O Vodu



Meire morava em Portugal e eu tinha algumas faculdades que intrigava as pessoas com as quais convivia, especialmente no trabalho porque as pessoas, não raro, ao pensarem nela, ela telefonava de imediato, e muitas vezes antecipava o assunto que queriam lhe falar, não raro também, completava as frases pausadas em busca de expressões que lhe cumprissem fielmente o sentido. Com isso, depois de algum tempo, passou a ter a fama de "esquisita", "vidente", "feiticeira", bruxa" até.

Acontece que por ocasião do Natal, começou a fazer bonecas de pano para presentear crianças carentes. Trabalho manual, apesar de ter condições de poder comprar as bonecas numa loja, acreditava que assim estaria colocando um pouco dela mesma nas bonecas que confeccionava. Estava justamente pregando cabelos em uma boneca quando a campainha toca.

Era uma colega de serviço, Maria do Carmo. E ela vendo a mesa repleta de bonecas, interessou-se em saber do que se tratava e Meire pegou justamente aquela na qual estava colocando o cabelo. E assim, ela viu uma boneca com a cabeça cheia de alfinetes prendendo os chumaços.

Ela disse que parecia uma colega de serviço de ambas, a Rosária, o que Meire, sem pensar muito, concordou, ambas riram com a semelhança que foi logo esquecida para tratar de outros assuntos.

E pouco tempo depois, Rosária foi avisada que Meire estava fazendo um vodu e que o alvo era a sua cabeça.

Estava instalado assim, a enfermidade no corpo de Rosária, que passou a sentir uma terrível dor e à medida que o tempo passava, além de latejar as têmporas, a vista começou a ficar turva e os ouvidos começaram a zumbir.

Não houve especialista que não foi consultado sem nada resolver.

O estado geral de Rosária cada dia estava pior e ela debilitava-se cada vez mais e foi quando alguém descobriu uma pessoa que era adepta de uma seita que diziam que tinha poderes de tirar qualquer feitiço e encantamento.

Alguém bem intencionado, indicara que visitasse uma vidente. E Rosário, faz com que o marido fosse atendido primeiro.

A vidente pede que ele se sentar diante da bola de cristal!

- Vejo que é pai de dois filhos - disse ela.

- Começou errando, heim? - respondeu o marido, sou pai de três filhos.
- Isso é o que o senhor pensa...

Depois de ter ouvido isso, Rosária nem deixou que a vidente consultasse sua sorte na bola de cristal e acharam por bem que era um engodo.

Procuram a seguir um guru, porque estava muito em moda a Filosofia oriental e no primeiro dia ele lhe disse:

- Vai para a chuva e eleva os braços. Terás uma revelação.

No dia seguinte, ela volta e diz:

- Segui o seu conselho e fiquei completamente encharcado. Senti-me um idiota.

- Logo no primeiro dia!!!! Isso é que foi uma revelação.

Rosário não gostou e desistiu.

A família procurou pela pessoa que pediu uma série de coisas, como animais para sacrifício e apetrechos dos mais variados, além de uma considerável quantia em dinheiro.

Providenciado tudo lá, levaram Rosária no dia e local combinados. A moça foi obrigada a beber sangue e participar de todo o macabro ritual, mas ao termino, já se sentia muito melhor, curando-se dias depois.

Meire, cada vez mais hostilizada e repudiada pelas colegas de serviço acabou por demitir-se, sem que soubesse que havia causado involuntariamente tanto mal para Rosária.

Hoje, em todas as datas festivas, Rosária envia garrafas do melhor vinho do Porto para a pessoa que conseguiu quebrar a feitiçaria que estava dizimando suas forças...

Autor: Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda


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