Em busca de caminhos mais excelentes:



Ajude seu filho a formar bons hábitos enquanto ainda é pequeno. Assim, ele nunca abandonará o bom caminho, mesmo depois de adulto.

 

Toda criança é rebelde e desobediente por natureza; para vencer esse problema é preciso um castigo severo, mas amoroso.

 

Esses dois textos da Bíblia Sagrada (VIVA 2002, p.666) nos fazem pensar na importância de se educar bem os filhos, pois a educação que receberem na infância os influenciará por toda vida. Mas qual será o melhor caminho para corrigir a criança quando essa age de maneira desagradável e inadequada? Como aplicar um castigo severo, porém com uma atitude amorosa?

 

Nos últimos anos várias discussões têm surgido, entre os estudiosos do comportamento, sobre a questão das famosas palmadas. Nossa sociedade convive com esse tipo de punição desde muitas gerações. Sabe-se que durante séculos defendeu-se uma punição severa para as crianças a fim de discipliná-las e educá-las no caminho correto. Muitos educadores acreditavam no castigo físico e aconselhavam os pais a serem rígidos no tratamento com seus filhos. Mas será que a agressão tem um efeito duradouro na educação das crianças?

 

Atualmente é visível a mudança dessa concepção de educação por parte dos educadores. Muitos pedagogos, psicólogos e especialistas do comportamento defendem que disciplina não é sinônimo de punição. Sendo assim, o fato de muitos pais usarem a força física como meio de disciplina pode funcionar momentaneamente, para interromper o comportamento indesejado do filho, mas não resolverá o problema, pois educar vai mais além, consiste em mostrar à criança o caminho certo.

 

Segundo PAPALIA (2006, p.331) por disciplina entende-se o modo de ensinar caráter, autocontrole e comportamento aceito ás crianças. É, portanto, uma ferramenta de socialização que inclui meios de moldar o caráter das crianças e de ensiná-las a exercitar o autocontrole e a ter um comportamento aceitável. Percebe-se então, a partir de uma visão pedagógica, que a educação de um filho deve ser uma ação efetiva e constituída de significado. Já dizia FREIRE (2009, p. 24) que inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado.    

 

De acordo com esse princípio, considero que quando os pais utilizam a força física para disciplinar a criança, estão demonstrando para ela que a agressão é o caminho para se resolver um problema.

 

Platão certa vez afirmou que uma das piores coisas que pode suceder a uma pessoa é praticar ela um erro, mas não ser punida por esse erro. Diante disso, quando um filho pratica atitudes erradas um castigo precisa ser aplicado com atenção e prudência e, além disso, tal castigo deve ter uma relação com a infração cometida. Tal punição não pretende envergonhar, culpar ou maltratar a criança, e sim conduzí-la á compreensão do motivo pelo qual está sendo punida. Mas será que as palmadas podem levar a criança a tais reflexões?

 

De acordo com alguns psicólogos, esse tipo de punição acarreta resultados negativos para as crianças e mostra que o adulto não exerce controle sobre a situação. Bater na criança também incentiva comportamentos agressivos e enfraquece a relação de confiança dos filhos para com seus pais.

 

A disciplina visa promover a obediência dos filhos, não a revolta. Sendo assim, pais que aplicam constantemente a punição física aos filhos, podem estar contribuindo para que estes apresentem reações violentas e tendências á depressão e baixa auto-estima. Especialistas já apontaram que a agressão, como forma de disciplina, está diretamente ligada á consequências ruins e a efeitos negativos manifestados na reação das crianças, incluindo o fato de aumentar o comportamento anti-social dos pequenos.

 

Não pretendo aqui convencer pais a abandonarem seus métodos de educação, mas a refletirem sobre a importância de se aplicar uma educação de valores, de significados, capaz de dar segurança aos filhos e ajudá-los a pensarem criticamente sobre seus atos. Diante disso a aplicação da disciplina não pode perder o sentido, como ocorre muitas vezes no caso da punição física, que perde o significado com o passar do tempo, passando a mostrar-se apenas como um refúgio imediato dos pais para estancar a hemorragia do mau comportamento.

 

Existem, nas sociedades, estilos diferentes de pais. Acredita-se que crianças educadas por pais do estilo democrático (afetuosos, respeitadores da individualidade dos filhos, que estabelecem limites sem controlar autoritariamente e sem utilizar preferencialmente a agressão física) desenvolvem mais segurança, satisfação e controle no decorrer da vida.    

 

Para esses pais que decidem não aplicar as palmadas, quais alternativas teriam para disciplinarem seus filhos? Primeiramente devem considerar que é preciso ser o exemplo daquilo que se ensina. Devem demonstrar que na vida todos precisam de limites, pois vivemos em sociedade. Podem responder á atitude errada da criança retirando dela certos privilégios, como um brinquedo, um passeio, mas sempre acompanhado de um diálogo reflexivo. Podem também utilizar um lugar específico na casa para a criança ficar por algum tempo a fim de ensiná-la que seu ato terá consequência.      

 

Além disso, é importante destacar que os pais não devem ceder ás birras dos filhos, nem voltar atrás quando aplicarem uma punição por dó da criança e precisam definir bem o que irão retirar da criança em caso de mau comportamento. Também não devem usar comparações na hora de disciplinar, comparando a criança com os filhos de outras pessoas, e não devem reprimir a criança, mas permiti-la e incentivá-la a falar sobre seus sentimentos e opiniões.

 

Deve-se lembrar que um bom diálogo é fundamental para a promoção da disciplina, pois é através dele que os pais poderão se certificar se o filho compreendeu a razão de estar de castigo. Também convém destacar que o bom comportamento das crianças precisa ser valorizado pelos pais, que devem sempre responder com reforços externos, como elogios, presentes, um abraço etc.

 

Diante desse processo de disciplina dos filhos, o que se busca na verdade é que as crianças possam obedecer de forma comprometida e não apenas porque seus pais estão olhando ou ameaçando continuamente com as palmadas. Segundo PAPALIA (2006, p.258) a obediência comprometida está fortemente relacionada com a internalização de valores e regras dos pais. Sendo assim, quando os filhos desenvolvem um apego seguro e conseguem compreender que seus pais querem seu bem estar, aí então terão mais segurança para obedecê-los.

 

O ser humano é o indivíduo mais complexo de toda criação, e como tal, está sujeito a erros e acertos. Não podemos esperar perfeição dos nossos filhos, mas podemos estabelecer critérios sábios para promover seu desenvolvimento ideal. Esses critérios precisam passar por uma educação reflexiva e construtiva capaz de instigar nossas crianças a vivenciarem por si mesmas caminhos mais excelentes, ou seja, um caminho de amor e disciplina.

 

Autora: Junia Dias Rodrigues

 

Referências:

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia  saberes necessários á prática educativa. Editora Paz e Terra. São Paulo, 2009.

 

PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento Humano. Editora Artmed. Porto Alegre, 2006.

 

VIVA, A Bíblia. Provérbios 22: 6,15. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 2002.


Autor: Junia Dias


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