O Educador Físico no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social, Franca -SP)



O presente estudo teve como intuito demonstrar a necessidade do educador físico junto à rede da assistência social da cidade de Franca-SP, esse estudo faz-se extremamente necessário para que seja notório a toda sociedade, aos estudantes e profissionais da área, como a educação física pode auxiliar em todo o processo do atendimento social. São apresentadas as possibilidades de intervenção que o educador físico pode realizar dentro de um contexto pedagógico e biopsicossocial, nos mais diferentes grupos atendidos pelo serviço social. Diante dessas possibilidades abre-se um novo campo de atuação para o profissional da área da educação física, o que permite a produção e avanços ligados a pesquisas nesta área. Foram utilizadas para a elaboração do trabalho, revisões literárias, levantamento de leis e uma entrevista com a coordenadora do CREAS, onde o educador físico esta inserido. Palavras chave: Educador físico; necessidade; atuação; intervenção; biopsicossocial.

1-Introdução

A Prefeitura Municipal de Franca através da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Ação Social (SEDHAS) implantou em 2005 um Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), este equipamento tem como intuito oferecer serviços especializados e continuados voltados para indivíduos e famílias com direitos violados. Acolhimento e acompanhamento de cidadãos e famílias em situação de risco social por ocorrência de negligência, abandono, maus tratos, violações físicas, psíquicas, discriminações sociais e transgressões aos direitos humanos.

Crianças, adolescentes, adultos e idosos de ambos os sexos utilizam-se dos serviços oferecidos, e dentre esses serviços estão às atividades sócio-educativas, esportivas, culturais e de lazer. Para tanto, assim como já foi citado este equipamento é um centro especializado, porém desde dezembro de 2005, data de sua implantação a equipe de profissionais era composta por assistente social, psicólogo, advogado, educador social, terapeuta ocupacional e escriturário, não havia a presença do educador físico.

Notando-se a importância dos conteúdos da educação física e toda sua especificidade, no dia 23 de junho de 2008 foi incorporado à equipe este profissional. Profissional que tem como objetivo principal desenvolver estratégias de trabalho com intuito de realizar intervenções para com todos os usuários do equipamento de modo a propiciar experiências positivas até então não vivenciadas, na grande maioria das vezes por fatores socioeconômicos que desencadeiam uma série de outros fatores como, negligência, abandono, maus tratos, violações físicas, psíquicas, discriminações sociais, transgressões aos direitos humanos e através dessas experiências possibilitar a inclusão social, tendo como grande objetivo a formação de cidadãos, cientes de seus direitos e suas responsabilidades.A idéia principal deste estudo foi apresentar as possibilidades de trabalho que o educador físico pode desenvolver no CREAS e através dessa exposição deixar claro que o profissional da área da educação física tem um grande campo de atuação a ser explorado.Assim sendo, o educador físico que diante de sua especificidade, é um educador por essência , tem como base para a garantia do desenvolvimento desse trabalho ligado à rede de assistência social a Lei 8069/90 (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente), principalmente na busca de efetivação dos direitos garantidos no seu art. 4.º:

"É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos  das crianças e adolescentes  referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária".

Como o CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social) também desenvolve trabalhos voltados para outros grupos, é possível constatar no decorrer do estudo quais as leis que garantem esse atendimento e como o educador físico desenvolve seu trabalho tendo-as como base.

2-O EDUCADOR FÍSICO NO CREAS

O SUAS (Sistema Único de Assistência Social) implantado em agosto de 2005 pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome não prevê em seu guia para o CREAS no quadro de profissionais a presença do educador físico, porém, deixa claro que podem ser contratados outros profissionais necessários ao desenvolvimento das atividades. Tendo em vista que o trabalho realizado na área da assistência social depende inicialmente de um estabelecimento de vínculo, entre os profissionais e usuários; o educador físico então se torna necessário para buscar através dos conteúdos da educação física essa conexão.

O educador físico no CREAS se vale inicialmente das ações que envolvem o campo do lazer, proporcionando atividades prazerosas, a fim de iniciar a criação do vínculo, ao mesmo tempo utilizando-se do lazer como uma ferramenta pedagógico-social.

Melo (2003, p.23) afirma:

"Temos o grande desafio de tornar as atividades de lazer acessíveis á todos de forma qualitativa superior a que hoje encontramos, bem como a de conceber a intervenção no campo de ação do lazer como algo que possa contribuir para superar essa lógica social pautada na diferença e na desigualdade".

A partir do estabelecimento desse vínculo o educador físico irá explorar uma série de outros aspectos, contudo, esses aspectos são inerentes a cada grupo, daí então se inicia o trabalho em equipe. As questões a serem trabalhadas, são analisadas e discutidas de modo interdisciplinar, com objetivo de se alcançar a melhor ação tendo como contribuição a especificidade de cada profissional.A equipe de trabalho que é composta por profissionais das mais diversas áreas de conhecimento se subdivide, e desenvolvem trabalhos voltados aos mais diferentes grupos e perfis, veja quais são esses grupos: grupo de Trabalho infantil e Vivência de rua, grupo de adolescentes, grupo de idosos, grupo de crianças em situação de negligência (faixa etária pré estabelecida, de 07á10 anos de idade) e grupo de mulheres.

Demo, (1997, p. 103) destaca que:

"O trabalho interdisciplinar em equipe é a verdadeira interdisciplinaridade, no qual os conhecimentos, sempre especializados buscam a convergência e, possivelmente, a constituição de um texto único, escrito a muitas mãos".

 

3-GRUPOS DE TRABALHO

São destacadas agora as possibilidades de intervenção do educador físico junto à rede da assistência social, nos mais diferentes grupos.

3.1-Grupo do Trabalho Infantil e Vivência de rua

Essas crianças e adolescentes estão na rua, em alguns casos também não freqüentam a escola, o CREAS trabalha no intuito de oportunizar vivencias que aumentem as possibilidades dessas crianças e adolescentes de terem um futuro diferente da realidade instalada. O educador físico neste grupo utiliza-se das práticas desportivas e dos jogos para desenvolver conceitos ligados a esfera social, que até então não foram adquiridos ou pelo motivo de estarem na rua são esquecidos. Conceitos como: regras de conduta, auto-controle, respeito, cooperação, paciência,administração de vitórias e derrotas, não só no âmbito desportivo e outras questões que surgemdurante o desenvolvimento do trabalho.

Civitati (2003) expõem tal qual a importância da utilização do jogo:

"O jogo tem a virtude de permitir o desenvolvimento de diferentes capacidades sociais, motrizes, cognitivas, expressivas, afetivas, filosófica... nos permite de forma muito objetiva, agir sobre as deformações da conduta social"

Tisi (2004, p.44) confirma :

"Os jogos com regras necessitam da aceitação ou mesmos da criação de um código para poderem ser praticados coletivamente e que, por isso mesmo desempenham um papel fundamental na socialização"

 

3.2-Grupo de Adolescentes

O grupo iniciou devido à demanda apresentada de adolescentes com o seguinte perfil: faixa etária entre 15 e 17 anos de idade, adolescentes evadidos da escola, fora de casa e situação de drogadição, e em cumprimento de L.A. O principal objetivo do trabalho baseia-se na proposta da construção e/ou reflexão do projeto de vida de cada adolescente, utilizando-se de diferentes recursos metodológicos que vão ao encontro dos interesses deste público. Florentino (2007) afirma:

"O esporte e sua prática estão diretamente ligados ao homem, e a sua necessidade de humanizar-se."

Partindo deste ponto o educador físico da ênfase as atividades relacionadas ao desporto, a fim de estabelecer dentro de um contexto biopsicossocial momentos de reflexão entre a prática da atividade esportiva e a vida cotidiana dos adolescentes.

3.3-Grupo de Idosos

O objetivo geral deste grupo é o de proporcionar aos idosos em situação de risco social, um espaço de escuta reflexão e discussão acerca de seu cotidiano e especificidades da fase de desenvolvimento vivenciada. Um dos objetivos propostos pelo educador físico é o de oferecer a esses idosos vivencias ligada à atividade física, com intuito de demonstrar tal qual a importância e os benefícios de sua prática. O educador físico desenvolve seu trabalho tendo como finalidade não apenas o aspecto biológico, mas objetivando e dando ênfase ao aspecto social ligado a prática da atividade física. Segundo Moreira (2001,p.38):

"Uma grande proporção de indivíduos idosos adota voluntariamente um estilo de vida sedentário que ameaça reduzir a independência e auto-suficiência. A participação em atividades físicas apropriadas podem ajudar a fortalecer idosos e ajudá-los a exercer uma função mais ativa na sociedade."

È importante ressaltar que o idoso tem garantido na Lei. nº 10.741/03 - Estatuto do Idosono artigo 10º:

IV - Prática de esportes e diversões;

V - Participação na vida familiar e comunitária;

Diante disso o educador físico oportuniza práticas que vem de encontro à garantia desses direitos.

3.4-Grupo de Crianças

Este grupo atende crianças que estão em situação de negligencia, (o ato de não dar resposta às necessidades básicas da criança; a negligência pode ser física, educacional ou emocional). O educador físico desenvolve atividades ligadas diretamente à cooperação e integração familiar. O intuído das atividades é de despertar e/ou fortalecer entre as famílias valores morais que pela situação de negligência encontram-se comprometidos. Portanto, a base do trabalho do educador físico centra-se no campo da recreação, utilizando como ferramenta pedagógica o jogo. Os objetivos explorados nas atividades estão intimamente ligados aos temas transversais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais no que se refere aos temas, ressalta-se que:

"O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva".

Conclui-se então que, as atividades lúdicas propostas proporcionam vivencias que vão de encontro à realidade social dessas famílias, criando um estimulo para a prática da cidadania e o fortalecimento do vínculo familiar tentando assim atenuar a situação de negligencia até então instalada.

3.5-Grupo de Mulheres

A constituição do grupo partiu do interesse de usuárias atendidas pelo equipamento que passavam por atendimento psicossocial individual e verbalizavam demandas comuns, como: necessidade de partilhar com outras ex.dependentes suas experiências e necessidade de entender as causas/efeitos da dependência química. Os encontros acontecem semanalmente com técnicos das áreas de assistência social, psicologia, terapia ocupacional e o educador físico, sendo que este desenvolve seu trabalho mensalmente. O educador físico desenvolve atividades voltadas à reflexões que estimulem a tomada de consciência, diante de cada atividade desenvolvida são abordadas questões de interesse coletivo e que são apontadas pelo grupo. Essencialmente o educador físico aborda questões relacionadas à saúde física e social, questões ligadas à auto-estima, ao convívio social, a determinação, ao respeito às regras sociais e aos limites físicos do próprio corpo. Os temas são explorados através de jogos, brincadeiras, dinâmicas, esportes e também de forma conceitual onde o educador físico realiza explanações sobre determinados temas expondo os benefícios e malefícios diante do comportamento deste grupo, nos aspectos biológico e social.A realização das atividades proporciona ao grupo vivenciar na prática, as questões apresentadas e discutidas entre os participantes. O que estabelece entre a teoria e a prática um elo concreto, o que torna possível um retorno positivo do grupo em relação ao que lhe é oferecido.

4- Conclusão

Em entrevista realizada com a coordenadora do CREAS, Maria Inês Alves Moura Coimbra, mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), foi possível obter indicadores tanto de ordem quantitativa quanto qualitativa. Indicadores estes que apontam a eficáciado trabalho do educador físico. Segundo a coordenadora, após o inicio do trabalho deste profissional, a adesão do público atendido aumentou cerca de 70%. Também destaca que os usuários do equipamento, principalmente crianças e adolescentes, se encontram mais tranqüilos e aceitam melhor as regras impostas, cita a prática desportiva como co-responsável por essa alteração de comportamento. Esses dados vêm ao encontro dos objetivos pretendidos através da inserção do educador físico no CREAS, que inicialmente fixa-se, no atendimento do maior número de usuários, o que ocorreu; e na mudança de comportamento em relação às regras de conduta, o que é imprescindível para o sucesso do trabalho realizado na instituição.Portanto, de forma clara é possível notar a necessidade do trabalho do educador físico no CREAS, uma vez que diante da especificidade que envolve á área de conhecimento ligado à educação física este profissional conta com instrumentos pedagógicos que o possibilitam a atuar nas diferentes esferas relacionadas às problemáticas sociais.

5-Referências Bibliográficas

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos temas transversais. Brasília: SEF/MEC, 1997. V.8.

CIVITATI, Héctor. 550 jogos cooperativos e competitivos/ Hector Civitati. -Rio de Janeiro: Sprint,2003

DEMO, P.Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1997

ESTATUTO do Idoso lei 10.741. Brasília: Imprensa Oficial, 2003

ESTATUTO da criança e do adolescente lei 8069. Brasília: Imprensa Oficial, 1990

FLORENTINO, José A. Humanizar pelo esporte. Disponível em:< http://www.clicrbs.com.br> Acessado em: 29 de outubro de 2008.

MELO, Victor Andrade de. Lazer e Minorias Sócias - Victor Andrade de Melo, São Paulo: IBRASA, 2003.

MOREIRA, Carlos Alberto. Atividade física na Maturidade: avaliação e prescrição de exercícios/ Carlos Alberto Moreira.- Rio de Janeiro: Shape, 2001.

TISI, Laura. Educação física e alfabetização/ Laura Tisi, - Rio de Janeiro: Sprint, 2004
Autor: David Alonso


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