Flores, Gentileza, e...Medo?
Eu busco o lado bom na vida que todos dizem que existe, eu quero sentir que ainda há chances de tudo melhorar nesse mundo.
Eu gostaria de acreditar que somos mais do que o tipo de gente que se aproveita das catástrofes que ocorrem para ganhar dinheiro, mais do que o tipo de gente que se veste de mendingo e pede dinheiro para alimentar a família e depois que o recebe, gasta tudo com drogas. Quero acreditar, é pedir muito?
Ontem, eu estava em frente à um supermercado, esperando meu pai que foi nos comprar mistura. Enquanto esperava, eu procurava alguma senhora com a face amigável. Queria encontrar alguém, para dar flores. Somente isso. Eu tinha um pequeno buquê com lindas flores que colhí de uma árvore e queria presentear alguém, surpreender alguém com um desejo diferente de 'Boa Tarde'.
A primeira senhora que abordei, ,me parecia simpática. Arrisquei:
- A senhora se agrada? - perguntei-lhe com um largo sorriso em minha face.
Logo, o sorriso e a expressão carismática da senhora desvaneceu, restando apenas a sombra de desconfiança da senhora:
-Não, não. - disse rápida e rispidamente.
Minha expressão simplesmente murchou, eu não esperava tamanha grosseria.
-...Por quê não?...A senhora não gosta de flores?...
-Não, eu gosto, mas, eu não quero não. -Ela disse asperamente.
Sem saber especificamente 'onde enfiar a cara' (desculpe o termo chulo) eu me afastei, indo para o outro lado.
Eu fiquei pensando se ela rejeitou por conta de eu estar mal-arrumada (calça moletom azul-escura, blusa preta), ou se era pelo fato de eu ser afrodescendente, ou ainda pelo fato dela estar com medo de sei lá...eu assaltá-la, talvez. *.*
A segunda e última senhora que abordei era afrodescendente e tinha a aparência de ser evangélica.
Eu sorri timidamente e ela me sorriu de volta. Encarei como um 'sinal verde'.
Seguí até ela, e , ela praticamente saiu correndo quando estendí-lhe o braço com o ramalhete de flores.
-Não, não, eu gosto, mas não quero!!! - Ela berrou, quase longe de mim.
Ao ver minha expressão murchar de tristeza, ela parou de correr e disse, com dó:
-É...eu gosto, mas...eu não tenho como carregar...desculpa! - ela disse antes de sair andando depressa.
Eu fiquei ali, esperando meu pai, praticamente incrédula.
Disse-lhe o ocorrido e ele decidiu que daria as flores em meu lugar.
Fomos até a farmácia, e, ao passar pelo caixa, a atendente disse sem-jeito que não estava conseguindo confirmar o pagamento já efetuado.
Papai olhou-a e disse:
- Você não conseguiu? - ele questionou, a expressão séria.
- Não, senhor. - respondeu a atendente.
- Então você ganhou isso. - E ele sorriu, estendendo-lhe as flores.
A atendente sorriu e aceitou as flores.
Eu me pergunto: onde foi parar a lei da boa-vizinhança? Será que no mundo em que vivemos atualmente é impossível praticar uma boa-ação sem sermos mal-vistos (como na primeira situação) ou ainda sermos confundidos como doentes mentais (como na segunda situação)?
Ainda tenho esperanças que pessoas como aquela simpática atendente existam e que assim como eu, acreditem na possibilidade de convivermos com a sociedade em harmonia.
Autor: Jéssica Fidelis Fabro
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