Vamos voltar pra casa?



Vamos voltar pra casa?  

Muitos são os caminhos desta vida e escolhê-los faz parte de nosso exercício do livre arbítrio. Fazer isso ou não, é algo que caberá a cada um decidir.

Podemos olhar para trás, buscar nossas próprias referências e comparar a vida que foi, com a vida que é.

Uma das mais belas metáforas que conheci, trata da comparação entre nosso próprio ser, com nossa casa.  Onde moramos de fato e de direito.

Durante a infância efetivamente moramos no nosso verdadeiro lar. Depois, com o tempo, começamos a sair e conhecer o mundo e suas aventuras. E assim, esquecidos de quem realmente somos  trocamos  de certa forma  o SER pelo TER.

Então algumas coisas começam a dar errado. Ao assumir o controle, as ilusões nos levam a seguir por caminhos que, se tivéssemos em contato com nossa própria essência, não trilharíamos.

O homem traiu o menino, a mulher traiu a menina. Vivemos, então, literalmente, fora de casa. Envolvidos pelo engano do ter, deixamos gradativamente de ser.

Imagine, por um momento, que você possui duas casas. Que conhece um amigo que não possui nenhuma. Então você empresta esta casa a mais, para seu amigo morar, sem nada cobrar a não ser o cuidado dele para com ela. Assim, quando seu amigo tiver suas condições melhoradas, poderá obter sua própria casa e te devolverá a casa que pertence a você. Simples assim.

Pois bem, no mundo jurídico, essa relação se chama comodato.  Ou seja, comodato é um empréstimo não remunerado. Alguém vai utilizar algo de outra pessoa, com seu consentimento, sem nada pagar por isso. Não é complicado como pode parecer à primeira vista. A grande dificuldade é que isso passa pela palavra desprendimento, coisa bastante estranha no mundo de hoje.

Bom, entendido o que seja comodato, a afirmativa seguinte é: nosso corpo é um comodato. Recebemo-lo para morar durante certo tempo e depois o devolveremos. É nossa casa, que insistimos tanto em abandonar, para viver aventuras prometidas pela ilusão do verbo ter.

Na verdade nada poderemos ter. Mas em verdade, muito poderemos ser. E ai surge uma das maiores ironias da vida: muitos pensam que possuem tanto e, na verdade, nem a si mesmo chegam a ter. Vivem na busca desenfreada do ter, morando sempre fora de casa, fora de si mesmo.

Há uma coisa da qual não se pode fugir: não existimos fora de nós, existimos dentro. O mundo, tal qual o vemos lá fora, está, verdadeiramente DENTRO de nós.  Carregamos tudo isso e não conseguimos perceber, pois estamos sempre fora de nós.

Tudo bem que isso possa parecer confuso. Mas, imagine que você conquistou todas as fortunas possíveis e imagináveis. Mas, ironicamente perde apenas a casa onde deveria estar morando: seu corpo.

Quem tem o quê agora?

Por isso, a vida, o ser, é o que realmente conta. Portando, bastará que o alarme da insatisfação seja ouvido e obedecido, que tudo voltará ao normal.

Bastará voltar para casa e tudo se resolverá. Bastará entender o valor da vida e tudo o mais ganhará seus reais significados. Extinguir-se-ão, como que por encanto, todas as ilusões e seus falsos mistérios. E todas as escolhas serão feitas com a consciência que elas exigem...

Vamos voltar para casa?


Autor: Joaquim Saturnino Da Silva


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