL FORUM;______________. Reflexões sobre cooperativismo: apontamentos de uso exclusivo em aula, 2008 (texto para consulta apenas em sala de aula);NOGUEIRA, Cláudio Marques Marques; Nogueira, Maria Alice - Educação & Sociedade, ano XXIII, nº.78, Abril/2002;SCHÖNARDIE*, Paulo Alfredo. As práticas do movimento cooperativo como lugares de educação. *Aluno do Programa de Pós-graduação em Educação, Bolsista CNPq.
Autor: Zeu Barbosa


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