A leitura é uma arte de fazer com que se herde mais do que se aprenda



 

Introdução

A leitura e a literatura fazem parte da vida do ser humano desde os tempos mais remotos. Pessoas reuniam-se em rodas de conversa para ouvir o contador de histórias, geralmente o ancião ou aquele que tinha facilidade em comunicar-se. Com o passar dos tempos a maneira de contar histórias foi evoluindo, o homem sentiu necessidade de registrar suas histórias, não confiando mais somente na memória e com o propósito de perpetuar a história.

Para PAULINO (2006), em determinado momento histórico, o livro foi considerado um produto artesanal, não era reproduzido em série e sua confecção  era como se fosse um ritual, o livro era único. Com o surgimento da imprensa, a sociedade cultural sofre grandes transformações, inclusive a igreja e seu clero ficam apreensivos em relação à divulgação de informações, temendo que a população se atenha de informações que venham de encontro aos preceitos religiosos e criam uma lista com os títulos proibidos pela igreja.

PAULINO (2006) explica que:O livro é visto como um objeto de estudo. Contudo,  além de objeto catalisador, fornecedor de informações, conhecimentos, criador de aprendizagens e cultura, ele pode ser considerado como um objeto de arte. Desde seu surgimento, quando ainda era caligrafado por frades e freiras no enclausuramento, página por página, o livro possuía artifícios e características que lhe concediam o título de objeto de arte, arte do livro impresso. (PAULINO,2009).

A importância da leitura

A leitura de um bom livro remete o leitor a outro mundo bem como ao enriquecimento e vivência de práticas prazerosas de uma boa leitura.

            Ao iniciar o processo do letramento literário, a criança deve ter acesso a materiais de boa qualidade. MACHADO (2002) faz algumas recomendações que podem contribuir para a formação do leitor:

Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever. É alimento do espírito. Igualzinho a comida. Todo mundo precisa, todo mundo deve ter a sua disposição  de boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome (...)

Clássico não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que não sai de moda.

Tentar criar gosto pela leitura, nos outros, por meio de um sistema de forçar a ler só para fazer prova? É uma maneira infalível de inocular o horror a livro em qualquer um.

O primeiro contato com um clássico, na infância e adolescência, não precisa ser como o original. O ideal mesmo é uma adaptação bem feita e atraente. (MACHADO, 2002, p.15).

 

            Cabe lembrar aqui, que não existe fórmula mágica para despertar o gosto pela leitura, é preciso investir em situações, espaços e educadores que tenham interesse nessa prática, a da formação do leitor.

            Para a sociologia das práticas culturais, a leitura é uma arte de fazer com que se herde mais do que se aprenda.

            Entre os psicólogos, é considerada processo de formação cultural, entretanto pode ser conquistado o domínio da decifração dos sinais impressos, sem,  no entanto ser um leitor completo.

            FRAISSE (1997) apresenta que:

 

Se ler verdadeiramente é poder ler algo que ainda não conhecemos, aqueles que não nasceram no mundo dos livros terão necessidade de nada menos que uma reestruturação de seu horizonte cultural para que tornem-se leitores. A leitura provoca uma reação contra o meio, um desejo de evasão e de autonomia, mas não permite realmente construir uma imagem mais poderosa que a realidade social e que seja capaz de pensá-la e modificá-la.

A leitura é o instrumento de uma ruptura que ela mesma não provoca. (FRAISSE, 1997)

 

 

            Ou seja, é necessário que aconteça a interação entre o livro e o leitor. Um dos passos para se concretizar essa ruptura é o investir em uma proposta de incentivo à leitura, seja em sala de aula, seja em espaços específicos de leitura.

            Em sala de aula o educador deve garantir uma leitura de qualidade, com bons livros, materiais que venham a enriquecer essa prática.

            ZILBERMAN (1987) aponta que:

 

O professor que se utiliza do livro em sala de aula não pode ser igualmente um redutor, transformando o sentido do texto num número limitado de observações tidas como corretas (procedimento que encontra seu limiar nas fichas de leitura, cujas respostas devem ser uniformizadas, a fim de que possam passar pelo crivo do certo e do errado.)

Ao professor cabe o detonar das múltiplas visões que cada criação literária sugere, enfatizando as variadas interpretações pessoais, porque estas decorrem da compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em razão da sua percepção singular do universo representado. (ZILBERMAN, 1987, p. 24)

 

            É preciso ter consciência que a leitura deve estar presente em todas as modalidades de ensino, desde a educação infantil, até o 3º grau. Sendo que na educação infantil, onde se inicia a vida escolar, a proposta de incentivo à leitura deve acontecer de maneira natural e atrativa.

            Entretanto, o fato da criança não saber ler remete a um professor que deva propiciar momentos de contação de histórias, momentos esses que despertam a imaginação da criança e contribuem para o seu desenvolvimento intelectual, assim quando a criança iniciar o seu processo de alfabetização os livros e a leitura farão parte de sua vida, tornando esse processo mais fácil.

            Alguns autores defendem a idéia de que a criança que cresce num mundo onde, a leitura, a narrativa de contos de fada, fábulas, aventuras e outros, fazem parte do seu cotidiano, tem mais facilidade em interpretar situações reais em sua vida adulta, pois esse tipo de atividade garante a construção de mundo mais elaborado, de maneira crítica e autônoma.

            Para ABRAMOVICH (2008)

 

É importante para o bebê ouvir a voz amada e para a criança pequenina escutar uma narrativa curta, simples, repetitiva, cheia de humor e calidez, para a criança da pré-escola ouvir histórias também é fundamental (...) o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo. (ABRAMOVICH, 2008, p. 22/23)

 

 

             Essa formação de leitor é apenas um preparo para o enfrentamento das novas tecnologias disponíveis aos alunos e professores, acredita-se que o aluno deve estar preparado para utilizar as novas tecnologias. A internet, em especial é uma ferramenta riquíssima em informações, entretanto é aqui que entra a questão do letramento digital. Letramento digital refere-se à ampliação das possibilidades de contato com a escrita também em ambiente digital, tanto para ler, quanto para escrever. É o saber usar essa ferramenta tecnológica com eficiência e inteligência.

            RIBEIRO (2008) considera que embora seja importante que o leitor desenvolva letramentos vários, é possível apresentar habilidades assimétricas em relação a diferentes aspectos da leitura, sendo um deles os procedimentos ajustados ao objeto de ler.

            Essa nova tendência exige uma reflexão sobre como é processado a leitura com outros textos e imagens, já que entre uma variedade de linguagens e de forma de ler, o computador viabiliza novos instrumentos e ferramentas para o trabalho com a leitura.

 

Considerações finais

 

            É preciso formar uma nova perspectiva quanto ao incentivo à leitura, o professor precisa rever sua prática e seus métodos. Se o professor não adotar uma nova postura diante dessa nova tecnologia, diante de uma leitura digital, de nada adiantará o uso dessa tecnologia, o leitor continuará sendo apenas um reprodutor do código escrito, a proposta de uma biblioteca virtual é a de ampliar o universo do conhecimento, agilizar o uso da informação.

            Cabe ao professor instigar o uso adequado dessa nova tecnologia, não transformando o leitor em mais um integrante das massas que usam a internet da mesma maneira que fazem uso da TV, do rádio ou de outros meios de comunicação de massa.

            O professor, enquanto mediador do processo ensino-aprendizagem, pode desenvolver no aluno a habilidade de selecionar e opinar sobre aquilo que lhe é oferecido. Não é oportuno que o aluno reproduza idéias prontas, mas que saiba opinar sobre as mesmas.

             Enfim, o acesso as novas tecnologias pode formar não um aluno crítico e letrado, mas sim um aluno Ctrl+C Ctrl+V. Torna-se assim necessário investir na formação de um leitor proficiente, que seja capaz de estabelecer o uso simultâneo dos múltiplos códigos, desencadeando o letramento digital, ampliando os horizontes, garantindo assim um aprendizado de qualidade.

 

Referencias

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. Scipione. São Paulo. 1997. 5ª Ed 2008

 

FRAISSE, Emmanuel. Representações e imagens da leitura, série fundamentos. Editora Ática. São Paulo. 1997

 

MACHADO, Ana Maria. Como e porque ler os clássicos universais desde cedo. Editora Objetiva. Rio de Janeiro. 2002

 

PAULINO, Suzana Vieira. Livro Tradicional X Livro Eletrônico: a revolução do livro ou uma ruptura definitiva? Hipertextus revista digital. N.3 jun 2009. Disponível em WWW.hipertextus.net 

 

RIBEIRO, Ana Elisa. Navegar lendo, ler navegando. Tese de doutorado em Linguistica  Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008

 

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. Global Editora, 6ª Ed, São Paulo: 1987

 


Autor: Marcia Maria King Rabe


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