Desconstruindo O Mito Da Imparcialidade Jornalística: As Várias Vozes Inseridas No Discurso Do Jornal Nacional



Fernanda Schneider
Claudia Stumpf Toldo
(Orientadora)
(Universidade de Passo Fundo)

RESUMO: A questão da polifonia suscita a reflexão em torno da heterogeneidade da língua. Oswald Ducrot (1987, 1988, 2001) comprova que o enunciado nasce exatamente do confronto de diferentes sujeitos e que as palavras dizem muito mais do que parecem estar dizendo. Assim, o objetivo deste estudo é analisar as várias vozes presentes no discurso do Jornal Nacional. Para isso, no primeiro capítulo desta pesquisa, traçamos um panorama sobre a Teoria da Argumentação na Língua (T.A.L.), desenvolvida, inicialmente, por Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre, dando ênfase aos estudos sobre a polifonia. No segundo capítulo, situamos o Jornal Nacional no gênero textual telejornal e sublinhamos alguns aspectos relevantes abordados por Mikhail Bakhtin, por Luiz Antônio Marcuschi e José Luiz Meurer. O terceiro e último capítulo compreende o desenvolvimento da metodologia e da análise do corpus desta pesquisa, composto por trechos de textos do Jornal Nacional. Esta investigação permite observar que o discurso, mesmo de forma implícita, é organizado em função de uma conclusão a que se deseja chegar. Ao inserirem-se diversas vozes no texto do Jornal Nacional, a posição do sujeito empírico é evidenciada e procura-se fazer com que o ouvinte compartilhe de sua opinião.

PALAVRAS-CHAVE: argumentação; polifonia; gênero textual.

ABSTRACT: The polyphony raises the reflection around the heterogeneity of the language. Oswald Ducrot (1987, 1988, 2001) shows that the statement was born exactly the confrontation of different subjects and that the words say much more than appear to be saying. The objective of this study is to analyze the various voices in the discourse of the Jornal Nacional. For that, in the first chapter of this research, we present an overview on the Theory of Arguments in Language (TAL), developed initially by Oswald Ducrot and Jean-Claude Anscombre, giving emphasis to studies on the polyphony. In the second chapter, find the Jornal Nacional in the textual genre news and stress some relevant issues raised by Mikhail Bakhtin, by Luiz Antonio Marcuschi and José Luiz Meurer. The third and last chapter covers the development of the methodology and the analysis of the corpus of this research, composed of fragments of texts of the Jornal Nacional. This research enables noted that the speech, even so implied, is organized according to a conclusion to which they want to reach. By entering is different voices in the text of the Jornal Nacional, the position of the empirical subject is evident and seeks to make the listener share his view.

KEYWORDS: argument; polyphony; textual genre.

INTRODUÇÃO

Constatando-se que nas sociedades modernas, em que os meios de comunicação interferem diretamente na formação/deformação da opinião das pessoas, sejam elas crianças, jovens ou adultos, não há mais como negar a importância de pesquisas integradas entre comunicação e educação, para resultados mais eficazes nos procedimentos pedagógicos nas escolas.
Por um lado, temos jornalistas, apresentadores e repórteres que ao escrever ou falar são vetados de utilizarem a primeira pessoa, em prol de um aparente uso de objetividade e imparcialidade da mídia, por outro lado, a escola que tem entre outros deveres o de desenvolver a leitura competente, oportunizando ao aluno a compreensão dos diferentes tipos de textos. A pessoa que fala/escreve sempre deixa suas “marcas” na enunciação, mesmo optando pela busca da objetividade. O leitor competente deve identificar essas marcas. Considerando esse contexto, o presente estudo surgiu de uma inquietação em torno do discurso produzido pela mídia e a presença da polifonia nesse discurso. Essa inquietação suscitou uma reflexão em torno da crença da unicidade do sujeito e da comprovação da heterogeneidade inscrita na língua.
Para realizar esta pesquisa, partiremos primeiramente de algumas questões teóricas relativas à Teoria de Argumentação na Língua, desenvolvida, inicialmente, por Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre. Em seguida, apresentar-se-á um panorama sobre o fenômeno da polifonia e suas relações com a argumentação, de acordo com as teorias propostas por Ducrot. No segundo capítulo, situamos o Jornal Nacional no gênero textual telejornal e sublinhamos alguns aspectos relevantes abordados por Mikhail Mikhailovitch Bakhtin, por Luiz Antônio Marcuschi e José Luiz Meurer. O terceiro e último capítulo compreende o desenvolvimento da metodologia e da análise do corpus, composto por trechos de reportagens do Jornal Nacional. Nesses trechos, com base na teoria polifônica da enunciação, analisamos e verificamos as diversas vozes inseridas nos enunciados e como se posiciona o locutor - com quais enunciadores ele se identifica, quais ele rejeita ou quais ele aprova. Essa análise além de proporcionar o estudo e a aplicação das teorias, serve como sugestão para que outras reflexões surjam a partir dessa apreciação.

1. Polifonia: as vozes polêmicas no discurso

Neste capítulo, pretendemos sublinhar algumas questões teóricas referentes aos estudos de Oswald Ducrot, sobre a polifonia na análise lingüística. O autor propõe uma reflexão importante, desenvolvendo conceitos primeiramente propostos por Bakhtin. Para Ducrot (1988), as palavras, organizadoras do discurso, dizem muito mais do que parecem estar dizendo. Assim, o que está explícito, na superfície textual, é um dos componentes da construção do sentido de um texto, mas não é o único. Para entendermos melhor esses conceitos, faremos algumas considerações sobre a Teoria da Argumentação da Língua, em especial, aspectos que envolvem a teoria da polifonia.

1.1. Estudos sobre a argumentação

1.1.1. A Teoria da Argumentação na Língua, de Oswald Ducrot

Oswald Ducrot, juntamente com Jean-Claude Anscombre (1983), iniciou, em meados da década de 80, o estudo que enfatiza a força argumentativa nos enunciados. De uma forma geral, o que Ducrot defende é a idéia de que o ato de enunciação tem suas funções argumentativas, ou seja, leva o tu a uma determinada conclusão ou a desviar-se dela. O principal pressuposto é que a argumentação está inscrita na própria língua, por isso o que interessa é o que está dito no enunciado.
A Teoria da Argumentação na Língua (T.A.L.) de Ducrot e Anscombre opõe-se à concepção tradicional de sentido. Na concepção tradicional, um discurso é argumentativo se contiver argumento e conclusão, sendo que o primeiro indica um fato passível de ser julgado como falso ou verdadeiro, independente da conclusão. Em seus estudos, Ducrot refuta essas condições, pois para ele as palavras só têm sentido completo quando tiramos conclusões delas, não podendo assim, um argumento ser entendido disjunto de sua conclusão. Nesse sentido, as formas lingüísticas também são determinantes das possibilidades argumentativas e não somente os fatos em si. São essas formas que permitem determinadas argumentações e não outras, o que corrobora com a consideração já apresentada anteriormente, de que a argumentação está marcada na própria língua, e não fora dela. Assim, o que transforma as coisas do mundo em argumentações é o valor lingüístico inscrito nos enunciados produzidos pelos falantes.
Opondo-se aos conceitos tradicionais da argumentação na língua, Ascombre e Ducrot pretendiam construir outro modo de ver a argumentação. A Teoria da Argumentação da Língua estaria orientada para a continuação do discurso e não para o pensamento e nem para a realidade. Isso justifica o fato de não podermos fazer a análise semântica de um enunciado isolado. O enunciado direciona o interlocutor a certa conclusão. Para compreender o locutor, é preciso verificar o que ele quer dizer, perceber intenções, prever a continuação do discurso, enfim, antecipar suas conclusões.
Ao longo do desenvolvimento da sua teoria, Ducrot e seus colaboradores, vêm questionando e reformulando a teoria de argumentação da língua, que apresenta três versões. A primeira é denominada como a forma standard e compreende os trabalhos pertinentes às primeiras noções da teoria. A segunda ficou conhecida pela forma “recente”, apresentada nas conferências de Cali (1988), e tem como principal característica a introdução das noções de polifonia e de topos no estudo da argumentação. E, a terceira versão é tratada como a teoria dos blocos semânticos.
Devido a sua aplicabilidade em estudos de discursos jornalísticos, utilizaremos para a proposta de análise do discurso do Jornal Nacional, a segunda versão da T.A.L., ou seja, a forma “recente”, que apresentamos a seguir, envolvendo principalmente a teoria da polifonia.

1.2. Do conceito tradicional de polifonia à polifonia inscrita na língua

Oswald Ducrot retoma o uso da polifonia, feito por Mikhail Mikhailovitch Bakhtin para opor e caracterizar as formas dogmáticas e populares da literatura, e faz uma adaptação à análise lingüística do sentido. Ducrot mostra que o autor de um enunciado não se expressa diretamente, ou seja, ao falar/escrever põe em cena certo número de personagens. Assim, o sentido de um enunciado é o resultado das diferentes vozes que nele estão presentes.
A seguir, daremos destaque à Teoria Polifônica, considerando que nosso interesse é observar a construção argumentativa do Jornal Nacional, tendo como ponto de partida as diferentes vozes inseridas nesse discurso. Para isso, apresentamos a polifonia na perspectiva lingüística, desenvolvida por Ducrot.
1.2.1. A forma recente da argumentação na língua: a polifonia.
No segundo momento da T.A.L., denominado forma “recente”, as noções de topos e de polifonia são a base para a análise argumentativa dos enunciados. Foram esses dois conceitos que fizeram com que houvesse uma transformação na forma Standard (primeiro momento da teoria). Sabemos da relevância do conceito de topos para a argumentação, no entanto, para este estudo delimitamo-nos ao conceito da polifonia.
Nesse momento da teoria, a argumentação é vista como parte do sistema, ou seja, inerente à língua. Assim, a enunciação está diretamente determinada pela língua e não pelo fato presente no enunciado. Para dar seqüência a esta teorização é de grande importância compreender que na forma recente, a argumentação está descrita pelos enunciadores apresentados nos enunciados.
A questão discutida por Ducrot, a respeito da polifonia, desenvolve conceitos estudados por Bakhtin e propõe uma reflexão importante: as palavras dizem muito mais do que parecem estar dizendo.
Para Ducrot

Queremos adaptar a noção de polifonia para a análise propriamente lingüística dos pequenos segmentos do discurso que chamamos de enunciados. Tentaremos mostrar que o autor de um enunciado não se expressa nunca diretamente, sem que ponha em cena em um mesmo enunciado, certo número de personagens. (1988, p. 16)

Assim, Ducrot comprova que o enunciado nasce exatamente do confronto de diferentes sujeitos e o sentido do enunciado não é mais do que “o resultado das diferentes vozes que ali aparecem”, (DUCROT, 1988, p. 16).
Segundo a visão ducrotiana, dizemos sempre alguma coisa em favor de algo. De acordo com essa afirmação, Ducrot ocupa o conceito de polifonia de Bakhtin, mas na lingüística, questionando a concepção da unidade do sujeito, segundo a qual por trás de cada enunciado haveria uma e somente uma pessoa que fala.
O autor salienta que

Por minha parte penso que essa unicidade do sujeito falante é muito menos evidente do que habitualmente se pensa, em todo caso me parece que carece de muitas dificuldades. Para resolvê-la, construímos uma teoria polifônica da enunciação, segundo a qual um mesmo enunciado tem presente vários sujeitos com status lingüísticos diferentes. (DUCROT, 1988, p 16)

A noção de que inevitavelmente o discurso é atravessado por diversas vozes - princípio da heterogeneidade - foi trabalhada, entre outros autores, por Bakhtin, Ducrot e Jacqueline Authier. Esses autores tinham o objetivo de comprovar que o sujeito comunicante não é a única fonte e origem de seu dizer. Isso demonstra o equívoco da noção de que num discurso há um único sujeito.
Considerando este contexto, é nesse ambiente de afirmação do heterogêneo, do diferente, do outro, das várias vozes constituintes do projeto de fala do sujeito comunicante, que se insere a polifonia. O sujeito comunicante ao utilizar da cena enunciativa proposta por ele, argumenta, faz com que os atuantes do processo de enunciação movam-se, dando vida aos conteúdos discursivos, por meio da palavra.
Telisa Furlanetto Graeff afirma que,

A teoria da polifonia (Ducrot, 1988) foi criada com o objetivo de desinformatizar radicalmente a semântica lingüística, isto é, de livrá-la de qualquer resquício de valor referencial, ligado ao mundo dos seres, das coisas e das relações. Concebendo o sentido de um enunciado como descrição que ele dá de sua enunciação, Ducrot explica esse sentido como resultante de diversas vozes, comandadas por um locutor, sendo este o responsável pelo enunciado e pela colocação em cena de enunciadores, que representam pontos de vista, com os quais ele pode discordar, concordar e/ou se identificar. (2006, p 126)

É nesse sentido que Ducrot (1987; 1988; 2001) contesta a unicidade do sujeito, alegando que no enunciado, não há apenas uma pessoa que fala, mas há vários sujeitos com status lingüísticos diferentes: o sujeito empírico, o locutor e o enunciador.
Ducrot (1988 p. 16-17), remete cada sujeito a funções diferentes: o sujeito empírico (SE): o ser real, o autor efetivo do enunciado; o locutor (L): aquele que fala no texto e a quem se confere a responsabilidade enunciativa e o (s) enunciador (E) (es): que são os pontos de vistas abstratos que são apresentados e que podem ser identificados com o do locutor. Num enunciado, apela-se ao discurso do próprio locutor, mas também a pontos de vistas de outros. E nesse sentido, a noção do outro não é somente a de que este está sempre presente (em que se fala sempre para alguém), como também o seu ponto de vista e de outros estão sempre incorporados no discurso do locutor. Dos três sujeitos falantes presentes em um enunciado, interessam para a lingüística, segundo Ducrot, o L e o E, e não o SE – que é, na verdade, o produtor físico do enunciado.
O autor argumenta

[...] a determinação do SE não é um problema lingüístico. O lingüista e em particular o lingüista semanticista deve preocupar-se pelo sentido do enunciado, deve descrever o que disse o enunciado, o que este aponta. De maneira que o que interessa é o que está no enunciado e não as condições externas se sua produção. (DUCROT, 1988, P.17)

Assim, para o autor, a determinação do SE é mais uma questão para ser discutida pela sociolingüística e psicolingüística. Por isso, o que interessa é o L e o E, pois esses têm suas marcas no próprio enunciado. A presença, por exemplo, do locutor é marcada pelos pronomes e verbos referentes à primeira pessoa. Em um texto literário, o locutor é o narrador. Alterando-se sua fala com a fala de algum personagem temos a presença de mais de um locutor.
Tratando-se das diferenças entre o L (locutor) e o (E) enunciador, podemos dizer que L, corresponde ao ser que “fala”, ao responsável pelo enunciado, pelo discurso, e E é a pessoa sob a qual o ponto de vista dos acontecimentos é apresentado.
É importante, neste momento do trabalho, que se tenha clareza de que os enunciadores não são pessoas, mas “pontos de perspectivas abstratos” e de que o locutor pode ser identificado com alguns desses enunciadores, mas comumente, guarda distância deles. Isso será mais bem compreendido posteriormente, pois essa é a base para a nossa análise. No entanto, faz-se necessário elucidarmos a noção de “pontos de vista abstratos”.
Para elucidar esses pontos de vistas, Ducrot vale-se do humor – em que um dos pontos de vista é absurdo ou insustentável em si mesmo ou no contexto. Este ponto de vista não é atribuído ao locutor e no enunciado não há nenhum enunciador que retifique o ponto de vista absurdo; e da negação –inspirado em Freud, Ducrot salienta que quando temos a enunciação de uma frase negativa “não-P”, há a expressão de duas vozes, a da libido – que se expressa por meio de P; e a do superego – que se expressa pela reprovação ligada ao “não”. Desse modo, é que a negação permite dizer determinadas coisas e simultaneamente censurá-las, agradando a todos.
De acordo com essas explicações, compreendemos a concepção lingüística que Ducrot apresenta,

[...] em um enunciado negativo não-P, há pelo menos dois enunciadores: um primeiro enunciador E1, que expressa o ponto de vista representado por P, e um segundo enunciador E2 que apresenta uma reprovação a esse ponto de vista. Um enunciado negativo é uma espécie de diálogo entre dois enunciadores que se põem um ao outro (Ducrot, 1988, p. 23).


Segundo o autor, o pensamento apresentado anteriormente explica determinados fenômenos lingüísticos como o uso de pronomes anafóricos, de “ao contrário” e dos mal-entendidos. E dessa forma, podemos afirmar que o locutor põe em cena uma série de enunciadores que podem não ser assimilados a ele. Essa noção é importante para este trabalho, por isso, tomemos o conceito de assimilação.
Para Ducrot (1988; 2001) devemos considerar três elementos do sentido. O primeiro elemento refere-se ao fato de que aos enunciadores são associados aos pontos de vista que são apresentados; o segundo elemento corresponde a certas atitudes do locutor com relação aos enunciadores. Essas atitudes, apesar de serem diversas, são distinguidas pelo autor em quatro: a de identificação – em que ao enunciador é dado o papel de porta-voz, pelo locutor, de modo que a enunciação é destinada a apresenta o ponto de vista do enunciador; a de aprovação – na qual há uma indicação de que o locutor está de acordo com o enunciador; a de oposição – em que o locutor repele o ponto de vista do enunciador, opondo-se a ele; e a de consideração do enunciador como objeto de crença, de desejo. E o terceiro e último elemento, que é a assimilação de um enunciador a uma pessoa X. Dessa forma, a escolha dos pontos de vista dos enunciadores é, no enunciado, atribuída ao locutor, assim como certas atitudes com relação aos enunciadores e a identidade desses enunciadores (que podem ser diferentes seres).
De acordo com o que vimos, os pontos de vista apresentados no enunciado são conduzidos pelo locutor. Entretanto, podemos dizer que o locutor, considerado aqui como um ser discursivo e não um ser do mundo, não se apresenta como responsável por todos os pontos de vista. De forma contrária, ele dá lugar aos enunciadores e responsabiliza-os pelos pontos de vista. Embora possam apresentar pontos de vista de natureza diversa, sempre deixarão transparecer um ponto de vista que o locutor tem sobre o alocutário, ou seja, o receptor da mensagem. O locutor pode, também, assimilar esses enunciadores ao alocutário, a terceiros, ou aos dois, como se fossem eles que apresentassem tal ponto de vista. O sentido de um enunciado depende da decodificação dos pontos de vistas (enunciadores). No entanto, o enunciado dá indicações sobre qual conclusão se “deve” chegar. Nesse sentido, a teoria polifônica de Ducrot está associada a uma perspectiva de argumentação na língua e as conclusões retiradas no potencial argumentativo do enunciador podem ser implícitas e assumidas por ele ou não. Esses conceitos elucidados serão de fundamental importância para a análise do corpus.
Antes de passarmos efetivamente para a análise do corpus, dedicamos o capítulo a seguir ao estudo do gênero textual. Decorrentes do coletivo, os gêneros colaboram na ordenação e estabilização das atividades comunicativas, em nosso dia-a-dia. Abordaremos essa questão, que tem sido fruto de muitos estudos nesses últimos anos, considerando as pesquisas realizadas desde Platão e Aristóteles, até os dias atuais. Isso conduzirá à análise do gênero textual cujo corpus desta pesquisa está inserido: o telejornal.

2. O gênero textual
No discurso da modernidade, palavras como informação, comunicação e mídia tornam-se comum e devem estar presentes no ensino da língua materna. Os PCNs (1996) trazem uma importante proposta para o ensino de língua portuguesa: a de fundamentar o ensino, tanto escrito quanto oral, nos gêneros do discurso. Isso suscitou um importante e significativo empenho em pesquisas, cujo objetivo é descrever a diversidade considerável de gêneros. Neste capítulo, apresentaremos algumas considerações sobre a noção de gênero textual e sobre o gênero telejornal.

2.1. Gênero e tipologia do discurso de informação

Patrick Charaudeau (2006) propõe definir o gênero de informação midiática de acordo com o cruzamento entre tipos de instância enunciativa (origem do sujeito falante e seu grau de implicação); modo discursivo (o que transforma o acontecimento midiático em notícia atribuindo-lhe propriedades que dependem do tratamento geral da informação); conteúdo temático (acontecimento de política nacional ou estrangeira, acontecimento cultural, esportivo...) e tipo dispositivo (traz especificações para o texto e diferencia os gêneros de acordo com o suporte midiático: imprensa, rádio, televisão).
De uma determinada classificação dos gêneros, resulta a tipologia. Uma tipologia somente pode ser construída operando-se uma escolha das variáveis que se decide levar em conta. Apresentar um modelo acarreta alguns problemas decorrentes da complexidade dos gêneros, no entanto, pode-se utilizar de uma hierarquização e construir uma tipologia de base. Foi considerando essas características que Charaudeau (2006, p. 208) formulou os seguintes eixos de tipologização:

Como podemos observar, Charaudeau construiu uma tipologia de base e inseriu outras variáveis no interior dos eixos, construindo tipologias sucessivas que se encaixam no modelo de base. Assim, tem-se um princípio de tipologização dos gêneros.
A partir deste estudo sobre os eixos de tipologização, devemos ter clareza que os gêneros, como afirma Charaudeau “inscrevem-se numa relação social de reconhecimento, trazendo uma codificação que lhes é própria – própria a seu contexto sociocultural – e podem então variar de um contexto a outro [..] e uma época a outra” (2006, p. 211). Assim, o discurso do Jornal Nacional dos anos 60 é, ao mesmo tempo, diferente e semelhante do Jornal Nacional atual. É sobre as características do gênero em que o Jornal Nacional está inserido, que dedicaremos o tópico a seguir.

O telejornal

Resultante de combinações de diferentes tipos de enunciação e diferentes regimes de exibição, o telejornal é uma forma televisual bastante complexa. Anúncios, reportagens, resultados de pesquisas e de investigações, entrevistas, mini-debates, análises de especialistas, são algumas das formas televisuais que integram o telejornal. Assim, decorrente dessa diversidade de categorias presente, pode-se considerar que relacionado ao eixo de tipologia apresentado no item anterior, o telejornal ocupa uma posição média.
De acordo com Charaudeau,

No eixo vertical, [o telejornal] encontra-se na parte superior corresponde à instância interna, pois tudo é orquestrado: pela redação sob a supervisão de seu responsável, pela produção que deverá executar as instruções deste último e pelo apresentador que assegura a coordenação e traz sua contribuição pessoal de sedução. Do ponto de vista do engajamento, deveria encontrar-se na parte de baixo desse mesmo eixo, pois deveria apagar-se por detrás da realidade do mundo e de seus comentaristas; entretanto, não deixa de impor sua visão dramatizante do mundo, pela pregnância da visada de captação. Com relação ao eixo horizontal, poder-se-ia pensar que ele se encontra mais para o lado do acontecimento relatado (AR), em credibilidade: relatar os fatos tais como eles são. Na realidade, ele cobre o conjunto de modos discursivos, pois trata-se não somente de dar conta dos fatos, mas também de comentá-los (AC), apelando para especialistas, e provar debates (AP) sobre os temas mais pregnantes, convidando responsáveis pelos diversos setores sociais. (2006, p. 228)

Conforme essas constatações é que percebemos que o telejornal é uma seqüencialização dos três modos discursivos: AR, AC e AP, sendo que o tempo dedicado a cada seqüência é variável. No entanto, há uma tendência recente, cabível de um trabalho de comparação entre diferentes épocas, que é o fato de o telejornal prolongar as seqüências AC e AP, a ponto de aumentar o tempo habitual de certas transmissões.
Dentre as características do telejornal, existem dois aspectos dominantes da encenação discursiva que se deve, em comparação com os demais gêneros, a especificidade do telejornal: o propósito e a construção da identidade dos parceiros e de suas relações.
Marcado pela atualidade, o propósito está voltado para os acontecimentos do dia-a-dia que são notícias. O que se espera do telejornal é um recorte que mostraria o que aconteceu no espaço público, durante determinado tempo e igual para todos os telespectadores. Com o intuito de corresponder à fragmentação do cotidiano do espaço público, o telejornal procede a uma fragmentação temática. No entanto, o que se determina como fragmentação do cotidiano do espaço público, é na verdade uma fragmentação convencional do mundo midiático, imposta como “um pensamento único, do que são os acontecimentos do mundo.” (CHARAUDEAU, 2006, p. 229).
Tendo seu papel principal desempenhado pelo apresentador, a identidade é determinada pelo conjunto de encenação do telejornal. O apresentar usa de modos discursivos diversos e de acordo com Charaudeau, “constitui o pivô da encenação do telejornal” (2006, p. 229). Ele exerce uma função de interface que são quase simultâneas, o mundo referencial e o telespectador, por um lado; e por outro o estúdio (que constitui a materialização do mundo midiático) e o telespectador. Assim, o apresentador tem importante papel de “organizador do processo evenemencial” (2006, p. 230), ou seja, ele se apaga, se faz diáfano e constrói uma imagem de enunciador impessoal, e isso não o torna anônimo, pois ele se coloca no discurso, mesmo tentando apagar as marcas de subjetividade. Dessa forma, esse ser “anônimo” não existe, pois todo discurso carrega consigo marcas de representação de um sujeito que confere uma visão de mundo.
Considerando essas características, percebe-se que o gênero telejornal, sob a pretensão de apresentar ao telespectador os acontecimentos que surgem no mundo referencial, nada mais faz do que apresentar um mundo por ele construído e parcelado. De maneira igual, propõe permitir melhor compreensão dos fenômenos, fornecendo-nos explicações pontuais e fragmentadas, por meio dos comentaristas. Temos assim, a ilusão da unicidade do sujeito e, conseqüentemente, a crença na parcialidade. No entanto, como já apresentamos no primeiro capítulo deste trabalho, todo enunciado é polifônico, ou seja, decorre do confronto de diferentes vozes que nele aparecem. Essas noções serão mais bem detalhadas no capítulo a seguir, em que será apresentada a análise.




3. Metodologia
O propósito deste capítulo é analisar as diversas vozes inseridas no discurso do Jornal Nacional, com base na T.A.L. de Oswald Ducrot. Mais especificamente, utilizando-se da teoria polifônica da enunciação, temos a intenção de verificar a presença de enunciadores (pontos de vista) em trechos dos textos em análise. Diante disso, observaremos se o discurso, mesmo que de forma implícita, é organizado em função de uma conclusão a que se deseja chegar. Constataremos qual o princípio argumentativo que orienta a argumentação feita no discurso do Jornal Nacional ao utilizar em seu texto diferentes enunciadores. Para isso, consideramos os seguintes passos:
1) levantamento dos pontos de vista (faremos somente o levantamento de enunciadores mais importantes para a posição do locutor)²;
2) verificação da posição assumida pelo locutor em relação aos pontos de vista;
3) agrupamento dos pontos de vista com os quais o locutor se identifica, ele aprova ou ele se opõe.
4) análise das relações argumentativas em função de uma conclusão que se deseja chegar.

Para melhor organizar a análise, utilizou-se (S) para esclarecer de qual segmento do texto estão os enunciados analisados, (L) para locutor e (E) para enunciador. Primeiramente, foram levantados os enunciadores dos segmentos do texto. Em seguida, verificou-se qual era a posição assumida pelo locutor em relação a esses enunciadores.
Consideramos importante salientar que O Jornal Nacional possui grande audiência – cerca de 35 pontos no IBOPE - isso explica a opção por esse corpus. Como já salientamos, mesmo não sendo este o foco de análise, não se pode deixar de considerar o poder que a mídia exerce sobre o ouvinte. Assim, foram analisados trechos de 3 reportagens do Jornal Nacional, veiculado pela Rede Globo, em que se considerou como se dá a ocorrência da polifonia, nesse gênero textual. Primeiramente, abordamos a questão dos sujeitos envolvidos no discurso apresentado. Depois, verificaremos a importância deles para o texto e, finalmente, os efeitos desses recursos quanto à argumentação.
Na seqüência, apresentaremos os trechos selecionados, com a respectiva análise. Consideramos importante esclarecer que colocamos os trechos analisados no corpo do trabalho e, em anexo, as reportagens na íntegra.

3.1. Análise dos dados

Seguindo os estudos propostos por Ducrot, analisamos a polifonia enunciativa do discurso do Jornal Nacional, identificando as vozes presentes no telejornal, apontando os locutores e enunciadores, desse discurso, e as perspectivas de enunciação dominantes.


Texto 1 (Anexo 1)

O trecho a seguir faz parte de um texto noticiado no dia 3 de abril de 2007, anunciando uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas sobre o grande número de jovens brasileiros de até 17 anos, que se encontram fora da escola:

1) Análise polifônica do segmento 1
E1 [um em cada quatro brasileiros até 17 anos está fora da sala de aula] L aprova
E2 [todos os brasileiros até 17 anos estão em sala de aula] L se opõe
E3 [estudantes estão fora da sala de aula] L se identifica

2) Análise polifônica do segmento 2
E1 [não quero trabalhar em mercados] L aprova
E2 [quero trabalhar em mercados] L se opõe
E3 [o presente não é bom] L se identifica

3. Análise do segmento 3
E1 [a necessidade de trabalhar não é o principal] L aprova
E2 [a necessidade de trabalhar é o principal] L se põe

4. Análise do segmento 4
E1 [metade dos jovens abandonou os estudos porque não gostava desse lugar] L aprova
E2 [metade dos jovens gostavam desse lugar] L se opõe

5. Análise do segmento 5
E1 [a escola tem que atrair meninos e meninas para sala de aula] L aprova
E2 [ a escola precisa atrair meninos e meninas] L se identifica
E3 [a escola antes não esteve diante de um grande desafio] L se identifica
E4 [a escola antes não esteve diante de um grande desafio] L se identifica

6. Análise do segmento 6




E1 [as escolas são atrativas] L se opõe

E2 [as escolas não são atrativas] L se identifica
E3 [é preciso criar atratividade nas escolas] L aprova
E4 [a escola tem um conteúdo pedagógico suficiente em termos de colocação no mercado de trabalho] L se opõe
E5 [a escola não tem um conteúdo suficiente em termos de colocação no mercado de trabalho] L aprova

Abordando o texto numa perspectiva interacional, sabemos que o objetivo do escritor/sujeito empírico é ter suas idéias aceitas. No caso do Jornal Nacional, (assim como nos demais textos) não se trata de uma mensagem simples, mas sim da necessidade de ser “ouvido”, “aceito” o seu ponto de vista, pelo ouvinte. Nesse sentido, temos um locutor, falando com determinada perspectiva, que na voz de um enunciador estabelece a comunicação. Comprova-se a presença dos enunciadores que têm suas argumentações aprovadas ou não pelo locutor.
A partir da análise da posição do locutor, percebe-se que, nos trechos apresentados, os pontos de vista defendidos convergem para a conclusão de que um a cada quatro jovens até 17 anos está abandonando a escola e os motivos são a falta de motivação, atratividade e criatividade, por parte da escola. Defende-se também o ponto de vista de que a escola está diante de um grande desafio, ou seja, tem de atrair esses jovens de volta para a sala de aula.
Passamos agora para o segundo texto.
Texto 2 (Anexo 2)
Nesse terceiro texto, o assunto abordado é a cidade de São Miguel das Missões e fez parte de uma série de reportagens intituladas Caravana JN. A reportagem foi transmitida no dia 21 de julho de 2007. Vejamos os segmentos analisados:



1. Análise do segmento 1
E1 [para que nossa nação e construção não se perca no passado como a república guarani, nem viva condenada a ser o país do futuro: Brasil.] L aprova
E2 [nossa nação e construção não podem se perder no passado] L rechaça
E2 [nossa nação e construção não pode se perder no passado como a república guarani] L se identifica
E3 [que presente deseja o brasileiro] L aprova
E4 [o brasileiro deseja um presente] L se identifica




2. Análise do segmento 2
E1: [continuar a cultura] L aprova
E2 [a cultura pode terminar] L se identifica




3. Análise do segmento 3
E1: [um país com mais justiça] L aprova
E2 [o país é injusto] L se identifica
E3: [um país com mais igualdade social] L aprova
E2 [o país tem desigualdade social] L se identifica




3) Análise do segmento 4
E1: [investir pesado em educação] L aprova
E2 [investe-se pouco em educação] L se identifica

Na reportagem, defende-se o ponto de vista de que a república guarani ficou perdida no passado e temos um país injusto e desigual, como se pode perceber no segmento 3, que faz parte de uma entrevista em que se questiona “Que presente deseja o brasileiro?”, o entrevistado responde “Um país com mais justiça, com mais igualdade social”. Nesse enunciado, temos a presença – entre os enunciadores - de um enunciador que defende que nosso país não tem justiça nem igualdade. E no segmento 4, defende-se o investimento pesado em educação e evidencia-se que até o momento, a educação está recebendo poucos investimentos.
Mesmo não tendo sido feito o levantamento de todos os enunciadores, comprovamos que a presença da polifonia, no enunciado, está a serviço da argumentação que o locutor defende. Como já comentamos anteriormente, Ducrot sempre defendeu que os enunciados são polifônicos, na acepção de que por meio de um locutor, põem em cena várias vozes, vários pontos de vista (enunciadores). Verificando-se que a argumentação está prevista na língua, pode-se afirmar que o sentido de um enunciado é delineado pela posição que o locutor assume em relação aos pontos de vista que atualiza por meio do enunciado. Dessa forma, a argumentatividade na língua fica evidente quando Ducrot (1988) propõe as funções de locutor e enunciador. Assim, o jogo encenado pelo locutor e seus enunciadores revelam qual é o ponto de vista tomado pelo locutor entre aqueles que ele põe em cena no enunciado. Em outras palavras, coloca-se em evidência o que está sendo defendido pelo locutor, ou seja, em que direção o locutor está argumentando.
No caso dos textos analisados percebe-se que nos trechos do texto 1, o ponto de vista defendido é que um em cada quatro brasileiros até 17 anos está fora da escola e que o motivo é a falta de motivação, assim a escola está diante de um grande desafio: criar atratividade. Nos trechos do texto 2, defende-se a necessidade de justiça, igualdade social e investimento em educação para que a nação e construção não se percam no passado, como a república guarani. Assim, podemos retomar as noções apresentadas anteriormente neste estudo, no sentido de que o discurso do Jornal Nacional não é objetivo e não é organizado por uma única voz. Dessa forma, em cada enunciado se fala/escreve informações em resposta a outra informação já dita/escrita; e é assim que se constrói a argumentação.
O uso da estratégia da impessoalidade elimina as marcas da subjetividade e da parcialidade ,inerente a quem enuncia. Mas, isso não significa que o jornal seja impessoal e imparcial. Ao contrário, apesar de se ter impessoalidade na argumentação e do uso de conectivos previstos na língua, há a presença de diferentes pontos de vistas evidenciadores de escolhas, para que certa direção seja mostrada, e que poderá provocar uma reação no enunciatário (tu). Desconstrói-se assim o mito da imparcialidade, muito defendida pela mídia. A direção conduz a uma defesa de “opinião” e no caso do Jornal Nacional, “essa opinião” não é única e individual, mas sim, refletiva de valores de um grupo. Fruto disso se tem um efeito de pessoalidade, de subjetividade e parcialidade.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Grande parte de jornalistas e até mesmo professores, insistem em apregoar a neutralidade da imprensa, como se apresentadores, repórteres e editores estivessem imunes à sua própria subjetividade e como se os jornais não tivessem seus interesses. Dessa maneira, prega-se o “mito da imparcialidade jornalística”. As inquietações relacionadas a esse tema, que nos acompanham desde o início dos estudos do texto e sua organização, no curso de graduação, foram responsáveis pela decisão em analisar o discurso do Jornal Nacional.
Tendo sido delimitado o corpus, consideramos apropriado para este trabalho, os estudos envolvendo a argumentação inscrita na língua. Para isso, ocupamos as pesquisas desenvolvidas por Oswald Ducrot, na Teoria da Argumentação da Língua. Ducrot (1988) na segunda fase de sua teoria (forma recente) contestou o postulado da unicidade do sujeito falante, alegando que o autor de um enunciado se expressa colocando em cena certo número de personagens. E, o que se observou aqui é que o discurso do Jornal Nacional , mesmo que de forma implícita, é organizado em função de uma conclusão a que se deseja chegar e ao inserirem-se diversas vozes no texto, a posição do sujeito empírico é evidenciada e procura-se fazer com que o ouvinte compartilhe de sua opinião.
Nossa hipótese era a de que mesmo o Jornal utilizando-se de “facetas” para deixar transparecer uma idéia de imparcialidade e objetividade, deixava ver, através da polifonia, a parcialidade e a subjetividade. Essa hipótese foi confirmada, a partir das análises feitas em trechos de reportagens do Jornal Nacional. O estudo da polifonia tornou possível perceber as diferentes vozes inseridas no discurso do jornal e as escolhas do locutor no momento em que ele rejeita, em que ele aceita ou se identifica com os diferentes enunciadores, tomando como posição determinada idéia.
Realizada esta pesquisa, se compreendermos que no discurso do Jornal Nacional – assim como nos demais textos - não há unicidade do sujeito e que a língua é argumentativa por si mesma, desconstruímos o mito da imparcialidade jornalística e podemos perceber as reais intenções de quem enuncia.


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Anexo 01
(S1) Apresentadora: um em cada quatro brasileiros até 17 anos está fora da sala de aula. É o que mostra uma pesquisa divulgada, hoje, pela Fundação Getúlio Vargas. O estudo também joga luz sobre os motivos que levam jovens a largar a escola.
(S2) Repórter: Estudar exige esforço diário de Jéssica. Uma viagem em busca de conhecimento, da Cidade de Deus na zona oeste do Rio até a sala de aula.
Entrevistada: o meu futuro depende do meu ensino e se meu ensino for bom vou ter um ótimo futuro.
(S3) Repórter: O Rio de Janeiro é o estado com maior percentual de crianças e jovens matriculados. O menor índice está no Acre, bem abaixo da média nacional. A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas também levou em consideração as faltas e a jornada escolar. É no Distrito Federal que os estudantes passam mais tempo no colégio: quase cinco horas por dia, o mínimo recomendado, mas a média nacional é inferior a quatro. E, os alunos de lá tiveram as melhores notas no exame que avalia a qualidade do ensino médio. A pesquisa também revelou os motivos que levam os jovens a abandonarem o ensino e a necessidade de trabalhar não é o principal. Um sinal claro da falta de motivação: quase metade dos jovens entre 15 e 17 anos, fora da escola, abandonou os estudos porque não gostava desse lugar. A escola agora está diante de um grande desafio: como atrair esses meninos e meninas de volta pra sala de aula?
Entrevistado: (S6) É preciso criar atratividade nas escolas, através de um conteúdo pedagógico mais identificado com a problemática deles, (é) um conteúdo pedagógico mais eficiente em termos de colocação no mercado de trabalho, escolas técnicas, etc.
Repórter: Julio Cezar trocou os cadernos pelos doces que vende na rua.
Entrevistado: No colégio não tem nenhuma área de esportes para jogar bola. É por isso que eu não venho estudar mais.
Repórter: O menino não percebe que a escola, no futuro, poderia lhe dar mais que alguns trocados. Quem tem diploma universitário chega a ganhar três vezes mais do que quem cursou até o ensino fundamental. Na escola, Vânia aprendeu que pode sonhar com mais.
Entrevistada: Eu não quero trabalhar em mercados, nem ser gari, essas coisas. Eu quero um futuro melhor pra mim e pra minha família.


Anexo 02

Repórter: Aqui em se escavando todo o passado ressurge.
Entrevistada (arqueóloga): Principalmente aqui no município de Santo Ângelo, que é sabido que a cidade moderna foi construída em cima das ruínas da redução de Santo Ângelo Custódio, que é conhecida como o sétimo povoado missioneiro.
Repórter: Os arqueólogos trabalham na terra da catedral local, cuja fachada é uma homenagem à igreja da mais preservada e famosa redução missioneira, a de São Miguel. Essas ruínas são a marca mais evidente de um grandioso projeto jesuíta de mais de 300 anos atrás. A instauração de uma república igualitária que assim como o comunismo tinha caráter totalitário. As cidades altamente organizadas eram conhecidas como reduções, pois os índios eram de fato reduzidos ao poder jesuíta. Só a população dessa redução era de 6 mil pessoas. Era o que se chama uma teocracia, o governo de Deus, o todo poderoso governava através de seus ministros, mais ou menos como os aiatolás do Irã contemporâneo. Os padres jesuítas mandavam e os índios guaranis obedeciam. Espremidos entre dois impérios em expansão, o espanhol e o português, os jesuítas foram expulsos e os guarani dizimados. Hoje, cerca de 200 índios vivem de um passado que mal conhecem. Além da língua que ainda preservam, a utopia guarani deixou uma marca cultural que forjou o Rio Grande do Sul: a criação de gado.
Entrevistado 1: Produção de leite, da mandioca, o milho, o feijão, [é] tem produção do gado também”.
Repórter: Professor da escola local, o senhor Alfonso Tencati sabe que hoje mesmo o lavrador não sobrevive sem um insumo básico.
Entrevistado2: O acesso à educação.
(S1) Repórter: Para que nossa nação e construção não se perca no passado como a república guarani, nem viva condenada a ser o país do futuro: Brasil. Que presente deseja o brasileiro?
(S2)Entrevistado 3: É continuar a cultura.
(S3) Entrevistado 4: Um país com mais justiça, com mais igualdade social.
(S4) Entrevistado 5: Investir pesado em educação.

Autor: Fernanda Schneider


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