Infância, fantasia e maturidade



Uma criança que brinca e fantasia bastante provavelmente será um adulto saudável emocionalmente. A brincadeira infantil faz parte da construção psíquica do ser humano, do desenvolvimento da subjetividade, da descoberta de si, do poder de criatividade. Tudo isso é essencial para que o adulto seja capaz de suportar melhor as angústias e frustrações da realidade, podendo se refugiar nos sonhos, os quais lhe dão conforto e sentido para a vida.

Alguém que teve a infância prejudicada, seja por trabalho desgastante e precoce, seja por perturbações de um lar desajustado, correrá um risco maior de não obter uma maturidade e integridade emocionais suficientes na idade adulta, ficando mais suscetível a desenvolver transtornos psiquiátricos.

É claro que isso não é uma regra matemática e milimétrica, e depende também do potencial de cada um, e de uma série de outros fatores que acompanham a vida de cada indivíduo.

No mundo contemporâneo, assistimos a um fenômeno em que as crianças estão sendo roubadas em sua infância, e não porque são obrigadas a trabalharem muito cedo (não apenas isso), mas sim porque são estimuladas precocemente a agirem e a adquirirem hábitos de adultos.

Quantas meninas freqüentam salões de beleza, fazem unha, pé, mão, escova, maquiagem, e andam de salto alto, com roupas iguais a de mulheres? E quantas mães, ingenuamente ou por pura tolice, não acham o máximo e comentam como elas já parecem mocinhas?

É cada vez mais raro vermos crianças brincando nas ruas, jogando bola nos campinhos e terrenos baldios, soltando pipas, bolinhas de gude, correndo de pique-esconde, pulando amarelinha etc. Ao invés disso, cada vez mais cedo as crianças querem celulares, vídeo-games, roupas de grife e namorar.

E o pior é que muitos pais aplaudem, e até se orgulham da precocidade do rebento. Talvez porque não tenham tempo ou paciência ou interesse em estimularem e brincarem com os filhos.

Hoje em dia, com tantos bens de consumo e estímulos vazios, tanto apego ao material e ao eletrônico, e esquecimento dos sentimentos, as pessoas não sabem mais o que é essencial para si, o que de fato preenche a alma e faz se sentir pleno, pois só procuram o que é útil e necessário. Nem sempre o essencial é necessário, no sentido de que deva ter alguma utilidade prática. O essencial pode ser apreciar um pôr-do-sol, o mar, o céu, escrever uma poesia, pescar, ouvir música, pintar, desenhar, enfim, fantasiar, sonhar. Com outras palavras: brincar.

Sempre pergunto aos meus pacientes se possuem sonhos, e o que é essencial para eles. Na maioria das vezes não sabem responder. É difícil falar do que realmente importa. Muitos não sabem do que gostam, são incapazes de sonhar. Ou porque esqueceram (perderam o espírito da infância), ou porque nunca puderam fantasiar. Recomendo a eles resgatarem o espírito lúdico, a fantasia infantil, a arte.

Se a infância estiver perdida, a humanidade não terá mais solução.

(André Augusto Passari)

Autor de: "Fragmentos do tempo"

Editora: Arte Paubrasil

Gênero: Poesia/Literatura brasileira

Páginas: 112

Preço: R$ 20,00 (R$ 14,60 no site da Editora)

Para encomendar:

- Livraria Saraiva

- Livraria Cultura

- Livraria artepaubrasil (www.artepaubrasil.com.br)

- e outras


Autor: André Augusto Passari


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