Seu caminhão seu tesouro



SEU CAMINHÃO, SEU TESOURO

 

Julião, motorista caminhoneiro, há anos rodando pelas estradas do país sabia quando devia Pará e encostar pra descansar. Parou no posto para abastecer, e verificar o olho, os pneus e as coisas de rotina. Enquanto o pessoal do posto dava uma geral no seu trucão, ele foi até o restaurante pra comer alguma coisa, enquanto descansava para continuar a viagem. Abriu a porta entrou, lá dentro, já havia outros caminhoneiros alguns conhecidos. Ele se dirigiu para um canto do restaurante com menos gente sentou-se a mesa que estava vazia, e ficou esperando o garçom, ao lado da sua mesa tinha quatro homens conversando em volta de uma mesa, também esperando ser atendido assim como ele. Eles olhavam para Julião e voltavam a conversar baixinho, mesmo assim, Julião ouviu muito bem quando um deles disse:- tenho certeza é ele mesmo, eu vi gente, este cara estava morto não faz duas horas que eu estava descendo a serra quando ele ia bem à minha frente, eu vi quando ele perdeu o controle do caminhão e despencou no abismo da loira. Julião ouviu esta conversa e não teve como resistir, levantou-se e foi até a mesa daqueles homens, deu boa noite, pois ainda era de madrugada quase amanhecendo, e perguntou:- Por acaso vocês estão falando de mim? Positivo, respondeu um deles, é que este nosso amigo aqui disse que viu você morto há duas horas, Julião deu uma risada e disse, essa é boa, o amigo aqui deve esta doido ou deve ter visto um fantasma, mais como não existe fantasma nem espírito, acho que o amigo esta precisando de óculos. Foi você mesmo que eu vi morto, confirmou o homem; - seu caminhão tombou e desceu rolando o abismo da loira. Tenho certeza absoluta, pois parei meu caminhão amarrei uma corda e desci até onde esta o seu caminhão, vi você morto prensado pela carreta que caiu sobre a cabine. Julião já meio sem jeito disse; - isto parece não ter explicação já que eu estou aqui vivinho da silva. Um deles disse:- é pode ser, agente se engana mesmo, não lembra a historia do Pedro trovão? Que historia é esta perguntou Julião. -Pedro Trovão era um bom amigo, motorista velho aqui nesta estrada, um dia ele ia subindo a tamoios,quando chegou ao topo,lá no rebojo da pamonha onde agente costuma da uma paradinha, pra tomar um café e começar a descida da cerra, uma mulher, linda loira de cabelos compridos brilhando como cabelo de milho ao sol, foi em sua direção deu boa noite e pediu uma carona ate o trevo de Ubatuba, Pedro Trovão disse que sim, e que ela esperasse um pouco enquanto ele tomar um café. Pedro estava no balcão fez o pedido e virou-se pra pergunta se ela não queria alguma coisa, mas não a viu no seu campo de visão. Foi ao banheiro pensou ele. Terminou o café veio para o caminhão esperou um bom tempo nada da mulher, ele voltou lá no rancho procurou mais não viu a mulher, perguntou, mas ninguém viu loira nenhuma por ali. Vai ver desistiu da viagem disse Pedro no seu intimo. Colocou o caminhão na estrada e seguiu viagem, mas sempre pensando naquela mulher tão bonita. Começou descer a serra. Quem já passou por aquela estrada sebe que é, curva em cima de curva, é desmanchando uma e refazendo outra, derrepente, ao entrar numa curva Pedro deu de cara com a loira no meio da estrada em pé bem no meio da pista não deu para desviar, mesmo porque não tem para onde desviar, Pedro Atropelou a loira, sentiu o barulho do corpo batendo embaixo do caminhão. Ele transtornado, contou que não sabia o que fazer, era umas três e trinta da manhã, pensou em descer, mais pra que, nesta altura, ela já estava morta horrivelmente morta. Ele continuava a descer e olhando pelo retrovisor do seu lado, quando derrepente ele olha para o lado do carona,quem ele vê, sentada olhar sorridente para ele? Aloira da carona. A loira que ele tinha terminado de atropelar. Pedro, Olhos arregalados tremendo, perdeu a noção de tudo, o caminhão se desgovernou quando ele entrou na curva da loira, subiu no canteiro quebrou o guarda corpo e rodou barranco a baixo, mais de 150 metros de profundidade, ficaram só os pedaços. Na hora do acidente vinha uma viatura da policia rodoviária federal bem atrás dele. Viu quando ocorreu o acidente. Eles acionaram o socorro e por um verdadeiro milagre, Pedro Trovão foi cuspido pra fora da cabine quando o caminhão deu o primeiro tombo, ele tinha ficado logo em cima sofreu apenas aranhões teve a cabeça quebrada, torceu o tornozelo em fim, foi um verdadeiro livramento, ele já era crente agora é que sua fé está mais forte, hoje ele é encarregado de conduzir aqueles que morrem assim sem saber, para o outro lado da vida, mas só pode ajudar aqueles que acreditam em Deus. Pedro Contou que uma coisa chamou muito sua atenção foi o perfuma que aquela mulher usava, era um cheiro insuportável de jasmim. Ate hoje, ele não se esquece daquele cheiro. Julião um cara terrivelmente materialista, ateu irredutível achou que aquilo era tudo brincadeira. Dizia que não existia alma nem espírito e quando alguém morria tudo acabava. Olhou para o homem que acabara de contar a historia e, disse que não acreditava nem se o próprio Pedro Trovão em pessoa contasse aquela historia, e acrescentou, onde eu posso encontrar este Trovão? Neste momento um homem mais velho que até então não tinha dito nada se levantou olhou para Julião e disse:- Eu sou Pedro Trovão, e se você acha que nos estamos brincando, porque não vamos lá para ver, já que o parceiro disse que viu um acidente, e é aqui perto, porque nos cinco não vamos lá, para ver se houve ou não houve acidente? Julião e ou outros quatro entraram em um carro velho que estava parado ali e seguiram para o suposto lugar do acidente. Quando chegaram na curva da loira já estava quase claro o sol dava seus primeiros sinais de sua beleza e claridade. De longe já se via uma aglomeração de pessoas olhando lá pra baixo do despenhadeiro. Um carro de bombeiro, uma ambulância e muita gente, porque todo carro que passava parava para da uma olhada no acidente. Um dos amigos comentou; é a coisa foi feia. Estacionaram o carro um pouco mais em cima, saíram do carro e foram se juntar a os outros curiosos que olhavam lá pra baixo. Julião foi o primeiro a se debruçar sobre o alambrado do guarda corpo daquele despenhadeiro, olhou pra baixo viu o caminhão todo quebrado era o caminhão dele, ficou desesperado, como era possível, ele acabaram de deixa o caminhão lá no posto, agora, ele estava vendo o mesmo caminhão no fundo do abismo. Lembrou-se dos amigos que vieram com ele do posto até ali. Virou-se pra eles, bem ali do seu lado, mas os amigos não estavam, mas ali, tinham desaparecido como por encanto. O desespero aumentou quando olhando, viu-os lá embaixo perto do caminhão. Eles olhavam para cima e acenavam para ele, pediam que ele descesse ate lá. Julião olhou com mais atenção e viu algo que era de fazer enlouquecer o mais controlado dos homens, lá embaixo junto dos quatro amigos tinha outro homem; era ele, o próprio Julião. Aquilo foi demais pra ele. Viu seu corpo partido ao meio, sua cabeça a três metros do resto do corpo, chorou quando viu aquilo, sentiu um cheiro horrível de jasmim, sentiu um aperto forte no peito, olhou para a estrada a sua frente e viu um feixe de luz, Alguém o chamava, convidando para entrar naquela luz. Mas tinha alguma coisa que não deixava ir, precisava recuperar aquele caminhão era o seu ganha-pão, era tudo que tinha na vida, não podia partir. Seu coração estava onde estava o seu caminhão, aquele caminhão era o seu tesouro. E depois, Julião sabia que não exista outra vida. Julião olhou mais uma vez para o feixe de luz, agora ele viu quem estava lá, dentro daquela luz tão forte e tão brilhante, era o Pedro Trovão, suas vestes agora era branca, como a mais branca neve, tinha na mão um livro, Julião procurou ler o titulo, era: a espada de dois gumes, Julião lembrou-se da Bíblia nunca quis ler aquele livro, nem mesmo por curiosidade. Agora, inexplicavelmente, no fundo de seu intimo, gostaria de ler aquele livro. Mas agora é impossível, pois, já não tem cabeça, não tem corpo, não tem mais tempo nem caminho que possa seguir. Julião sentou-se na beira da estrada e resolveu ficar ali para sempre cuidando do tesouro seu Caminhão...

 

 

AUTOR: Bartolomeu Pinto Teixeira.


Autor: Teixeira Pinto Bartolomeu


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