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Como num salto quântico.

Como num salto quântico.

   O menino recebeu os livros que chegaram pelo Correio como quem ganha o mais desejado presente.

Àquela época em que só tinha o rádio para ouvir, poder ver as imagens era uma dádiva.

Os livros em suas mãos versavam sobre tudo que diz respeito ao mar. Essa era sua paixão. Seu distante amor, que ficava longe, pois de onde morava até lá, contavam-se mais de mil quilômetros. Viajar para conhecê-lo, era impensável para a condição econômica de seus pais.

Então ele via as fotos do mar, como quem estivesse vendo imagens do Paraíso.

O mar tornara sua obsessão. Não havia um dia em que não pensava nele, imaginando-se lá.

Certa vez conseguiu vê-lo num filme. Numa viagem à cidade vizinha maior, seus pais o levaram ao cinema. Para sua imaginação de menino tinha sido um tesouro para guardar para sempre em seu coração.

Muitos dias depois, revia o filme como se o tivesse assistindo novamente.

Certa noite havia lido os livros e visto as fotografias do mar, até que o sono o vencesse. Ao adormecer sonhou.

Em seu sonho, então, viu-se num navio que singrava o oceano, em meio a um temporal. Ouvia a gritaria dos marujos e sentia a tensão reinante. Mas isso não lhe dava medo. Sentia as lambidas das ondas que saltavam sobre o barco. O gosto da água salgada sentia-a enfim.

Raios e trovões, muito vento. A embarcação balançava perigosamente, até que foi a pique. O navio afundava. E junto ele se foi.

Na manhã seguinte sua mãe o chamou. Não obtendo resposta foi até seu quarto. Ele estava caído no chão. A cama estava úmida e o chão ainda estava molhado. Seus olhos estavam abertos e calmos, como alguém que pensa na vida. Numa vida que já não tinha.

Em ambas as mãos os pais identificaram algumas plantas estranhas, viscosas e esverdeadas.

Só depois ficaram sabendo, por informação do médico, que se tratavam de algas marinhas frescas e, ainda, que ele morrera afogado em água salgada. E por mais paradoxal que pudesse parecer, ele morrera afogado no mar.

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