EDUCAÇÃO DOS SURDOS: OS DESAFIOS NA COMUNICAÇÃO ENTRE OS SURDOS E A FAMÍLIA



Genivaldo Oliveira Santos Filho

Rozilda Ramos dos Santos Oliveira

RESUMO: Neste artigo pretendeu-se mostrar a importância da Libras para comunicação com os surdos, no sentido que a família não só será"família vazia", mas uma única instituição que promoverá igualdade e desenvolvimento intelecto e individual dos surdos. Determinou-se para o estudo a pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfico, contando como os teóricos a exemplo de: BEHARES, 1996, VESCHI, 2005, STROBEL, 2008. Objetivou-se conduzir famílias a aprenderem e utilizarem com os filhos a libras, com o intuito de desenvolvimento dos surdos e também ajudaram os surdos a serem incluídos na sociedade. A inclusão existe e deve iniciar na família, todos discutem e refletem sobre a inclusão, mas para a aceitação, em relação a família, não existe. Também deduzimos que a Libras é único meio de comunicação, sem a língua de sinais continuaram barreiras e discussões sobre este tema.

PALAVRAS-CHAVES: Comunicação, Surdos e Família.

 CHALLENGES IN THE COMMUNICATION BETWEEN DEAF AND FAMILY

ABSTRACT: This article aims to show the importance of Pounds to communicate with the deaf in the sense that the family will not only be "family" empty, but a single institution that will promote equality and development of individual intellect and deaf. Was determined to study the qualitative research on bibliographical, counting as a theoretical example: BEHARESs, 1996, VESCHI, 2005, STROBEL, 2008. The objective was to lead families to learn and use with their children pounds, with the aim of development of the deaf and also helped the deaf to be included in society. The inclusion exists and must start in the family, all discuss and reflect on the inclusion, but for acceptance, for the family, does not exist. Also deduce that the Pound is the only means of communication without sign language barriers and continued discussions on this topic.

KEY WORDS: Communication, Deaf and Family.

INTRODUÇÃO

Neste artigo, cujo tema Os Desafios na Comunicação entre Surdos e Família, propõe este tema com a finalidade de ajudar os profissionais ou família ou até mesmos os próprios surdos que lidam com família que tem filhos surdos que não aceitam a língua de sinais como relacionarem-se melhor entre familiares. É por meio da comunicação que o ser humano se integra, participa, convive e se socializa. Nesse contexto, a família aparece como grande responsável, pois é nela que se inicia a formação igualitária de um ser humano. Para isso acontecer, faz-se necessário o estabelecimento de um canal de linguagem comum.

Se pesquisarmos no dicionário Aurélio a palavra "comunicação" diz respeito ao "Ato ou efeito de comunicar (se); transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados; a mensagem recebida por esses meios; a capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre pessoas (FERRERIA, 2008, p. 251)".

Por outro lado sabendo que a Libras traz a verdadeira comunicação, a maioria das famílias não tem o conhecimento pleno da Libras em sua profundeza e não sabem que para os surdos a Libras significaria a língua materna.. Apesar de a família ser presente na educação do (a) filho (a), tiveram muitas dificuldades de comunicar-se com o filho (a) surdo (a). Família que Tentam incluí-los na escola regular, nas salas de recursos e nas salas especiais. Mas, sem sucesso. As famílias sentiram completamente fragilizadas diante dessa situação, sem saber a quem recorrer e como proceder. É uma sensação de impotência, pois a gente ver que as coisas não deveriam ser daquela forma.

É na família que se inicia a sociedade, nela os indivíduos organizam conceitos e buscam a maturidade por meio de trocas entre seus membros. Por esse motivo, as maneiras de educar são incessantes. Trata-se de um processo que vai do nascer ao morrer, sendo a família considerada, via de regra, a principal responsável pela formação do caráter de uma pessoa.

Neste contexto é importante saber qual o verdadeiro papel da família e também quais são os desafios da família na comunicação com os surdos. Com isso muitas famílias que moram nos interiores são basicamente excluído dessa comunicação e às vezes constrói gesto para comunicação com os filhos surdos e até confirmam a que "comunicam-se bem com seus filhos".

1. O PAPEL DA FAMÍLIA PARA OS SURDOS

A palavra "família", para FERREIRA 2008, refere-se as "pessoas aparentadas que vivem, geralmente, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos; Pessoas do mesmo sangue" (p. 397). A família, de uma forma geral, desempenha a função de cuidar, promover a saúde, o bem estar e dar proteção. Em uma família com filho surdo, acrescenta-se a isto a função da aprendizagem de outra língua, a Libras  Língua Brasileira de Sinais. É através da comunicação que o ser humano se integra, participa, convive e se socializa entre família. Nesse processo, a família aparece como grande responsável, pois é nela que se inicia a primeira formação do ser humano. Para isso acontecer, é necessário o estabelecimento de um canal de língua comum.

A família de uma forma única deve estabelecer o seu papel na formação dos indivíduos. Os primeiros passos para o desenvolvimento natural e social do ser humano são dados dentro da família, pois ela constitui o primeiro grupo no qual a criança é inserida e tem suas primeiras experiências e relacionamentos interpessoais.

As primeiras relações de afeto dos filhos são provenientes dos pais, e esse convívio será responsável por futuros comportamentos no meio social, permitindo ou não a sua adaptação. Esse papel da família contribuirá para que o filho tenha uma aprendizagem mais humana, forme uma personalidade única, desenvolva sua auto-imagem e se relacione com a sociedade.

Ao refletirmos sobre a família, observamos que a mesma, ao interagir com os filhos, ajudará a formar a personalidade, determinando aí suas características sociais. Muitos fenômenos sociais são percebidos e examinados em função de características da família. Nesse processo de troca, a família está inserida na construção de um estado de maturidade que se dá por meio da convivência com os filhos. As atitudes e comportamentos dos pais e demais membros familiares, expressos por suas interações, têm um impacto decisivo no desenvolvimento psicossocial de um filho.

A família atua não só no sentido de amparar física, emocional e socialmente os seus membros, mas também esclarecendo o que é melhor ou pior para seu crescimento, cabendo a ela a responsabilidade de proporcionar qualidade de vida aos mesmos. Os cuidados oferecidos pela família constituem estratégias que favorecem o desenvolvimento humano à medida que proporcionam amor, afeto, proteção e segurança dentro de um espaço de inclusão e acolhimento aos filhos.

A principal satisfação dos filhos é ter uma boa relação entre os membros da família, pois essa relação exerce importante papel para o desempenho psíquico e, conseqüentemente, nas demais fases da vida. No processo de relação familiar, a comunicação favorece a compreensão das dúvidas, a demonstração de carinho e amor, entre outras coisas, uma vez que para adquirir essas informações é necessário estabelecer-se uma mesma linguagem (QUADROS, 2002).

É importante nos reportarmos à idéia de Quadros (2002), o qual esclarece que a deficiência não é um problema da pessoa que a tem, mas sim de quem a vê. Isto é de suma importância, pois a problemática que envolve esses indivíduos está intimamente relacionada com o preconceito e a aceitação dessa condição.

Dessa forma é preciso a importância da família como cooperadora para o processo do desenvolvimento do surdo, no sentido de garantir a esse indivíduo um futuro de independência e produtividade na sociedade. Também devemos conceber a escola e a comunidade como parceiras, desenvolvendo no surdo a sua auto-estima e independência para escolher seu modelo de vida.

A família poderá auxiliar no desenvolvimento da linguagem de sua criança. Segundo VESCHI, (2005, p. 51), "o desenvolvimento da criança surda é proporcional á participação da família". Pais preparados e mães conscientes de seu papel obtêm o aproveitamento de todas as oportunidades geradas no lar.

Percebemos que "o quanto é importante à atuação da família na construção educacional dos seus filhos". Nesse contexto, observamos que atuam duas instituições cuja participação na vida do cidadão é de fundamental importância: a família e a escola. Esta constrói o sujeito, o cidadão consciente e aquela constroem o homem para viver de forma civilizada na sociedade que pertence.

2. AS DIFICULDADES DA FAMÍLIA DOS SURDOS

As dificuldades vivenciadas pelos familiares de surdos, com a falta de comunicação, constituem o principal empecilho no relacionamento entre os filhos surdos e seus genitores ouvintes. Essa dificuldade de comunicação resulta na falta de identificação da língua, podendo resultar em problemas emocionais, falta de um contato mais próximo e dificuldades para o estabelecimento dos vínculos de afeto.

Assim, o aprendizado da Libras pela família é de extrema importância, podemos afirmar que até crucial para o perfeito desenvolvimento da criança surda. A luta pela igualdade dos surdos, já é uma "história antiga". Se traçarmos uma denominação temporal-espacial, encontramos vários esforços datados. Estas lutas têm-se caracterizado por alguns movimentos-chave. Primeiramente, os prestígios  separação dos indivíduos deficientes do resto da sociedade  das existências destes segmentos da população. O segundo decorrentes de avanços em pesquisas médicas, mas tendo ainda a forma limitada de participarem de algumas atividades.

Ao falarmos da educação dos indivíduos surdos, levamos em consideração que a família é principal canal entre o individuo e a sociedade. É na família que encontramos argumentos em formas de subsídio que introduz os surdos no meio social. Não só a família, mas também a escola, que às vezes não está preparada para recebê-los. Como diz na Declaração de Salamanca:

Os pais são os principais associados no tocante às necessidades educativas especiais de seus filhos, e a eles deveria competir, na medida do possível, a escolha do tipo de educação que desejam seja dada a seus filhos. (Declaração de Salamanca, art. 60, pág. 43).

 

Já o artigo 61 diz que:

Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo que estes últimos participem na tomada de decisões, em atividades educativas no lar e na escola [grifo meu] (onde poderiam assistir a demonstrações técnicas eficazes e receber instruções sobre como organizar atividades extra-escolares) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de seus filhos. (idem, art. 61, pág. 43).

 

Todo casal sonha em ter filhos "normais". A primeira preocupação no momento da concepção é saber se esse filho nascerá sadio. Todos os cuidados possíveis são providenciados no sentido de fazer com que essa criança chegue ao mundo da melhor forma possível. Preparam-se tudo: o enxoval, o berço, as consultas médicas, os exames e etc. Nenhum casal quer ter um filho com algum problema ou alguma patologia ou até mesmo alguma deficiência ou em outras palavras ser surdo. Sabemos que o ser que está preste a nascer dependerá de todos os cuidados possíveis dos seus pais para que tenha uma vida de desenvolvimento plena. "Cabe aos pais a tarefa de transmitir para seu filho toda a sorte de ensinamentos, normas, atitudes, hábitos, valores, princípios e, principalmente, sentimentos, que o conduzirão para a vida em sociedade" (STELLING, 1996, p. 64).

Vamos imaginar como deve ser para a família que descobre que seu filho ou sua filha é surdo (a). Casar jovem e depois com pouco tempo a esposa engravidar. Jovens, imaturos não têm experiência na vida. Logo alguns meses de vida descobrem que o (a filho (a) não correspondia aos estímulos sonoros. Levam aos médicos e os exames confirmaram a surdez. Foi como se o mundo todo tinha caído na nossa cabeça. Para reforçar o que foi citado acima, é oportuno atentarmos para as elucidações de Srelling.

Quando uma criança surda nasce, seus pais ou responsáveis sentem-se impossibilitados de agir normalmente com ela. Apresentam-se fragilizados nos primeiros tempos, encontram inúmeras dificuldades à sua frente e, quase sempre, alteram seus planos de vida em função desta nova situação. Os encargos e as responsabilidades normais de uma família ficam modificados e exagerados com a chegada de uma criança diferente (STELLING, 1996, p. 34).

 

Continuando com o diálogo, sabemos que os primeiros conselhos as famílias são as da fonoaudióloga e do otorrinolaringologista. Eles falaram apesar de que o filho tenha a surdez profunda, mas poderia submetê-la ao processo de oralização. E assim desde cedo os pais começam a caminhada para fonoaudióloga e otorrinolaringologista. A família Tem que adaptar-se a nova situação e dedicar-se uma boa parte do nosso tempo em assistência médica, terapêutica e educacional. Colocamos nossa filha na escola, ainda em tenra idade.

Para Hoffmeister (1999) os profissionais médicos e audiológicos inicialmente controlam os pais ouvintes que tem um (a) filho (a) surdo (a). São eles que dão o diagnóstico e, encaminha-os para um tratamento oral, como se este método fosse à única solução de tratamento ou o único caminho no pelo quais as crianças surdas têm condições de se desenvolverem. Para o autor supracitado, esses profissionais, mormente são os únicos canais de informações e orientações dos pais de pessoas surdas, nos primeiros anos de vida da criança surda. Assim, na concepção de Hoffmeister (1999),

Esses profissionais apresentam e apóiam uma visão patológica do que significa ser surdo quando os pais estão mais vulneráveis. Os profissionais da audiologia tendem a ser a única fonte de informações sobre suas vidas. Na verdade, muitos profissionais envolvidos nos primeiros anos da vida de uma criança surda, não medem esforços para impedir que os surdos ( os profissionais surdos) tenham contato com os pais ouvintes. Esta visão é apoiad apor revistas médicas de prestígio, como exemplo, a New England Journal of Medicine (ver Luterman, 1994, que vê os surdos como um grupo que quer roubar as crianças surdas dos pais ouvintes). Esse processo de impedimento cria um fenômeno nos pais ao qual me referi em outra ocasião como "medo da síndrome do futuro" (Hoffmeister, 1983). Os pais são levados a crer que nãos abem o que fazer com uma criança que tem uma perda de audição significativa. Uma criança que chamaríamos de surda (HOFFMEISTER, 1999, p. 114).

 

Conforme enfatiza Stelling:

Os pais de uma criança ouvinte têm modelos educativos da sociedade que são assimilados culturalmente através das gerações. Estes modelos são parcialmente inadequados à educação da criança surda. Este fato produz uma sensação de inoperância inicial, que desencadeia uma série de tensões nos pais, como também no restante da família, cada um sendo afetado de maneira diferenciada (STELLING, 1996, p. 35).

 

Por conta da necessidade que o pai tem de trabalhar, os filhos surdos ficam mais tempo com suas mães. Isso contribuiu para que, na maioria dos casos, as mães tenham um desenvolvesse na comunicação mais próxima com seus (as) filhos (as). Alguns pais procuram suprir todas as necessidades dos seus filhos: no aspecto educacional, no lingüístico e no emocional, porém, a maioria não detém conhecimentos suficientes para tal e a comunicação com seus filhos se processa mediante os gestos e mímicas.

Percebemos que, o sonho de todos os casais são os filhos perfeitos é desfeito e isso provoca algumas tensões. A atenção dobra quanto existe um surdo na família, pois é necessário dedicar mais tempo para ele e por conta disso os demais filhos recebem pouca atenção. Os pais ficam expostos a situações desagradáveis e humilhantes, principalmente quando precisa informar a família e amigos a situação dos seus filhos (as).

A maioria das mães e alguns pais responderam que permanecem a maior parte do tempo, senão o dia inteiro, com seu filho ou sua filha.Muitos estão ali, presentes, participando da vida do filho, tanto social como escolar.Uma das mães disse o seguinte: "Deixei o meu trabalho e montei um negócio na frente de casa para ficar com minha filha."(...) disseram que seus (suas) filhos (as) são bastante carinhosos atenciosos, dizem que os amam, e procuram alegrar os pais quando percebem que estão tristes. (ALMEIDA, Anderson. Entrevista com mães e pais. Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade)

 

O texto acima é uma entrevista feita aos pais e mães de filhos ouvintes, pois, os pais que tem um (a) filho (a) surdo (a), maioria desses pais, não têm o apoio da família e normalmente ficam sozinhos na maior parte da criação, uma vez que os parentes nem sempre chegam junto para ajudar. Esses pais passam por certos constrangimentos perante os amigos, os vizinhos e até mesmo os médicos. Estes se acham no direito de opinarem, indicando assim certos tipos de terapias e treinamentos. Aqueles, por outro lado, acham-se no direito de indicarem determinadas simpatias e remédios. Além do mais, os pais não são informados sobre a surdez e suas conseqüências no processo educacional dos seus filhos (as) surdos (as). Co isso recebem conselhos dos médicos e terminam criando vários preconceitos.

Com este respaldo, podemos dizer que a família deve ser vista e tratada como um parceiro, também como quebra das barreiras que impedem a participação e o processo inclusão escolar e social de seus integrantes, por qualquer motivo que sejam introduzidos.

A família atua no sentido de amparo físico, emocional e social de seus membros surdos. Sendo o principal núcleo é extremamente importante a existência de programa de atendimento à família, tem como objetivo em estrutura-se para dar-lhe o suporte necessário de forma que eles, surdos, tenham condição de exercer seu papel na sociedade. Se perguntarmos qual a importância da família para o surdo podemos perceber que os próprios surdos amam a família como Antônio Campos de Abreu diz:

Minha vida família é muito importante para mim. Tenho 3 (três) filhos e, juntamente, com minha esposa, RITA DE CÁSSIA, formamos nossa família. Todos juntos se comunicam sinalizando. Trabalhamos e lutamos para dar educação, orientação e lazer para nossos filhos, que já estão sendo encaminhados, cada qual construindo o próprio futuro e dando andamento à própria vida. E minha mulher, Rita de Cássia, está sempre preocupada com os filhos e com a casa. Temos bom convívio com os demais familiares, mas cuidamos de nossa própria família, sempre lutando e nunca pedido ajuda, mesmo passando por dificuldades, que todos surdos passam. Eu e Rita não aceitamos a palavra difícil. Alguns surdos, porque não escutam, consideram difícil compreender o comportamento dos filhos. Mas, nós conseguimos bem educar nossos filhos porque sempre temos atitudes positivas diante deles. (ABREU, Antônio. Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade)

 

No artigo intitulado "Reflexões sobre uma proposta bilíngüe de atendimento aos surdos" (2000) de autoria de Caporali-Montelatto, Cristina Pedroso e Tárcia Dias, encontramos um trecho que pertinente. Com base em Skiliar, as autoras argumentam que:

[...] a educação para surdos é um problema educacional, como também são problemas educacionais aqueles relacionados à educação da população rural, das classes populares, das crianças de rua, dos indígenas, dos imigrantes, das minorias raciais e religiosas; das diferenças de gênero, dos adultos, dos presidiários, da terceira idade, dos que estão em processo de alfabetização; afinal, dos grupos que forma as minorias sociais e por vezes lingüísticas, minorias estas que sofrem uma exclusão semelhante nos processos educacionais cultura-mente significativos (CAPORALI-MONTELATTO; PEDROSO; DIAS, 2000, p. 5).

 

Analisando a citação acima, percebemos que a família e os surdos não estão sozinhos sofrendo com a discriminação, de estereótipos, estigmas e de injustiças sociais. Todavia, achamos que a questão da surdez tem um problema que a coloca em uma situação mais suscetível. Enquanto a população rural, as classes populares, as crianças de rua, os indígenas, os imigrantes, as minorias raciais e religiosas, a terceira idade, dentre outras tem um canal auditivo pelo qual passa toda a comunicação que eles vivenciam na sociedade e na escola, as pessoas surdas não dispõe desse sentido. Desta forma, é muito mais difícil para os surdos, pois em alguns casos, carregam os dois pesos: o de ser surdos e pertencer à classe popular, ou ser surdo-índio, ou ser surdo-negro, ou ser surdo-terceira idade, ou ser surdo-presidiário (que deve ser muito difícil) ou ser surdo-mulher e ou ser surdo-menino de rua.

Os pais têm de enfrentar esses tipos de situações discriminatórias e constrangedoras, que provocam tensões e fazem surgir determinados sentimentos tanto nos filhos surdos quanto nos pais. Estes, impactados com as tensões, ficam perplexos com as situações de negação, vindo a criar um sentimento de revolta, sentindo-se culpados, tristes e solitários. Muitas das vezes a vergonha, a depressão, a aflição e a dificuldade de identificar-se como pai de surdo batem à porta e trazem uma sensação de insuficiência e intolerância. Tudo isso

[...] leva à instalação de um grande conflito que provoca nos pais a busca de soluções para o problema mais angustiante: a não comunicação com seu filho que não ouve e não fala. Os pais ouvintes têm o desejo de que se concretize uma real comunicação com seu filho surdo. Tal fato nos é evidenciado em nossa prática profissional. Os pais sonham com a "cura" da surdez, desejam ardentemente uma cirurgia, medicamento ou tratamento que faça o filho ouvir e falar. Muitos pais aguardam o "milagre" acontecer. Enquanto procuramos soluções, o tempo passa e o período dos primeiros anos de vida esgota-se rapidamente, em detrimento de uma educação que deveria estar sendo realizada desde o momento do diagnóstico da surdez (STELLING, 1996, p. 66).

 

Os profissionais da educação recomendam aos pais que devem aprender Libras para que a comunicação flua normalmente. Dizem que a criança surda deve ser exposta a sua língua materna desde cedo para que ela aprenda a se comunicar melhor e assim compreender as coisas. A língua de sinais é a primeira língua do (a) filho (a) surdo (a), sendo a segunda língua dos pais ouvintes. Já o Português deve ser a segunda língua do (a) filho (a) surdo. É uma situação complicada e nem todos os pais estão preparados para enfrentar. Por conta disso encontramos vários surdos em situações diferentes. Assim, "o modo de agir dos pais pode resultar em atitudes de conseqüências positivas ou negativas. A repercussão de seus atos afeta potencialmente seu filho surdo e leva de roldão os demais filhos, familiares e amigos" (STELLING, 1996, p. 65).

 

A aquisição da linguagem em crianças surdas deve acontecer através de uma língua visual-espacial. No caso do Brasil, através da língua de sinais brasileira. Isso independe de propostas pedagógicas (desenvolvimento da cidadania, alfabetização, aquisição do português, aquisição dos conhecimentos, etc.), pois é algo que deve ser pressuposto. Diante do fato de crianças surdas virem para a escola sem uma língua adquirida, a escola precisa estar atenta a programas que garantam o acesso à língua de sinais brasileira mediante a interação social e cultural com pessoas surdas. (QUADROS, 2002-2003).

 

A situação na comunicação é mais complicada para os pais de surdos que são ouvintes do que para os pais de surdos que são surdos. Os pais de surdos que são surdos não vêem seus filhos como estrangeiros e a comunicação se dão naturalmente, de igual para igual. Já os pais de surdos que são ouvintes, que são a maioria (aproximadamente 95%), têm que lidar com um filho surdo que não fala português, um quase estrangeiro, que a todo tempo está próximo fisicamente e distante linguisticamente. Diante dessa problemática, muitos pais desistem de lutar, pois essa caminhada constitui-se como sendo repleta de dor, de tristeza, de desânimo e, alguns pais pensam que a única solução é evadir, a exemplo do pai do garoto surdo, retratado no filme "Meu nome Jonas" e outros exemplos que temos visto na vida dos pais de surdos. Na maioria das histórias de pessoas surdas, quem os abandona é o pai. Isso se dá porque ele não agüenta viver com uma pessoa diferente na família. Assim,

Não podendo "consertar" a surdez, desligam-se, acomodam-se e transferem suas responsabilidades para terceiros, principalmente par aos profissionais, pois se consideram incapazes para o grande desafio de educar um filho diferente, de uma maneira diferente, numa língua também diferente. É comum constatarmos pais que fingem ver a surdez do filho, até porque a surdez não é visível fisicamente. Deste modo, não cumprem o seu papel, não definem sua função, e depositam suas expectativas de sucesso na escola e/ou na clínica, delegando poderes a outras pessoas (STELLING, 1996, p. 67).

 

Nessa trama percebemos um jogo de empurra-empurra. Os professores defendem-se e dizem que a escola sozinha na pode resolver o problema educacional do aluno (a) surdo (a), afirmando que o desenvolvimento do seu filho depende da participação efetiva dos pais. Estes por outro lado, acusam a escola por não oferecer metodologias que realmente condizem com a realidade da cultura e identidade surda.

Sabemos que a família deve ter uma participação efetiva na educação dos surdos. Sem ela no cenário educacional, os sujeitos surdos na terão sucesso no aprendizado. Portanto há necessidade de efetuarmos uma soma nesse processo educacional, ou seja: participação da família, da equipe da escola e da comunidade surda. "Este trabalho com os pais deve ser executado de modo sistemático e prioritário. Deve ter um caráter de componente curricular, como um programa de apoio educacional" (STELLING, 1996, p. 68).

Sabemos que o maior entrave existente entre os (as) surdo (as) e os seus pais ouvintes é a comunicação. É necessário criar um programa de acompanhamento e aconselhamento que tenha como objetivo criar uma consciência do universo surdo nos pais ouvintes. Fazê-los entender o que é o ser surdo em uma sociedade de ouvintes, além de levá-los a compreender o universo surdo, a cultura surda, as identidades surdas e acima de tudo conhecer a língua materna dos surdos, a Libras.

 

3. ATRAVÉS DA LÍNGUA DE SINAIS: CONSEGUEM COMUNICAÇÃO ENTRE SURDOS E FAMÍLIA

 

Libras, Língua Brasileira de Sinais... É uma benção de Deus em existir uma língua visual, com expressão corporal, esta língua me abriu as portas para o mundo surdo e também de ouvintes, pois com a iniciação do uso dessa língua me fez viver uma vida sadia e feliz.(STROBEL, Karin. Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade)

 

Encontramos no artigo de Luis E. Behares, intitulado "Aquisição da linguagem e interação mãe ouvinte  criança surda" (1996), algumas explicações relevantes a respeito do problema da comunicação entre mãe ouvinte e filhos surdos. O autor faz uma explanação interessante sobre essa comunicação, criticando o oralismo e os profissionais da área médica (fonoaudiólogos) por forçar os surdos a adquirirem uma língua que não é a materna e traz o problema da surdez para o campo da Lingüística e Psicolingüística. Fazendo isso, ele analisa a surdez na perspectiva da psicologia, por meio da tendência sociointeracionista e afirma que:

[...] a luta entre as tendências mais psicológicas do interacionismo (as que propunham a concepção de interação como um fenômeno "intersubjetivo" empiricamente observável) e as que se assujeitavam mais tradição (fundamentalmente as chamadas visões "dialógicas" da interação) foi particularmente severa no território da surdez (BEHARES, 1996, p. 22).

 

Behares (1996) elucida com bastante profundidade o tipo de comunicação que se desenvolve entre o surdo e a mãe ouvinte. Amparando-se em Tervoort, a autora denomina esse tipo de comunicação como sendo o "simbolismo esotérico". Por conta da necessidade de comunicação, tanto a criança surda e sua mãe ouvinte, adquire uma forma de comunicação própria, que difere das Línguas de Sinais e também diverge da língua oral majoritária. Nesse tempo, como forma de criar uma comunicação, a criança surda cria gestos ou mímicas desconhecidos da comunidade surda local e diferente também "dos instrumentos artificiais de manualização da língua oral majoritária (línguas sinalizadas, alfabeto manual, etc.). De fato, essas crianças conversam com suas mães, e às vezes também com outras pessoas da família, num "sistema" próprio, relativamente convencional, de "gestos" (BERARES, 1996, p. 22)"

A situação aqui abordada (comunicação entre mãe ouvinte e criança surda) é muito mais problemática do que imaginamos. Após analisar o conceito de "simbolismo esotérico" na perspectiva de Tervoort e Goldin-Meadow, Berares posiciona-se com muita propriedade sobre o tema em evidência e define o "simbolismo esotérico" como sendo:

[...] o efeito da interpretação da mãe a partir de sua língua (oral), mas não é, nem dá por resultado a língua oral. A língua da mãe e a língua da criança vão diferir sempre. A questão da língua materna tem a ver com o assujeitamento: ela é aquela língua na qual e em relação À qual o sujeito é determinado, com efeito. A criança surda é o efeito de uma língua que ela não fala, ou melhor, na qual ela não poderá se espelhar, não poderá se escutar. Embora seja falada numa língua oral determinada, esta não se tornará "sua língua", não será sua "língua materna" (BEHARES, 1996, p. 33).

 

As elucidações da Bahares são de fundamental importância, contribuindo assim para que tenhamos uma compreensão mais alargada do problema que envolve a educação dos sujeitos surdos e a interação na comunicação entre a família ouvinte e o surdo. As reflexões da referida autora no leva a ver a comunicação entre esses sujeitos como algo extremamente complexo e carece de investigações contínuas, que venham aprofundar essa discussão, levando-a para o contexto familiar.

Na entrevista com Andrea Giovanella, na Revista Visual da Cultura Surda e Diversidade, conta que tem duas filhas sabem Libras, mas não praticam. Ela (Surda entrevistada) também fala que com a família comunica-se nas três filosofias  oralismo, comunicação total e bilinguismo  e sobre a importância da Libras para ela diz: "acho que não é para todos, que queiram usar de qualquer maneira. É para a comunicação com os surdos. Pela natureza e pelo instinto humano, as mãos movem quando as orelhas não ouvem. O bilinguismo pode estar em qualquer lugar do mundo".

Compreendemos que é na família o lugar ideal para se iniciar o atendimento de base para os surdos, é a primeira escola onde as capacidades das crianças são desenvolvidas. Os surdos que recebem o estímulo adequado através da família se preparam para o desenvolvimento cognitivo, podendo atingir patamares compatíveis com crianças que escutam, da mesma idade e condição social.

Os pais podem perceber, precocemente, a surdez de seu filho, se observarem alguns indícios ou sintomas, apresentados pela criança, e que podem indicar anormalidades no seu comportamento auditivo. Os principais indícios apresentados pelas crianças que possuem deficiência auditiva são:

Não se assustar com portas que batem ou outros ruídos fortes; não acordar com música alta ou barulho repentino; não atender quando são chamadas; serem distraídas, desatentas, desligadas, apáticas, não se concentrar; não falar de modo compreensível; não falar, após dois anos de idade; parecer ter atraso no desenvolvimento neurológico ou motor. (BRASIL, p. 84)

 

Falta um assessoramento sistematizado para as famílias dos surdos. Muito se cobra dos pais, mas pouco se dá em conteúdos práticos que facilitem o dia-a-dia familiar. Isso influi no aprendizado dos pais e na motivação ao desenvolvimento das potencialidades dos filhos surdos. A comunicação só existe se formos capazes de compreendê-la. A maioria das famílias em que nasce uma criança surda é composta por ouvintes que não tem a mínima idéia de como se comunicar com um surdo. Sabe-se que a interação criança/pais é fundamental para que se desenvolva a linguagem.

Desde o diagnóstico da deficiência auditiva, deverá ser iniciado um trabalho de orientação familiar, para que os pais percebam a importância do seu papel, motivando-os a se comunicar com seus filhos, para que a linguagem se desenvolva o quanto antes. Sem esquecer-se que: "a superproteção, igualmente perniciosa, faz com que as pessoas realizem tarefas que seriam de competência do surdo; façam o que ele poderia estar fazendo, demonstrando, assim, não acreditar nas capacidades dele". (BRASIL, p. 105)

Hoje a raça humana está dividida nos espaços geográficos delimitados politicamente e cada nação tem sua língua ou línguas oficiais como, por exemplo, o Canadá que possui a língua inglesa e a francesa. Os países que possuem somente uma língua oficial são, politicamente, monolíngües, os que possuem duas ou mais são bilíngües.

Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. (BRASIL, p. 22)

 

Não existem mais desculpas, pois até a LEI - Nº. 10.436 de 24 de abril de 2002  já da o direito as crianças surdas terem seu meio de comunicação próprio. Dar-se como conclusão o uso de Libras no meio de comunicação mais apropriado para educação formal/informal.

O artigo de Robert J. Hoffmeister, denominado "Famílias, crianças surdas, o mundo dos surdos e os profissionais da audiologia" (1999), traz uma contribuição relevante no que se refere aos sujeitos surdos, aos profissionais da voz, as famílias e os professores. Sendo ouvinte e filho de pais surdos, o referido autor faz uma explanação crítica a respeito das políticas públicas e educacionais voltadas para a educação das pessoas surdas. Com muita propriedade, ele critica os profissionais da audiologia, responsabilizando-os pelos males que aconteceram na maioria dos casos das famílias que tem um (a) filho (a) surdo (a). Para o autor:

[...] os profissionais da audiologia influenciam os pais a ver as pessoas ouvintes como "normais" ou funcionando no grau mais alto. Eles encorajam os pais a ver a educação de uma criança surda sob o pretexto de que o aspecto mais importante dessa criança é sua capacidade de lidar com o mundo ouvinte. De alguma forma, educar uma criança surda a lidar com esse mundo cria o fantasma de que de uma forma ou outra será um processo terrível e difícil. Os profissionais levam os pais a acreditar que, se houver suficiente esforço de sua parte, podem transformar seus filhos surdos em crianças ouvintes. Entretanto, se a criança não for bem sucedida, ou seja, falar bem, e/ou habilidades para ler lábios, então a criança falhou. Assim, os pais são levados a crer que o problema é inerente à criança e/ou culpam os pais por não se esforçar o suficiente (HOFFMEISTER, 1999, p.2).

 

Para o autor, ser surdo não é uma fraqueza, não conseguir ser oralizado não é um fracasso e sim, uma resistência. Tanto os olhos quantos os cérebros das pessoas surdas se unem para criarem um sistema lingüístico que não é o oral, mas essencialmente o espaço visual. Segundo Hoffmeister (1999) a Libras ou a ASL deve ser a primeira língua na casa da família que tem uma pessoa surda e na escola, pois proporciona enormes benefícios, uma vez que as informações se processam facilmente entre os pais e filhos, como também entre os professores e alunos.

Um dos maiores entrave que as escolas enfrentam é a questão do distanciamento da família do contexto escolar. Como explicitado no decorrer desse estudo, a família tem uma influência muito relevante na educação da criança surda. Tudo vai depender da sua participação no processo educacional do educando. Porém, por mais esforços produzidos pela escola para aproximar a família dos sujeitos surdos, não tem surtido efeito.

Sendo assim, é oportuno citar a experiência de Hoffmeister (1999), a respeito do "Programas-modelos centrados em famílias reais". Para o autor, os programas de inclusão da família das pessoas surdas anteriores ou tradicionais, foram desenvolvidos em hospitais ou clínicas que treinavam a fala e a audição, cujos profissionais eram os profissionais da fonoaudiologia ou educadores que ensinavam por meio da oralização. A meta era atingir ou conseguir fazer os sujeitos surdos falar e ou ouvir. Desta forma, não priorizavam as línguas de sinais. Esta somente era incluída por meio do inglês sinalizado e além do mais, os pais surdos e profissionais surdos eram totalmente excluídos do programa.

Os programas-modelos centrados em famílias reais assumem uma metodologia contrária aos programas tradicionais. Ele escolhe um caminho completamente diferente, na medida em que procura habilitar, capacitar e conscientizar as crianças surdas a terem orgulho da sua surdez e da sua identidade, criando no imaginário surdo a consciência de que eles tem capacidades para vencer na vida. Também trabalham com a capacitação dos pais ouvintes para que funcionem como pais, além do mais os levam a criar amor pelos seus filhos, vendo-os como um menor igual às crianças ouvintes, que sonham e perseguem seus ideais até atingi-los. Este modelo de intervenção inicial na família dos sujeitos surdos tem como ponto de partida três parâmetros: o primeiro é focado nos pais das crianças surdas; o segundo volta-se especificamente para as crianças surdas e o terceiro concentra-se nos grupos de apoio aos pais.

Segundo Hoffmeister, nesse modelo, um surdo adulto profissional é capacitado para trabalhar com os pais, visitando-os uma vez por semana em suas casas. Desta forma,

[...] o modelo de intervenção com base no lar fornece aos pais acesso a informações de várias fontes e de uma perspectiva dos surdos. Os pais obtêm informações de profissionais surdos e ouvintes e são então capazes de discutir essas questões num ambiente real onde as questões podem ser trabalhadas de forma honesta e direta. Os pais que aprendem sobre o futuro dos surdos serão capazes de relaxar e reduzir sua ansiedade em relação a tudo que é desconhecido (HOFFMEISTER, 1999, p. 126).

 

Percebemos que o referido programa alcançou seus objetivos porque este a todo tempo atento as necessidades dos sujeitos surdos. Centrou-se nas especificidades dos sujeitos surdos, procurando assim fazer a família compreenderem o universo surdo, levando-os a interagir com seus filhos surdos e dessa forma não esperou que a família se aproximasse da escola, mas o programa foi até a casa da família dos sujeitos surdos, levando o próprio surdo adulto para dentro dessa família. Lá houve uma interação do surdo adulto, pais de surdos e surdos crianças ou adolescentes. Acreditamos que essa seja a metodologia mais adequada para atingirmos a família e fazê-la compreender a necessidade da sua participação no processo educacional do seu filho. Sendo assim, criar um (a) filho (a) surdo (a) já não é mais um fardo e sim um prazer de ter alguém diferente na sua família, que leva-nos a entender o mundo nas suas mais variadas formas de vida. Nessa perspectiva, na visão de Horrmesister (1999, p. 127), "Ter o máximo possível de modelos surdos em casa melhorará a consciência do surdo como uma experiência positivamente funcional e reduzirá o medo do futuro para seu próprio filho surdo".

 

4. CONCLUSÃO

Neste estudo abordamos um tema de extrema importância para o atual contexto da educação dos surdos. Reconhecemos que a participação da família ouvinte/surda na educação dos surdos é fundamental para o crescimento cognitivo e psicossocial da criança surda.

Entretanto o problema da comunicação ainda é um dos maiores barreira nessas famílias, que a princípio são expostas aos conselhos e direcionamentos dos médicos da audiologia. Por conta disso, uma vez aconselhados a treinarem seus filhos para ouvir e falar, a comunicação continua sendo um grande obstáculo.

No decorrer desse trabalho, dialogamos com vários autores que trataram da questão da comunicação através de Libras. Com o apoio do dicionário de Aurélio Buarque de Olanda (2008, p. 251), compreendemos o conceito de comunicação, como sendo "a capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, com vista ao bom entendimento entre pessoas". Em uma família que recebe um filho (a) surdo (a), essa comunicação não pode ser diferente. Tem que existir as discussões, os diálogos para que os envolvidos possam crescer e compreender o mundo. Ferreira (2008), na família que existe uma pessoa surda, a comunicação deve se processar através da Libras. Essa língua proporcionará o desenvolvimento pleno do surdo. Há uma necessidade de criar uma linguagem onde a relação entre família e criança/adulto surdo possa se dá da melhor forma possível, de modo que todas as manifestações entre os envolvidos sejam compreendidas (QUADROS, 2002).

A partir da década de 1980, novos estudos passam a configurar o campo educacional dos surdos. As pesquisas avançaram tanto em nível internacional quanto nacional. Nesse contexto novos olhares são direcionados para o universo dos sujeitos surdos. Os depoimentos dos próprios surdos a respeito das suas trajetórias de vida, narrando, desmascarando o campo educacional com seus métodos, denunciam posturas e reclama uma educação que respeite a sua língua.

Assim, métodos considerados como apropriados passaram a ser questionados. A medicina e seus profissionais também são questionados. A normalidade é questionada e o surdo reclama a sua legitimação, defendendo sua identidade e cultura.

Situações exposta do decorrer do artigo leva-nos a crer que os desafios na comunicação entre surdo e família, sempre foi um dos maiores entraves. Leva-nos a compreender essa trajetória repleta de frustrações, de lutas e dores.

Atualmente, existem mais recursos e mais informações para as famílias lidarem com tal situação. Agora, os profissionais da educação e os professores surdos, não são mais passivos. Eles procuram pesquisar a sua própria prática, questionado e criticando as práticas medicinais e nesse tempo, criam propostas metodológicas que respeitem a identidade, a cultura e a comunidade surda. Concordamos com Karin Strobel (2008, p. 106), uma professora doutoranda surda, quando diz que:

[...] Os povos surdos hoje mais abertos culturalmente não se submetem mais e gritam alto "chega de mania de normatização, de reabilitação" porque eles não estão mais conscientes lá, de onde eram sempre tomadas as decisões por eles e para eles, os povos surdos unicamente querem uma escola onde lhes permitam a aprender e não fingir que sabem1 (STROBEL, 2008, p.106).

 

Os programas de intervenção, conforme o modelo explicitado nesse trabalho, contempla de forma plena o surdo, a sua família e a escola. Cria uma ligação entre esses surdos e o maior problema, que é a comunicação, passa ser uma questão de tempo, uma vez que os próprios surdos adultos procuram solucionar, levando os pais ouvintes a mergulharem no universo dos surdos, aproximando-os da língua materna deles, desfazendo os estereótipos, os estigmas, as frustrações, as incertezas, a falta de perspectivas e anulando, conforme afirma Hoffmeister (1999), "o medo da síndrome do futuro", que é caracterizado como o fantasma que persegue os pais ouvintes desde o momento em que ouvem as recomendações dos profissionais da medicina.

Desta forma, a comunicação entre a família ouvinte e o surdo deve se processar, levando em consideração a Libras e além de mergulhar nessa linguagem, também devem fazer das suas casas, um ponto de encontro e aprendizagem da Libras, recebendo assim a comunidade surda que interagirá com os pais ouvinte e com o (a) surdo (a) que faz parte dessa família. Então, concluímos nossas considerações, tomando as palavras de Paul Lualdi, apudHoffmeister (1999, p. 128).

Quanto mais confortáveis todos os membros da família estejam com a surdez, melhor. Por experiência própria, tenho conhecido muitos adultos surdos maravilhosos e bem sucedidos que, sinto dizer, nunca teria encontrado se não fosse pela surdez de meu filho. Essas pessoas me ajudaram a entender qual seria a experiência de vida de meu filho, ensinaram-me o que funcionava e o que não funcionava para ele à medida que cresciam e serão bons modelos para meu filho quando ele crescer.

 

 

SOBRE OS AUTORES

 

Genivaldo Oliveira Santos Filho e Rozilda Ramos dos Santos Oliveira são graduados em Letras/Português pela Universidade Tiradentes, em Aracaju/SE. São pós-graduados em Libras Faculdade Pio Décimo e PROLIBRAS, Certificação: Proficiência no Uso e no Ensino da LIBRAS, Categoria: Fluentes em LIBRAS, com nível superior completo. O presente artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica. Visa mostrar que a comunicação esta por meio da Libras . Contatos: [email protected].

 

 

REFERÊNCIAS

 

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BRASIL. Secretaria de Educação Especial Deficiência auditiva / organizado por Giuseppe Rinaldi et al. - Brasília: SEESP, 1997. V. I. - (Série Atualidades Pedagógicas; n. 4).

 

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FERREIRA, Lucinda. Legislação e a Língua Brasileira de Sinais. Ferreira & Bergoncci consultoria e publicações:São Paulo, 2003.

 

HOFFMEISTER, Roberto J. Famílias, crianças surdas, o mundo dos surdos e os profissionais da audiologia. In: Atualidade da educação bilíngüe para surdos: interfaces entre pedagogia e lingüística. (Org.) Carlos Skiliar. Porto Alegre, Mediação, 1999.

 

QUADROS, Ronice Müller. Situando as Diferenças implicadas na Educação de Surdos: Inclusão/Exclusão. In Revista Ponto de Vista, UFSC. N.º 4. 2002-2003.

 

STELLING, Esmeralda. O aluno surdo e sua família. In: Repensando a educação da criança surda.(Org.) Instituto Nacional de Educação de Surdos  INES. Divisão de Pesquisas, Rio de Janeiro, 1996.

 

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florionópolis: Ed. da UFSC, 2008.

 

_____________. Perfil: Entrevista com Karin Strobel. Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade. Acesso dia 20/10/2009: http://www.editora-arara-azul.com.br/revista/03/perfil.php.

 

UNESCO  Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura / Ministério da Educação e Cultura da Espanha. Declaração da Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Ministério da Justiça, Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência  Corde. Brasília, 1994.

 

VESCHI, Jorge Luiz. Família e Linguagem. In: Congresso Surdez e universo educacional (2005, Rio de Janeiro  RJ. 14 a 16 de Setembro de 2005/(organização INES. Divisão de Estudo e Pesquisa  Rio de janeiro. P. 163.)


Autor: Genivaldo Oliveira Santos Filho


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