Comentário: Adoro odiar meu professor: O aluno entre a ironia e o sarcasmo pedagógico



O texto de Antônio Zuin leva aos leitores a refletir sobre a relação entre docente e discente à qual se baseia em conflitos que trazem como conseqüências os castigos psicológicos, o sarcasmo e um processo formativo/educativo sem diálogo e comunicação. Para que haja solução do problema Zuin sugere que os docentes utilizem as críticas para a realização de uma auto-avaliação de suas atitudes em sala de aula e aceitando os seus erros e compartilhando os mesmos com os seus alunos.

   O texto é dividido em três capítulos e a conclusão. O primeiro capitulo, tem como abordagem a dialética socrática seguindo toda uma discussão com base na forma de educar pautada em Sócrates, ou seja, o seu modelo de educador, a sua forma de utilização do método dialético e as abordagens de outros pensadores com relação ao mesmo.

     Entretanto, o segundo capítulo tem como foco principal a reflexão entre a substituição da ironia pelo sarcasmo em sala de aula, no qual conduz ao leitor refletir sobre os processos que rodeiam o ambiente da sala de aula, como no passado os castigos físicos e no presente os psicológicos que para o autor não são menos doloridos que o primeiro, pois deixam marcas de um educar tirano e repressor por parte de muitos mestres. Aborda também, a identificação que o aluno poderá vim a externa de seu mestre reproduzindo em suas atitudes no futuro.

      Todavia, o terceiro capítulo faz um questionamento sobre se os alunos precisam realmente de ter professores heróis e logo em seguida relata a relação de amor e ódio entre educador e educando, exemplificando ato externado pelos alunos via sites de relacionamentos como o orkut. Ao final o ator conclui fazendo com que o seu leitor encontre a melhor forma para relacionasse com o seu professor que ao longo do comentário será discutido. Dentre a reflexão crítica que será construída sobre o texto será comentado os questionamentos do autor e as soluções para que haja o melhoramento da interação entre alunos e professores.

     O autor Antônio Zuin trás em seu texto a reflexão sobre o processo formativo, onde professor e aluno vivem em uma constante guerra psicológica, isto é, o primeiro usa de suas forças para poder enraivecer e mostrar todo o seu poder para o segundo que aceita passivamente, mas futuramente poder vir a reproduzir o que ele viveu com o professor carrasco ou externar nos sites de relacionamento.

 

Segundo Zuin (2008, p.63,64):

Há oportunidade nas quais os alunos conseguem descarregar em outros colegas e ressentimento reprimido na forma de ódio, bem como a sensação de onipotência que é prazerosamente fruída quando eles se assemelham aos professores que os agrediram.

 

    Zuin deu inicio a discussão abordando no primeiro capítulo a dialética de Sócrates como Paidéia irônica, na qual trás a abordagem, a ironia como uma negação ao positivo ou como pretensão da positividade, mas para o autor a ironia que vem consequentemente como o sarcasmo que está pautado na humilhação, pois demole as certezas que são demonstradas.

 

         Para Zuin (2008, p.10):

Quando há sarcasmo, solapa-se possibilidade de desenvolvimento do processo educacional/formativo, pois o interlocutor é obrigado a ingerir, de forma humilhante, determinado significado do conceito que se transforma numa palavra de ordem.

 

       No texto há uma passagem que relata: Conseqüentemente, não faz sentido afirmar que o justo e, portanto, a própria justiça, seja nada mais que a vantagem mais forte, ou seja, o autor deixa claro que o possuidor do poder será aquele que irá expor e deixar explícita as suas vontades e com isso os governados terão que acatar suas idéias e vontades. Dentre essa discussão o autor com base em grandes filósofos comenta o papel de Sócrates no contexto educacional à qual utiliza a ironia como forma encontrar a respostas para os seus questionamentos.

 

Com base no autor discutido (2008,p.16):

Não é obra do acaso que a ironia anseia pela liberdade, ou seja, aquela que anuncia a possibilidade da construção de novos inícios. E se esse raciocínio for aplicado com maior ênfase à interpretação das questões pedagógicas, nota-se que os novos inícios são incentivados pelo educador que faz uso da dimensão emancipatória da ironia quando não apresenta um raciocínio conclusivo ao aluno, mas o estimula a refletir a respeito da temática discutida e expressa suas próprias deduções.

 

       Antônio Zuin aborda ainda no primeiro capitulo a educação pautada em Sócrates, na qual o método dialético é o ideal para o filosofo, o método dialético é, portanto, o único que rejeita as hipóteses, e se eleva até ao próprio princípio para estabelecer solidamente as sua conclusões e que realmente afasta, pouco a pouco, o olhar da alma da alma da lama grosseira em que está mergulhado e o eleva para a região superior. Ou seja, esse método conduz o ser humano a sair de seu estágio de cegueira e ilusão e faz com que o mesmo alcance um olhar para além das aparências. Mas o jogo irônico-dialético precisa ser dado de maneira que o mestre admita as suas limitações e em comunicação com o seu aluno crie um espaço de diálogo eliminando a humilhação e o conhecimento como absoluto.

      Contudo, Zuin analisa no segundo capítulo que os professores nem sempre conseguem fazer uma autocrítica. Esse riso irônico, que também denota autocrítica em relação ao seu comportamento é, em muitas ocasiões, substituído pelo sarcasmo que tem o poder de destruir a autoconfiança do discente e, portanto, as bases do seu processo educacional/formativo, expõe. Para o autor, esse comportamento sarcástico é uma das causas da violência que hoje é propagada nas escolas, internet. Ao longo da história o mesmo comenta que os castigos físicos estiveram muito presentes como forma de educar, onde ao longo dos tempos esse método foi aprimorado para as violências simbólicas, na qual o aluno precisa ter como foco primordial a tirania dos docentes e suas ameaças.

 

Zuin (2008, p.43) afirma que:

Se a eliminação dos castigos físicos não ocorreu por inteiro, embora tenha sido drasticamente mitigada, são as punições psicológicas que ocupam cada vez mais um lugar de destaque nas salas de aula.

 

     Com isso, Comênio criticava a educação pautada nos castigos físicos e psicológicos, na qual era tido como uma humilhação para quem sofria, pois se restringia em dizeres como: olha como estão atentos teu colega e aquele como entendem bem todas as coisas! Porque é que tu és tão preguiçoso? O aluno passa a adquirir um medo de se expressa, isto é, relatando suas idéias com medo de erra e ser humilhado perante a classe. Tornando-se um ser passivo e que guarda rancor em seu interior, havendo uma relação de adestramento e controle perante a relação professor e aluno. O espaço da sala de aula passa a ser construído um ambiente de aprendizagem onde o que prevalece é o rigor e o conteúdo a ser transmitido, na qual não leva o alunado a uma reflexão hermenêutica e participativa.

    O autor relata com base em Freud que a agressividade e a sexualidade são algo internalizado na sociedade atual, ou seja, esses tipos de sentimentos precisam ser inibidos na sociedade para que possa ter os limites. Porém, esse sentimento causam um certo mal-estar, pois Zuin confirma que A sensação de mal-estar é dolorosamente sentida por todos aqueles que se encontram libidinalmente ligados entre si, uma vez que o desejo de agressão é introjetado e dirigido para o próprio ego.É nesse momento que, segundo Freud, essa agressão internalizada é assumida por uma parte do ego que se coloca contra o próprio ego. Formando aquilo que o psicanalista denominou de superego. A contemporaneidade preserva o silêncio, isto é, a intenalização da agressividade.

     No processo de ensino-apredizagem são estimulados os modelos ideais que trazem em seu as situações que são colocadas como verdadeiras e absolutas, ou seja, dentro do processo formativo não existe a argumentação com base nos conhecimentos que estão sendo dados, pois é colocado ao aluno de maneira impositiva e acrítica não dado espaço para que o aluno esclareça e discuta as suas dúvidas perante o seu professor.

    Contudo, esses modelos são apresentados também na figura do educador, no qual é tido como herói e detentor do saber. Com isso, passando a ser quebrada na relação da sala de aula. Não obstante, muitos professores utilizam-se desse titulo de dono do saber para poder inserir em seus alunos toda uma carga de soberba e falta de humildade. E Esse jogopara o autor cria em sala de aula,  O efeito devastador de indagação com esse teor sarcástico no processo formativo do aluno o estimula, paradoxalmente, a voltar a identificar-se com o professor, pois seu ódio gradativamente se transforma naquilo que Adorno chamou de impulso para representação, para um jogo de cena.

      No entanto, as condições históricas objetivas que fazem com que as representações e reflexões percam espaço nas salas de aula e sejam gradativamente substituídas pela hegemonia da violência simbólica e o sarcasmo, cada vez mais presente na relação professor-aluno, sobretudo nas universidades, no qual os dizeres mais freqüentes são: Você pensa? ou Sensacional esta sua observação, vou recomendá-lo ao próximo prêmio Nobel.

      Antônio Zuin no terceiro capítulo inicia com a história de Galileu que adotava o sistema geocêntrico, que a terra é considerada como centro dos movimentos dos astros.     Porém, os clérigos da época defendiam o sistema heliocêntrico, na qual considerava o sol com centro do sistema planetário. Porquanto, com base no poder dos clérigos Galileu resolveu a aderir o sistema dos mesmos aceitando o modelo ideal para não ser julgado na fogueira. Mas o seu discípulo Andrea ficou inconformado com sua atitude. Entretanto, em seguida justificou a atitude do mestre afirmando: Finalmente compreendera o recuo de Galileu, pois se ele fosse torturado, provavelmente até a morte, jamais teria escrito esse tratado sobre o revolucionário da física. Mas segundo Zuin Galileu destruiu as convicções de Andrea quando afirmou que teve medo de morrer. O aluno muitas vezes projeta uma imagem de professor que passa a ser idealizada, mas é quebrada ao passo que o mesmo se depara com atos desses educadores.

     Zuin recorre ilustremente para o filosofo Rousseau à qual aborda a formação de Emílio para explicar o contexto formativo/educacional onde para o mesmo o discípulo precisa deixar seu aluno crescer, ou seja, criando as suas próprias idéias. Todavia, há a necessidade que seja superada as verdades absolutas e havendo um trabalho pedagógico em sala de aula com o intuito de construir o conhecimento a partir de reflexões e pesquisas, isto é, fazendo com que seu aluno reflita o fato ocorrido em sala, sociedade e torne este discente um ser humano humanizado e dialético que contribua para um ambiente social crítico e coletivo.

 

        Como afirma Zuin (2008, p. 90, 91):

[...] A expressão superada o professor-herói, ou seja, o modelo de professor não implica sua eliminação, mas sim a possibilidade de um rearranjo de identidades dos mestres e dos alunos, que se transformam no transcorrer do processo de ensino-apredizagem. O professor pode contribuir para isso se puder exercer sua autocrítica e, até mesmo, rir irônica e pedagogicamente de si mesmo se a situação permitir.

 

     Para Zuin, promover o diálogo sobre o tema é uma das formas de minimizar os conflitos. Ambos não podem fingir que tal violência simbólica, fundamentada no sarcasmo pedagógico, não exista, mas sim deve ser encarada como tal e discutida coletivamente, visando dirimir os prejuízos que acarreta na formação dos alunos.

     Porém, para o autor enquanto essa coletividade não é prioridade muitos alunos expressarão os seus atos de extravasar, a sua insatisfação através dos sites de relacionamento que pela facilidade de acesso e possibilidade de anonimato, a violência que, às vezes, não é externada na sala de aula, se torna pública nesse ambientes virtuais.

 

            Segundo Zuin (2008, p. 98):

As declarações aduzem ao sarcasmo, pois seus tons agressivos sentenciam imediatamente aquilo que o professor lhes representa e que não podem assumir na sala de aula, por causa do medo de sofrer algum tipo de retaliação.

 

    O autor afirmar que para haver o diálogo entre professor e aluno é necessário existir a discussão a cerca da avaliação a ser adotada, ou seja, a participação de ambos no processo educacional, pois para Zuin Se deslocarmos esse raciocínio para o entendimento das relações conflituosas entre os agentes educacionais, as matizes de tal contradição precisam ser, de algum modo, expostas e discutidas em conjunto.

      Por conseguinte, para se construir uma relação crítica e coletiva entre professor e aluno é necessário que o diálogo seja o principal parceiro do educar, pois o que se observa são relações entre esses dois sujeitos coisificada, isto é, sem parceria, afeto e comunicação de saberes, pois a relações estão tomando conflitos devastadores o qual destrói a formação dos alunos e a imagem dos mestres. Porém, o que se almeja é uma relação autônoma, na qual insira o ser a se formado no mundo como construtor e desconstrutor de conceitos que lhes são colocados como desafio, tornando-se um ser humano engajado com a história cultural. Logo, deseja-se que a relação entre professor e aluno seja de descobertas de conhecimentos e que a violência sofrida de ambas as partes sejam sanadas pelo o amor ao saber.     

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS:

ZUIN, Antônio.A.S. Adoro odiar meu professor: O aluno entre a ironia e o sarcasmo pedagógico. Campinas/ SP: Autores Associados, 2008.

 

 


Autor: Michelly Chaves


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