A mão que embala é a mesma que tece: A mulher na indústria têxtil em Estância na década de 40.



Tereza Cristina Dórea PereiraRESUMOO presente trabalho tem a finalidade de enfocar a participação das mulheres estancianas na indústria têxtil na década de 40, ressaltando a importância delas dentro da economia fabril. Fizemos um levantamento bibliográfico, pesquisa documental e pesquisa de campo nas fábricas Santa Cruz e Bomfim.A fábrica Santa Cruz foi fundada em 1891 pelo português João Joaquim de Souza e foi passando com o tempo para outras administrações.Passaram por lá as senhoras: Rosita Vidal Assunção (1942), Walkiria Fernandes Santos (1945), Aliete Silva (1946) e Josefa Maria de Jesus (1946).Já a fábrica Senhor do Bomfim foi fundada no ano de 1912 pelos senhores Domingos Alves Ribeiro e Ernesto Baquia Nascimento. E também teve ao longo dos anos outros administradores. Foram funcionárias na década de 40 as senhoras: Maria Stelita da Conceição (1936 a 1975), Josefa de Jesus (1944) e Eliete Alves dos Santos (1947)Todas as entrevistadas, tanto da fábrica Santa Cruz, como da Bomfim ressaltaram que na administração de Júlio César Leite (Santa Cruz) e Constâncio Vieira (Fábrica Bomfim) havia excelência enquanto patrões e que em ambas as fábricas o quadro feminino era de 70%.PALAVRAS - CHAVE: Indústria têxtil, mercado de trabalho e mulher.ABSTRACTSUMMARYThe present work has the purpose to focus the participation of the estancianas women in the textile industry in the decade of 40, standing out the importance of them inside of the economy manufacter. We made a bibliographical survey, documentary research and research of field in the plants Santa Cruz and Bomfim. The Santa Cruz plant was established in 1891 by the Portuguese João Joaquin de Souza and was passing with the time for other administrations. They had passed there for Mrs.: Rosita Vidal Installation (1942), Valquiria Fernandes Santos (1945), Aliete Silva (1946) and Josefa Maria de Jesus (1946).Already the plant Gentleman of the Bomfim was established in the year of 1912 for you Sundays Alves Ribeiro and Ernesto Baquia Nascimento. E also had throughout the years other administrators. They had been employee in the decade of 40 Mrs.: Maria Stelita of the Conceição (1936 the 1975), Josefa de Jesus (1944), Leticia Alves Dos Santos (1947) .All interviewed, as much of the Santa Cruz plant, as of the Bomfim they had standed out that in the administration of Júlio Cesar Leite (Santa Cruz) and Constâncio Vieira (Bomfim Plant) he had excellency while masters and that in both the plants the feminine picture was of 70%.KEYWORDS: Textile industry, market of work and woman.1  INTRODUÇÃOPara se entender a história de uma civilização é preciso antes estudar a realização pessoal de grandes protagonistas. A história é nada mais que inúmeras biografias juntas. (MACAULAY, 1843: 232).Investigar a história da economia da Região Centro-Sul do Estado de Sergipe, mais que uma obrigação acadêmica, representa a oportunidade ao concludente do Curso de História, de ampliar a compreensão da própria sociedade. Pensando nisso é que o presente artigo tem a finalidade de enfocar a participação das mulheres estancianas na indústria têxtil na década de 40, ressaltando a importância delas dentro da economia fabril, bem como o regime desenvolvido dentro da empresa, dificuldades enfrentadas devido a época ser favorável ao trabalho masculino, relacionamento patrão empregado e as questões de gênero.Pensando na questão social da mulher e nas conquistas adquiridas no decorrer do tempo no contexto social e trabalhista, foi que surgiu o anseio em conhecer a história das operárias da indústria têxtil na cidade de Estância, uma vez que a mulher é considerada aquela que tem a função de procriar e cuidar dos membros da família.A mulher conseguiu vencer essas barreiras ao longo do tempo e ingressou no mercado de trabalho, mercado este restrito somente aos homens. Essa realidade foi transformada a partir do período entre-guerras ocorrido no mundo. As fábricas foram feminizadas e mesmo pós-guerra elas foram ganhando espaço no mercado de trabalho.Pretende-se com esse estudo sensibilizar o corpo docente, discente e a sociedade em geral da importância de conhecer a participação das mulheres estancianas na indústria fabril, bem como saber até que ponto contribuíram na elevação econômica da cidade, pois elas veem mostrando que são capazes e que podem assim como os homens, trabalhar dignamente, conseguindo desempenhar papéis diversos como mãe, esposa e operária ou qualquer outra função.Além disso, possibilitar uma análise mais profunda e criteriosa para que futuros pesquisadores possam através deste, fazer um paralelo entre o perfil da mulher operária na década de 40 e a de hoje.Trata-se, pois, de uma pesquisa histórica que utiliza o estudo do tipo bibliográfico, o qual, se caracteriza segundo Goldemberg (2001), como experiência pessoal que sofre influência do contexto histórico e social em que o indivíduo está inserido, e que possibilita entender uma sociedade a partir da conexão revelada pela vida individual.Para desenvolver a pesquisa, foi preciso inicialmente fazer um levantamento bibliográfico com o propósito de subsidiar as análises aqui desenvolvidas. Posteriormente foi iniciada a coleta de dados que consistiu na consulta aos documentos, fotografias e finalmente à fonte oral, como forma de apreender outros aspectos que os documentos não permitem perceber.Segundo Alves (1999), as fontes históricas representam tudo que possamos resgatar do passado para entendermos e compreendermos os fatos ocorridos, constituindo-se assim em elementos fundamentais para a sua construção, ou seja, em peças indispensáveis para que o trabalho tenha seguimento.O autor ainda afirma que os documentos escritos são os preferidos dos historiadores. Contudo, no decorrer do tempo foram dando uma maior abertura a outros tipos de fontes, a exemplo dos filmes, cartas, construção antiga, etc. Esta nova abordagem exige assim criatividade e atenção à minúcia, sendo que cada uma terá uma metodologia própria. Tudo que possa dar algum indício sobre uma realidade acontecida poderá ser utilizada como fonte.Desse modo, foram coletados em arquivos pessoais das fábricas, documentos sobre essa época como os livros de registro da abertura da fábrica, os quais foram importantes instrumentos para o nosso entendimento. Outra fonte fundamental foi à iconográfica, que permitiu a visualização de momentos por elas vivenciados e suscitou novas questões a serem esclarecidas.Por fim, foi utilizada a fonte oral como forma de captar informações que o documento nem sempre revela. Ao todo foram realizadas 8 (oito)entrevistas com ex-funcionárias e ex-chefes de seção. A escolha dos entrevistados obedeceu ao critério da disponibilidade de ter vivenciado esse período dentro das fábricas Santa Cruz e Bomfim.Para Gil (1999), a entrevista consiste em uma técnica por excelência de investigação que não tem somente finalidade de coleta, mas também o objetivo de diagnosticar e orientar. As entrevistas do tipo abertas são segundo o citado autor, as que deixam o entrevistado com liberdade de respostas, pois não sugerem nenhuma opção de escolha. Ressalta ainda que estas são importantes porque possibilitam aos pesquisadores dados relevantes sobre fatos corridos em determinadas épocas e ainda evita que haja uma perda de tempo com levantamento de campo.A sistematização das informações se deu em dois capítulos. O primeiro voltado para a Fábrica Santa Cruz, relacionando momentos vividos nessa época, quanto ao relacionamento inter-pessoal dentro da empresa e o papel da mulher na economia estanciana . O segundo foi abordar as questões pertinentes a Fábrica Senhor do Bomfim também relacionando a mesma problematização citada no primeiro capítulo.Por fim, contribuir para que educadores possam trabalhar com seus alunos mostrando a importância do trabalho feminino na indústria têxtil, um exemplo de determinação, superação e coragem em enfrentar o universo machista, onde os preconceitos eram aflorados visivelmente nos rostos daqueles que compunham a sociedade brasileira da época.2 - FUNDAMENTAÇÃO TEORICABuscaremos enfocar o processo de transformação mecânica ocorrida no mundo e suas influências. Pois segundo Aranha, a instalação das fábricas aconteceu a partir do capitalismo, onde as mulheres que precisavam completar o orçamento doméstico ingressaram na vida profissional, começando aí a dupla jornada de trabalho.No século XIX, mulheres e crianças eram empregadas para trabalhar de 14 a 16 horas diárias, exerciam a mesma função do homem, porém recebiam remuneração inferior e não eram aceitas na liderança das lutas sindicais.Em 8 de março de 1857, operárias da indústria têxtil de Nova York foram duramente reprimidas pela polícia quando realizavam uma passeata reivindicando a redução da jornada de trabalho para 12 horas.A autora ainda aborda que no Brasil, no início do século XX as mulheres tecelãs ou costureiras participavam dos movimentos grevistas, sendo que as conquistas alcançadas beneficiavam diferentemente mulheres e homens.Para Hobsbawm a mulher teve um papel crucial na sociedade, já que a mesma contribuiu de maneira concludente na economia desde o início da Revolução Industrial em que homens, mulheres e crianças trabalhavam em prol do crescimento econômico da Inglaterra.As mulheres ,segundo o autor, aquelas das camadas mais pobres ocuparam o mercado de trabalho na década de 40, expressivamente em 45, devido o fim da 2ª guerra mundial na qual a maioria dos homens envolvidos foram mortos. Ficou a cargo então das mulheres o papel de trabalhar nas fábricas , indústrias e comércio com a finalidade de reerguer a economia.Para Vainfas(1997, p.276) a história da mulher foi marcada por inúmeras diferenças , excluídas do interesse de muitos pesquisadores nas últimas décadas . Ainda são escassos os artigos falando sobre a trajetória da mulher ao longo do tempo e da história.(...)  Embora as mulheres não fossem logo incorporadas à historiografia pelos Annales, estes, porém, contribuem para que isto se concretize num futuro próximo.Em Vainfas(1997, p.226) o movimento feminista eclodiu nos Estados Unidos onde (...) as reivindicações das mulheres provocaram uma forte demanda de informações , pelos estudantes, sobre as questões que estavam sendo discutidas . (...) .Muitos historiadores que trabalham questões de gênero se denominam historiadores feministas com afirma Scott, 1992.(...) muitos daqueles que escreveram a história das mulheres consideram-se envolvidos em um esforço altamente político para desafiar a autoridade dominante na profissão e na universidade e para mudar o modo como a história das mulheres quando opera com conceitos de gênero está voltada para as preocupações contemporâneas da política feminina.Para Correa desde o final dos anos 40, as mulheres de todo mundo vêm ingressando em massa num mercado de trabalho em constante mudança. O trabalho vem sendo fortemente afetado pelas transformações nas estruturas produtivas, nas formas de organização e gestão e nas relações de trabalho, por alterações na estrutura do mercado de trabalho, altas taxas de desemprego e novos requisitos de desempenho profissional e qualificação.Nos países desenvolvidos foi mais frequente a presença das mulheres do que dos homens exercendo funções em tempo parcial, caracterizada pela escassez e não pela redução da jornada de trabalho.No Brasil esse processo de industrialização demorou acontecer, pois a metrópole proibia o estabelecimento de fábricas em nosso território, para que os brasileiros consumissem os produtos manufaturados portugueses.O século XIX começa com a tentativa de implantação de fábricas no Brasil. Começam a surgir várias tecelagens agora com uma mentalidade industrial. Mas as primeiras fábricas têxteis que surgiram no início deste período ainda eram pequenas e muitas desapareceram no decorrer do século XIX, só começaram a surgir fábricas realmente modernas que empregavam mão-de-obra livre e máquinas importadas a partir de 1840. É no setor têxtil que surge a primeira indústria moderna brasileira ,isso devido a já existência de um mercado interno para os tecidos, o que não ocorria em outros setores. O avanço ocorrido no desenvolvimento das indústrias na década de 40 provavelmente se deve mais a recuperação das exportações do que as medidas protecionistas tomadas pelo governo através da tarifa Alves Branco. Apesar do desenvolvimento no setor, não houve uma preocupação com a renovação técnica das fábricas, as indústrias têxteis continuaram por décadas a utilizar o mesmo maquinário.Em Sergipe, segundo Correa, o grupo empresarial Constâncio Vieira tendo como fundador, Sr. Constâncio de Souza Vieira, iniciou a instalação de suas fábricas em 1882, com a Sergipe Industrial, instalada 2 (dois ) anos depois nos trapiches de Cruz & Cia, no bairro Industrial.Para Santos a atividade na cidade de Estância começou com a pecuária, visto que os pastos dessa região eram de excelente qualidade. Com o passar dos anos iniciou-se a produção da cana- de- açúcar, dando início aos primeiros engenhos. Em 1891 João Joaquim de Souza, observando a abundância de água doce em volta da cidade deslumbrou a possibilidade de aproveitamento industrial e a partir dessa idéia foi instalada a fábrica de tecidos Santa Cruz de propriedade do empresário José Joaquim de Souza Sobrinho, mais tarde adquirida pelo senhor Gonçalo Rollemberg Prado , mas sendo administrada pelo seu filho Júlio Cezar Leite , a segunda fábrica implantada aqui em Estância foi a fábrica Senhor do Bomfim ,no bairro Bomfim fundada no dia 10 de setembro de 1912 por Domingos Alves Ribeiro e Ernesto Baquia Nascimento, passando no ano de 1938 a ter uma nova direção os senhores Júlio César Leite, Adelaido Ribeiro e Constâncio Vieira e mais tarde adquiridas pelo grupo empresarial Constâncio Vieira , sendo caracterizadas no município como pólo industrial de vanguarda.Segundo informações colhidas no correio de Sergipe do dia 08/05/2005, a mulher sergipana vem buscando ocupar seu espaço a muitos anos na história deste país. Mesmo assim, ainda existe muito preconceito com relação a mulher. O preconceito é um pouco mascarado, não é tão direto como era há 15 e 30 anos atrás. À medida que vão conquistando outros espaços nos meios de comunicação, e em outras áreas profissionais. Estatisticamente, a mulher tem mostrado buscar o conhecimento de forma mais rápida que os homens. A perspectiva é aumentar a atuação da mulher em todos os âmbitos dos setores da sociedade. O maior desafio da mulher sergipana é conciliar os valores e os papéis que a sociedade definiu para todas elas, ser mãe, companheira e mulher pública, já que se definiu na sociedade o que a mulher pode ou não fazer.Atualmente, as mulheres ocupam 3% dos cargos de chefia em todo o país. Este é um número pequeno para quem quer igualdade.A MULHER NA INDÚSTRIA TÊXTIL SANTA CRUZSegundo Leite, a fábrica Santa Cruz foi fundada em 1891 pelo português João Joaquim de Souza . Antes de o local ser transformado em Fábrica de Tecidos, era um Engenho de Cana- de- açúcar. E no ano de 1937 o mesmo morre na cidade de Salvador  Bahia deixando a empresa em meio a uma forte crise financeira. Seu filho João Joaquim de Souza Sobrinho (Joca) não consegue vencer a crise e esta no mesmo ano, entrou em pré-falência, sendo comprada pelo senhor Gonçalo Rollemberg Prado, entretanto, quem assumiu a administração foi seu filho o Senador Júlio César Leite.Para fazer as máquinas funcionarem eles utilizavam a força da água para fabricar a energia. Essa fonte fez com que se iniciasse a industrialização na cidade de Estância.Após sua nomeação como diretor, Julio César Leite iniciou uma renovação nas técnicas e nos recursos humanos. A empresa começou a dar melhores condições de trabalho, visto que antes de sua administração mulheres e crianças trabalhavam como homens em jornadas exaustivas e em locais insalubres. O senador durante sua administração, fundou uma vila operária, clubes, biblioteca e creches.Segundo Ferreira, o senhor Júlio César Leite se preocupava com a saúde de seus funcionários e por isso em sua fábrica os médicos atendiam gratuitamente três vezes por semana, além disso, tinha um dentista e quando algum funcionário necessitasse de próteses, estas eram adquiridas de forma mais barata, em módicas prestações. Havia também uma Farmácia bem sortida que fornecia remédios à preço de custo e dependo do caso , de graça.A fábrica nesta época possuía 462 teares e mais de 1.000 funcionários, segundo os registros e permaneceu em atividade até o ano de 1972.A senhora Rosita Vidal Assunção, ex-funcionária, começou a trabalhar na fábrica no ano de 1942, com 12 anos de idade, entretanto seus documentos datavam que a mesma tinha 14 anos, pois era proibido menores de 14 anos. Suas atividades laboratoriais tiveram início no salão de fazenda no horário das 7 às 11 horas e das 12 horas às 18 horas pontualmente, não extrapolava além do horário . A mesma recebia durante o mês a importância de NCR$ 14,80 (catorze cruzeiros novos e oitenta centavos), que eram pagos por semana. Mais tarde ela pediu para ser transferida para as canelas, pois lá se pagava por produção e, portanto receberia mais que o seu antigo setor. Sua função nas caneleiras era encher a tina, a qual depois era levada para o setor que era responsável para avaliar o peso para que em seguida fosse levado para as máquinas. Nas máquinas passava da canela grande para a pequena e depois era colocado num caixão grande, onde os funcionários dos outros setores retiravam para fazer o tecido.Assunção relatou ainda que o Senhor Júlio César Leite era um excelente patrão , mas tinha aqueles que queriam sobressair a sua autoridade e perseguiam os funcionários, como é o caso do senhor Alceni, contra-mestre da sessão , ele ficava o tempo todo observando e reclamando com aqueles que ficavam lanchando e conversando.Já os outros chefes como : o Sr. Carlos ( mestre ) e Argenor(ajudante de contra-mestre) esses não comungavam da mesma postura, eram ótimos chefes.Já a senhora Walkiria Fernandes dos Santos, admitida na empresa no ano de 1945, na administração de Júlio César Leite como caneleira, mais tarde foi transferida para outro setor, passando a exercer a função de fiandeira. Essa mudança foi conseqüência de uma implantação de novas máquinas.A mesma ressaltou que quando exercia o cargo de caneleira, trabalhava com mais quatro pessoas para manutenção da máquina, ou seja, ela ajudava a dona da máquina a encher as tinas para a fabricação do fio, quando passou para a fiação ficou responsável pela máquina, não mais como ajudante. Sua renumeração era por produção e a fábrica produzia nesse período toalhas felpudas, atoalhado grande, tecido de listra, liso, tudo feito no tear pequeno e nos teares grandes eram feitos os lençóis.Para Santos alguns setores da fábrica eram distribuídos da seguinte maneira: fiação e rolador  só trabalhavam mulheres, tecelagem e salão - homens e mulheres, na caldeira, oficina e tinturaria  somente homens.Ressaltou ainda que na administração de Júlio César Leite o mesmo tratava seus funcionários sem distinção, cordeiro e muito alegre, havia um bom relacionamento entre eles. Na passagem de seu aniversário, segundo ela.No aniversário dele, no dia 06/11 , nós colocava bandeirinhas e flores nas máquinas , tudo era decorado para que quando o senhor Júlio chegasse .Todos paravam na sessão e ficavam de pé para cantar parabéns , era uma festa só. Ele ficava todo sorridente e agradecia a todos os funcionários. (Walkiria Fernandes dos Santos, entrevista concedida no dia 22/02/09).A partir do momento em que seu filho Dr. Jorge Prado Leite , assumiu a administração , tudo mudou , ele não permitia lanchar como o seu pai o Sr. Júlio Leite, e tão pouco conversar, entre ele e seus funcionários existia uma certa distância, os funcionários tinham receio de perguntar alguma coisa. Havia fiscalização e certo dia segundo Santos fui proibida de entrar com o lanche que eu levava todos os dias , o guarda fez com que eu deixasse na guarita até o final do dia . No outro dia resolvi fazer uma brincadeira e levei para a fábrica uma bolsa cheia de folhas secas , o guarda me barrou e deixei novamente . Ele ficou esperando que no final do dia eu pegasse a bolsa e nada, depois de dois dias , ele abriu e viu que era folhas , foi então me entregar a Dr. Jorge. Ele me chamou e reclamou comigo, mas mesmo assim não deixei de levar lanche.(Walkiria Fernandes dos Santos , entrevista cedida no dia 22/02/09).Segundo Aliete Silva suas atividades iniciaram em 1946 também no período de Júlio César Leite, como tecelã e era responsável por 2(duas ) máquinas , depois passou para 4(quatro) máquinas .O processo era feito da seguinte maneira : da tecelagem o tecido ia para o salão para ser medido, avaliado para saber se estava adequado para o mercado ,costurado, dobrado, empacotado,etiquetado e depois enfardado , processo feito por pessoas diferentes, então era levado para os caminhões de onde se dirigia para outras cidades, como: Lagarto e Aracaju.Segundo Silva quando o carro de Dr. Jorge era avistado pela redondeza, logo aparecia algum funcionário para dar o sinal, que era gesticular várias vezes, simulando um bigode, logo todos sabiam que ele estava chegando à fábrica e logo se dirigiam para seus lugares.A fábrica contava com uma creche para atender os filhos dos funcionários, inclusive o filho de Dr. Jorge frequentava o mesmo recinto que os filhos dos operários, o senhor Ivan Santos Leite, hoje prefeito da cidade de Estância. Contava também com assistência médica e um grêmio de propriedade da Fábrica Bomfim, mas que os funcionários da Santa Cruz tinham acesso as festas, pois Dr. Jorge era sócio .Já a senhora Josefa Maria de Jesus começou a trabalhar na fábrica no ano de 1946 como tecelã, ela era responsável por 2(duas) máquinas. Nesse tempo a mesma ressaltou que os fios eram tingidos para dar um colorido diferente aos tecidos, tinha tecido xadrez, de listras, liso de uma cor só e de várias tonalidades.Seu salário era por produção, quanto mais produzisse mais ela recebia, era diferente do salão de tecido que era pago um salário mínimo. Quanto ao horário de trabalho, era por turno, e não podendo ultrapassar o horário estipulado. Quando a gente queria fazer hora extra o mestre não deixava, porque se o fiscal pegasse, a empresa era multada, a gente era menor de idade, por isso ele não deixava Não podia lanchar no horário de trabalho a partir da administração de Dr. Jorge do Prado Leite, ele proibiu lanchar e estar nos outros setores.A fábrica também contava com uma vila operária, onde os funcionários podiam alugar no período que estivessem trabalhando na empresa, contudo obedeciam a seguinte exigência: as casas que estavam localizadas na avenida principal eram alugadas dando preferência àqueles que exerciam cargos mais elevados como: mestre, contra-mestre, ajudante de contra-mestre e assim por diante.No ano de 1958 foi fundada paralelamente com a fábrica de tecido outra empresa da mesma administração, a Sul Sergipana de Eletricidade (Sulgipe), fornecendo energia não só para os maquinários da Fábrica Santa Cruz, mais também para toda a cidade de Estância. Após alguns anos a fábrica de Tecido entrou em decadência e foi extinta, contudo alguns empregados foram aproveitados na nova fábrica e passaram a fazer parte dessa nova empresa. Hoje a empresa é administrada pelo engenheiro Dr. Jorge Prado Leite, filho do Senador Júlio César Leite.Para Ferreira a Fábrica Santa Cruz após a fundação da fábrica Senhor do Bomfim passou a ser chamada de fábrica velha e a do Senhor do Bomfim por ser a mais recente, de fábrica nova, ambas com uma estrutura de lazer, educação e moradia.A MULHER NA INDÚSTRIA TÊXTIL SENHOR DO BOMFIMSegundo informações existentes no Jornal Cadastro de Sergipe, a fábrica Senhor do Bomfim foi fundada em 1912 por Domingos Alves Ribeiro e Ernesto Baquia do Nascimento e no ano de 1938 passou para uma nova fase, sob a administração de Júlio César Leite, Adelaido Ribeiro e Constâncio Vieira. Eles fizeram uma brilhante administração, com gabinetes médico e dentário, salão de descanso para os operários e um local específico para vender produtos da fábrica pelo preço de custo.Para Batista , ex-funcionário(mestre) , a fábrica iniciou suas atividades com 208 teares ,sendo comprado mais 36 teares, ficando num total de 244. Cada mulher operava com 2(dois) teares, sendo que existia a figura do contra-mestre, cargo esse sempre ocupado pelo sexo masculino, ele era responsável em colocar a lã sempre que esse faltava nos teares. A função da mulher era operar as máquinas. O consumo por dia chegava a 900 kg , sendo que cada 20 teares produziam 69 g.O percentual de funcionários era distribuído da seguinte forma na tecelagem o sexo feminino era de 70% e do masculino de 30%, na fiação 81% eram mulheres e 11% homens.Os cargos ocupados por elas era sempre na tecelagem como operadoras das máquinas. Já os homens , esses só trabalhavam nas funções de contra-mestre, ajudante de contra-mestre, carregador de tecido, lubrificador, mestre, contra-mestre geral, nas oficinas, alvejamento dos tecidos, tinturaria e na caldeira.Nessa época as mulheres trabalhavam somente nos teares , só a elas cabia essa função , com o passar dos anos e devido algumas leis que beneficiaram as mulheres dentro das empresas como: licença maternidade, bem como o novo maquinário de fabricação alemã que não era apropriado para a altura da mulher estanciana, pois elas tinham a estatura baixa para atender essa nova exigência do mercado de trabalho , fizeram com que a mão de obra feminina fosse aos poucos sendo substituída pela do sexo masculino.Quanto ao salário existia uma diferença entre eles, os homens ganharam mais que as mulheres. Elas ganhavam em cima do que produziam , eles ganhavam uma percentagem sobre a produção da mulher. Essa percentagem tinha que sobresssair ao valor recebido por elas.Umas das funcionárias mais antigas da fábrica eram Dona Lizete, infelizmente não tivemos ainda acesso ao nome completo dela , Maria de Jesus (conhecida como Dodó), Maria Dória  já falecida e sua filha Maria Dora Santos Oliveira(conhecida por Dorinha ).Naquela época não tinha horário para lanche, elas lanchavam ali mesmo ,entre uma confecção e outra, escondidas do contra-mestre.O horário de funcionamento era das 5 horas da manhã até as 18 horas , caso quebrasse a máquina ficavam até mais tarde.Segundo Maria Stelita da Conceição, ex-funcionária da fábrica Bonfim de 1936 a 1975 , como fiandeira , ela presenciou um acidente de trabalho com um senhor do setor da caldeira,  a correia quebrou batendo no seu olho , deixando-o cego. Ele recebeu toda a assistência médica por parte da fábrica , mas não recebeu nenhuma indenização ,foi afastado e ficou por conta do INSS. No setor da caldeira só trabalhava homens.Já a senhora Josefa de Jesus trabalhou no ano de 1944 como fiandeira tomando conta de uma máquina e tinha uma ajudante que lhe ajudava a desenvolver suas funções, ou seja , colocar o bobi de algodão que passava para as caneleiras para então fazer o fio.O relacionamento com seus chefes de seção segundo a mesma era excelente O ser Miguel (mestre) era muito atencioso, entretanto o senhor Arlindo(gerente) era péssimo, gostava de perseguir seus funcionários.Ela reside em uma casa que pertenceu a vila operária, segundo ela  seu Constâncio facilitou para que eu comprasse essa casa, ele dividu em várias parcelas para que eu pagasse, era discontado por mês. Ele era um homem muito bom com agente. Que Deus o tenha, ele merece.Para a senhora Eliete Alves dos Santos , ex-funcionária da fábrica Bonfim (1947) , ela trabalhou como ajudante de fiandeira e relatou que  engravidava todos os anos, fui a funcionária que teve mais filhos, num total de 19 filhos , o meu patrão pediu para que eu fizesse acordo e pedisse as contas, mas eu nunca pedi.Ela também ressalta que a casa que mora pertenceu a vila operária, ela pagou em pequenas prestações, descontadas no próprio salário.No ano de 1948, a fábrica Senhor do Bomfim passou de 244 teares para 250 e 8.066 fusos manejados por cerca de 1.000 operários. Poucos anos depois, a nova empresa Constâncio Vieira & Cia, como sucessora de Leite, Vieira & Cia assumia a responsabilidade pela fábrica.O seu fundador construiu uma vila operária (com mais de 100 casas), prestava aos seus funcionários a assistência médica ,construiu uma Igreja (com a invocação do Senhor do Bonfim) e um salão de diversões , o Grêmio União Têxtil.A Fábrica Senhor do Bonfim contava também com uma estrutura de lazer.Um estádio junto à fábrica, o qual tinha o nome de José Pequeno, homenagem a um motorista da empresa falecido.Segundo Oliva depois da fábrica Bomfim , foi criada a fábrica Piauitinga no ano de 1930 , ela teve como fundadores Aroldo da Cunha Ferreira, Elisiário Silveira e José Antônio de Mendonça. A fábrica passou a ser chamada fábrica menina por ser a mais nova das fábricas. Entretanto essa não fará parte do nosso trabalho de investigação.CONCLUSÃOConcluímos que os aspectos apresentados ao longo deste trabalho fizeram com que percebêssemos que a mulher participou ativamente na elevação do nível econômico da cidade de Estância na década de 40. Elas foram de suma importância para que as fábricas chegassem ao potencial que tem hoje.Todo o processo da fiação na transformação do algodão em fio e na confecção do tecido na tecelagem entrelaçando os fios produzidos para dar origem ao tecido, do salão para ser medido, costurado, dobrado, empacotado, etiquetado e depois enfardado até chegar ao seu destino e no rolador foram seções que tiveram a presença da mulher. Elas foram a alavanca para que a indústria têxtil tivesse esse impulsionamento na economia tanto local, quanto na região centro-sul do estado.Com relação aos salários, elas recebiam em sua maioria por produção, os homens só recebiam a mais quando exerciam a função de mestre, contra-mestre,ajudante de contra-mestre ou outro cargo mais elevado , no mais ,recebiam igualmente sem distinção.O relacionamento entre funcionários e patrões era em sua totalidade muito cordial, embora tivessem alguns dos chefes que se excediam em autoridade, mas nada muito grave. Não existia discriminação por parte dos colegas e tão pouco da sociedade. A mulher conseguiu se adaptar a nova realidade, onde ela também tinha que garantir o sustento da família, pois não mais o homem era somente o responsável para tal fim.Vale ressaltar que embora houvesse algum desconforto em termo de extrapolar além do horário em alguns momentos, a mulher conquistou seu espaço de trabalho e mostrou que são tão competentes quanto o universo masculino.TEREZA CRISTINA DÓREA PEREIRA, FILHA DE JOSÉ FONSECA DÓREA (IN MEMORIAN) E JOSEFINA COSTA DÓREA. FORMADA EM PEDAGOGIA PELA UNIVERSIDADE TIRADENTES E CONCLUINTE DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE TIRADENTES. CURSANDO PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA E GEOGRAFIA PELA FACULDADE SERIGY E CURSANDO GEOGRAFIA PELA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL .ORIENTADOR DANIEL CASTRO. EMAIL tereza [email protected]ÊNCIA BIBILIOGRÁFICAALVES, Francisco José. A Importância das Fontes Históricas. In. Informe da UFS, São Cristóvão, nº 232, pp. 8 e 9.ARANHA, Lúcia de Arruda.Filosofia da Educação. 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Autor: Tereza Cristina Dórea Pereira


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