Cenografia virtual: conceitos e viabilidades



NASCIMENTO, Natali Mara Rangel do. Cenário virtual: conceitos e viabilidades. 2008. 115f. Monografia (Graduação)  Faculdade de Comunicação Social. Faculdades Integradas Teresa DÁvila, Lorena 2008.

Este trabalho aborda questões que envolvem o surgimento da cenografia e a cenografia virtual, passando pelas questões estéticas, técnicas e tecnológicas para uma compreensão do que ela pode oferecer para o profissional dessa área. Essa pesquisa originou-se da estranheza causada pelos cenários virtuais em inconformidades estéticas, tendo em vista, também, a escassa referência bibliográfica. O assunto, pouco aprofundado na sala de aula, está cada vez mais aprimorado no mercado de trabalho, de forma que os estudantes precisam de um maior conhecimento a esse respeito, podendo utilizar esta pesquisa como um referencial atualizado deste tema. Outro objetivo é conhecer possíveis pretextos e finalidades para utilização do cenário virtual nas produções áudio visual da televisão brasileira. Com fundamento nos autores pesquisados, almeja-se uma análise de alguns formatos televisivos e os seus respectivos cenários utilizados para se discutir o realismo conceitual da imagem sob a ótica da estética. A presente pesquisa está voltada para a reflexão sobre a evolução e experiências da cenografia virtual nos programas analisados, bem como suas viabilidades em termos de custos, tempo e espaço. E, desta forma, trazer a luz do entendimento, as questões de composição estética dos cenários virtuais. Com a análise dos cenários, surge um confronto dos conceitos levantados com a aplicação de alguns cenários da TV brasileira do canal aberto, o que demonstra a aplicação da tecnologia sem observância dos parâmetros estéticos. Portanto, é cada vez mais imperiosa a formação de um profissional completo, que saiba manusear as técnicas, aplicando a tecnologia disponível para que o cenário virtual seja de fato uma viabilidade.

 1. Apresentação do capítuloEste capítulo inicial abordará o surgimento da cenografia, resgatando as considerações de autores sobre o presente tema. Esta pesquisa está engajada em salientar as questões no que tange a cenografia virtual, o que torna importante voltar o olhar para a história da cenografia, mostrando as suas etapas e desenvolvimentos desde os primórdios até os dias de hoje, o que certamente proporcionará uma base histórica do real conceito de cenografia.O presente capítulo divide-se em: Início da cenografia; Palco como lugar cenográfico; Cenário na TV; Cenografia na era digital.1.2. Início da cenografiaPrimeiramente, antes de trilhar pelas veredas do estudo da cenografia virtual, faz-se necessária uma breve análise cronológica do desenvolvimento da cenografia ao longo dos milênios.De maneira abrangente vê-se que a cenografia nasceu juntamente com o espetáculo, não apenas com a finalidade de preencher um espaço ou enfeitar um ambiente, mas com o poder de comunicar em conjunto com os outros elementos.Os primeiros espetáculos com o uso de cenários foram realizados nos antigos teatros romanos e gregos e, posteriormente, nas clássicas apresentações de balé e ópera, dentre outras. "O termo cenografia (skenographie, que é o composto de skené, cena e graphein, escrever, desenhar, pintar, colorir) se encontra nos textos gregos" (MANTOVANI, 1989, p.13).Para percorrer uma linha de raciocínio referente à origem da cenografia e o seu desenvolvimento até os dias atuais, é imperioso perceber a sua utilização no teatro. Para Cogniat (in REDONDO, 1964), posicionar-se como apreciador das produções cenográficas é acompanhar o desenvolvimento das artes e, até mesmo, da tecnologia, compreendendo as inovações de acordo com a época vigente. "No domínio de que nos ocupamos, a cenografia do Teatro cai, pois, entre as mãos de fabricantes hábeis, mas não sabendo renovar-se por si, nem, sobretudo, enveredarem por uma via revolucionária, análoga à percorrida pelas outras artes, às quais, no entanto, estavam intimamente ligados". (COGNIAT, in REDONDO 1964, p.88)Das palavras supracitadas de Cogniat, verifica-se que a contundente afirmação não se distancia da realidade, pois a cenografia no teatro passou por um processo delicado devido à falta de renovação técnica dos cenógrafos dessa época. Trata-se de um período em que às práticas de Teatro é agregada uma plástica que foge do belo e se empenha no objetivo único de agradar.Na abordagem histórica, o autor descreve algumas considerações quanto aos problemas análogos gráficos de sua época, afirmando que os decoradores já tomavam caráter profissional resolvendo os problemas técnicos. Posteriormente a isso é declarada uma divergência entre a arte e a técnica, de modo que cada um desenvolveu-se separadamente, o que definiu "técnica apenas os factos materiais: perfeição da imitação, melhoramento incessante dos meio mecânicos; a arte, apenas os factos espirituais: expressão dos sentimentos ou das impressões, sugestões, aprofundamento do humano ou do individual" (in REDONDO, 1964, p.88). Do mesmo modo, é notória que a estagnação, por parte dos pintores envolvidos nas práticas teatrais, fez com que o teatro tivesse a sua estagnação estética de desenvolvimento.Mesmo antes do movimento na Idade Média, o teatro de sombras dos chineses já utilizava o cenário através de um jogo de luz projetado em uma superfície que sofria alterações controladas pelo próprio artista. O objetivo era formar um determinado conjunto de sombras que, com características específicas, contextualizadas, contavam uma história. Nesse caso, o cenário era elemento básico para o desenvolvimento de histórias dramáticas.O teatro de sombras é manifestação artística muito popular em diversas regiões do continente asiático. (...) Cada um dos historiadores apresenta dados, silhuetas antigas, que datam de 2.500 anos e 3.000 anos atrás, e que pertencem ao acervo de museus, tentando comprovar que, naquele período, o teatro de Sombras já era praticado (BELTRAME, 2005, p.41)No raiar do século XX, Cogniat (1964) apresentou uma definição quanto ao conceito de cenografia sob um ponto de vista diferenciado:A encenação e o seu complemento, a cenografia, adquiriram considerável importância no Teatro, na primeira metade deste século, e, no entanto, apesar do grande número de textos publicados a este respeito, não nos parece que estejam desenvolvidas as grandes linhas estéticas que regem esta forma de arte muito particular. (COGNIAT, in REDONDO, 1964, p. 87)O autor afirma que a cenografia é um complemento da encenação, ou seja, do teatro, o que compreende a temática discutida em a sua obra. Entretanto, verifica-se como premissa básica que o cenário e todo o seu desenvolvimento tecnológico estão bem à frente de um entendimento que o considera como acessório de um espetáculo, seja ele um teatro, uma apresentação de ópera ou um programa de televisão.Com abordagens mais críticas, outros autores apresentam variações com relação à cenografia. Esse é o caso de Ratto[1]. Para ele, pode-se analisar a cenografia como sendo o que está contido em um determinado espaço ou mesmo quanto ao próprio espaço. "A cenografia faz parte do instrumento do espetáculo. Ela deve fugir do personalismo, do individualismo, do 'cheguei'." (RATTO, 1999, p.22)Considerada por Mantovani (1989, p. 6), em seu início, como uma composição em um espaço tridimensional, a cenografia propõe muito mais do que uma decoração de um ambiente, pois essa missão compete a outro tipo de categoria de profissional que almeja objetivos diferentes aos de um cenógrafo engajado na composição de um projeto.Portanto, o primordial para uma composição cenográfica é complementar e até comunicar juntamente com o conteúdo dentro do contexto do espetáculo. É importante levar em consideração as diferenças entre as dimensões técnica e conceitual, pois tal fusão certamente nos conduziria a conclusões equivocadas em relação à cenografia, pois de outra forma seria considerar a cenografia como algo decorativo.No contexto teatral, o cenário surge e se transforma de acordo com a época, cultura e lugar em questão. É pertinente considerar que, mais do que uma evolução cronológica e social, se trata de uma crítica no sentido de racionalidade em relação a uma proposta filosófica que sugere uma elaboração de estrutura articulada e harmônica em níveis e planos. Destarte, a cenografia, frente aos elementos de um espetáculo, também apresenta propostas e objetivos inerentes à adequação da singularidade de cada apresentação.Segundo Mantovani (1989, p.7), é evidente que as primeiras referências cenográficas são estabelecidas com o teatro Dramático, justamente no local onde se estabelece a relação de cena e público, o que causa uma determinada desconfiguração de qualquer espaço específico, pois o espetáculo pode acontecer em qualquer lugar alternativo, não necessariamente em um teatro institucionalizado.Até o momento, os conceitos apresentados indicam a utilização da cenografia no teatro. Portanto, a discussão perfaz-se sobre composição de um palco e distribuição do público na organização do espetáculo. Todavia, em se tratando de televisão, as produções podem ocorrer tanto em estúdios como também lugares ao ar livre. Essas possibilidades se determinaram conforme a idéia, o formato e a proposta do programa.Em detrimento dos variados estilos de tipos de cenário, não poderíamos tratar a cenografia como elemento evolutivo, mas sim capaz de agregar elementos de forma racional que levará o projetista a dispor de um leque de opções objetivando atender a proposta filosófica da produção.Impera a necessidade de aqui destacar a seguinte lição de Ratto:Continuo defendendo o conceito do espaço cênico considerado como uma atmosfera que atua no espetáculo de forma sensorialmente dramática. Ataco violentamente o decorativismo gratuito, tudo o que procura agradar, o pleonástico, o adjetivado, o pomposo, enfim tudo o que se sobrepõe pretensiosamente à correta interpretação do texto e do espetáculo que o intermedia. (RATTO, 1999, p.19)1.3 Palco como lugar cenográficoSegundo Mantovani (1989, p.8), encontra-se nos espetáculos da Grécia registros do emprego de elementos tais como pedras utilizadas em concêntricos e de forma circular, marcando, assim, o estilo da Idade Média, o qual caracterizava-se por questões religiosas e sociais. Já em Roma predominava o divertimento, e a forma circular do palco mudou, passando a ser montado em semicírculo.Ainda com base nos estudos de Mantovani (1989, p.8-9) compreende-se que, no Renascimento, o teatro encontra as raízes pertinentes até os dias de hoje, passando, assim, a projetar os espaços de forma arquitetônica. Um dos pioneiros no assunto foi o arquiteto Andréa di Pietro, com a projeção do Teatro Olímpico, em 1585, O Palladio. Neste primeiro cenário arquitetônico verifica-se um projeto fixo, com ruas e palácios, construídos em perspectivas. Tal elemento apodera-se de uma forte relevância neste período e que proporcionava ao espetáculo uma terceira dimensão, uma miragem, pois o plano da obra era apenas bidimensional. Este momento da cenografia parece incorporar outras categorias de profissionais, pois, no Renascimento, artistas de renome, como Raffaelo Sanzie e Baldassare Penuzzi passaram a desenvolver obras específicas para a cenografia teatral da época. Estes profissionais agregaram valores diversificados à construção da cenografia, ampliando os seus conceitos e limites.Com o advento do estilo Barroco, o espetáculo teatral passou a ter um lugar determinado, havendo distribuição ordenada dos lugares conforme a classe social do público. No teatro à italiana os galpões eram mais luxuosos e o palco ganhou mais movimento e tecnologia para mudança de cenário. A respeito desta evolução, Mantovani afirma "o palco que é visto pelo espectador tem as mesmas medidas em baixo, em cima e nas laterais, como se existissem cinco palcos, em que um é visível e quatro não." (1989, p.10)A autora continua descrevendo que, nesta fase, passou-se a utilizar máquinas cênicas para o desenvolvimento da técnica de modificação do cenário, o que permitia maior celeridade e variação em um mesmo local de espetáculo. E, desta forma, o cenário, distanciado do público, era projetado como se fosse uma janela aberta para "outro mundo", a chamada "caixa ótica".Em outros lugares como, por exemplo, na Inglaterra em 1576, ainda segundo Mantovani (1989, p.11), a preferência das apresentações teatrais era por lugares abertos, sem um formato específico, entretanto, o público ficava abrigado por um telhado de palha. Nesse estilo ressaltam-se elementos importantes tais como a altura, a largura, o comprimento e a profundidade.Então, é possível afirmar que o teatro tem uma linguagem própria, o que leva a utilização de técnicas e materiais específicos para sua utilização em cenários, em lugares, datas e situações diferenciadas. Da mesma forma encontra-se a televisão e os outros campos de atuação cenográfica.As fases de transição fizeram com que a cenografia passasse de arte pictórica a arte plástica. A incorporação da luz elétrica como elemento comunicacional, o uso de paisagens naturais na fotografia em movimento do cinema e a fragmentação da imagem irradiada da televisão levaram profissionais e teóricos a discutir o papel do cenário no espetáculo, sua relação com o espaço, com o ator e com o público.Desta forma, pode-se perceber que o termo cenografia passa por ligeiras confusões quanto à identificação de seu real conceito, pelo fato das variadas mudanças ocorridas nos meios que ao decorrer do tempo foram surgindo. Mas também é possível concluir que, basicamente nos primeiros anos de sua existência, o cenário era só uma decoração e, de repente, passou a tomar para si grandes proporções, sendo alvo de reflexões estratégicas. No entanto, as mudanças na cenografia nunca foram bem aceitas. Mesmo a eletricidade, que tanto agitou a cena européia, e impulsionou concepções cenográficas recebeu crítica.Entretanto, percebe-se hoje que a cenografia já é vista como uma especialização da comunicação. "A Cenografia e Arte visam atender o planejamento de produção de programas de televisão. Paralelamente, tem desenvolvido projetos visando complementar sua própria atividade enquanto departamento". (FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA, 1975, p.3).1.4 Cenário na TVNo estudo sobre a utilização da cenografia no Brasil, em se tratando da mídia televisiva, torna-se imprescindível voltar o olhar ao surgimento das experiências dos primeiros programas brasileiros. Conceituados no fato de que entre os meios de comunicação que aos poucos foram surgindo e se adaptando de acordo com as necessidades vigentes das respectivas etapas cronológicas e contextuais, a televisão acabou por incorporar elementos dos meios já estabelecidos.Na gênese das produções de televisão no Brasil, o autor e diretor Daniel Filho, (2001, p. 255), foi um pioneiro nas produções de telenovelas da Rede Globo. Tendo os cenários naturais como herança do cinema, a princípio eram utilizadas tapadeiras pintadas de cinza, branco, marrom ou bege ocasional, raramente o cenário tinha cor. Diferentemente do teatro, as escalas das idades cenográficas da TV eram reais, e cada montagem cenotécnica era um desafio, devido à inexperiência e limitações técnicas.Deve-se muito do sucesso da Rede Globo à teledramaturgia, como conta Wallach, homem forte do grupo Time-Life, que veio ao Brasil para ajudar no desenvolvimento da emissora que acabava de ser criada por Roberto Marinho. Nessa época, os cenários eram adaptados para as novelas e a primeira a ter cenário externo foi "Eu compro essa mulher". De acordo com Wallach:Tínhamos muitos filmes. Começou com a sessão de cinema às dez da noite, com Célia Biar e um gato que Walter (Clarck) criou. Depois ele fez uma novela no pátio da Globo. A primeira que pusemos no ar, às 21:30, com Carlos Alberto e Yoná Magalhães [...] ou assim (...)mas, foi com a novela Eu compro essa Mulher que chegamos ao primeiro lugar de audiência. E tudo era feito no pátio. A novela se passava num barco. (WALLACH, 2008, p.16)É possível perceber que, apesar da precariedade da cenografia no início da história das novelas brasileiras, os cenários adaptados em locações eram o grande sucesso das décadas de 60 e 70. Só em 1988, na produção de Primo Basílio, houve sentimento de satisfação em realizar um projeto cenográfico que se conclui de acordo com o esperado e cumpre com todas as condições técnicas requisitadas pelo projeto.O, então, diretor relata que a primeira cidade cenográfica, montada na Barra da Tijuca, foi em vista da produção de Irmãos Coragem. Mesmo sem a tecnologia atual, em se tratando de uma história fictícia, utilizando elementos realistas foi possível tornar o projeto um fato concreto. A elaboração ocorreu tão bem esquematizada que o casarão central compreendia três faces diferentes, uma para cada época abordada no texto. Tal inovação realizada por Mário Monteiro, em 1976 conseguiu agilizar as gravações.Passando por várias experiências, Daniel Filho e sua equipe de produção e cenografia foram percebendo elementos que deveriam ser adotados nos cenários, como as tomadas de luz para ressaltar lugares estratégicos da cena. Com isso, o iluminador passa a ter papel importante junto à cenografia, e a luz começa a ser um elemento de composição estratégico. Em seus relatos, Daniel Filho (2001) afirma que no ano 2000 já se podia contar com as cidades cenográficas do Projac, repercutindo um glamour nas produções da Rede Globo. "Naturalmente, depois de fazer muitas novelas, uma equipe tende a cair numa cilada no que tange à cenografia. Começa a se usar chavões do tipo casa de ricos, casa de pobres. Existe uma diferença em cada personagem, em cada história, e deve-se estar atento a isso". (FILHO, 2001, p.257)Em paralelo à Rede Globo, outras emissoras também já haviam iniciado o processo de produções. De acordo com Nogueira[2] (2002), na realização de seu seminário em função do grupo de Realidade Virtual Aplicada, afirma que na TV Tupi Difusora de São Paulo, inaugurada em 1950, pelo jornalista Assis Chateaubriand, o Show na Taba, programa de variedades, foi um dos primeiros a serem transmitidos possuindo as características de ser ao vivo, com cenários rústicos e precários, além de ser filmado, era transmitido e decodificado em preto e branco. Para os comerciais era colocada apenas uma tapadeira de fundo com o logotipo do anunciante, evidenciando total inexperiência tanto empresarial quanto artística.Nogueira (2002) prossegue a descrição das emissoras, que, de modo geral, foram se aperfeiçoando aos poucos. A transmissão ao vivo foi adotada por muito tempo, e, mesmo com o surgimento da possibilidade de edição dos vídeos para posterior transmissão, a adoção do sistema vídeo-teipe era um recurso inviável devido ao alto custo. Apenas mais tarde sua implantação foi completa, sendo pioneiro o programa Chico Anísio Show, na TV Rio. O processo de edição, nessa fase, ainda era totalmente manual. Além das dificuldades de gravações externas devido ao peso do material e problemas de manuseio que todos os programas enfrentavam.Com isso, pode-se notar que as emissoras encontraram dificuldades no período inicial das suas produções nas execuções dos cenários e, aos poucos, as tecnologias foram agregando-se a esse processo.Hoje nós obedecemos a uma dramaturgia polivalente aos temas oferecidos, mas principalmente o leque dos autores escolhidos  que vai desde os clássicos mais antigos até os mais contemporâneos  provocam uma pequena tempestade de tentativas, propostas e imposições para o espetáculo. (RATTO, 1999, p. 22)Interpretar diversificados tipos de temas independentemente de seu tempo e contexto social, e ainda revesti-los de um olhar técnico e artístico de forma atualizada para que haja um olhar atraente, não é uma tarefa fácil. O cenógrafo busca a utilização dos espaços, formas, luz, cores, sombras, entre as mais disponíveis tecnologias para a execução harmônica e arrojada na elaboração de seus projetos. Antes de tudo, o cenógrafo se encaixa como um mero colaborador, pois o que há de se vangloriar são as suas produções. Juntar o seu perfil criativo, com toda a sua bagagem cultural, essa é a arte deste ofício. Cabe ao cenógrafo o poder de agregar harmoniosamente as tecnologias disponíveis a um cenário.O cenógrafo Serroni[3], afirma de forma contundente que com os avanços tecnológicos, como a computação gráfica, entre outros, a cenografia agrega para si um caráter "industrial". Ele afirma que "nela existe mais interferências; o olhar da câmera, o diretor de TV, a edição etc".Caracterizando a capacidade do cenógrafo em valorizar a questão tecnológica em detrimento da criatividade, para um mercado cada vez mais exigente de produções de qualidade.Em se tratando de televisão, o que normalmente ocorre na montagem de cenários reais é um processo trabalhoso, pois o "cenário é montado com um número de unidades de cenário pré-fabricadas e apropriadamente justapostos, sendo decoradas com objetos, cores, móveis, tecidos, etc. Pra criar o efeito cênico total". (FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA, 1975, p.21).1.5 Cenografia na era digitalDessa forma, os primeiros cenários televisivos brasileiros adaptaram-se às dificuldades encontradas com a tecnologia disponível em cada época. Agora, surge a possibilidade do uso da tecnologia de aplicação virtual. As necessidades vão sugerindo caminhos para a evolução. Em outras palavras, o que não era possível produzir em cenários reais, passa a ganhar solução com o cenário virtual, que começa a se lançar como viabilidade.Em razão disso, essas imensas fábricas de cenário começam a dar lugar a pequenas salas informatizadas, os estúdios de televisão reduzem seu espaço, estrutura física e pessoal. E, aos poucos, vê-se a utilização de softwares aperfeiçoando espaços que anteriormente eram ocupados por madeira, revestimentos e tintas, propiciando à cenografia uma elevada sofisticação. Entende-se que não há uma total substituição, mas sim complementação e auxílio nas produções. E, dessa forma, aplica-se a vantagem de que essa tecnologia possibilita a ampliação da criatividade dos produtores, além da diminuição dos custos operacionais.Todo cenário deve ser pensado de forma contextualizada, como um projeto no qual há uma carga de informação transmitida juntamente com os outros elementos. Isso demonstra a responsabilidade do cenógrafo na concepção e execução dos cenários sobre um olhar estético.Com relação à concepção estética de cenário, é notório que desde seu princípio já se discutiam as dificuldades em configurar o conceito estético devido às delimitações técnicas e plásticas de uma produção. Verifica-se essas debilidades nas afirmações de COGNIAT.Em primeiro lugar, aqueles que dizem respeito ao papel que deve desempenhar a cenografia em reação ao espectador, o seu poder de sugestão, portanto, problemas psicológicos [...] os que resultam da estética da cena e das artes que colaboram, logo, problemas plásticos [...] os que dizem respeito ao fato material, a obra representada, a transição do pensamento em realidade visual, portanto, problemas técnicos. (in REDONDO, 1964, p.93)Portanto, se faz necessária a compreensão estética da composição cenográfica. Isso é o que será abordado no próximo capítulo.[1] Ratto foi um cenógrafo nascido na Itália e nacionalizado brasileiro[2] Nogueira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFERJ[3] Serroni, cenógrafo conceituado, já trabalhou na TV Cultura, elaborou projetos para a Rede Globo de Televisão e para o canal fechado da MTV, em entrevista ao TCA (Teatro Carlos Alves) do Observatório Virtual.


Autor: Natali Rangel


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