QUANDO SE QUER TRABALHAR, SERVIÇO NÃO FALTA



Às vezes eu fico imaginando quanta gente fica reclamando por aí que não encontra emprego, que não encontra um serviço para fazer. Num país tão grande como o nosso, com um imenso leque de todo tipo de atividades e as pessoas não encontram um trabalho. Será que não encontram mesmo? Será que procuram direitinho um serviço para fazer? Será que querem mesmo trabalhar? Ou querem apenas salário? Será que a preguiça já não tomou conta da pessoa? Vejamos alguns itens que aconteceram comigo no decorrer de minha existência.

O meu primeiro emprego aconteceu aos 4 anos de idade. Resolvi que eu já era de maior idade, era o filho mais velho e tinha uma responsabilidade de ajudar a minha mãe nos seus afazeres domésticos. Comecei então a lavar os pratos. A pia ficava muito alta e eu tinha que ficar na ponta dos pés para executar o serviço, mas fazia-os bem feitos. Passava a esponja com sabão em todos os copos e depois nos pratos e depois ia enxaguando-os adequadamente. Muitas pessoas que viam aquilo ficavam admiradas e falavam: este menino é diferente dos outros. Assim eu varria a casa e fazia outros pequenos serviços. Não gostava de ficar parado.

Meu pai mudou para a roça. Eu resolvi mudar de atividades. Passei a ajudá-lo nos serviços da roça. Assim eu capinava e juntava o café, já que não tinha como derrubá-los dos pés. Naquele tempo era tudo manual. Juntava com o rastelo e meu pai ia ensacando-os para levar para o abano.

Aos 7 anos de idade, no Estado do Paraná eu já estava ajudando meu pai nas lavouras de amendoim, algodão, milhão, mamona. Nunca deixei de trabalhar. Fiz questão de ter também a minha rocinha que era um pedaço de chão de uns 4 metros quadrados. Ali só eu mandava e executava os serviços.

Mudamos para Mato Grosso e fomos morar numa região muito pobre. Eu mudei de serviço. Ia com minha mãe pescar todos os finais de semana. O rio era muito piscoso e nós nos mantíamos com o dinheiro do peixe que pescávamos. Além disso fiz amizade com uns vizinhos que faziam rapaduras e eu os ajudava, recebendo o salário em muitas rapaduras, doces, ovos e frutas.

Aos 9 anos de idade fomos morar numa fazenda e a vida no começo foi muito difícil. Novamente meu pai plantando lavouras e eu trabalhava como se fosse um adulto. Além disso pescava, fazia armadilhas para pegar caças, ajudava a retirar o leite na sede da fazenda, tratava da porcada e das galinhas e assim íamos tocando a vida.

A nossa vida melhorou muito nesta fazenda, mas meu pai vendeu tudo e voltamos à cidade. Ali ele foi para um garimpo bem longe da cidade e sofremos muito, pois o que tínhamos conseguido acabou e ficamos na miséria. Eu e minha mãe começamos a lutar para conseguir alimentos, já que meu pai tinha desaparecido. Depois de sofrer muito fomos falar com o prefeito que nos arrumou algum mantimento e fomos mantendo um pouco as despesas da casa. Meu pai chega e fomos morar em outra cidade. As coisas não estavam boas e ficou muito ruim. Meu pai incutiu com o garimpo e não teve sorte. Não pegava nada de diamantes e sofremos muito. Eu estava com 13 anos de idade e então revolvi encontrar algum tipo de serviço. Como ninguém dava emprego para crianças entrei para a reciclagem. Então em procurava litros, garrafas, alumínio, cobre, bronze e revendia-os na cidade. Assim permaneci por muito tempo, e mantive sempre meus estudos com meu próprio dinheiro. Com o tempo este material foi ficando escasso e então passei a vender pão numa padaria e fiquei lá por muito tempo, depois parti para outra padaria. Depois disso fiz amizade com um sitiante que me entregou todas as bananas para vender. Eu tinha muita sorte e conseguia um bom resultado com isto.Por esta época descobri grandes lavouras abandonadas na cidade com banana, mamão, maxixe, tomate, frutas, palmitos. Com este material eu passei alguns anos e graças a Deus me deu um bom dinheiro.

Escasseando esse material eu passei a trabalhar com artesanato produzindo Pipas, pinturas diversas, abajures e outras peças. Também vendi-os muito bem.

Passei depois para o garimpo e pegava ouro, diamante e carbonato. Confesso que fiz muito dinheiro no garimpo e empreguei todo o dinheiro nos estudos comprando meu próprio material escolar. Fiz o primeiro grau de 5ª. A 8ª.série toda no garimpo e ainda me sobrava dinheiro.

Antes de terminar o primeiro grau, o diretor da escola veio em minha casa me buscar para trabalhar com ele como Secretário. Foi o meu primeiro emprego público. Trabalhei com ele 4 anos seguintes e fiz todo o meu 2º. Grau. Vindo para Cuiabá prestei vestibular e entrei na UFMT. Transferi meu emprego para cá e aqui continuei por mais um ano e comecei a dar aula. Fiz o curso de Direito e Teologia e fiz mais dois cursos de especialização. Foram 33 anos dando aula até a aposentadoria. Cheguei a ter 4 empregos de uma só vez. Quase sempre eu pedia a conta por não ter mais condições de continuar naquela empresa. Ainda dando aula, entrei em um banco onde exerci as atividades por 7 anos. Também entrei na Imprensa onde permaneci por alguns anos. Mesmo com estes empregos nunca deixei de lecionar. Dei aulas em 13 escolas aqui em Cuiabá. Acabei me aposentando e abri um Lar Infantil onde estou continuando o meu trabalho como voluntário dando aulas para crianças que sempre foi a minha paixão.

Nunca me faltou emprego, sempre trabalhei, conquistei as pessoas por todos os lugares onde exerci minhas funções.Aqui o nosso Lar tem encaminhado muita gente ao trabalho, já conseguimos mais de 400 empregos nestes 7 anos de existência do Lar e preparamos mais de 2000 pessoas para o mercado de trabalho.

Temos recebido queixas de muita gente que não encontra trabalho. Algumas pessoas foram encaminhadas ao trabalho aqui por nós, mas não deram no couro e foram despedidas. A nós foi falado que estas pessoas produzem muito pouco e trazem prejuízos para a empresa. Outras empresas nos agradecem por termos enviado a elas bons funcionários.

A pessoa que quer realmente trabalhar precisa se preparar para isto. Fazer bons cursos, ter uma boa etiqueta, ter amor ao que faz, conquistar as pessoas (não ser puxa saco, pois isto só dá prejuízo), trabalhar mesmo, procurar entender bem o seu serviço, estar disposto a ajudar novos funcionários que chegam. Quem entra na chuva é pra se molhar, diz o velho ditado. Infelizmente trabalhamos com pessoas que não tem nenhum pingo de amor ao trabalho,faz só aquilo que lhe mandam fazer, como se fosse uma simples obrigação, assim que termina o horário somem no mundo. Por outro lado, não tem nenhum desejo de progredir, de ajudar a empresa, de se melhorar. Depois fica reclamando a toa. Reclamar não leva a nada, é preciso por a mão na massa.

Este país tem muito emprego, para todos os gostos. O que precisamos mesmo é nos preparar para isto, ter força de vontade, querer progredir e levar o progresso á empresa.


Autor: Henrique Araújo


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