VIOLÊNCIA NA ESCOLA: ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE GERENCIAMENTO DE CONFLITOS E VIOLÊNCIAS ENTRE PROFESSORES E ALUNOS EM SALA DE AULA, NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR TUTU, NO ANO DE 2009



ADILSON ALVES DE ARAÚJO[1]

Resumo

A presente pesquisa foi realizada com base em analises de dados e informações sobre o gerenciamento dos conflitos e ocorrências entre professores e alunos nas salas de aula da escola e teve como embasamento teórico pesquisa bibliográfica de obras e autores que estudam o tema. O Trabalho apontou que o fenômeno dos conflitos e violências, sobretudo a desencadeada por professores e alunos nas salas de aula tem se mostrado um grande desafio para os profissionais ligados à educação, principalmente, o que se refere aos modos "modos operandi" de enfretamento e gerenciamento deste fenômeno. No entanto, pode-se verificar nesta pesquisa que as práticas adotadas pela escola no gerenciamento dos conflitos não apontam para um desfecho satisfatório e nem se apresentam como solução para o problema. De acordo com os autores pesquisados a mediação quando bem administrada pode ser uma boa alternativa pedagógica de gerenciamento de conflitos entre professores e alunos quando na prática educativa.

Palavras?chave: Educação. Violência. Conflitos. Mediação.

Introdução

A sociedade contemporânea vivencia um momento de muitas transformações. Estas transformações ocorrem numa velocidade jamais vivenciada em outros tempos. Nos últimos anos é extraordinário o crescimento e o desenvolvimento de novas tecnologias, desenvolvimento da informática, descobertas de novos meios de comunicação e também, cada vez mais o incentivo ao consumo exacerbado. Porém, junto a estas conquistas vêm embutidos neste pacote de mudanças e transformações, os conflitos entre pessoas, comunidades, instituições e nações.

No cenário atual a escola é vista como uma das mais importantes instituições sociais, a qual, dentre outras funções tem como responsabilidade trabalhar para que os cidadãos (alunos) a ela confiados sejam capazes de gerenciar seus conflitos e frustrações o que possibilita uma vida mais feliz e pacífica. No entanto, hoje a escola como instituição, mostra-se pouco preparada para atender esta demanda. No estudo dos casos que ocorreram na Escola Estadual Professor Tutu, veremos como os fenômenos se deram e como desencadeou os fechamentos.Este artigo tem como base pesquisa bibliográfica sobre o tema e ainda, dados, informações e registros coletado junto à equipe pedagógica e direção da escola. A proposta deste artigo é analisar o desdobramento e resultados das estratégias adotadas no gerenciamento de conflitos em sala de aula, protagonizados por professores e alunos dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Diante as descobertas, propor a comunidade escolar uma reflexão sobre assunto o que poderá contribuir para a promoção de um clima menos hostil na sala de aula.

Desenvolvimento

A Escola Estadual Professor Tutu, esta instalada no município de Cristália/MG, geograficamente localizado entre as regiões norte e vale do Jequitinhonha, estado de Minas Grais. Região denominada semi-árido e com baixo índice de desenvolvimento humano ? IDH. (INSTITUTO JOÃO PIENHEIRO,1998). A escola citada é a única do município no atendimento aos alunos das séries iniciais do ensino fundamental e ensino médio.

Freqüentemente é noticiado no município casos de conflitos e violências entre professores e alunos da escola, fato que motivou a presente pesquisa. No ano de 2009, a escola registrou a incidência de vários casos, sendo alguns com grande repercussão dentro da comunidade escolar.

A violência se apresenta na sociedade como um fenômeno em crescimento e objeto de estudo de diversos autores. Para Freud o Homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce num ambiente violento, porque também a sociedade é violenta. Estando presente na sociedade e sendo reprodusida entre as pessoas e institições não há como negar sua presença na escola e sobretudo na sala de aula. A escola se apresenta como o espaço privilegiado, onde podemos perceber as mais variadas esferas da diversidade Humana (religião, étnico, solcial , cultural etc).

Grande parte das instituições brasileiras, quando no gerenciamento de conflitos que geram violências, adotam mediadas padrão de conduta. Tradicionalmente é adotado como extratégia em busca da solução de conflitos a corrência policial/Justiça. Na escola esta estratégia tambem esta presente e podemos verificar ainda a presença de outras extratégias, como serviço de saúde mental, medidas punitivas e também a transferência de alunos para outra escola. Analisando os casos de conflitos entre os professores e alunos na instituição hora pesquisada foi possível verificar que as estratégia adotadas para a solução dos casos não foram favoráveis, visto que elas se apresentaram somente como solução imediatista, ou seja os conflitos hora vividos entre os profesorese alunos voltaram a reincidência entre os atores protagonistas.

A equipe pedagógica e direção da escola quando na ocorrência de algum fato atípico em sala de aula, em quase toda a totalidade dos casos foi seguido o mesmo padrão de gerencimento do conflito. Ao ter conhecimento formal ou informal sobre um fato, de imediato convocou a parte que se entendia como "vítma" e diante de seu depoimento relizou um registro do fato. Posteriormente foi convocado a parte que se entendia como "autora" que também deu sua versão sobre os fatos. Por conseguinte, foram convocados testemunhas (alunos) que afirmaram o que ocorreu. Em alguns casos foi possível notar que os gerenciadores dos conflitos se dirigiram á sala de aula onde perguntaram aos alunos o que havia acontecido. Diante das apurações até então tidas como "verdade", o responsável pelo gerencimento do caso tomou as medidadas que julgou conveniente para a escola. Os fechamentos foram os mais variados como : acionamento dos pais dos alunos, solicitação da polícia no local e punição aos envolvidos . Em alguns casos foi possível constatar exposição desnecessária das partes envolvidas, situações de constranjimento etc.

Osfatores geradores (motivos) das ocorrências são os mais variados ( falta de interesse por parte do aluno, desrespeito entre as partes etc. Muitos casos se iniciaram pelo simples fato de um dizer que não ia com cara do outro ou que não aceitava o jeito de ser da outra parte.

De acordo com os registros, os procedimentos e estrátégias adotados no gerenciamento dos conflitos não foram suficientes para o solução dos casos e pior, geraram outros confrontos futuros entres as partes. O fato de ouvir as partes em separado onde cada um dá uma versão sobre os fatos e buscar testemunhas junto a turma podem gerar direcionamento de interesses, o que de certa forma pode ocultar a verdade e até mesmo dar um peso maior ao caso, do que ele realmente tem, ou seja, tornar um caso "pequeno " em "grande" sem necessidade. Em alguns casos além de não viabilizar o fim do conflito as extratégias adotadas desgastou a credibilidade e confiança nos gerenciadores e tornou ocorrências escolares em ocorrências de polícia/justiça.

Segundo Ortega, muitas vezes mudanças de estrátégias de gerenciamento de conflitos mais voltadas para o diálogo e mediação podem mostrar-se mais eficazes e menos desgastantes para todos os envolvídos ( alunos, professores, escola etc). A prevenção da violência e promoção de um clima não hostil, segundo alguns autores (ORTEGA, 2000; ORTEGA e REY,2002) é possível se a mediaçao for adotada como metodologia pedagógicano gerencimanto de conflitos na escola e sobretudo na sala de aula.

Os conflitos na escola não são acidentais e sim sistêmicos, repetitivos. São gerados e agravados cotidianamente, mas , se receberem um tratamento especial, podem ser revertidos em convivência harmônica das diferenças. Ou seja, o conflito, quando bem administrado pode produzir resultados valiosos e não somente. (ABRAMOVAY eCASTRO, 2006 :71).

Na educação a mediação ainda é uma ferramenta nova, porém, muito utilizada em outras áreas (segurança pública, conflitos agrários etc.) Como prática pedagógica no gerenciamento de conflitos e violências a mediação não tem como objetivo buscar culpados e nem punir as partes e sim, possibilitar que cada um dos envolvidos seja capaz de perceber seus erros e diante deste reconhecimento procurar rever sua conduta. A mediação favorece o desenvolvimento da capacidade de dialogar, da autocrítica e empatia.

Conclusão

Os desafios para implantação de estratégias de gerenciamento de conflitos e violências na sala de aula, pautada nos princípios da mediação requer muita reflexão e comprometimento por parte da comunidade escolar. O tema além de ser complexo por tratar-se de relações humanas, de certa forma ainda se agrava por trata-se de relações de poder e verdades absolutas. Para tanto, a presente pesquisa não intencionou responder todas as questões que se apresentam, nem tão pouco "receitar" estratégias. Porém, ao analisarmos as publicações científicas dos autores citados neste artigo foi possível evidenciar que uma política estratégica de gerenciamento de conflitos e violências, pautada na mediação, quando bem discutida e estruturada pode proporcionar resultados bem mais positivos em relação as estratégias praticadas atualmente na escola. Não basta somente buscar quem esta certo ou errado e sim possibilitar que ambas as partes conflitantes reflitam sobre suas condutas resignifiquem suas atitudes e ações.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY,M e CASTRO, M.G. Caleidoscópio das Violências nas Escolas. Brasilia: Missão criança , 2006.

ABRAMOVAY, M e RUA, M. Violências nas Escolas. Brasilia: UNESCO, 2002.

ORTEGA, R. Educar a Convivência para Prevenir a Violência. A.Machado livros. Madrid.2000

ESTRELA, Maria Tereza. Relação Pedagógica, Disciplina e Indisciplina na Sala. 2.ed. Porto: Porto, 1994.

ORTEGA, R, REY, R. Estratégias Educativas para a Prevenção da Vilolência. Brasilia: UNESCO, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1981.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Plano Diretor Para o Jequitinhonha. Belo Horizonte: Centro de Estudos Regionais, 1998. Disponível em: http://www.iis.com.br/~thequest/funda.htm. >Acesso dia 03/01/2010.

ALVES, Maria Bernadete Martins; ARRUDA, Susana margaret de. "Como Elaborar um Artigo Científico". Disponível em :http://www.bu.ufsc.br/design/ArtigoCientifico.pdf. >Acesso dia 06/02/2010.


[1] Educador licenciado em Pedagogia pela Universidade Guarulhos e Licenciado em Geografia pela Universidade Metropolitana de Santos. Atualmente atua como consultor pedagógico na rede pública e como Tutor Presencial em cursos de graduação e especialização na modalidade EAD.


Autor: Adilson Alves


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