Entrevista com Ronie Silva - Rede TV



Olá, Ronie. Agradecemos vossa atenção e a pronta disposição em nos atender.

Dando início a esta entrevista, gostaríamos que você primeiramente se apresentasse e depois nos contasse um pouco sobre como você veio trabalhar na cenografia virtual da Rede TV e os programas por utilizados neste setor.

Eu sou o Ronie Silva e estou na Rede TV desde 2000. Minha formação não é propriamente design gráfico, mas atualmente eu me encaixo na profissão de design gráfico. A minha formação me remete um pouco a isso. Fiz na o curso de Artes Visuais na UFMG com a ênfase em cinema de animação. Consegui bolsa de Iniciação Científica em Computação Gráfica e aí comecei a carreira em computação gráfica. Então, com essa bolsa, eu comecei a conhecer o que era computação gráfica e o que era computador, porque até então eu não sabia (risos).Então eu comecei com o programa chamado "Topas"[1]

Então, era assim, ele fazia uma esfera e um Chade que já era maravilhoso. Nesse software eu conseguia desenvolver uma historinha que a minha formação pedia, né?.

É... Então, assim, eu queria construir histórias e tal. E com esse software ele permitiu a desenvolver esse tipo de coisa... personagens, aprender ferramentas, estruturas, conceitos, iluminação, o que seria uma luz virtual, o que é um Chade, né? Então... desses chades aí, na época, tinham uns algoritmos chamados Kong, que é hoje o Sucurrot, que também já caiu em desuso, alterou. Daí pra frente eu comecei a conhecer essa área da computação gráfica. Fui pro mercado, trabalhei em produtoras, né? E nessas produtoras aí eu comecei a desenvolver mais solidamente essa linguagem de computação gráfica, entender um pouco mais como funcionava a estrutura comercial da coisa, em termos de pedido... é... produto, prazo... porque, até então, você não tem prazo, porque você tá dentro da universidade, você tá protegido, e quando você tá no mercado você começa a aprender de tudo.

Então eu fiquei... tipo, em Belo Horizonte... eu fiquei em Belo Horizonte até 99. Em 99, final de 1999 e início de 2000, eu vim pra São Paulo... e a Rede TV tava começando e...eu consegui entrar. Então, assim, eu entrei primeiro no departamento promocional, que a gente vai ver depois, o Promo, conhecido como Promo. Ele é responsável por fazer as chamadas da casa. Então, assim, é o cara que promove a emissora, entendeu? Eu entrei nessa parte... aliás, eu e tinha um designer de sistema, e eu era assistente desse designer e só, entendeu? Nessa época!

Então, assim, a estrutura era muito ínfima, muito rústica, não tinha equipamento, não tinha sala, então a coisa foi se construindo aos poucos e esse departamento se solidificou por volta do ano 2000... final de 2002... é,,, o presidente da empresa e mais um superintendente foram a uma feira em Los Angeles, a Ilha D, e conheceram esse equipamento da ORAD... cenografia virtual. Resolveram implantar, e com essa implantação pegaram pessoal... pessoas da casa mesmo pra formar esse novo departamento. Então, eu fui um dos que foi deslocado pra esse departamento novo. Foram os outros três da parte de web, que desenvolviam a internet da casa. Então foram 3 da web, e 1 do promocional, que era eu. E de lá pra cá, com o equipamento a gente foi desenvolvendo linguagem e, enfim... no começo se espera fazer um cenário real, né? Na época, então, era mais persistente do que é hoje, entendeu? Em termos de performance de equipamento!

Então, assim, a gente foi tendo que se adaptar... um dos primeiros cenários que a gente fez...aquele ali, ó... Late Show, o debaixo, coloridinho, laranja... aí eu vou ver se eu tenho as imagens e depois eu te mando... Então, pra se ter uma idéia, esse cenário, em relação a alguns outros, que estão ali, ó, ele é muito complexo. Nossa! Ele tinha muita, muita coisa justamente por a gente não conhecer o equipamento, então a gente sobrecarregou o cenário de elementos, entendeu? Porque a gente achava que o equipamento resolveria e faria o que a gente tava imaginando. E na verdade a gente... esse foi um auto-conhecimento, entendeu? Porque ele foi o limite, a gente chegou... extrapolou o limite da máquina... não, a máquina não roda isso, entendeu? É como você ter um 486 querendo rodar um Render super demorado num prazo ínfimo... não vai rodar! O equipamento travava, e aí a gente foi reduzindo e reduzindo coisas, entendeu? Então, assim, aí a gente viu o limite. Realmente não dá pra fazer da forma que a gente quer. Os Chades, ou seja, o Render final e tudo, que a gente conseguia luz dos softwares, a gente não conseguia reproduzir totalmente no cenário virtual. Então... aí começou-se essa adaptação que foi uma primeira decepção com a nova linguagem da coisa, entendeu?. Então, assim, como criar... é... muito com menos? Era mais ou menos por aí.

E assim o software que a gente usa pra construir coisas é o 3D Max. Ah! Na época, o primeiro software que a gente trabalhou, que eles compraram e tudo, era integrado com o 3D Max. Então você abria o 3D Max e ele era um plugin. Hoje desmembraram isso e é esse software que está aqui. Chama 3D Designer. Ele tá desmembrado, mas ele conversa intimamente com o 3D Max. Você constrói no 3D Max e exporta as estruturas pra ele, entendeu? Então, assim, ele (3D Designer) basicamente é um software de exibição. Esse aí, no caso, ele é de estruturação, entendeu? A construção, as formas geométricas, esse tipo de coisa você vai fazer no 3D Max. A criação livre é no 3D Max. A criação aqui (3D Designer) é um pouco mais truncada, porque é uma ferramenta que não te dá mobilidade pra fazer isso, entendeu? Então, assim, tem várias partes que tem que ser respeitadas nesse processo de criação. Você tem vários equipamentos que vão trabalhar juntos, entendeu? Isso, às vezes, dá problema, porque um não exportou direito, aí você tem que voltar, ver onde errou. E isso, quando você tá começando com a ferramenta é terrível, porque às vezes um detalhe, que até o manual salta, já te deixa baratinado... maior loucura!

Então, é... o departamento foi formado dessa forma, com quatro pessoas e, dessas quatro originais, elas tomavam conta tanto da criação quanto da operação. Então, existe também esse desmembramento entre criação do cenário virtual e operação do cenário virtual. As coisas são distintas, mas, na época, a gente abarcava tudo. Então, assim, você criava o cenário, e tal, não sei o quê, jogava para o equipamento de exibição e ficava lá controlando, olhando e tal. Hoje isto já está desmembrado. A gente viu que realmente não existe essa necessidade, né?Tinha que ter essa separação, porque é um desgaste você ficar lá olhando, entendeu? E você perde performance aqui de criação. E lá é uma coisa vegetativa, automática. É só você... levantou, subiu, não sei o quê...tem a sua responsabilidade, mas não é igual a criação. Na criação você tem que pensar, imaginar, calcular, ver o como é que faz, e tal, não sei o quê, depois a gente entra com os processos.

Mas na época a gente tomava conta. Então, assim, turnos de exibição! Então, existia programas nos mais variados horários.Tinha um programa que era 11 da noite, um programa que era ao meio-dia. Tinha programa que era no dia de domingo, entendeu? O Bola na Rede! É... então, assim., a gente que controlar isso tudo. Aos poucos foi desmembrando e dessa equipe original sobrou só eu. Todo mundo saiu e tal. Foram para outras propostas. Um, que estava aqui, hoje tá na Record, o outro tá na Nike, o outro foi pra Safiqui fazer merchan internacional de futebol e tal. O outro, que está na Record, continua na cenografia virtual, mas tá na parte da cenografia da Record, entendeu? Ele continua trabalhando com esses equipamento e tal.O outro pirou e foi embora para o Canadá (risos).

E quando foi adotado o sistema da Orade, vocês fizeram algum curso?

Então, o curso... houve um treinamento, que não é uma faculdade. Então, assim, ficou uma pessoa aqui e explicou como é que funcionava o software, né? Tipo, uma, duas semanas, e o resto aprende na prática, entendeu? Olhando o manual, vendo porque que tá dando errado. Então, assim, coisa que a pessoa falava "ó, isso aqui funciona assim, pra importar assado, pá, pá, pá, pá", é o geral, é a espinha dorsal. Braço, perna e cabeça você vai ter que aprender na prática, entendeu? E é o que a gente está passando até hoje por isso aí. Muita coisa a gente fala "por que não funcionou?", aí você volta, "ah! Faltou isso aqui", "ah! Faltou aquilo ali"... entendeu?

E como é o processo de criação, no desenvolvimento dos elementos, de montagem de cenário, vocês definem toda a estrutura, ou algum diretor já pede exatamente o que quer? Como é?

Então, isso é uma participação do cliente com a equipe de produção O cliente tem o briefing. Então ele fala "quero um cenário, uma parede de probação, quero, sei lá, a coisa mais simples". Em cima disso, da idéia que ele tá trazendo, a gente vai criando propostas. E antes de passar aqui para o equipamento, que é um processo demorado, trabalhoso, a gente faz a aprovação no 3D Max. Move a estrutura, faz os renders, mostra os estilos. "Ó, assim tá bom, é por aqui?" "Não muda aquilo, muda aqui, tal, tal, tal." Beleza. Feito, aí a gente passa pra cá. Aí a gente tenta manter o que a gente conseguiu lá aqui.

O processo é bem diferente. O processo ali é render em tempo... é render! Então, você tem uma luz, qualquer que seja a luz que você colocar, vai render, vai ficar lindo. Se você mudar a luz pra cá, a sombra vai mudar. Entendeu? Aqui é diferente. Aqui é uma tecnologia de videogame. O que seria isso? Você tem uma luz aqui. Essa luz emite uma sombra. A sombra vai ficar eternamente naquele lugar, mesmo que você mudar a luz, porque é exatamente pra diminuir o cálculo que a máquina tem que fazer, entendeu? Porque a máquina tem que imaginar aquilo ali. O cálculo que ela vai fazer é posição, é o traqueamento dessa daí. O traqueamento vai passar informação para a máquina pra ela calcular e atualizar os termais (ou sinais??) de acordo com o movimento de câmera. Por isso que tem que ser num futuro bem futuro... futuro de videogame. Porque se ele tiver que calcular "ah! A luz tá aqui, vou confirmar a sombra aqui... ah! Mexeu o cenário pra cá, vou calcular de novo... então, assim, ele vai fazer isso? Vai fazer, mas ele vai fazer assim ó (gesticula sinal com a mão indicando "travando"). Quer dizer, você perde a performance real da câmera mexendo, que é o que acontece.

(Mostrando o programa). Então, você tem movimento de câmera, é um cenário que está mexendo suave. É um cenário estranho? É um cenário estranho. Então, aí a máquina precisa dessa simplificação de cálculo para ela atualizar ou ela não vai conseguir fazer isso de forma que fique real ou simule a realidade, entendeu?

No caso do Leitura Dinâmica, no cenário tem um cubo que se move atrás. Esse movimento é feito em 3D?

Existem alguns processos de animação que são exportáveis pra cá. Hoje a gente trabalha com uma estrutura chamada VRML. É uma estrutura que exporta toda essa geometria em texto e esse software lê isso. Ele trabalha com esse VRML. Então é uma informação de texto que reconstrói o 3D, entendeu? É informação de parte, e tal, que vai remontar o 3D é aqui... é a forma que eles conversam, entendeu? Isso possibilitou não só você trabalhar com o 3D Max, mas com outro software também que exportasse em VRML. Então cabe um pouco mais de campo, pode trabalhar com Maya, que exportar em VRML. Só que na teoria é uma coisa, na prática é outra. Aí você vai exportar o VRML do Maya, por exemplo. "Ah! Ele tem umas coisinhas que aí não vai ler!" Entendeu? Então é assim, você vai ter que ver caso a caso.Você vai trabalhar com Maya? Tudo bem! Tem que ser feita estrutura de VRML certa para trabalhar com ele. Tem alguma "tickagens" lá... normais, tem que escolher normais, ter que acertar onde vai estar a estrutura, esse tipo de coisa.

Então, o que seria essa exportação de VRML? Você tem o seu 3D lá pronto. Você vai falsear, de a gente chama de "fakear" a textura. Você vai pegar essa parede e já tem um procedimento, o 3D Max, hoje, tem um procedimento para fazer isso. Ele vai congelar a textura. Então, por exemplo, essa luz aqui, ó, tem emitido sombra e tal. O que eu preciso fazer? Grudar essa iluminação, essa sombra como se fosse uma textura. Entendeu como que é o processo? Porque no 3D você tem uma textura e uma parede de tijolo, aí você tem lá... no Photoshop você abre a paredinha de tijolo, limpinha, bonitinha, e você põe lá... só que depois no 3D ela vai sofrer alteração de luz, e reflexo, de sombra e tal. Essas alterações é o que me interessa, porque se eu pegar a textura crua e por ali, vai ficar uma... né? Porque se você olhar aquele ali e alguns outros, você vê que ele... ele salta, ele fica muito falso, porque não tem sombra, fica aquela coisa, sabe? Chapada, dura, não tem sombra, não tem uma interação, sabe? Não tem uma verossimilhança, sabe? Começa a incomodar. Então o que a gente faz? Congela essa textura e aí tem um processo de canal lá, você tem que testar, tem que ser o canal 3, então quando a textura vem pra cá, o que acontece? Ela vem toda fragmentada, entendeu? O que é feito? Lá ele vai fazer isso: ele vai pegar essa textura e vai congelar tudo dessa tur, ele pega até aqui, quebra essa textura e faz uma loucura com essa textura, entendeu? Então você tem um plano preto e distribui essas texturas que ele "fakeou" ali nesse quadrado preto. Isso ele vai trazer pra cá e o VRML, feito o mapeamento, vai falar pra ele onde tem que encaixar isso... e aí encaixa certinho.

Às vezes fica uma... uma fendinha lá, falsa e tal... mas é basicamente é isso aí! É um processo chatinho, sabe? De... de... por isso que é assim... os procedimentos têm que ser respeitados. Criação foi aprovada ali? Ok! Passa pra cá e aí a gente tenta aproximar do que a gente conseguiu ali. Aí aqui é outra aprovação. "Ah, gostou daqui?"... "Humm! Tá acontecendo, não ficou legal, não sei o quê! (murmurando)"... Aí vamos trocando até... aprovou-se aqui, aí a gente joga para o real. "Vamos ver se tá funcionando!" Tá funcionando? "Ah! O cenário ficou muito grande! Ah! Esse telão não tá legal... Ai, troca o telão, não sei o quê e tal". Então, são vários que demandam ajuste. Cada um deles! Ali, ali e lá! Tem que ter ajuste de aprovação. O produto final é um pouco demorado! (risos)

No caso do Leitura Dinâmica, você ajudou na criação?

Eu ajudei na criação da parte gráfica. Nessa época, foi um dos primeiros, assim, que a gente fez... teve aquele primeiro lá, depois a gente mudou pra aquele ali.

Nessa época a nossa equipe fazia o seguinte: ela entregava o conjunto, o produto pronto, entendeu? Com o desmembramento da equipe isto não tá mais sendo possível. Então a gente tá concentrando só na parte de cenografia virtual. Mas nessa época, o que a gente fazia? Tinha pessoas trabalhando na arquitetura, na pressurização e também na vinhetagem e no pacote gráfico... que a gente chama. O que é pacote gráfico? É a vinheta de abertura, aquela vinheta intermediária entre matérias, tarja, selinhos... então, tipo assim, vamos falar do mundo, aí... desenha o mundo... política... esse tipo de coisa. Então, assim, várias coisas caminhando junto. Então, a cenografia, a vinhetagem... aí quando aprovava-se o produto completo, aí beleza! Aí exibia o produto fechado! Então, tipo assim, saía uma coisa mais homogênea. Hoje, como a equipe tá desmembrada, então você tem um pessoal que faz a vinheta, que é o pessoal do jornalismo, a gente cuida só da parte de cenografia... e vai aprovando tentar ficar próximo. Então nessa parte eu fiz a vinheta, fiz a parte gráfica, vídeo grafismo.

No caso do Leitura Dinâmica tem bastante iluminação que dá profundidade e também a cor me chamou a atenção. Queria que a gente conversasse um pouquinho em relação à cor do jornalismo, porque o padrão do jornalismo é sempre azul. Qual o por quê do verde?

Então, foi uma proposta mesmo de mudar um pouco isso daí, porque azul sempre incomodou, entendeu? Porque sempre azul, sempre azul... Ah lá, ó! Todo este jornal sempre azul e isso dá a entender que jornalismo... tem-se na cabeça que é azul.

Nessa época é... a gente tentou já fazer uma coisa diferente, entendeu? "Não, vamos ter elemento azul...

INTERRUPÇÃO COM A CHEGADA DE UM FUNCIONÁRIO

Entendeu? Foi justamente isso! Pra tirar um pouco essa coisa do azul, né? Experimentar coisas novas e diferentes... que a proposta do pessoal era essa também: "pegar o comum, vamos mudar isso e ver que que dá. Uma coisa que funcionou, Casas Bahia gostou, foi lá, olhou, fez até um comercial também. Foi um cenário que funcionou bem. Ele tá durando até hoje, né? Justamente porque ter uma base sólida, né? Pra tá em conjunto. Vários outros já caíram muito mais rápido, outros cenários., justamente por que... referências pesadas, tipo assim "não gostei disso, muda!", aí, muita pessoa, tá vendo fragmentada, então fica assim, ó... "to vendo esse monitor, não gostei desse monitor"...mas ele tem uma razão de estar ali, entendeu? Se a gente pensou para ele estar ali, se tirar ele começa a desmontar outras coisas. E quando começa a desmontar outras coisas, aí começa a incomodar e a pessoa... "tira isso daqui, tira aquilo também, tira aquilo daqui também, aí... (risos)

E como se dá a suposição dos elementos? Como é que vocês vão organizando para harmonizar a imagem?

Então, de acordo com o brilho e referência que a gente pega... conteúdos reais... conteúdos de outros cenários virtuais, né? Então, assim, a gente faz uma coletânea disso, discute idéia... "ó, se fizer uma coisa assim, dentro dos propósitos, e tenta começar a fazer a organização dos elementos dentro desta forma". A gente escolhe uma estrutura, fala "olha, essa estrutura é legal, né?... esse suporte e tal, não sei o quê, acho que é de acordo com o brilho da pessoa, enquadramento... olha, o enquadramento vai ser valorizado, se a gente colocar os elementos aqui"... e começa a experimentar dessa forma, entendeu? Então, a coisa tem que partir de uma idéia central, assim... "ah! quero fazer uma parede de informações"... parede de informações: baseado nisso, a gente começa a pegar referências. Juntas as referências, discute, começa a construir e montar esses elementos. Essa idéia que eu tô te falando de parede, vou te mostrar um cenário ali, que é o que a gente tá construindo agora do Esporte Notícias. Ele começou baseado nisso, numa parede de informações. Aí eu vou te mostrar a idéia, que a gente pensou, animações, e depois em que resultou o cenário, entendeu? Tá pronto aí, pra ser aprovado em termos de enquadramento, que é um dos cenários que tá passando por vários processos de interferência, tipo "ah! muda isso, muda aquilo, não sei o quê... e vira meio que um Frankstein, não é? Porque você tem que... você tira uma coisa daqui... "ah! isso aqui atrapalha"... prefiro ter que montar tudo de novo.

E se o cenário do Leitura Dinâmica fosse real, seria possível? E em termos de orçamento?

Possível seria! Eu não sei em quanto ficaria o orçamento. Teria que ter um totem, né? E esse totem teria que ter um motor pra girar. Teria que ter esses elementos... como é que seria esses elementos? Eles não têm uma sustentação, eles são livres e ficam girando ali, entendeu? Tem aquele vídeo-all gigantesco, ali... quer dizer, é um cenário caro! É um cenário muito caro! E muito vidro! É tudo vidro, né? É todo... né? Então é assim... possível fazer ia ser, mas ia ser um cenário bem dispendioso. Então... disco aberto... todo iluminado, e tal... preço, né? Vocês falam! Indefinido! E o que é aquilo ali? Não sei! Então! É um cenário muito grande. Você precisaria de muito espaço, coisa que a casa não tem e que o virtual pode oferecer. Então, assim, o nosso virtual... ele é mínimo, tendo uma estrutura muito pequena, mas, assim, a área útil sendo razoável, tá ótimo! Porque, assim, a pessoa pode transitar, andar naquilo ali e ter um espaço muito maior que aquele espaço real seu, entendeu?

Na hora que ela (apresentadora) vai chamar uma reportagem, passagem de uma câmera para outra, ela está meio que com um controle remoto na mão. Aquilo lá é real mesmo? Ela aperta e realmente muda de câmera? Como é que é isso?

Aquele controle é o controle de teleprompter. Ela mesmo controla o teleprompter dela. Então você tem a câmera e você tem os textos passando, entendeu? Antes era controlado pela... tinha um operador de teleprompter. Toda emissora tem isso... Globo, não sei o quê... tanto que as vezes fala assim: "Éééé... (tosse)"... começa a olhar aqui... "não porque"... "o que eu ia fazer?"... "é, hein?"... "Não, porque aí o governo Lula...", aí o letreiro do teleprompter sumiu, né? Aí tu estás pensando, fica assim: "cadê?". Porque ela fica lendo o texto que está passando ali.

Depois a gente vai ver lá em baixo o que que é isso daí.

Então, assim, ela controla aquilo ali, é um... chamam de "tamagoshi".... é um controle remoto, que ela controla a velocidade... mais lento, tal, não sei o quê. Ela fica com aquilo ali na mão pra controlar o teleprompter. Ela não controla a exibição de matéria. Quem controla isso é o "switer".

Então o cenário vai pronto para o switer e lá...

Não! O switer é a parte de corte. É ele que gerencia o programa. Ele é o gerente do programa.

É... vamos dar uma olhada lá no switer? Que aí você... aproveitar que eles estão trabalhando e aí vocês vêem um pouco.

PAUSA PARA VISITAR AO SWITER E AOS BASTIDORES DA EMISSORA

Como fica a iluminação no cenário virtual? Altera alguma coisa?

Então! Aí, o iluminador vai sentir a necessidade... se tiver uma sombra mais forte, colocar um foco mais preciso em alguns pontos. Tem que ver caso a caso.

No caso, assim, dos elementos, não podem ser da mesma cor do fundo, não é?

Nunca! Porque isso é um dos problemas... uma das limitações que o virtual tem, que se tiver coisa azul, ou próxima do azul, pode ser que ele ser recortado. Então, jeans... jeans até costuma não recortar, entendeu? Dependendo da tonalidade, ele vai recortar. Então, elementos reais do cenário que forem compostos nunca podem ser azul ou, no caso, verde... dependendo do fundo que tá usando.

A maioria das coisas você já falou, mas, assim, a vantagem maior de se usar essa tecnologia é a questão da prioridade quanto ao orçamento ou você acha que é uma nova...

Linguagem...

Linguagem, é, no caso?

Não! As duas coisas, graças a Deus! É uma forma de baratear e de agilizar o processo, entendeu? Você pode ter... às vezes, dependendo da... da... do caso, o cenário virtual demora mais que o real, justamente por causa do processo todo... de ajustes e tal. Então, fazendo um cenário real, às vezes, você bate lá uma tapadeira, não sei o quê e tal, você monta uma estrutura e já monta um cenário na mesma semana ou até mês, entendeu?

Então, assim, é pelo custo e não deixa de ser uma linguagem. E que... e na verdade tem que assumir que é uma linguagem. Não adianta... é igual você ter uma pintura, um desenho e ter um desenho animado e querer, sabe? Falar que as coisas... uma coisa é processo de outra. Na verdade são coisas diferentes. Você tem um desenho a nanquim e ele, por si só, ele tá pronto. Não precisa colorir ele! Uma pintura a óleo, ele tá pronto, entendeu? Então, assim, são... é... linguagens diferentes. Você acaba tendo que assumir. O cenário virtual... não pode por na cabeça que ele vai ser um cenário real. Futuramente, quem sabe? Pode até chegar a um ponto de processamento que você consegue sutilezas que... não consegue mais identificar. Mas hoje, com o equipamento que a gente tem, a gente não consegue e tem que assumir isso, entendeu? É o que a gente faz.

Na era digital, da TV digital, no cenário real, todos os elementos, assim, tem que ter alguém mais (...) por que nem uma linha transparente não pode, porque já vai aparecer...

Um risco!

Um pingo fora do lugar!

A ruguinha!

Como é que vai ser, assim, é... na sua opinião, o cenário virtual pode substituir todos os outros?

Não! (risos)

É igual eu te falei! São linguagens diferentes, entendeu? Então, assim, é... é a mesma história, por exemplo, de quando eles falavam de 2D e 3D, desenho animado.e computação gráfica, entendeu? Um vai substituir o outro? São linguagens diferentes, né? Você tem o desenho animado tradicional e você tem a computação gráfica. É mais fácil hoje fazer na computação gráfica? É! Isso pode descartar o desenho animado, porque é um processo mais demorado, mais elaborado e tal, entendeu? Mas um substitui o outro? Acho que não, entendeu?

Você acha que tem alguma identificação o cenário virtual com o formato? Por exemplo, assim, para o jornalismo o cenário virtual... uma telenovela, um cenário real?

Tem! Ele é de uso muito específico, entendeu? Igual... tava te falando com relação a... ao figurino. Então, por exemplo, você tem um... a limitação de figurino é muito intensa. Você não vai conseguir usar o cenário virtual com uma novela, por exemplo, porque você tem uma gama de possibilidades ali que é muito além do que você consegue controlar, entendeu? "Ah! Mas é azul lá..." Quer dizer, então, assim, coisas muito ilimitadas... programas e... é...

INTERRUPÇÃO FEITA POR UM FUNCIONÁRIO

Entendeu? È... então, assim, ele é de uso ilimitado... é de uso bem específico. Telejornalismo, apresentação de programas diversos, pode ser qualquer tipo de programa, mas é uma coisa limitada.

De quanto em quanto tempo vocês modificam o cenário virtual?

Então, também varia. Por exemplo, um cenário que tá funcionando, tipo o Leitura Dinâmica, ele fica muito tempo. Então as pessoas não se incomodam com aquilo. Outros, por aquilo que eu te falei, às vezes tem algumas deficiências e tal, ele incomoda mais e ele é trocado mais rapidamente. Então a gente já fez o TV Fama, por exemplo, e trocou-se muitas vezes, entendeu? Tem o cenário... "Ah! Vamos trocar!", fizeram o cenário, não funcionou, trocaram, fizeram outro... essa é a dificuldade, o virtual é assim (risos). Entendeu? Fica um tempo. Depois... "Ah! Não funcionou, vamos...", troca... "Ah! Esse ficou bacana, então vamos funcionar!".

E é por consulta da opinião do povo pra ver se muda ou não é? É meio que a gerência que define...

É a gerência! Basicamente é a gerência. A superintendência, a presidência... "Ah! Não to gostando, não sei o quê e tal!"... E, às vezes, também a própria importação do pessoal que opera com cenário, tipo, lá, o diretor de TV fala: "Ah! Não tá funcionando! Por que que eu não consigo o enquadramento? Não sei o quê!". Aí vai subindo, chega à gente e aí a gente repassa e pronto! Aí tem um acordo de trocar o cenário. Porque às vezes você projeta uma coisa que fica bacana, mas ela não é viável, totalmente viável no virtual... é readaptado pra outra coisa, entendeu?

Como que fica a sensação de quando parece que o apresentador está caindo do cenário? Já vi, não aqui na Rede TV, mas em outras...

Não! Na Rede TV cai muito também! Isso é defeito do equipamento. Então, o que que acontece? Você tem a...depois vou mostrar, a gente desce lá... uma estrutura em cima da câmera com lâmpadas infravermelhas e câmeras de segurança cercadas no teto. Então são no total de doze câmeras que ficam apontadas para cobrir toda a área do "Blue Box", que a gente chama lá a "Caixinha Azul".

Como que é?

Blue Box! Caixa Azul! Porque o fundo é tudo azul. E essas câmeras é pra que? Pra aquele sensor ser localizado. É ligar e a câmera viu que ele tá ali. Ele mexeu pra lá... essa informação é... chega em... tipo, pontinhos, entendeu? Pontinhos brancos sobre fundo preto... pro computador. Aí o computador vai entender que a câmera mexeu. Se viu, aí ele vai entender que ela teve uma operação. E, com a calibragem perfeita e tal, com o desenvolver da tecnologia, já ajusta aquilo ali pra fazer a correção do cenário, entendeu? Então, assim, a máquina fica calculando o tempo todo. É um vídeo game em tempo real. A câmera mexeu pra cá, o computador entendeu que tem que jogar o cenário pra cá. Aí tem que fazer essa...é... compensação, entendeu? Tem uma câmera aqui, mexeu pra cá, o cenário foi pra lá... ele faz isso, ele simula isso, entendeu? Aí você fala: "nossa, tá mexendo!". Olhando para a câmera: "Uau!". Aí no começo a gente brincava: "Ó! Olha só que legal! Legal! Uau!". Cada cenário que a gente faz é assim, entendeu? O que a gente vê aqui é durinho e tal, não sei o quê. Depois que joga lá e entra alguém e fica recortando também a pessoa que fica lá. "Nossa! Que legal!". Aí vira pra cá e daí fica batendo. "Olha aqui, tem um telão aqui. Aqui e aqui é que tem umas coisinhas!", entendeu?

É...qual é o seu papel aqui na empresa é?

Eu sou Designer Sênior. É... então, Designer Sênior! (risos).

Mas, assim, então, assim, cenógrafo não é a sua área?

Não! Não é minha área.

Essa parte de cenografia a gente vai incorporando, entendeu? Desenvolvendo linguagem... com o aprendizado também! Nenhuma formação específica, entendeu? "Ah! Vamos contar com um cenógrafo pra colocar aqui!".

Mas a pessoa que manipula os elementos cenográficos reais ele é cenotécnico?

Não! Ele é um cenógrafo! É um cenógrafo. Você trabalha com a cenografia real. Então ele faz materiais, pesquisas, tira não sei o quê e orçamentos, entendeu? Tem toda essa parafernália por trás da coisa. Não é só criar o cenário. Tem que viabilizar. "Ah! Quero essa madeira!". A madeira tem que ter um... um... PVA! Tem que ser um vidro transparente, um vidro jateado, entendeu? Qual que é o preço? Cota lá! Cota não sei aonde. E a gente não! A cotação que a gente faz é pra saber se pensou e ficou legal. Põe lá! Tum! Não funcionou, troca!

Qual a sua perspectiva para o Leitura Dinâmica na área virtual?

Não! Ele é um dos próximos que vão ser alterados. É ele... e toda a grade de virtual que hoje ta aí, ela vai ser substituída! Vou mostrar pra você. O Leitura ainda não discutiu-se nem conceito do que vai ser. É uma coisa que tá... absolutamente... embrionária. Nem embrião! O óvulo e o espermatozóide nem se encontraram. (risos). Acabou?

A gente queria ver o...

Vamos lá!

FIM DA ENTREVISTA


[1] Topas: software que possibilita criação em 3D com efeitos de salto e vôo como, por exemplo, o ADO. Utilizado na mesma época dos 386, ambiente Windows.


Autor: Natali Rangel


Artigos Relacionados


Tpm

Como Equilibrar Desejo, Vocação E Oportunidade?

Tudo Se Baseia A Um Jogo De Futebol

VocÊ

Realidade Aumentada

Coração Leviano

Sangue Jovem