Segurança alimentar Agroecologia uma alternativa (Parte II



Segurança alimentar Agroecologia uma alternativa (Parte II)

Este artigo está estribado em trabalho publicado pelos Srs. MIGUEL ALTIERI, PETER ROSSETE e LORI ANN THRUPP - REVISTA DEL SUR - JULHO/AGOSTO DE 2002 - URUGUAI

A produção de alimentos, no momento atual, assemelha-se à produção de modelos mundiais de carro, ou seja, o mesmo carro produzido no BRASIL pode ser encontrado na ALEMANHA. E qual é a razão de tal globalização ou mundialização agropecuária?

A princípio temos como sendo uma forma mais dinâmica de estandardização em forma de pacotes tecnológicos, ou seja, a semente de soja de tal variedade se adapta bem a um tipo de manejo agro-defensivo, com um tipo de espaçamento, um determinado tipo de adubação e assim por diante, e quem sabe até a um tipo de soja geneticamente modificada, que responde tão somente a este ou aquele suporte defensivo. A uniformização da agricultura defendida pelos propugnadores da REVOLUÇÃO VERDE dista em muito da AGROECOLOGIA, pois aquela pretende uma maciça mecanização com o intuito embutido de vender pacotes de máquinas especializadas para o plantio, tratos culturais e colheita. Temos como exemplo o crescente aumento de áreas com o uso da técnica de plantio direto, que só pode ser feito com máquinas especialmente desenvolvidas para tal finalidade. Não que a técnica de plantio direto seja inadequada e errada. Ao contrário, é benéfica sob vários aspectos. Mas vamos um pouco mais adiante.

Quem fabrica o desfolhante? Quem fabrica as máquinas? Quem desenvolveu esta tecnologia? Qual o custo de tal tecnologia? Ela é acessível ao pequeno produtor? E se for, a que preço?

As pesquisas informam que a REVOLUÇÃO VERDE, em detrimento da AGROECOLOGIA, não é uma estratégia mais adequada e precisa para que se erradique a fome. E aqui não se pode deixar de citar a EMBRAPA e INSTITUTOS ESTADUAIS DE PESQUISA, que se omitiram de forma quase que criminal ao não informar que determinados pacotes tecnológicos formam os responsáveis pelo aparecimento da salinificação dos solos, pela mineralização dos solos, pela destruição de toda uma biota de microorganismos essenciais para o solo e plantas, pelo desaparecimento de algumas plantas nativas fixadoras de nitrogênio, assim como o aparecimento de novas doenças e pragas que inevitavelmente redundaram na diminuição de produção de grãos se não imediatamente, mas sim em longo prazo.

Em países com uma agrometereologia diversificada, como é o caso do BRASIL, a REVOLUÇÃO VERDE prega o uso de um só tipo de sementes e até de animais reprodutores, e tais posições têm provocado uma modificação genética considerável, que por sua vez não se adapta a todas as regiões e, pior ainda, obriga os produtores a comprarem tais sementes ou reprodutores. Muitas vezes, esta obrigação é subliminar, ou seja, a mídia induz a tal ato.

Cito o exemplo da compra de reprodutores de origem européia, que são ofertados para venda e pela força da mídia, com o uso desta ou daquela dupla de cantores country (caipira metido a besta). Praticamente, força-se de maneira subliminar à compra de reprodutores, que serão utilizados em fazendas de clima tropical quente e úmido e por espelhamento, outros pecuaristas menos avisados também o farão. Pois é chique possuir na fazenda reprodutores iguais aos que o vizinho comprou daquela dupla sertaneja. E o resultado? Diminuição da libido do touro (e até do proprietário), quando os resultados são muito abaixo da crítica.

Outro detalhe que deve ser levado em conta refere-se ao fato de que os princípios ativos e as tecnologias que resultam na oferta de produtos desenvolvidos pelos partidários da REVOLUÇÃO VERDE, são desenvolvidos em lugares muito distantes de onde realmente serão aplicados. Ora, é sabido que o inseticida desenvolvido em um laboratório alemão, provavelmente será para combater com seus princípios ativos aquela finalidade local e não as condições de temperatura, luminosidade, umidade, altitude, latitude e longitude de um país como o BRASIL. A não ser que para tal, os pesquisadores tenham levado de forma a ser discutida, os insetos nocivos àquela planta para a ALEMANHA...

Há de se respeitar, contudo, a posição livre e democrática de quem entende produzir desta ou daquela forma. Não se pode engessar um tipo de pensamento e torná-lo ou tomá-lo como dogma. Mesmo porque o mundo, na sua inúmera diversidade de climas, povos e necessidades de consumo, poderá enveredar em um determinado momento pelo consumo de um ou mais tipos de alimentos, em que a cadeia de aminoácidos se apresente com a mesma disposição e constituição que não os costumeiramente consumidos (quando possível), disponíveis naquele determinado momento.

A AGROECOLOGIA, como viés de produção de alimentos, ainda é como um sonho, uma utopia em termos de atender às necessidades de consumo de uma população global. Mas é a AGROECOLOGIA, como um recipiendário, um arquivo, um banco de dados, em que se pode buscar costumes, técnicas e tradições de bem se produzir alimentos, sempre atentas às condições imprescindíveis de perfeita sintonia com o binômio ser humano x natureza. Na AGROECOLOGIA, podem-se buscar fontes interativas de conhecimentos que podem se adaptar ou até serem referências para um sistema de produção alimentar, em que não necessariamente tenha-se que incrementar áreas enormes de plantios monos. Mas sim buscar dentro das comunidades carentes e famintas, formas de se organizar sistemas produtivos tão ou mais eficientes que os nefastos e já derrotados tíquetes de alimentação ou coisa que o valha. Que tal apresentar um recibo por dia ou jornada de trabalho que dá direito a uma cesta básica?

Muitas vezes a AGROECOLOGIA como base de pensamentos reformistas e revolucionários, dá muito subsídio e material para que os adeptos da REVOLUÇÃO VERDE conquistem espaços e apoios consideráveis.

As vantagens da adoção da AGROECOLOGIA são pregadas de forma ainda um tanto incipiente, uma vez que não se consegue firmar em termos de mídia. Infelizmente os geradores de opinião são patrocinados por conglomerados internacionais, que sempre possuem interesses verticalizados em todo os sistemas produtivos, quando não na Cadeia Produtiva de cabo a rabo.

Citaria resumidamente o que escreveram os autores antes citados, MIGUEL ALTIERI, PETER ROSSETE e LORI ANN THRUPP.

Trata-se de um caminho alternativo para aumentar a produtividade ou a intensificação de produção agrícola, baseada que está em conhecimentos agrícolas vigentes no local de produção, assim como o manejo de diversos recursos e insumos que a propriedade poderá receber e de certa forma incorporar os conhecimentos científicos atualizados e dos recursos biológicos que possam ser aproveitados nos vários sistemas agrícolas.

Oferece de certa forma, a única via de recuperação real de terras degradadas, para que se tornem produtivas, desde que se obedeça a parâmetros de respeito ao que a Natureza lhe apresenta e exige. É o único caminho em que se pode com toda a segurança caminhar e implantar um programa de forma sustentável, buscando-se um aumento de produção de alimentos para sanar a fome localizada.

A AGROECOLOGIA prima pela valorização dos conceitos tradicionais de produção, tendo como base de apoio a valorização do homem e suas tradições de produzir, sem que se faça necessário colaborar como parte integrante de um cartel monopolista que exige em uma ponta, a adoção de um pacote tecnológico e na outra ponta o pagamento aviltado pelo produto colhido. Produto este que sempre estará na dependência de uma situação exótica, tal qual a Bolsa de Chicago, que é tão estranha para o produtor lá do Sítio da Abadia, como é o efeito afrodisíaco do verga-tesa do cerrado. (Quem o conhece, entendeu).

A AGROECOLOGIA valoriza a troca de bens que os pequenos produtores, possuem inclusive um muito valioso que é o conhecimento local de todas as nuances de produção, costumes e tradições.

Em um conceito maior, a AGROECOLOGIA se apresenta com uma das inúmeras alternativas de se reduzir as desigualdades ao invés de exacerbá-las, propiciando uma maior sustentabilidade no sistema produtivo para uma parcela da população faminta.

Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.


Autor: Romão Miranda Vidal


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