Nos Caminhos De Joana



 

 

 

 Enquanto, em uma manhã ensolaradade domingo eu relia as obras de Marcel Proust, Em busca do meu tempo perdido o pensamento seguia mergulhado na busca desenfreada do jovem Swam por sua amada,e na análise comparativa dos caprichosde Josefine, com a meiguice e, as curvasquase retas, mas de grande beleza de uma personagem desconhecidada literatura. Criada, somente, para o belprazer de algunsbairristas solitários. A adorável Joana, moça vinda do interior, que cuidava da Sra. Medeiros do 4ºandar, era muito mais interessante para mim naquele momento, do que qualquer coquete proustiana.

Jovemingênua, de olhar ainda infantil, trajada com uniforme das lolitas: vestido floral,  tecido leve e transparente, que mais parecia uma segundo pele; vestecampesina típica. Lolita disfarçada de camponesa. A sensação da rua.

Os flutuantesvestidinhos floridosleves como o vento grudavam em seu corpinho franzino de pele aveludada. Ela era assim: como, um pêssego, que descansa em uma fruteira, exibindo seus dotes comestíveis. Fascinando uma legião de machos ávidos por uma nova especiaria,emaravilhados pelaforma belíssima , carnuda, que a jovem chegadahá poucos meses causava.

-Ah, caro leitor,quantas noites eu acordei em chamas imaginandoque sob a transparência do tecido, o corpode menina, dançava em minha cama exibindo os mamilos rosados,como botões de rosa.E, enquanto nas árvores nasciam os frutos, festejando os dias ensolarados, e primaveris os vestidinhos floridos,se transformaram em uma vedete à parte, em um localidade repleta de solteiros solitários, e viúvosdesesperados.

O Bairro de Santa Eugênia, além de possuir cafés, e simpáticas livrarias também tinha Joana. Cadarespiração,ou sorriso,acentuavamsua belezapueril e, eram como os festejosda Santa: alegres, e repletos de bêbedos atirados na calçada por causa dos excessos, e, malditasolidão.Porque, a nossa princesinhaera comouma dádiva dos céus.

Joana estranhava essa gente da cidade, pois para ela tratavam-se de pessoas mal educadas, que mal paravam na rua para cumprimentar, ou conversar sobre as flores plantadas pela comunidade jovem do bairro nos canteiros, ou a previsão do tempo. A ingênua ninfeta,assustada por causa das histórias contadas pelas tias velhas, sobre o perigo da cidade, nãosabia - que a metade dos comerciantes, e moradores do Bairro,se deleitavam a cada vôo do bem-te-vi amedrontado pela imensidão do céu da grande cidade.(..) " Até parece que aqui o céu é mais azul"(..), dizia ela sob os olhares vorazes, que a perseguiam. Tudo fica tão diferente, nas teias da urbanidade. Onde, aglomerados de edifícios, emontanhas de lixo, crescem sob aurbe de concreto.Porém, estranhos sentimentos, afloravampaixões a flor da pele, quando uma espécie em extinção: " uma flor de cinco pétalas", um " tucano de bico amarelo" crescia ao nosso redor enjaulado por uma velha entediada. Eu poderiarealizar qualquer feito, para que pudesse conversar sobre os dias ensolarados, a previsão do tempo, enfim as banalidades do dia, coma protagonista do meu primeiro romance, somente, com a descrição de seu sorriso, que daria uma bela "orelha ",para minha iniciada obra.

Joana, que já tomava poses de heroína,pelos feitos e, atrativos que possuía, e realizava. Porque, além de cuidar de uma senhora rabugenta, tambémcolecionavaflores, que secava emvelhos livros escolares. A preocupação de toda população masculina do bairro, era que a garota mantivesse o vestuário quase indecente, em todasas estações. E, mesmo nos dias mais frescos, suas pernas finas, de pele macia e, rosada poderiam estar á mostra, acobertadas apenas por umaminissaia, e um top transparente. E, sob os protestos do clube de mães, e algumas esposas invejosas, mantivemosreuniões semanais no Botequim do Arnaldo, um velho fanfarrão cheio de anedotas sobre a 2ªGuerra Mundial e, as atrapalhadas do avô judeu. Asquintas-feiras, eram sagradas, por um forte motivo,força maior, e de nossos desejomais sacanas: Joana.

-Vou comprar uns vestidinhosmais curtos, para essa garota.Dizia o açougueiro do final da rua.Ela tem um bumbum lindo, arrebitado e macio como de um bebê. Acrescentava com a boca cheia d´agua, como sedegustasse um maravilhoso pedaço de filé .

Mas, a confusão no meu prédio, que nada deixou á desejar com o reboliço das donas de casa e, do clube de mães do Bairro Santa Eugênia – todas sentindo-serejeitadas por causa do interesse do público masculino nagarota de sardasdeu-se, em uma manhã de segunda-feira. Eu não tinha nada para fazer, e resolvi escrever um poema para minha musa sardenta. Ah ! Esquecei de contar caro leitor, ela tinha sardas por todo o rosto e colo, onde finos cabelos louros caíam-lhe quando ela se exaltava, ou sorria. E, foram justamente esses pequeninos sinais dourados, que me faziam delirar. Mandei, que o porteiro um senhor de setenta anos, preguiçoso,eranzinza que jogava baralho com os aposentados da rua,entregasse um pequeno envelope para minha Joana. Custou-me alguns maços de cigarros, e algumas cervejas, mas o velho senhor esperto, que controlava a vida de todos,cheio dabiritaao invés de entregar o envelope diretamente a menina, colocou-o na caixa de correspondência da proprietária, que tinha o hábito de pegá-latodas as manhãs.

A senhora Medeiros, ao ler osversos endereçados a sua serviçalenciumada, por uma vida cheia de sofrimentos e, decepções mandou, que a pobre menina arrumasse suas coisas, e se fosse. Joana assustada se fechou no quarto. A pobrezinha não sabia de nada. Nem ao menos desconfiava de meus sentimentos...

Chorou desesperada quando a patroa em cólera ofendeu-a com expressões, que iam desde à época da ditadura à desaforos de confusões novelísticas, que encontrou naquele momento de ira. Louca, colérica lia em voz alta, ainda vestida com a camisola e o roupão que usava ao descer para o saguão, os poemas do apaixonado que não se identificou:

(...)Joana moleca

olhos vidrados

como de uma Eva/

fruto proibido

paraíso perdido/

onde vivo em pecado/

tolhido em lágrimas/

desejoso e, quase febril

mergulho no sumo da sua juventude/

ohdeusa das minhas virtudes ! (..)

Eram versos simples, até ingênuos.Apesar de escritos por um senhor de considerável idade, e vivência. E, eu, que jamaishavia escrito um poema, e, nunca tivera coragem de ler sequer, um texto escolar escrito por mim em voz alta; ironicamente – haviaconquistado a curiosidade, e fúria de Dona Mariza, que declamou os versos deum poeta frustrado, e anônimo enfim, celebrandosua notoriedade.

Minha ninfeta chorou por dias, pois não sabia para onde ir. Uma das tiasque a criou, não a queria de volta. E, a pequena não tinha nenhum amigo, ou conhecido naquela grande cidade. Mas mesmo assim, com sua inocência, e simpatia conseguiu o que jamais algum amigo, ou namorada conseguira: transformar um pacato professor de Português, bissexual, e, colecionador de filmes pornôs: em poeta. Oh doce criança, dona do meu coração, fiz alguns versos para celebrar o meu amor, e aliviar meu coração. Louco, e como se quisesse pagar umaprenda, ou uma graça recebidadoei meus livros, tesourosdas artes das palavras, como por exemplo, O ser e o nada de Sartre,desejado por muitos bibliomaniacos, paraa Biblioteca Pública.E, sob os protestos do meu melhor amigoJardel também doei o livro, que foi importante para meu crescimento pessoal Carta a El Grecco de Nikos Kazantakis,para a viúva do 604, que por muitas vezes me serviu de conselheira,e a amiga nos momentos de tristeza. E, mesmo que eubajulasse, meu amigos algumas vezes, não pretendia passar os meus últimos anos de vida com uma bicha louca, e velha, reclamando a falta de cabelo na bunda, lendo os melhores trechos de minha enriquecida biblioteca particular.Ao descer na manhã seguinte, para levar meu cachorro para fazer pipi.Encontrei Joana, tristonhae, cabisbaixa sentada na amurada do prédio.

-O que aconteceu?Perguntei tocando a palma da mãe esquerda em suas pernas magras e frágeis, arrepiadas pela brisa fresca da manhã.

-A Dona Mariza pegou um envelope endereçado a mim.Um poema querecebi de um anônimo - na caixa de correspondência.Ela anda dizendo para todo mundo, que eu estou dando para toda a vizinhança.Explicou assustada.

Segurei-a em meus braços.Dando todo o amor sufocadotodo esse tempo engasgado, preso em todo o meu ser. Seria possível, no entanto, que as minhas parcas economias de professor, tradutor e, barmen em casas de massagem, pudessem manter minha doce princesinha? Então, respirei fundo, e disse:

-Você pode ficar comigo, em minha casa. Há bastante espaço, para nós três: eu, meu cãozinho titi e, você.

-Mas, como poderei pagar pela estada em sua casa Senhor?Perguntou-me colocando suas pequeninas mãozinhasainda úmidas pelas lágrimas, em minha cintura.

-Poderá ficar por quantotempo quiser.

A família da moça, que se resumia em três tias solteironas, que moravam uma próxima a outra, em uma pequena propriedade rural.E, quando Joana lhes enviou uma longa carta explicandoos motivos, que a fizeram ficar na cidadeapóssair da residência de Dona Mariza, explicando toda a confusão. Omitindo assim o fato de ter aceitado viver sob o mesmo teto de um velho professor aposentado, com fama de pederasta.

Passado um mês,com minha adorável hóspede, aprendi que a vida deveria ser gozada a cada dia.Aliás, era o que fazíamos todas as manhãs, enquanto ela me excitava com uma massagem oriental, que dissera ter aprendido com um professor no segundo-grau. A cada dia eu aprendia mais com aquela sapeca, que de ingênua, só tinha as pintas quecobriam seu belo rosto de menina...


Autor: angelica rizzi


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