A sociologia da educação de Pierre Bourdieu



Pierre Bourdieu viveu entre 1930 e 2002 e, na qualidade de Sociólogo, ao criticar, ao mesmo tempo, o objetivismo e o subjetivismo, aborda a herança familiar como importante fator de sucesso ou insucesso escolar; consequentemente, afirma que a escola é reprodutora de desigualdades sociais. Mas há quem aponte limitações a essa concepção. Bourdieu foi um renomado sociólogo; filho de funcionário da empresa de correios, nasceu em Denguin (comuna francesa na região administrativa da Aquitânia) e, ao completar 28 anos de idade, passa a ser assistente na Universidade de Algéria, quando produz seus primeiros trabalhos sobre transformações sociais, inovando o debate na Sociologia da Educação. Este notável cientista contemporâneo constrói suas teorias a partir de múltiplas fontes teóricas, como as de Kant, Mauss, Austin, Norbert Elias, Lévi-Strauss, além das de Marx, Weber e Durkheim. Aposenta-se como diretor de estudos da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Epistemologicamente, critica a forma como o sujeito é tratado pelos sistemas institucionalizados, que apresentam fórmulas prontas para serem postas em prática pelos atores sociais; o que representa o objetivismo. Ao mesmo tempo, se afasta do modelo subjetivista, em que o indivíduo age de modo exclusivo com suas escolhas, preferências e atitudes. Assim, Bourdieu busca a superação de um dilema clássico do pensamento sociológico: a oposição objetivismo x subjetivismo. É nesta perspectiva que o autor dirige seu foco para a carga cultural ou herança familiar como vetor do sucesso ou insucesso da pessoa nas fronteiras internas da escola. Os gostos, etiqueta, maneiras de se dirigir a outrem, religiosidade, enfim, os costumes diferenciam o aluno no que tange ao tratamento que ele recebe no âmbito do sistema educacional. Em outras palavras, uma pessoa de habitus requintados e linguagem refinada se sobressai e alcança melhores posições na escola e, com efeito, no mundo profissional. A verdade desta hipótese frustra pessoas menos favorecidas e avoluma as estatísticas de reprovação e evasão escolares, confirmando a assertiva de que a educação formal é uma extensão da educação doméstica e que esta influencia diretamente naquela, principalmente no tocante ao desempenho do aluno. A sociologia da educação de Bourdieu continua sendo festejada nos dias atuais porque lança um novo modelo para explicar a escola e a educação, diferentemente da forma como eram entendidas até a primeira metade do Século XX. O sistema de ensino que garantiria oportunidades iguais entre todos os cidadãos ? em que as pessoas que se destacariam por seus méritos, avançariam em suas carreiras escolares e, consequentemente, mobilizar-se-iam socialmente ? é desmascarado, teórica e empiricamente, por Bourdieu. Pesquisas fomentadas pelos governos inglês, francês e norteamericano fornecem dados mais do que suficientes para Bourdieu provar que, em vez de oportunidades, meritocracia e justiça social, a escola reproduz e legitima desigualdades sociais, passando a ser vista como promotora de privilégios sociais. Mas para afirmar que a escola reproduz e legitima desigualdades sociais, Bourdieu relaciona diretamente, também, o capital econômico das famílias como fator preponderante para o êxito ou frustração na vida escolar. Essa relação com a classe social do aluno custa a Bourdieu observações contrárias por parte de outros cientistas ? a exemplo de Percheron, Lahire, Singly, Charlot ? os quais afirmam que membros de famílias de diferentes classes sociais atingem posições iguais na escola e no mercado de trabalho; assim como, dentre os filhos de famílias de mesma classe, uns se frustram enquanto outros se sobressaem. Afinal, toda regra tem sua exceção. A transversalidade do tema objeto do presente trabalho é de uma amplitude tão significativa que impede a exposição de considerações finais, exigindo-se apenas que diversos públicos reconheçam a importância do despertar de Pierre Bourdieu para a quebra do paradigma representado pelas instituições (como modelos prontos) que engessam também os sujeitos das sociedades afetadas. Assim, acaba superando a dualidade entre objetivismo e subjetivismo à medida que revela o indivíduo como um ser essencialmente social, com costumes reconhecidos e exigidos pela sociedade em que está inserido, cujo sistema educacional promove privilégios, reproduzindo e legitimando desigualdades sociais. Na mesma direção, é necessário compreender que as críticas ou observações contrárias sevem de equilíbrio ao desenvolvimento do tema ao passo que enriquecem o debate, levantando dúvidas e fomentando a produção de novos textos, artigos ou monografias. Referências Bibliográficas NOGUEIRA, Cláudio Marques Marques; NOGUEIRA, Maria Aalice - Educação & Sociedade, ano XXIII, no 78, Abril/2002;
Autor: Zeu Barbosa


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