CÉLULAS-TRONCO: MOCINHA E BANDIDA



UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR

CURSO DE ENFERMAGEM

LÚCIA ENEIDA DALEVEDO

NATALIA TATIANA GAIOFATTO

SANDRA DE CARVALHO MARIA FREDIANO

TALITA ANDRESSA FRANCISCANI

CÉLULAS-TRONCO: MOCINHA E BANDIDA

MARÍLIA

2008

LÚCIA ENEIDA DALEVEDO

NATALIA TATIANA GAIOFATTO

SANDRA DE CARVALHO MARIA FREDIANO

TALITA ANDRESSA FRANCISCANI

CÉLULAS-TRONCO: MOCINHA E BANDIDA

Monografia entregue como parte das exigências para título de Bacharel em Enfermagem sob a orientação da Profª. Sílvia Helena Soares Gianini no curso de Enfermagem da Universidade de Marília- UNIMAR.

MARÍLIA

2008

Universidade de Marília - UNIMAR

Reitor Dr. Márcio Mesquita Serva

Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação

Pró-reitor Prof. José Roberto Marques de Castro

Curso de Enfermagem

Coordenadora: Tereza Laís Menegucci Zutin

Orientadora: Professora Sílvia Helena Soares Gianini

LÚCIA ENEIDA DALEVEDO

NATALIA TATIANA GAIOFATTO

SANDRA DE CARVALHO MARIA FREDIANO

TALITA ANDRESSA FRANCISCANI

CÉLULAS-TRONCO: MOCINHA E BANDIDA

Monografia entregue como parte das exigências para o título de Bacharel em Enfermagem, sob orientação da Profª. Sílvia Helena Soares Gianini no curso de Enfermagem da Universidade de Marília - UNIMAR.

Data da aprovação: ___/___/___

Comissão Examinadora

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Dedico primeiramente esta vitória ao meu esposo CELSO, que incentivou-me desde o início, participando de todas as etapas com paciência, compreensão, carinho, alegria, respeito, e, principalmente muito amor. Você que trabalhou arduamente sacrificando seus sonhos em favor dos meus.

Obrigada por você ter me ensinado a não desistir de meus objetivos. Que Deus permita estarmos juntos por muito tempo, para que possamos brindar outras vitórias. Você será sempre o "meu petch".

Aos meus filhos que se mantiveram tolerantes durante minha ausência, suportando com bom humor minha "paranóia durante as provas", colaborando sempre que solicitados, seja no apoio doméstico como na busca de novos conhecimentos. Quanto a meus filhos que estão distantes, um "Brigadão galera! valeu a torcida!".

Aos meus amigos, pelo incentivo em concluir essa etapa, mas também em prosseguir com os estudos. Amo muito todos vocês.

Aos professores, esta conquista em conhecimentos dedico a vocês. O meu muito Obrigada.

Sandra de Carvalho M. Frediano.

Aos meus queridos pais Aldo e Neusa , irmãos Renato e Kelly, pela luta incansável, pelo amor incondicional, força e coragem que me dão em todos os momentos de minha vida. Mesmo que para isso tivessem que sacrificar seus sonhos em favor dos meus.

Ao meu eterno namorado (Juninho), agradeço pela paciência, compreensão e amor dedicados à mim nos momentos bons e ruins pelos quais passei durante esta etapa.

Aos meus AMIGOS e companheiros meu MUITO obrigada pela força e por todos os mementos, vai ficar saudades.

A minha Professora e Orientadora Silvia Helena Soares Gianini meu muito OBRIGADA pela paciência, dedicação e colaboração para o desenvolvimento deste trabalho, e pela FORÇA durante a faculdade, jamais me esquecerei de VOCÊ !

Natalia Tatiana Gaiofatto.

Dedico este trabalho a minha família, pai Antônio Carlos, mãe Eunice, que lutaram e superaram obstáculos para que pudesse realizar meus sonhos, um "muito obrigado" pelo carinho, amor e compreensão. Meus irmãos Andréia e Luis Antônio, que compartilham os meus ideais me incentivando a prosseguir na jornada. Aos meus amigos pelo companheirismo e incentivo, que me ajudaram nesta caminhada. Agradeço a minha orientadora Silvia Helena Soares Gianini pelo esforço, paciência e dedicação, o meu "muito obrigada".

Talita Andressa Franciscani.

A DEUS pela minha vida e pelo meu dom de cuidar.Ao meu marido Edmir,pela dedicação,compreensão, confiança, ajuda nas horas mais difíceis enunca me deixou desistir.Aos meus filhos GUILHERME, LARA e GABRIEL pelo amor e carinho e compreensão da minha ausência em certos momentos de suas vidas.Aos meus pais, meus irmãos, e em especial meu irmão RILDO, que esteve do meu lado e minha amiga LIVIA,que nas horas triste e de desespero, me fez sorrir.

Agradeço a minha orientadora Silvia Helena Soares Gianini pelo esforço e dedicação.

Lúcia Eneida Dalevedo.

AGRADECIMENTOS

À Deus,

Obrigado Senhor pela força e dom precioso da vida, que o Senhor continue sempre nos iluminando.

Aos professores, coordenadores e diretores da UNIMAR, o nosso reconhecimento pelo carinho e dedicação com que cumpriram sua doce missão ao longo desses anos, entrando definitivamente na história de nossas vidas.

A partir de agora, sentimo-nos mais completos, mais realizados. Nossas lutas, as horas debruçadas sobre livros, às ansiedades antes e após a realização de cada prova, de cada exame, hoje, são lembranças agradáveis e ainda viva em nossas memórias.

Dentre em breve estaremos com um diploma nas mãos, concretizando nossos sonhos e nossos ideais que os anos da faculdade amadureceram.

Aos colegas: "A vida sempre nos leva a caminhos diferentes e embora tenhamos certeza de nos reencontrarmos, sua lembrança permanecerá inapagável em nossos corações".

Lúcia, Natalia, Sandra e Talita.


"O ser humano não deve ser utilizado

como meio para atingir outro objetivo

que não a sua própria humanidade"

Emmanuel Kant.

RESUMO

Uma nova era na biologia das células-tronco se iniciou com a derivação de células a partir do blastocisto humano e fetal, com habilidade única de se diferenciar em células de todos os tecidos do corpo. São encontrados cerca de 220 tipos celulares distintos, todas derivadas de células precursoras denominadas "células-tronco". Objetivo: Identificar e analisar os trabalhos publicados que abordam a temática, proporcionando um conhecimento maior sobre os eventos complexos que ocorrem durante o desenvolvimento das células-tronco. Metodologia: Estudo de revisão literária, com natureza descritiva. A coleta de dados foi realizada através da base de dados (Scielo) e livros, após fichamento e apreciação crítica identificando a temática em cada fonte utilizada, de tal forma que contemplasse o objetivo proposto. Resultados e discussão:Foram analisadas 26 referências entre livros e artigos publicados entre 2000 e 2008. Após análise do conteúdo, foi categorizado em "Conceito de células-tronco"; "Posição das autoridades"; "Lei de biossegurança". O processo de diferenciação que gera as células especializadas  da pele, dos ossos e cartilagens, do sangue, dos músculos, do sistema nervoso e dos outros órgãos e tecidos humanos - é regulado, em cada caso, pela expressão de genes específicos na célula-tronco, mas ainda não se sabe em detalhes como isso ocorre e que outros fatores estão envolvidos. Considerações finais: Compreender e controlar esse processo, ainda é um dos grandes desafios da ciência na atualidade. Uma melhor compreensão dos processos celulares nos permitirá delinear os erros fundamentais que causam estas doenças. Esclarecendo assim se as células-tronco são as mocinhas ou vilãs.

Palavras-chave: Biologia celular, Células-tronco, Células Progenitoras

Cancerígenas, Sangue do Cordão Umbilical.

ABSTRACT

A new age in the biology of stem cells began the derivation of cells from fetal and human blasts cyst, with unique ability to differentiate into cells of all tissues of the body. Around 220different cell types have been found, all derived from precursor cells called "stem cells".Objective: Identify and analyze the published issues which refer to this subject offering a greater knowledge of the complex events that occur during the development of the stem cells. Methodology: Literary revision study in a descriptive form. The data collection was realized through database (Scielo), and books, after filing and critical appreciationidentifying the theme in each source utilized, as that the proposed objective was target. Results and discussion: 26 references including books and articles published between 2000 and 2008. After the content was analyzed it was categorized into "Stem-cells concept"; "Position of the autorities"; "Law of biosecurity" The process of differentiation that generates the specialized cells  of the skin, bones and the cartilage, blood, muscles, nervous system and other organs and tissues - is adjusted in each case by the expression of specific genes in the cell - trunk, but it is still unknown in detail how this occurs and what other factors are involved. Final considerations: Understanding and controlling this process is one of the great challenges of science today. Serious diseases such as cancer or birth defects are related to abnormal cell specialization and problems related to cell division. A betterunderstanding of cellular processes will allow us to delineate the fundamental errors that cause these diseases. This way clarifying if the trunk cells are the heroes or the losers.KEY WORDS: Cell biology, Trunk Cells, Cancerigenic Progenitive Cells, Blood from theUmbilical Cord

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Embrião a partir do qual são retiradas as células-tronco embrionárias...............................................................................................................19

Figura 2. Hematopiese ou formação de células sanguíneas.....................................21

Figura 3. Vai para o tronco ou não vai?.....................................................................25

LISTA DE ABREVIATURAS

AGM - Aórtica/ Gonodal/ Mesonéfrica

HUCFF - Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

BCRJ - Banco de Células do Rio de Janeiro

ONG - Organização Não Governamental

DNA - Ácido Desoxirribonucleico

ANVISA - Agência Nacional De Vigilância Sanitária

INTRODUÇÃO

Os primórdios das pesquisas sobre a origem da vida iniciaram quando o ser humano ancestral ultrapassou o ponto de superação da luta pela sobrevivência.

A partir dali o homem economizou tempo, que tem sido utilizado para pensar sobre sua origem.

A procura de respostas sobre o que é vida? Ou, quando a vida começa? É uma pergunta tão antiga, tão velha quanto a arte de perguntar.

Ao lado de "paz" e "amor", vida é uma daquelas poucas palavras capazes de provocar unanimidade. "Amor" e "paz", no entanto, são conceitos cuja definição não desperta polêmica.

Com "vida" é diferente. Ninguém é capaz sequer de explicar o que é vida, só no dicionário há dezoito tentativas. Por mais de dois mil anos, essa indefinição foi motivo de inquietação só para poucos filósofos. Em geral, nos contentamos em falar que vida é vida e pronto. Hoje, porém, a ciência mexe fundo nesse conceito. Expressões como "proveta" e "manipulação genética" estão cada vez mais no cotidiano. E a pergunta sobre o que é vida, e quando ela começa, virou uma polêmica que vai guiar boa parte da sociedade em que vamos viver.

Hoje, a ciência tem muito mais a dizer sobre o início da vida. O astrônomo Galileu Galilei (1554-1642), passou a vida fugindo da Igreja por causa de seus estudos de astronomia. Ironicamente, sem uma de suas invenções - o telescópio, fundamental para a criação do microscópio -, a Igreja não teria como fundamentar a tese de que a vida começa já na união do óvulo com o espermatozóide.

Foi somente no século XVII, após a invenção do aparelho, que os cientistas começaram a entender melhor o segredo da vida. Um debate em que a medicina fica mais perto de ser uma ciência humana do que biológica e em que freqüentemente se encontram cientistas usando argumentos religiosos e religiosos se valendo de argumentos científicos.

Em 1998, quando o cientista James Thonson conseguiu pela primeira vez isolar células-tronco embrionárias e, nos anos que se seguiram, evidências sobre a capacidade destas células se transformarem em qualquer outra célula especializada e sobre o seu potencial em regenerar órgãos e tecidos foram explorados.

A idéia de utilizar células-tronco visando ao reparo de tecidos lesados está em voga desde a metade do século passado, quando um patologista viu que uma célula-tronco indiferenciada era capaz de reproduzir vários tipos de tecidos tumorais. Desde então, a pesquisa científica evoluiu em várias direções, procurando entender a enorme plasticidade da célula-tronco.

São imensas as possibilidades terapêuticas com as células-tronco e, com base no conhecimento que ainda vai ser produzido pelos cientistas que estão em seus laboratórios cuidando de obter respostas para questões ainda não decifradas.

A produção de diferentes tipos de células em laboratório e sua utilização para recuperar tecidos ou órgãos lesados está deixando de ser um sonho.

A demora para alcançar esse tipo de conhecimento e o tratamento efetivo das doenças será tanto menor quanto mais tempo os cientistas se dedicarem às verdadeiras questões não respondidas, em vez de enveredar pela rota do pragmatismo destruído da compreensão do cidadão.

Ao longo dos anos, diversos órgãos e tecidos do corpo humano perdem progressivamente sua capacidade de funcionamento, seja por causa de alguma doença ou pelo processo normal de envelhecimento. Há então uma grande demanda de reposição desses órgãos, que hoje em dia é atendida por programas de transplante de órgãos. No entanto, por várias razões, esses programas de transplante de órgãos atendem a uma fração muito pequena dos pacientes, seja por escassez de doadores ou pela atual incapacidade de transplante de certos órgãos ou tecidos, como muscular e nervoso. Além disso, os transplantes de órgãos existentes têm um alto custo, o que é de particular importância para a saúde pública no Brasil, onde são pagos pelo Ministério da Saúde.

Há três questões científicas principais no centro de debate  as células-tronco embrionárias, a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica. Para alguns, as três coisas são igualmente inaceitáveis, mas para outros são diferentes o suficiente para merecer análises independentes.

Com a liberação das pesquisas com células-tronco no Brasil, há possibilidade de produzir benefício terapêutico incontestável para os principais agravos, a saber, doenças coronarianas, doenças do coração, doenças degenerativas musculares e do envelhecimento, e, principalmente, as doenças endócrinas e do sistema nervoso, ou seja, Diabetes, Síndrome de Addisom, mal de Parkinson, doença de Alzehimer, esclerose múltipla, e muitas outras.

A ciência é complexa, e a dimensão ética é tão complexa quanto. Mas o problema maior está na diferença de opiniões sobre quais aspectos da ciência são considerados avançados.

Pesquisas com células-tronco têm tomado rumo acelerado. Nesse campo da investigação científica têm ocorrido grandes descobertas, ganhadoras de vários prêmios Nobel nas áreas de medicina e biologia. Felizmente a consciência crítica no mundo da ciência compreende que as grandes descobertas antecipam a possibilidade de novas biotecnologias e que essas só chegam com o conhecimento criador de paradigma.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Identificar e analisar os trabalhos publicados que abordam a temática, proporcionando um conhecimento maior sobre os eventos complexos que ocorrem durante o desenvolvimento das células-tronco.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Buscar conhecimento sobre a plasticidade das células-tronco na sua aplicação terapêutica a fim de fornecer informações aos clientes portadores de diversas patologias, assim como analisar questões relacionadas à sua malignidade acompanhando o desenvolvimento científico na resolução da mesma.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, com natureza descritiva, que tem como finalidade, identificar e analisar de forma sistemática a literatura selecionada. Para tanto utilizamos uma análise temática, onde devemos "ouvir o autor", aprender sem que possamos interferir no conteúdo de sua mensagem (SEVERINO, 2000).

Utilizamos 26 referências ealguns critérios para que pudéssemos ir de encontro com nosso objetivo, que foram: sites disponíveis na Internet acessados em 2008; livros; revistas; artigos publicados entre o ano de 2000 ao ano de 2008; procurando através das palavras-chave como: biologia celular, células-tronco, biossegurança, clonagem terapêutica; no acervo bibliotecário da Universidade de Marília-UNIMAR; Biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília-FAMEMA, Biblioteca Municipal de Marília.

Os resultados serão apresentados da seguinte forma:

- Caracterização do material;

- Temática;

Caracterização do material

Distribuição do material literário, segundo a fonte (livros, periódicos, revistas, jornais e sites).

Como podemos observar na tabela acima, o predomínio dos materiais literários pesquisados foram publicados entre 2005 e 2008.

Temática

Passaremos a descrever, alguns aspectos importantes para a relevância dessa pesquisa.

1. CONCEITO DE CÉLULAS-TRONCO

As células-tronco são células com capacidade de se dividir e de dar origem a células especializadas. O nome "Célula-troco" é ilustrativo: delas podem-se obter várias outras categorias de células, assim como do tronco de uma arvore saem os ramos, folhas, flores e frutos. São capazes de garantir uma reserva funcional (reserva de células progenitoras) e de se diferenciar em diversos tipos celulares (LOPES, 2006).

Comecemos então com uma definição básica. Para Amorin; Cookson (2005) e Lopes (2006), as células-tronco funcionam como um sistema biológico de manutenção, com potencial para se transformar em vários tipos de célula especializada do corpo. Em teoria podem se dividir infinitamente para substituir outras. Quando uma célula-tronco se divide, cada "filha" dela pode continuar a ser célula-tronco ou adotar um papel mais especializado, como uma célula do músculo, do sangue ou do cérebro, dependendo da presença ou ausência de sinais bioquímicos.

1.1 Nascimento da Célula-tronco

Para Lopes (2006, p.­­­ 311):

Quando o espermatozóide fecunda o óvulo, cria-se uma única célula que tem potencial para formar um organismo inteiro. O ovo fertilizado é dito totipotente (derivado do latim "totus", que significa todo). Após a fertilização, o ovo se divide em células totipotentes.

Quatro dias após a fertilização, as células totipotentes começam a se especializar e, em cinco dias cerca de 100 células estão formadas e o embrião é chamado de blastocisto. Ele é formado por uma camada fina de células que formarão a placenta e um aglomerado de células-tronco em seu interior que formarão a pessoa (AMORIM, 2005).

As células da massa de células interna do blastocisto, que são as células-tronco embrionárias, têm a capacidade de formar todo tipo de célula do corpo humano. Entretanto, a massa celular interna isoladamente não é capaz de formar outro ser. Essas células são ditas pluripotentes (derivado do latim pluris, que significa "muitos" ou "vários"). As células pluripotentes ao se especializarem, darão origem às células com funções específicas, as células-tronco teciduais, multipotentes, ou células tronco adultas, que estão presentes no sangue, ossos, pele, cérebro e em outros órgãos (LOPES, 2006).

Figura 1. Embrião a partir do qual são retirados as células-tronco embrionárias. O blastocisto é um embrião pré-implantação de 3 ou 5 dias de desenvolvimento em camundongo e humanos, respectivamente. Massa celular interna (*)[1]

Clarke e Becker (2005), acrescentam nessa perspectiva que o corpo humano é um sistema bastante compartimentado formado por órgãos e tecidos distintos, cada qual responsável por uma função essencial à manutenção da vida. As células individuais que compõem os tecidos, entretanto, normalmente têm vida muito curta. A pele, por exemplo, é totalmente renovada a cada semana, e a vida média das plaquetas no sangue não ultrapassa dez dias.

O mecanismo pelo qual os tecidos mantêm constante sua população celular é o mesmo em todo o organismo e está presente em quase todas as espécies superiores. Sua base são pequenos grupos de células-tronco de vida longa que atuam como repositórios de células funcionais. A produção segue etapas rigorosamente organizadas, segundo as quais cada geração de células descendentes torna-se gradativamente mais especializada (CLARKE; BECKER, 2005).

As células embrionárias são pluripotentes ou totipotentes, ou seja, tem a capacidade de produzir 216 tecidos do corpo. As células retiradas de um tecido adulto produzem apenas as células hematopoiéticas obtidas na medula óssea, formando todas as células que compõe o sangue como linfócitos e glóbulos vermelhos (AMORIM, 2005).

Outra abordagem vem de Aster (2005), ele descreve que as células sanguíneas aparecem primeiramente, a partir do saco vitelino, mas estas células são geradas por meio de uma população de células-tronco restrita à produção de células mielóides. A origem de células-tronco hematopoiéticas definitivas, que dão origem às células linfóides e mielóides, ainda é desconhecida. Muitos estudos sugerem que elas se originam do mesoderma intra-embrionário na região aórtica/gonodal/mesonéfrica (AGM), mas existem evidências de originarem-se de dentro de um pequeno conjunto de células derivadas do saco vitelínico. No terceiro mês da embriogênese, aproximadamente, células-tronco derivadas da região AGM e/ou do saco vitelínico migram em direção ao fígado, o qual é o principal sítio de formação de células sanguíneas até pouco antes do nascimento. No início do quarto mês de desenvolvimento embrionário, células-tronco migram em direção à medula óssea para iniciar a hematopoiese nesse local.

Tal concepção também é expressa por Smeltzer e Bare (2006),acrescentando que o componente celular do sangue consiste em três tipos principais de células: Hemácias (Eritrócitos ou células sanguíneas vermelhas), leucócitos (células sanguíneas brancas) e plaquetas (trombócitos). Esses componentes celulares do sangue constituem normalmente 40 a 45 % do volume sanguíneo.

Para Aster (2005, p. 694):

Ao nascimento, a medula presente em todo o esqueleto é ativa na hematopoiese e é praticamente a fonte exclusiva de células sanguíneas. Em bebês nascidos a termo, a hematopoiese hepática reduz-se a quase zero, persistindo apenas numerosos e pequenos focos esparsos que se tornam inativos logo após o nascimento.

Aster (2005), acrescenta nessa perspectiva que até a época da puberdade, a medula de todo o esqueleto permanece vermelha e hematopoeticamente ativa. Aproximadamente aos 18 anos apenas vértebras, costelas, esterno, pélvis e, regiões próximas às epífises de úmero e fêmur conservam medula vermelha, e a medula restante se torna amarela, gordurosa e inativa. Assim, em adultos, apenas cerca da metade do espaço medular é ativo na hematopoese.

Também é de parecer de Smeltzer e Bare (2006) que a medula óssea é o local da hematopoiese ou formação de células sanguínea, ela é um dos maiores órgãos do corpo, constituindo 4 a 5 % do peso corporal total sendo composta por ilhotas de componentes celulares (medula vermelha) separadas por tecido adiposo (medula amarela). Em casos de destruição, fibrose ou cicatrização da medula, o fígado e o baço podem produzir células sanguíneas através de um processo conhecido como hematopoiese extramedular.


Ainda segundoSmeltzer e Bare (2006), dentro da medula é encontrado células-tronco capazes de se auto-replicar garantindo assim células-tronco durante todo o ciclo de vida. Quando estimuladas as células tronco podem iniciar um processo de diferenciação tanto em Linfóides que produzem linfócitos T ou B, quanto mielóides que diferenciam-se em três tipos celulares: Eritrócitos, Leucócitos e plaquetas.

Figura 2. Hematopoiese ou formação de células sanguíneas[2]

Dessa maneira com exceção dos linfócitos, todas as células sanguíneas derivam de células-tronco mielóides. Um defeito nas células tronco mielóide pode provocar problemas não somente com a produção de Leucócitos, mas também com as produções de Eritrócitos e Plaquetas (SMELTZER E BARE, 2006).

1.2 Tipos de Células-tronco

1.2.1 Células-tronco Embrionárias e Fetais

A principal fonte de células-tronco embrionárias humanas são os embriões produzidos pela fertilização in vitro. As células da massa central do blastocisto podem ser induzidas a proliferar mantendo seu estado indiferenciado ou a se diferenciar em vários tipos celulares. As aplicações terapêuticas dessas células têm despertado muita preocupação, incluindo a possibilidade de desenvolvimento de aneuploidias e o risco de formação de tumores após o transplante. Outro obstáculo para seu uso é a possibilidade de incompatibilidade imunológica entre doador e receptor. O uso de células-tronco embrionárias e fetais também implica questões de controle de qualidade, padrão de viabilidade, pureza do material celular e problemas éticos para a utilização de embriões (LOPES, 2006).

1.2.2 Células-tronco Adultas

São obtidas pela coleta em tecidos específicos. Acredita-se que sua capacidade de diferenciação era restrita ao seu tecido de origem, porém estudos recentes têm demonstrado que algumas populações de células-tronco adultas são multipotentes, podendo se diferenciar em tipos celulares específicos de outros tecidos. Isso indica que tais células apresentam grande plasticidade. A maioria das células-tronco de tecidos adultos é de difícil obtenção para uso clínico rotineiro. Fontes facilmente acessíveis são a da medula óssea e o sangue do cordão umbilical (LOPES, 2006).

1.2.3 Células-tronco de Cordão Umbilical

Na fase fetal, as células-tronco se alojarão na medula óssea e na fase adulta ficam localizadas no fígado e no baço. Entre o quinto e nono mês de gestação, essas células começam a migrar pela corrente sanguínea até identificarem a medula óssea como sítio próprio para sua implantação. Conseqüentemente, ao nascimento, o sangue do concepto é rico em células-tronco que estão em processo de migração. A coleta das células-tronco do sangue do cordão umbilical é relativamente fácil, a partir de um material que é normalmente descartado e não apresenta sofrimento para a mãe ou para o recém-nascido. Além disso, quantidades significativas podem ser obtidas (LOPES, 2006).

Autilização dessas células-tronco em transplante heterólogos tem um menor risco de transmissão de infecções para os receptores, e há evidências de que tais células são mais indiferenciadas e tolerogênicas do que as células-tronco da medula óssea. Por serem mais jovens, as células-tronco do sangue do cordão umbilical possuem capacidade proliferativa e regenerativa muito maior do que aquelas obtidas da medula óssea e do sangue periférico, e sua idade celular correspondem ao do neonato. Além do mais, o processo patológico desencadeante de uma determinada doença também pode comprometer a medula óssea, inviabilizando a utilização das células-tronco ali presentes (LOPES, 2006).

1.3 Coleta e Armagenamento de Células-tronco

Desde novembro de 2000, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) vem realizando uma atividade pioneira no Brasil: a retirada e posterior congelamento de sangue de cordão umbilical. Esta técnica é muito importante, já que o sangue umbilical é rico em células-tronco, que são produtoras de sangue e podem se diferenciar nas células que constituem os diversos órgãos do corpo humano (AZEVEDO, 2008).

Sílvia Azevedo (2008), coordenadora do Banco de Sangue de Cordão Umbilical do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, a grande responsável pela pesquisa e aperfeiçoamento da técnica do Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) já vinha pesquisando o congelamento das células sanguíneas do cordão, desde 1993, procurando fazer aqui o que já é feito em outros países há algum tempo.

Para Azevedo (2005) e para Lopes (2006), após o nascimento, o cordão deve ser clampeado no menor espaço de tempo possível, observando-se as normas habituais de segurança. O clampeamento precoce do cordão causa um aumento do volume do sangue placentário. O cordão umbilical deve ser limpo com gaze embebida em álcool. A veia umbilical é puncionada pelo obstetra, utilizando um kit que é composto por uma agulha conectada a uma bolsa de coleta sanguínea mantida em um nível mais baixo que o cordão até que se complete a dequitação. Após essa dequitadura a placenta é puncionada por um coletor treinado, completando a aspiração de um maior volume sanguíneo possível. A retirada do sangue do cordão umbilical e placenta, ricos em células-tronco, através de uma punção da veia umbilical, imediatamente após o nascimento do bebê, não trazem nenhum risco para o mesmo e para a mãe. Após passar por um congelamento gradual, este sangue (células) é armazenado em nitrogênio líquido - a menos 196 graus centígrados - por tempo indeterminado, podendo ser utilizado quando for necessário.

Lopes (2006), descreve que as células-tronco do cordão umbilical apresenta um potencial igual ou superior de reconstituição do sistema hematopoiético do que o das células-tronco da medula óssea. A utilização das células de cordão tem vantagens e desvantagens em relação às células da medula óssea.

·Vantagens

A sua coleta não causa desconforto nem representa risco ao doador.

Menor desenvolvimento de doença do enxerto contra o hospedeiro.

Menor risco de transmissão de infecção para o receptor.

Custo mais baixo.

·Desvantagens

O tempo de pega medular é geralmente maior.

O baixo número de células obtidas do sangue do cordão umbilical é em geral, suficiente apenas para o transplante em crianças e adultos pequenos.

O tempo de internação dos pacientes é maior.

1.4 Vale a Pena Guardar Células-tronco?

Schneider (2008), descreve que em primeiro lugar, atualmente, o único tipo de armazenável de células-tronco são as do cordão umbilical de recém-nascidos. Segundo: por enquanto, com o sangue do cordão só é possível tratar cerca de 80 doenças, todas ligadas ao sangue. Terceiro: existem dois tipos de células-tronco utilizáveis  as suas e de outras pessoas. Quarto: existem duas formas de armazenamento possíveis. A primeira é o Banco Público Brasileiro, que recebe doações voluntárias de sangue do cordão umbilical de bebês. O bom é que o armazenamento é gratuito. O ruim é que as células do bebê não ficam reservadas para ele  elas estão disponíveis para qualquer receptor compatível. Na segunda forma de armazenamento, os bancos privados, as células ficam guardadas para o doador, o que torna possível o chamado autotransplante  realizado com as células do próprio paciente, o que aumenta as chances de recuperação para certas doenças.


Figura 3. Vai para o tronco ou não vai? A chance de precisar dessas células é baixa[3].

1.5 A Ciência em Mutação

Vieira (2008) declara em entrevista ao Jornal Nacional:

Na esperança de cura para várias doenças no futuro, as células embrionárias deverão ser tratadas com muito cuidado nos laboratórios. Para que se multipliquem, como querem os cientistas, as células, que são muito sensíveis, precisam de doses diárias de fatores de crescimento, vitaminas e soro especial. É necessário ter sempre algum cientista de olho, cuidando delas.

O Jornal O Estado de São Paulo em 14 de outubro entrevista Alysson Muotri (2007,p. 15) que comenta: "Como elas sofrem muitas mutações, são como bonsais: tem que acompanhar de perto, duas vezes por dia. São como filhas, é preciso atenção especial".

O paulistano Alysson Muotri (2007), foi um dos primeiros brasileiros - senão o primeiro - a mexer no vespeiro das células-tronco embrionárias. De 2003 a 2005, participou de um grupo que avaliou as linhagens dessas células liberadas para pesquisa nos Estados Unidos. O diagnóstico foi assustador: contaminação com açúcar. Não era uma notícia aceitável. A pesquisa indicava que o soro bovino, onde tais células são normalmente cultivadas, continha uma molécula de açúcar que os humanos não têm no organismo.

Ocorre que, no meio de cultura, essa molécula se agarra à membrana da célula-tronco embrionária. Em um eventual transplante celular para o corpo humano, ele reconheceria o açúcar e atacaria a célula. "O transplante iria por água abaixo", comenta Muotri (2007, p. 15). "Apesar do alerta, os soros continuam contaminados, mesmo porque não é fácil obter soro humano, proveniente de abortos espontâneos e doações de sangue".

Muotri (2007) Biólogo, pós-doutorando do Instituto Salk, na Califórnia, "injeções de células-tronco" não são exatamente a menina dos seus olhos. Muotri entende que, nesse sentido, ainda estamos na Idade Média porque lhe parece precoce falar em cura de doenças in loco diante de tão pouco conhecimento sobre o comportamento das embrionárias, sujeitas a constantes mutações.

Muotri (2007, p. A 15) continua:

Penso que o uso de célula-tronco está muito direcionado para a cura de doenças, para o transplante celular propriamente dito. Mas acho que seu uso mais interessante, no momento, é como ferramenta para se estudar o desenvolvimento humano. Não tem nada a ver com doença. Quer dizer, tem, mas não com a cura propriamente dita. É um meio único para explorar de que maneira as células dão forma ao corpo, nenhuma célula adulta forneceria esse tipo de resposta. O fato é que detectaram que algumas dessas células, que deveriam se diferenciar, não se diferenciaram. Em vez disso, começaram a se dividir. Por esse motivo pararam a pesquisa antes que ela levasse a um processo neoplásico.

1.6 Utilizações de Células-tronco.

Tratando desse tema Cookson (2005), descreve que o final da década de 1990 foi o período mais produtivo da história da pesquisa biológica. Ao nascimento de Dolly - o primeiro mamífero clonado - seguiram-se rapidamente a primeira derivação bem-sucedida de células-tronco embrionárias humanas e, na chegada do novo milênio, a conclusão do Projeto Genoma Humano. Desde então a imprensa, vem com o incentivo entusiasmado de muitos dos pesquisadores envolvidos, criando grande expectativa do público para uma nova era, a da medicina regenerativa. Há quem imagine que, daqui a alguns anos, será possível, através de uma combinação ainda obscura de células-tronco, clonagem e engenharia genética, criar novas células e até órgãos inteiros para substituir aqueles que falirem em decorrência de doenças, de acidentes ou de envelhecimento.

Em contrapartida, há objeções éticas e religiosas à pesquisa com células-tronco  principalmente à idéia de que embriões poderiam ser criados especialmente para a pesquisa e depois destruídos - e o medo de que a clonagem terapêutica abra as portas para a clonagem reprodutiva (COOKSON, 2005).

Outra abordagem sobre esta questão vem de Ian Wilmut (2005), dizendo que quando discutem as células-tronco, os pesquisadores se vêem diante de questões fundamentais. Para algumas pessoas, produzir e usar um embrião humano é fundamentalmente ofensivo, e essas opiniões, sinceras, têm de ser levadas em conta. Mas muitos não compartilham dessas idéias. O embrião do qual as células são derivadas é uma bola de células menor do que um grão de areia. Embora o potencial de se tornar uma pessoa, falta-lhe a característica humana fundamental da consciência.

Dentro da concepção de Cookson (2005), os cientistas que trabalham com células-tronco costumam ficar irritados porque suas pesquisas são confundidas com clonagem, apesar de a clonagem já nem fazer parte da maior parte dos estudos com essas células hoje em dia. Um dos motivos para a confusão é simplesmente o fato de ambas as áreas envolverem criação de embriões.

Outro motivo pode ser uma coincidência temporal: células-tronco embrionárias humanas foram cultivadas pela primeira vez logo depois do nascimento de Dolly, e os analistas destacaram imediatamente possibilidade de associação entre as duas descobertas. O termo "clonagem terapêutica" foi cunhado para descrever a criação de um embrião clonado para servir de fonte de células-tronco; o embrião é destruído no processo. A clonagem reprodutiva, ao contrário, criaria um bebê a partir do embrião (Cookson 2005).

Assim como Wilmut (2005), citando que as células derivadas das embrionárias poderiam ser usadas para recuperar lesões na medula espinhal. Ainda estamos longe de saber com precisão qual o tipo de célula deveria ser usada, quantas células são necessárias ou onde deveriam ser colocadas. De qualquer maneira, um tratamento rápido pode trazer benefícios reais.

Para Cookson (2005, p. 64):

O exemplo mais conhecido de transplante bem sucedido é o de medula óssea, para tratar leucemias e outras doenças do sangue, a técnica funciona porque medula está cheia de células-tronco sanguíneas. Mas até agora, todas as terapias usaram o que muitas vezes é chamado de célula-tronco adulta  um termo adequado quando a fonte é realmente um adulto, mas enganador quando, como é comum, as células vêm de um bebê ou de um feto.

Células de embriões clonados vão revelar os mecanismos moleculares que causam doenças hereditárias como a esclerose lateral amiotrófica (conhecida como doença neuromotora em alguns países). Isso vai nos permitir estudar pela primeira vez o processo da doença nos mínimos detalhes e, mais importante, vasculhar e testar milhares de compostos que têm potencial de conter ou até reverter a degeneração (WILMUT, 2005).

Embora ainda não tenham sido realizados ensaios clínicos com células-tronco embrionárias, outros tipos de terapia celular já mostraram que esse tipo de transplante pode funcionar. Entre os exemplos, além de conhecido e onipresente transplante de medula óssea, estão o uso de células-tronco neurais de fetos para tratar doenças cerebrais e de células beta produtoras de insulina retiradas de cadáveres para tratar diabetes (COOKSON, 2005).

Todos os pesquisadores que efetivamente atuam nessa área concordam que a utilização de células-tronco adultas não é capaz de proporcionar tratamento adequado para diversas doenças. Por essa razão, as pesquisas com células-tronco embrionárias seguem sendo o melhor caminho disponível na busca de cura para doenças graves e que causam grande sofrimento, como distrofias musculares, lesões medulares (paraplegia e tetraplegia), diabetes e mal de Parkinson entre outras (BARROSO, 2007).

E por fim doenças genéticas podem chegar a ser corrigida em crianças. Imagine alguém que não possua resposta imunológica a infecções por causa de um erro em um gene específico. O erro pode ser corrigido em células derivadas de um embrião clonado, que seriam então convertidas em células da medula óssea que forneçam a resposta imunológica ausente. As células da medula óssea corrigidas seriam em seguida devolvidas à criança (WILMUT, 2005).

É evidente que o sucesso das células-tronco embrionárias depende de muitos anos, talvez décadas, para que essas idéias cheguem à clínica. Com o tempo, as células-tronco derivadas de embriões vão revolucionar vários aspectos da medicina. E, mesmo assim, a sociedade está hesitante (WILMUT, 2005).

Os benefícios em potencial das células-tronco devem inspirar otimismo, mas isso precisa ser contrabalançado pelo franco reconhecimento de que ainda temos muito que aprender sobre as embrionárias. Quem conhece ou já cuidou de uma pessoa com doença hereditária ou degenerativa sabe da enorme necessidade de novos tratamentos. Devíamos estar mais entusiasmados do que temerosos com essa oportunidade (WILMUT, 2005).

1.7 Complicações

Células-tronco retiradas de embriões produzidos naturalmente ou por fertilização assistida podem apresentar incompatibilidade com o paciente podendo ser interpretadas como um organismo invasor e assim ser atacado pelo sistema imunológico. Na clonagem o embrião é utilizado com o próprio código genético do paciente para produzir um blastocisto com suas características, dessa forma não haverá rejeição às células-tronco. Essa é chamada clonagem terapêutica. Se um embrião clonado é implantado em um útero, é a clonagem reprodutiva (AMORIM,2005).

Pereira (2005), escreve que as primeiras linhagens de células-tronco embrionárias humanas surgiram em 1968, e junto com elas a enorme expectativa de seu uso terapêutico. Pereira sugere que, antes de começarem testes clínicos injetando células-tronco embrionárias em seres humanos, há algumas questões fundamentais que devem ser resolvidas, como:

·Questões de segurança  quando injetadas em camundongos, essas células podem formar tumores. Antes de testá-las em pacientes, temos que primeiro aprender a controlar sua diferenciação para que elas gerem somente o tecido que nos interessa, e não tumores.

·Questões de incompatibilidade entre as células-tronco embrionárias e o paciente, para que elas não sejam rejeitadas após o transplante. Uma solução para isso seria criar, com técnicas de clonagem, células-tronco embrionárias geneticamente idênticas ao paciente, que poderiam então gerar tecidos 100% compatíveis com ele  a chamada clonagem terapêutica.

Porém, a clonagem terapêutica não poderia ser utilizada em indivíduos com doenças genéticas. As células-tronco embrionárias geradas a partir desses pacientes também carregariam a doença, e por isso não seriam capazes de gerar tecidos sadios para transplante. Assim para o tratamento de doenças genéticas com células-tronco  sejam embrionárias, da medula ou do sangue do cordão  a melhor alternativa é conseguir um doador aparentado, que tem maior chance de ser compatível com o paciente (PEREIRA, 2005).

Não há como negar, no entanto, que clonagem é um item importante, já que parece ser o melhor método de superar um grave problema clínico com transplantes: a rejeição. Mas enquanto isso, outros pesquisadores buscam abordagens alternativas para reduzir a rejeição imunológica às células-tronco (COOKSON, 2005).

1.7.1 Células-tronco: Vilãs Disfarçadas

Nesse sentido Bellinghini (2005),descreve que ao longo dos anos, as perspectivas terapêuticas das células-tronco acabaram por transformá-las em sinônimo de células "do bem". Mas há décadas os especialistas desconfiam de sua íntima associação com o câncer. Células-tronco adultas e células cancerosas compartilham de uma incrível capacidade de auto-renovação: as primeiras de forma controlada, capaz de garantir a reposição e manutenção de tecidos sadios, as últimas de forma descontrolada.

Muitas semelhanças entre células-tronco normais e células cancerígenas já foram observadas pelos cientistas. A própria definição clássica de malignidade inclui a capacidade de sobreviver e se multiplicar indefinidamente, de invadir tecidos vizinhos e promover metástases, isto é, a migração para locais distantes no corpo. De fato, os controles que normalmente regulam rigidamente a proliferação e a identidade celular parecem ter sido removidos das células cancerígenas (CLARKE; BECKER, 2006).

Há pelo menos 50 anos os especialistas em câncer sabem que apenas uma reduzida e rara população de células de um tumor têm a capacidade de comandar e manter o crescimento da neoplasia. As primeiras evidências concretas de sua existência surgiram na década de 1980, com trabalhos de John E. Dirk, da Universidade de Toronto, no Canadá, que, estudando populações de células de leucemia mielóide aguda, descobriu que apenas algumas dentre as cancerosas tinham a capacidade de manter a doença. Isto é, se todas as demais células alteradas fossem eliminadas, mas essas poucas permanecessem no organismo, a leucemia voltaria (BELLINGHINI, 2005).

Dentro das concepções de Clarke e Becker (2006), está claro que para alguns tipos de câncer, apenas uma diminuta fração das células tumorais tem poder de originar tecido canceroso novo  logo, fazer dela um alvo específico de destruição talvez seja uma estratégia muito mais eficaz no combate à doença. Por serem os motores que comandam o crescimento de novas células cancerígenas e muito provavelmente a origem da própria doença, essas células são chamadas células-tronco cancerígenas. A atribuição do nome não é apenas figurada: acredita-se que elas tenham sido de fato células-tronco ou que suas descendentes imaturas tenham passado por uma transformação maligna.

Esta ótica encontra afinidade com as proposições de Billighini (2005) quando diz que essas células ficaram conhecidas como células-tronco de câncer e estão sendo identificadas também em tumores sólidos, como os de câncer de mama e mais recentemente, em gliomas, neuroblastomas e câncer de pulmão. Em alguns desses tumores, apenas uma entre cada cinco mil ou dez mil células é uma célula-tronco de câncer, mas ela basta para garantir sua proliferação. De acordo com essa linha de pesquisa, se o tratamento não matar as células-tronco de câncer, haverá uma recidiva. É por isso, segundo pesquisadores, que muitas vezes o paciente é tratado com quimio ou radioterapia, o tumor encolhe, praticamente desaparece, mas, depois de alguns anos volta com força total.

Conforme afirma Bellinghini (2005, p. 80):

Se você pensar num tecido qualquer do organismo, vai perceber que as células-tronco estão no topo da hierarquia celular. Ao longo de nossa vida, elas recebem sinais químicos e reagem a eles se dividindo, dando origem a duas células, uma vai continuar sendo célula-troco e a outra vai se diferenciar, especializar e se transformar numa célula daquele tecido.

Bellinghini, (2005), descreve que a mesma hierarquia se repete nos tumores. Há uma população de células-troco que comandam seu crescimento e células cancerosas com uma capacidade menor de divisão celular. "Se entendermos como as células-tronco normais e sadias proliferam, vamos aprender como controlá-las e, assim, entender também esses controles e se tornam cancerosas".

A idéia de que uma pequena população de células-tronco malignas pode causar câncer não é exatamente nova. As primeiras pesquisas com células-tronco, nas décadas de 50 e 60, tiveram início justamente em tumores sólidos e sanguíneos. Muitos princípios básicos da gênese e do desenvolvimento saudável dos tecidos foram revelados com a observação do que ocorre quando o processo normal sai dos eixos (CLARKE; BECKER 2006).

As pesquisas com células-tronco estão fornecendo respostas para antigas perguntas da oncologia. Nos últimos 50 anos, os mecanismos que regulam o comportamento de células-tronco normais, bem como suas descendentes, foram muito esmiuçados. Isso permitiu a descoberta de uma organização hierárquica das células de um mesmo tumor e reforçou a teoria de que as vilãs disfarçadas de células-tronco normais estariam na origem de muitos cânceres. Para combatê-las, é preciso compreender melhor como uma célula-tronco boa se transforma em farsante com intenções malignas (CLARKE; BECKER, 2006).

A presença de células-tronco em certos tecidos, especialmente naquele com altos índices de renovação, como intestino e pele, não é a forma mais simples e eficiente de substituir células velhas ou danificadas.Acredita-se que uma célula se torne maligna devido ao acúmulo de mutações "oncogênicas" em determinados genes. Mutações genéticas geralmente ocorrem em resposta a uma agressão direta, como exposição direta a radiação ou substâncias tóxicas, ou simplesmente por erros aleatórios durante a cópia de um gene antes da divisão celular (CLARKE; BECKER, 2006).

Lopes et al (2004), descrevem que há várias razões relacionadas à importância do isolamento de células-tronco pluripotentes humanas para a ciência e para os avanços da medicina. Doenças graves como câncer ou defeitos congênitos são decorrentes da especialização anormal de células e problemas relacionados à divisão celular. Uma melhor compreensão dos processos celulares nos permitirá delinear os erros fundamentais que causam essas doenças.

Ao longo da última década, acumularam-se algumas evidências de que as células-tronco podiam se tornar malignas e que somente certas células cancerígenas tinham características em comum com as células-tronco. Isso reforçou a idéia de que o crescimento tumoral teria origem em uma subpopulação de células cancerígenas parecidas com células-tronco. A história dessa teoria é mais longa, mais não havia tecnologia que pudesse comprová-la (LOPES et al, 2004).

Segundo Clarke e Becker (2006), técnicas de reconhecimento celular e da capacidade de auto-renovação levaram à identificação de células-tronco cancerígenas em diferentes formas de doença. Nos cânceres listados abaixo, já foi comprovada a presença de células-tronco malignas capazes de se auto-renovar e de regenerar todo o conjunto de células encontrados no tumor original. Isso significa que um pequeno número de células-tronco cancerígenas pode originar todo um tumor, reabastecer continuamente sua enorme população de células - a maioria das quais é não-cancerígena - e reconstituir o câncer original mesmo depois de quase todo o tumor ter sido destruído. Portanto, a erradicação da doença implica um ataque direto contra essas células.

Tipo de câncer (ano de identificação de células-tronco cancerígenas)

Leucemia mielóide aguda (1994)

Leucemia linfoblástica aguda (1997)

Leucemia mielóide crônica (1999)

Câncer das mamas (2003)

Mieloma múltiplo (2003)

Câncer de cérebro (2004)

Câncer de próstata (2005)

Clarke e Becker. Fonte: Scientific American Brasil agosto/2006, p. 44

Alguns pesquisadores querem treinar células imunológicas no reconhecimento e ataque às células-tronco cancerígenas. Outros investigam o uso de drogas já existentes para alterar a sinalização do microambiente, na esperança de privá-las dos sinais ambientais que estimulam seu crescimento. Outra idéia é o desenvolvimento de drogas que forcem a diferenciação dessas células de modo a eliminar sua capacidade de auto-renovação. O mais importante é que as pistas deixadas por elas estão sendo intensamente estudadas. Com uma combinação de métodos para destruir as vias genéticas responsáveis pela sua manutenção e pela sinalização do microambiente, espera-se em breve eliminar as verdadeiras células responsáveis pelo câncer (CLARKE; BECKER, 2006).

2. POSIÇÃO DAS AUTORIDADES

2.1 A Visão da Igreja

Uma abordagem sobre esta questão vem de Muto e Narloch (2005) que descreve quepara a igreja a vida é o encontro do óvulo com o espermatozóide e, portanto, não há qualquer diferença entre um zigoto de 3 dias, um feto de 9 meses e um homem de 90 anos. Platão defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres que engravidassem após 40 anos. Na Roma a interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável. Sêneca, um dos filósofos mais importante da época, dizia que era comum mulheres induzirem o aborto com o objetivo de preservar a beleza do corpo.E quando um habitante de Roma se opunha ao aborto era para obedecer à vontade do pai, que não queria ser privado de um filho a quem ele tinha direito.

Em 1588, o papa Sixto 5º condenou a interrupção da gravidez, sob a pena de excomunhão. Foi ai que nasceu a condenação do vaticano ao aborto, Gregório 9º, voltou atrás na lei e determinou que o embrião não formado não poderia ser considerado ser humano e, portanto, abortar era diferente de cometer homicídio. Essa visão perdurou até 1869, no papado de Pio 9º, quando a Igreja novamente mudou de posição. Pio 9º decidiu que o correto seria não cometer riscos e proteger o ser humano a partir da hipótese mais precoce, ou seja, a da concepção (MUTO; NARLOCH, 2005).

Conforme notícia divulgada no Jornal Nacional do dia 04/03/2008: De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope  encomendada pelo ONG Católicas Pelo Direito de Decidir - 75% dos brasileiros acreditam que usar tais células para tratamento e recuperação de pessoas com doenças graves é uma "atitude em defesa da vida". Outros 20% acreditam parcialmente na tese e 5% discordam totalmente dela. A parcela de católicos que julga ser correto o uso de células-tronco em pesquisas também é alta: 94%. A porcentagem da população com nível superior que concorda com a iniciativa é ainda maior: 97% (BERNARDES 2008).

Noticiada por Fátima Bernardes (2008) na mesma reportagem de 04/03/2008, a bióloga  é uma das maiores especialistas em células-tronco no País  Mayana zatz (2008) afirmou que ainda existe muita desinformação no que diz respeito ao assunto. E descreve:

Há pessoas que confundem pesquisa de células-tronco embrionárias com aborto. Enquanto na verdade, "esses embriões nunca foram implantados no útero. Em nossa opinião, não é aceitável que uma igreja queira impor suas crenças à população do país. O fato de a maioria da população, e até mesmo a maioria dos católicos, ser a favor das pesquisas demonstra o quanto a posição da Igreja Católica é anacrônica.

Uma referência importante vem de Muto e Narloch (2005) que descreve que o judaísmo e o budismo admitem a interrupção da gravidez em casos como o risco de vida para a mãe. Isso mostra que a idéia de vida e a importância dada à vida variam de acordo com a cultura da época.

Com o crescimento das pesquisas talvez a solução esteja a caminho. É o que Anna Paula Buchalla (2007), descreve em reportagem para a revista VEJA com manchete relatando o seguinte:Duas equipes de pesquisadores, uma americana e outra japonesa, anunciaram uma façanha que fornece mais um rumo aos estudos sobre o uso terapêutico de células-tronco. Lideradas por James Thomson, da Universidade de Wisconsin, e por Shinya Yamanaka, da Universidade Kioto, eles conseguiram fazer com que células adultas da pele regredissem ao estágio de embrionárias e depois se transformassem em neurônios e células cardíacas.

Existem dois grupos de células-tronco: as embrionárias e as adultas. As primeiras são retiradas de embriões, no estágio em que elas não passam de um amontoado de células indiferenciadas entre si. As adultas, por sua vez, são encontradas, sobretudo no cordão umbilical e na medula óssea. Além de se multiplicarem mais facilmente, as células embrionárias são muito mais versáteis do que as adultas. Elas têm a capacidade de se transformar em qualquer um dos 220 tipos de células do organismo. Por isso, são a grande esperança no tratamento de diversas doenças  problemas cardíacos, derrames, diabetes, disfunções neurológicas e traumas da medula espinhal.

Buchalla (2007), descreve que os estudos com as células-tronco embrionárias, porém, estão cercadas de questionamentos éticos. Usá-las em experiências significa matar embriões humanos  o que, do ponto de vista religioso, representa um atentado à vida. A princípio, esse entrave parece resolvido com o feito de Thomson e de Yamanaka. Eles conseguiram identificar genes humanos capazes de reprogramar o DNA das células da pele, convertendo-as em embrionárias, sem que seja preciso matar embriões.

Foi um trabalho árduo de tentativa e erro. Buchalla (2007), descreve que entre mais de 1000 genes com algum poder de reprogramar células, os pesquisadores descobriram que a combinação de quatro deles tinha o poder de "ligar" e "desligar" totalmente funções celulares  ou seja, de fazer com que uma célula adulta voltasse a ser embrionária. No grupo dos japoneses, de cada 5000 células de pele inoculadas com o genes, chegou-se a apenas uma célula embrionária. No caso dos americanos, essa proporção foi de 10.000 para uma. O passo seguinte foi induzi-las a se metamorfosear em neurônios e células cardíacas.

Os estudos com células-tronco embrionárias já tem quase uma década, mas persistem os problemas com sua manipulação. 'Até hoje não se conseguiu encontrar um mecanismo para controlar o ritmo com que elas proliferam', diz a geneticista Lygia da Veiga Pereira em reportagem à Anna Paula Buchalla para a revista VEJA na edição 2036 de 28 de novembro de 2007, p. 126.

As células-tronco embrionárias se multiplicam tanto e tão rapidamente que podem dar origem a tumores malignos. E é aqui que reside o principal problema das técnicas de reprogramação desenvolvidas por Thomson e Yamanaka. A transformação de uma célula da pele em embrionária também requer uma série de alterações genéticas sobre a qual não se tem nenhum controle (BUCHALLA 2007).

3. LEI DE BIOSSEGURANÇA

3.1 Uma Breve Resenha da História

É enfatizado por Santos (2008), que a experimentação com seres humanos, sujeitos de inovações tem sido feita ao longo dos séculos, sem grandes cogitações ou revelações.

A necessidade de se criarem mecanismos de controle, porém, tornou-se premente após os abusos cometidos nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial, e resultou no Código de Nuremberg (1947). O aumento do número de situações abusivas levou a Organização Mundial de Saúde a rever esse documento e a promulgar a nova regulamentação conhecida como a Declaração de Helsinque I em 1964, seguida da II, em 1975, da III, em 1983, IV, em 1989, e da V, em 1996 (SANTOS, 2008).

Pereira (2008), descreve que no Brasil, o uso do embrião humano foi regulamentado pela Lei de Biossegurança (Lei 11.105), de 24 de março de 2005, que diz:

Art. 5º

É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:

I  sejam embriões inviáveis; ou

II  sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.

Art. 6º Fica proibido: [...] IV  clonagem humana;

Apesar da proibição ampla da clonagem humana tornar ilegal a clonagem terapêutica, a aprovação do uso de embriões congelados para pesquisa permite o desenvolvimento de novas linhagens de células-tronco embrionárias humanas no Brasil, o que será fundamental para a consolidação dessa área de pesquisa no país. Em conclusão, o uso terapêutico da células-tronco embrionárias ainda está longe de se tornar uma realidade, tanto no Brasil quanto no mundo todo. Porém, para que exista alguma chance disso um dia acontecer, precisamos pesquisar  e foi este direito que adquirimos no Brasil, permitindo que tenhamos autonomia no desenvolvimento de terapias com estas células (PEREIRA, 2008).

3.2 Qual foi o Motivo da Polêmica em Torno da Lei?

Segundo Zatz (2008), descreve que para explorar as células-tronco usando as técnicas conhecidas hoje, é necessário retirar o chamado "botão embrionário", provocando a destruição do embrião. Esse processo é condenado por algumas religiões  como a católica  que consideram que a vida tem início a partir do momento da concepção. Há perspectivas de que no futuro se encontrem técnicas capazes de preservar o embrião, o que eliminaria as resistências religiosas.

Em reportagem ao Jornal Nacional Zatz (2008) explica que conhecendo os mecanismos das doenças, os cientistas poderão usar as próprias células-tronco para corrigir o que está errado e chegar à cura. Antes de começar o trabalho com as células embrionárias os centros de pesquisa deverão ter autorização dos comitês de ética. Só os embriões inviáveis, que não teriam chance de se desenvolver, os congelados há mais de três anos poderão ser usados, desde que os casais, os clientes das clínicas de fertilização autorizem a doação para pesquisa.

Zatz (2008), esclarece em entrevista ao Jornal Nacional que: 'Os profissionais do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo atendem casais em tratamento de fertilização', e ainda complementa: 'Cem por cento dos nossos casais dizem sim: doariam os embriões sem nenhum problema'.

Para saber exatamente quantos são e onde estão os embriões que poderão ser usados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), está organizando um banco de dados. As clínicas de reprodução assistida terão até o dia 11 de julho de 2008 para informar o número de embriões que possuíam até dezembro do ano passado (CARVALHO, 2008).

Carvalho (2008), finaliza com os seguintes comentários ao Jornal Nacional:

É um longo caminho. As pessoas não deveriam ter essas falsas esperanças de que tudo é rápido. E acrescenta: minha opinião é que a ciência é imprevisível. A gente pode morrer sem ver, mas o importante é tentar.

Apesar do interesse do governo na pesquisa, o Ministério da Saúde não sabe informar quantas linhagens de células-tronco, adultas ou embrionárias, existem no país. Como o trabalho com células-tronco embrionárias acabou de ser aprovado, a pesquisa nesse campo ainda é incipiente, segundo a coordenadora de Biotecnologia em Saúde do Ministério, Angélica Pontes. Ela ressalta que o cultivo de uma célula-tronco embrionária não constitui uma ilegalidade, somente a engenharia genética em embriões e a clonagem humana é que estão proibidas no País, segundo a Lei de Biossegurança (BRAGA, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A equipe de enfermagem deve utilizar todas as informações disponíveis para identificar as necessidades específicas em um conjunto variado de clientes portadores de diversas patologias. Além disso, as internações de longo prazo, associadas à maior complexidade dos problemas de saúde, resultam em fatores de estresse para a equipe de enfermagem.

Cumprir todas essas etapas com resolutividade, mantendo o foco das necessidades do cliente - objetivo principal e fundamental - é realmente um desafio. Esses fatores, a complexidade que cercam patologias e as muitas decisões que precisam ser tomadas torna necessário que as enfermeiras tenham domínio de informações que em geral precisam ser buscadas em fontes diversas.

Essa consideração é reforçada pelo fato de que o volume de conhecimentos necessários para se prestar uma assistência resolutiva à saúde cresce a uma velocidade impressionante, e é um desafio tanto para o estudante de enfermagem quanto para o profissional mais experiente, acompanhar as inovações tecnológicas, e os avanços nas pesquisas com células-tronco.

Compreender os eventos complexos das células-tronco, faz-se necessário que acompanhemos a evolução na busca da cura de diversas patologias.

O processo de diferenciação que gera as células especializadas  da pele, dos ossos e cartilagens, do sangue, dos músculos, do sistema nervoso e dos outros órgãos e tecidos humanos - é regulado, em cada caso, pela expressão de genes específicos na célula-tronco, mas ainda não se sabe em detalhes como isso ocorre e que outros fatores estão envolvidos.

Compreender e controlar esse processo é um dos grandes desafios da ciência na atualidade. Doenças graves como o câncer ou defeitos congênitos são decorrentes da especialização anormal de células e problemas relacionados à divisão celular. Uma melhor compreensão dos processos celulares nos permitirá delinear os erros fundamentais que causam estas doenças. Esclarecendo assim se as células-tronco são as mocinhas ou vilãs.

REFERÊNCIAS

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[1] Fonte figura 1: Pereira (2008), Ciênc. saúde coletiva v.13 n.1 Rio de Janeiro jan./fev. 2008, p.08

[2] Fonte figura 2: MOREIRA, MELO e MARCHIORI (2001), p. 178

[3]Fonte figura 3: SCHNEIDER. Fonte: Revista Super Interessante, edição 249  fev/2008. p. 40


Autor: Sandra Carvalho Maria Frediano


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