A INSERÇÃO DA PSICANÁLISE NA NEUROCIÊNCIA E VICE-VERSA - Parte II



A INSERÇÃODAPSICANALISENA NEUROCIENCIA E VICE-VERSA - Parte II

1)Historia do movimento neuropsicanalise

Em defesa da neuropsicanalise, muitos psicanalistas e neurocientistas buscam o retorno ao Freud neurologista e portanto a sua disciplina cientifica  aPsicanálise - tem seus fundamentos/origens na neurociência.

Olivro sobre sugestão hipnótica escrito por Hippolyte Bernheim (1840-1919) foi traduzido por (Freud, 1888) eno mesmo ano publicou o Cérebro. Aqui, com certeza podemos afirmar o nascimento da neurociência com a psicologia. Este livro é o encontro entre dois campos neurologia e psicologia em uma só alma. E desse encontro resultará, três anos depois, a formalização do ponto de vista freudiano sobre o problema das relações corpo-alma, particularizado no das relações cérebro-pensamento. Considerado como uma introdução sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro humano, édividido em duas partes, a primeira versa sobre neuroanatomia e a segunda sobre neurofisiologia.

A primeira parte é subdividida em sete subseções, começando com uma rápida descrição do desenvolvimento embriológico do cérebro..As três subseções seguintes descrevem sua topografia geral e a anatomia. A quinta seção trata de neuroanatomia microscópica e revisa as vantagens e desvantagens das diversas técnicas histológicas em uso na época. A sexta seção considera o quanto a investigação neuroanatômica da época podia esclarecer sobre o funcionamento cerebral. A sétima e última subseção é dedicada ao então controverso tema do curso das trilhas sensórias e motoras através do sistema nervoso. As três subseções seguintes descrevem sua topografia geral e a anatomia de suas subdivisões maiores.(Psychê  Ano VIII  nº 14  São Paulo  jul-dez/2004  p. 95-108 Entre o corpo e o psiquismo: a noção de concomitância dependente em Freud | 97).

Assim, Freud começasegunda parte do Livro dando uma definição geral do cérebro como o órgão no qual "as excitações sensórias centrípetas" são convertidas em "impulsos centrífugos de movimentos"(sic). O próprio Freud, em 1888, de um artigo "Cérebro" para um dicionário médico, não deixou de reconhecer-se devedor de Taine. Tendo redigido, em 1895, seu trabalho Projeto para uma psicologia científica, ele escreveu para Fliess (fevereiro de 1896): "O livro de Taine, De l'intelligence, me agrada muito. Espero que algo possa sair dali". É talvez o que tenha autorizado Ludwig Binswanger a escrever que as concordâncias são numerosas entre o naturalismo psicológico de Taine e o de Freud.

Contudo, desde 1900, ao introduzir na "Traumdeutung" o conceito de aparelho psíquico, Freud, sem renunciar à topografia das localizações, mostrou-se interessado, antes de tudo, pelo que ele chamava de "tópica psíquica".Em 1915, ele acabou escrevendo, no capítulo sobre o "Inconsciente" da Metapsicologia: "Todas as tentativas para adivinhar, a partir daí (as localizações cerebrais) uma localização dos processos psíquicos, todos os esforços para pensar as representações como estando armazenadas nas células nervosas fracassaram radicalmente". E ele acrescenta que, no momento, a tópica psíquica (distinção dos sistemas Ics., Pcs.,Cs.) "nada tem a ver com a anatomia".

Finalmente, em 1891 Freud publica sua primeira obra, " Contribuição à concepção das Afasias", na qual é possível encontrar  ao lado e por conta de sua tomada de posição relativamente às teorias neurológicas mais influentes da academia vienense do final do século passado  a formalização de seu paralelismo apenas esboçado implicitamente nos textos anteriores. Nesse livro Freud arrisca a construção do primeiro modelo de aparato psíquico sob a forma de um aparato de linguagem. Sua intenção era criar um modelo que, diferentemente daqueles concebidos por seus colegas Karl Wernicke (1848-1905) e Theodor Meynert (1833-1892), entre outros, fosse capaz de explicar ao mesmo tempo o discurso espontâneo normal e os distúrbios funcionais reversíveis (Nassif, 1977; Rizzuto, 1993). Citando Monah Winograd"Ao querer um aparato capaz de produzir o discurso espontâneo, Freud pretendia que esse aparato fosse capaz de pensamento, de processos psíquicos implicando representações (objeto e palavra), associações entre tais representações", e por aí vai. Mas para Freud ainda era necessário relacionar essas atividades da alma à estrutura e ao funcionamento material do cérebro. Na parte V do livro sobre as afasias, ao criticar a doutrina "córtico-cêntrica" de Meynert e sua hipótese da localização anatômica das funções cerebrais, Freud explicita e defende a idéia de que a relação entre os processos fisiológicos do sistema nervoso e os processos psicológicos não é de causalidade mecânica, mas de concomitância dependente. Ou seja, os processos fisiológicos e os processos psicológicos são concomitantes (ocorrem simultaneamente a partir de certo momento), interdependentes e de ação recíproca. A cadeia dos processos fisiológicos no sistema nervoso não se encontra, provavelmente, numa relação de causalidade com os processos psíquicos. Os processos fisiológicos não se interrompem ao iniciarem-se os processos psíquicos. Ao contrário, a cadeia fisiológica prossegue, só que a partir de um certo momento, um fenômeno psíquico corresponde a um ou mais de seus elos.

2. Paralelismo entre o Psiquico e o Cérebro

Na neurociência o cérebro é substrato orgânico dos processos mentais.É no interior do encéfalo que emerge a mente com todo seu aparato de "Qualia". Logo, o processo psíquico é, assim, paralelo ao processo fisiológico "a dependent concomitant"(apud -Monah Winograd).

Verifica-se então, que o trabalho de Freud, naquela época, não deixa de ser um tratado neurobiológico do Aparelho Psiquico * sobre o qual assenta a Psicanalise.

Vejamos o quadro descritivo, abaixo, o que retrata as bases neurobiológicas do aparelho psíquico de Freud. Trata-se de um esquema para umapossivel decomposição de elementos que venham constituir o aparelho (psíquico e/ou mental), comandado pelos processos adaptativose de autopreservação da espécie enão somente pela evolução da vida sexual dos indivíduos ( vide: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Freud ,1949).

Esse quadro analógico a será útil na tentativa de interpretar o funcionamento do cérebro, orgão biológico historicamentepassado por evolução . O estudo das funções cerebrais requer uma metodologia multidimensional que enfoque aspectos neurobiológicos e comportamentais em relação ao meio ambiente. Sendo assim, a Psicanálise e a Neurociência ensejam pela interação, uma das possíveis pontes entre as ciências humanas e as ciências naturais. Ambas têm como elo o conhecimento do desenvolvimento filogenético e ontogenético do ser humano.

A evolução além de selecionar as características físicas do indivíduo melhor adaptadas ao meio ambiente pretérito, também selecionou mecanismos psíquicos mais vantajosos para lidar com situações sociais da época.O cérebro tem mecanismos intrínsecos que lhe faculta auto-aprendizagem, nem sempre dependendo de mecanismos conscientes. São comportamentos adaptativos desenvolvidos pela evolução, no esquema "comportamento-adaptação sobrevivência". As funções superiores do cérebro, tais como memória, sono e sonhos, linguagem, pensamento, emergem da configuração de grupos neuronais interagindo com estímulos/pulsões internosexternos oriundos do meio.

(*)Nessa matriz , apenas sintetizei os escritos: "CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE (1916-17 [1915-17])";Publicações pré-Psicanalíticas e esboços inéditos VOLUME I (1886-1899) Proyecto de psicología. In:FREUD. Obras completas. Buenos Aires: Amorrortu, 1996. vol. I.; " Biologia da Consciencia" de Eldeman, Gerald, 1992; "Em busca de Espinosa" de Damásio, Antonio,2003; "O Erro de Descartes" de Damásio, Antonio, 1994; "O cérebro do século XXI" de Rose, Steven, 2006; "Introdução à metapsicologia freudiana" de GARCIA-ROZA, L. A.1. Rio de Janeiro: Zahar, 1991.________. Introdução à metapsicologia freudiana . Rio de Janeiro: Zahar, 1995.. Entre o corpo e o psiquismo: a noção de concomitância dependente em Freud | Psychê  Ano VIII  nº 14  São Paulo  jul-dez/2004  p. 95-108 .


Autor: Teresa Carvalho


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