A Globalização Da Miséria



Uma das poucas coisas em que não é possível se posicionar sem ser taxado de reacionário, é sobre as cotas na faculdade.

Se for a favor, leva chumbo de elitistas, e até de pessoas não tão elitistas, que defendem que passaram fome estudando e que agora, alguns ganharão as vagas de mão beijada, só por que tem a cor da pele diferente (alegam inclusive discriminação racial, por isso).

Se for contrário, é melhor correr para não ser preso e investigado para saber se não é simpatizante de grupos neo-nazistas ou da KKK.

A idéia original, para a implementação das cotas, era, até então, um resgate histórico das distorções e discriminações com os afro-descendentes, ao longo do tempo, além do fato de as estatísticas provarem, que só um percentual ínfimo dos mesmos conseguem vagas em universidades públicas, resultando, por isso também, em poucos representantes em cargos estratégicos de nossa sociedade, tais como juízes, prefeitos, governadores, deputados, etc.

Eu concordo, aplaudo e sinto por dentro uma alegria compartilhada, por muitos cotistas que conheço, por essa grande chance.

A grande diferença entre governos de esquerda e direita, que a muito se misturaram (considerando para essa nossa conversa, que a esquerda é aquela que procura mudanças no "status quo" e a direita procura a manutenção do mesmo), é óbvia: um quer alterar o rumo da história social e o outro quer um piloto automático para a continuidade da mesma história social.

A forma como se vai fazer isso é que é o grande ponto de discussão (Será por cotas? Será por outro caminho? Será por cotas, lá no ensino fundamental e médio? E o índio? E se o afro-descendente for rico?)

A imposição de idéias, a ditadura de direita ou de esquerda, é que causam os choques.

Tentar recuperar um tempo perdido, uma injustiça histórica, não é fácil e, nesse caso, é o mesmo que, para refrescar uma sala que está abafada, colocar uma grande barra de gelo, no centro da mesma, para agilizar o processo e recuperar mais rapidamente a temperatura ideal.

Alguém terá que carregar a grande barra de gelo até a sala, o chão vai molhar e alguém terá que secar, alguém vai ter que pagar para adquirí-la e, no final, se ninguém cuidar, e a barra refrescar demais a sala, alguém terá que providenciar todo um aparato, desta vez para aquecer um pouco a sala. Sem falar que todos podem, ainda, pegar um resfriado coletivo.

Vai ser necessário um monitoramento eterno, pois logo ali, poderá ser preciso criar um sistema de cotas para não afro-descendentes, pois esses estarão sufocando a maioria, com seus privilégios conquistados ao longo dos últimos tempos, por exemplo.

Se não ficou clara a minha opinião, eu facilito: acho que é importante e positivo o sistema de cotas nas universidades públicas, hoje implementado, mas devemos ficar vigilantes e muito atentos para futuras distorções que nascem em meio às mudanças bruscas, inéditas, que, por isso mesmo, são mais difíceis de mensurar.

Acredito que em muitos lugares do Brasil aconteça o mesmo, mas no Sul, é comum ver meninos e meninas loiras, de olhos claros, favelados, em condições desumanas.

É a globalização da miséria.

Como já foi dito por um intelectual cínico: "A Lei Áurea libertou nossos irmãos para, em seguida, tornar a todos, escravos".

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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