Identidade Nacional E A Globalização



Este fim de milênio e início de um novo ficou marcado pelo desmoronamento do modelo Europeu de Estados-Nação frente à Nova Ordem Internacional. Está cada vez mais em voga o surgimento de entidades político-econômicas transnacionais, como as ONGs, a União Européia, o Mercosul, o NAFTA, entre outras. Estas, por sua vez, põem em cheque a idéia de nacionalismo agregada a um território, idioma ou uma etnia, uma vez que primam por alcançar objetivos que ultrapassam a esfera meramente nacional de coletividade.

Torna-se evidente o choque entre a soberania interna das nações (muito bem focalizada por Castells) e os interesses externos das redes de defesa transnacionais (abordados por Keck e Sikkink).

Num mundo onde grupos separatistas crescem em número e expressão, ganhando força com a ajuda de órgãos internacionais, a definição de identidade nacional, tal qual a antiga burguesia e a nobreza européia conseguiram moldar com a ajuda das massas e, curiosamente, em detrimento delas, vê-se diante da necessidade do reconhecimento de novos limites territoriais. As grandes potências vêem seus ideais nacionalistas ameaçados pelo surgimento de outros nacionalismos que têm por base grupos excluídos e/ou marginalizados.

O debate em torno do que vem a ser nacionalismo ou identidade nacional tem como divisor de águas a crescente pressão de pequenos grupos marginalizados (cujas identidades foram, por longo tempo, suprimidas) sobre Estados-Nação já estabelecidos, tais como a Rússia, a Espanha, a Itália e o Reino Unido. Essa pressão fortalece-se sobremaneira com o apoio de órgãos como a Aliança das Repúblicas Autoproclamadas e a "clandestina" Organização dos Estados Não-Reconhecidos.

Portanto, é preciso questionar o que vem a ser nacionalismo. Até que ponto existe uma soberania nacional? Até que ponto as redes transnacionais de defesa podem interferir na soberania de um Estado-Nação? Será que os Estados-Nação, tal qual conhecemos hoje, têm suas fronteiras demarcadas de uma maneira justa?

Uma das principais fontes de identidade cultural é a ligação que o indivíduo tem com a localidade em que foi socializado. A identidade nacional é, portanto, um conjunto de crenças e representações simbólicas que dão sentido ao conceito individual de cidadania. Ela é resultado das instituições culturais da nação que somadas a símbolos e representações, produzem significados estruturantes para os indivíduos.

O conceito de identidade nacional visa tornar homogêneas as diferenças que existem no interior da nação, estabelecendo um discurso de unidade; de um povo unificado em torno de ideais comuns. Nota-se, nesse sentido, uma cultura hegemônica que assume o papel da cultura nacional, suprimindo as outras culturas que ajudaram a formar a nação. Portanto, enfatiza-se o poder cultural, pois a cultura dominante constrói as representações da unidade a partir das diferenças internas da sociedade.

Estamos diante de um grande paradoxo político, pois as fronteiras que, quarenta e dois anos atrás, foram declaradas imutáveis em Helsinque, têm se mostrado cada vez mais vulneráveis e, é sabido que tal fato se deve, mormente, a uma leitura mal-feita das peculiaridades de cada Estado, ou mesmo à leviandade da comunidade internacional em achar que se pode normatizar ou padronizar o surgimento de um Estado apenas politicamente, sem se levar em conta as nuanças sociais, econômicas, culturais, temporais, religiosas e até mesmo circunstanciais que culminaram em seu surgimento.

Sem querer ser utópico, mas com base nas incessantes mudanças que a sociedade moderna tem sofrido, creio que seja necessário que se faça uma releitura geral na questão da soberania nacional, sob a lente das redes transnacionais de defesa com vistas a uma melhor interação das nações na política internacional a fim de que o mundo possa globalizar-se civilizada e equilibradamente.

Referências bibliográficas

CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade: Volume II. Paz e Terra. Tradução: Klaus Brandini Gerhart.

KECK, Margaret E. & SIKKINK, Kathryn. Activistas sin Fronteras (Redes de defensa en política internacional). Traducción: Mercedes Córdoba y Magro.


Autor: Rócio Stefson Neiva Barreto


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