REFLEXÕES SOBRE UMA PRÁTICA DOCENTE INTERDISCIPLINAR PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO



A leitura da apostila trouxe muitas reflexões sobre a disciplina Práticas Disciplinares que remeteram meus pensamentos a uma frase lida há muito tempo e de um grande gênio do cinema chamado Charles Chaplin que diz: Não sois máquinas! Homens é o que sois! E a partir da frase deste grande gênio do cinema é que vejo grande semelhança com muitas das reflexões sugeridas pela autora quando refere-se a uma educação que parte da singularidade rumo à universalidade do conhecimento, respeitando o sujeito como alguém que pensa, age, tem sentimentos e é capaz de construir-se ao longo do processo da própria existência. Penso que seria realmente mais fácil se acontecesse na sala de aula o que lemos nas teorias, mas infelizmente muitos professores tratam os alunos como máquinas que precisam produzir preenchendo páginas de livros e trabalhando conteúdos fora de seus contextos.

Voltando a frase de Chaplin paro diante do pensamento da autora sobre a reflexão que o professor deve fazer diante do espelho sobre as atitudes que assume em suas ações e lança várias perguntas que o professor deverá fazer sobre sua prática para descobrir o significado de uma ação interdisciplinar. Muitos professores não param para pensar sobre suas ações, percebemos isso quando um professor nem se dá ao trabalho de preparar seu planejamento e vai para sala de aula sem saber o que fará com os alunos.

Para Dra. Diva a teoria da interdisciplinaridade insiste na relevância de habitar o conceito, torná-lo seu, após estudo, reflexão, contextualização no tempo e no espaço, comparações, críticas. Assim, ao transformá-lo em conhecimento possamos devolver-lhe o grau de saber, após travestirmo-nos com / de sua sabedoria.

Para que se possa fazer toda a desconstrução de um conceito que nos foi imposto sem questionar o professor precisa assumir uma postura dinâmica e reflexiva que vai além da sua formação de professor, só assim poderá responder às novas exigências de mudanças de caráter subjetivo e objetivo na resignificação da sua identidade profissional.

Sentir e viver a afetividade na educação, pela teoria da interdisciplinaridade suscita que nosso eu adentre a sala de aula, inteiro, para desvelar, descobrir e sentir as manifestações presentes nas interações, relações e reações que os sujeitos estabelecem/ manifestam na ação de educar.

Um professor que afete seus alunos com o prazer que sente pela educação e a partir daí contagia seus alunos com os conceitos que reconstruiu e não uma simples máquina que por pura obrigação transmite para os alunos o seu verdadeiro conceito. Ter prazer em preparar algo significativo para que juntos professor e alunos possam exercitá-lo. Sentir se o aluno realmente entendeu o que você quis dizer e respeitar as suas dificuldades para poder durante o processo poder saná-las.

Para Dra diva uma ação deve ser consciente, partilhada e envolvente, visto que, os sujeitos devem se apresentar inteiros para que esta ação seja significativa e com sentido à sua existência

Professor esquece-se desses detalhes que fazem a diferença e simplesmente entra na sala de aula sem envolver-se para que os alunos também possam ficar envolvidos e o trabalho seja um crescimento mútuo.

A autora escreve sobre o movimento do currículo não como um ato mecânico, mas intimamente ligado à realidade da sala de aula, reconstruído com um olhar crítico, considerando os diferentes saberes produzidos ao longo da história. É, nessa relação, entre sujeito e conhecimentos, inseridos no movimento da macro e da micro-história, que o currículo ganha vida.

A escola muitas vezes caminha contra este movimento do currículo, ignorando em muitos momentos as diferenças em sala de aula, desprezando como se dá o caminhar entre os sujeitos (professor/aluno).

Segundo a teoria da interdisciplinaridade não se joga o velho fora, ou seja, não se abandona a forma em que o currículo disciplinar está organizado. Mesmo porque para desenvolver um currículo interdisciplinar faz-se necessário as disciplinas. Na interdisciplinaridade o velho é o ponto de partida para se construir o novo, neste caso uma nova forma de organizar e trabalhar com os conhecimentos escolares.

Concordo com a afirmação de não jogar fora o que aí está, pois aprendemos com o velho e como profissional temos que ter a capacidade de desafiar e transformar a partir do que já existe. Transformar a sala de aula em um grande laboratório de conhecimento e pesquisa, aonde os sujeitos a partir do que existe aperfeiçoam e trocam conhecimentos.

A autora traz através da escrita de Fazenda (2001) uma reflexão sobre projetos interdisciplinar, que diz só ser possível pensar em projeto interdisciplinar a partir de uma prática interdisciplinar. Toda prática está ligada a uma ação, porém, existem diferentes modalidades de ação: a ação reflexiva e a ação praxiológico. Ao se pensar numa ação de nível reflexivo, a metodologia suscita que se pergunte: o quê. Meu pensamento visualiza um produto prático de natureza científica. Contudo, ao pensar no nível praxiológico, pergunta-se: como? Nesta dimensão o centro de preocupação é o processo vivido, por isso, essa modalidade de ação está voltada à construção epistemológica do conhecimento.

O que muitos professores não conseguem perceber dentro da educação é uma urgência de mudança da sua prática que leve o aprender a aprender para que ocorra o crescimento nas ações pedagógicas surgindo a partir daí desenvolvimentos mais profundos e elaborados entre o fazer e o pensar.

Trabalhar com a construção de conhecimentos a partir de projetos interdisciplinares suscita que se atente para os seguintes momentos: sensibilização; ativação de curiosidade; questionamentos; reestruturação da pergunta; pesquisa teórica e prática; categorização dos dados; análise; registro do que foi estudado e de um índice representativo dos diferentes conteúdos que será necessário aprofundar para compreensão do problema.

Um desafio muito grande para a maioria dos professores é trabalhar com projeto interdisciplinar aonde vai exigir momentos de pesquisas e buscas junto com os alunos de questões e dúvidas que aparecem no decorrer do caminho e muitas vezes o professor que não foi acostumado a trabalhar dessa maneira não tem mais paciência e interesse, por estar muito cristalizado com o trabalho feito com os alunos através de perguntas e respostas prontas do livro didático.

Outro questionamento da autora é sobre as atitudes que o professor assume nas relações que estabelece com seus alunos falando sobre a paciência e consideração que o sujeito manifesta no modo de estar-sendo-com-os-outros. Na relação pedagógica, ter paciência significa acreditar que o aluno é capaz de aprender e que tem seu tempo próprio para despertar e lançar-se no caminho da compreensão. Ele é diferente e requer maneiras diferentes de entender, compreender e apreender o conhecimento. Assim, o professor precisa dispor de um leque com variados elementos para que o aluno possa ser afetado e produzir-se enquanto ser-no-mundo.

Respeitar o tempo do aluno está longe da escola. O professor muitas vezes vê como falta de interesse do aluno ou até mesmo como um problema da criança em aprender determinado assunto que foi explicado em sala. O professor precisa perceber como o seu aluno aprende vigiando sempre o seu ritmo próprio, percebendo que hoje ele está assim e que a cada minuto o aluno avança no seu tempo. Não esperar passivamente, mas lançar vários recursos pedagógicos durante todo o processo prestando atenção na singularidade de cada um.

Se o professor se coloca na relação com o aluno e com o conhecimento numa atitude com eles e não para eles, necessário se faz a escuta, visto que, falar com carrega dentro de si o escutar para que a comunicação produza movimento e desencadeie o diálogo.

Ouvir deveria fazer parte do movimento da sala de aula, mas em muitos momentos o professor esquece que o aluno precisa ser ouvido para que as questões abordadas em sala sejam desafiadas e aprofundadas durante o diálogo. Simplesmente o assunto é respondido em questionários nos livros e muitos educadores se esquecem de perguntar para os alunos se entenderam ou até mesmo se gostariam de conhecer mais sobre determinado assunto, pois o conteúdo precisa se esgotar e não haverá tempo para conhecê-lo melhor e tirar as dúvidas que surgirão durante o caminhar do assunto.

A autora coloca que a sala de aula é local de encontros, de vida. Encontros com sujeitos singulares que desejam conhecer mais e melhor, desejam trocar, para ir ampliando seu referencial de mundo, de vida. Desejam encontrar-se consigo mesmo, com os outros, para formarem suas identidades, enriquecerem-se e construírem seus projetos de vida que são singulares, na coletividade. Portanto, sala de aula é espaço de relações dialógicas, espaço de comunicação.

Sábio Charles Chaplin com sua frase citada no início deste texto, pois novamente ela vem de encontro com as ideias do parágrafo acima. Se muitos professores não deixarem de agir como máquinas desreguladas passando conteúdos e seguindo currículos extensos, fora do contexto da sala de aula não conseguiram atingir o sentido mais pleno da educação que é saber utilizar do conhecimento adquirido em sala de aula na vida em sociedade, sabendo que ele não é algo pronto é acabado, mas que está em constante transformação e que vai se reconstruindo na história.

                                                              Rosania Soares carminati     Referência Bibliográfica: RANGHETTI, Diva Spezia. Práticas Interdisciplinares.2009 


Autor: Rosania Soares Carminati


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