INCÔMODO CAUSADO PELO RUÍDO NOS TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO DO GASODUTO CACIMBAS-BARRA DO RIACHO.



Este estudo analisou o incomodo sofrido por trabalhadores na construção e instalação do gasoduto que liga a UTGC (Unidade de Tratamento de Gás Cacimbas) do município de Linhares ao TABR (Terminal Aquaviário Barra do Riacho) em Aracruz, ES, em relação ao nível de ruído gerado nas atividades de soldagem e jateamento de sua construção. Assim, constatou-se que para conforto acústico, o ruído está muito acima dos padrões exigidos pela lei (NBR10151, NBR10152 e NR-17), e sobre a questão da PAIR (NR-15), o ruído mostrou-se dentro dos padrões da legislação desde que sejam usados protetores auditivos, ficando então evidente que são necessárias medidas paliativas ou mitigadoras para tratar o problema.

INTRODUÇÃO

 

As descobertas de poços de gás no litoral norte do Espírito Santo começaram a mostrar a importância do Estado dentro da matriz energética brasileira. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) , a produção dos poços Cangoá e Camarupim, será escoada para a Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas (UTGC), em Linhares (ES) e daí, uma parte dele será levado para o Terminal Aquaviário Barra do Riacho em Aracruz (TABR), através de um gasoduto de 77 km de extensão, chamado de gasoduto Cacimbas-Barra do Riacho.

 

A construção deste tipo de gasoduto possui atividades que geram alto nível de ruído,  provocados principalmente por equipamentos mecânicos, tais como os processos de soldagem e jateamento. Como estas atividades são necessárias e imprescindíveis neste tipo de construção, com Níveis de Pressão Sonora (NPS) acima de 110 db(A), os trabalhadores são submetidos à altos níveis de ruído e, assim, sentem incômodo e desconforto ao trabalhar, além de sujeitos a sérios problemas auditivos e mesmo extra auditivos, tal como estresse, pressão sanguínea alterada, etc.

 

Estudar o incômodo que o ruído ocupacional intenso, à que são submetidos os trabalhadores das equipes de soldagem e jateamento dos tubos deste gasoduto, é o objetivo deste trabalho, bem como comparar os valores de ruído medidos com os prescritos pela legislação, caracterizando o ambiente sonoro e, por fim, propor medidas para redução dos níveis de ruído.

 

METODOLOGIA

 

Na operação de soldagem, os tubos são alinhados para que sejam soldados nas extremidades e, para isso, é necessário que as máquinas de soldagem sejam transportadas ao longo do percurso. Durante este processo, os trabalhadores ficam expostos aos ruídos emitidos pelo trator que transporta as máquinas, pelo ruído emitido pela retroescavadeira que eleva os tubos e os alinha, pelas lixadeiras que retificam os cordões de solda e pelas próprias máquinas de solda.

 

Após a soldagem dos tubos em suas extremidades, a área fica exposta causando sua oxidação, que é retirada através do jateamento para, em seguida, ser revestido por uma manta de proteção contra corrosão. O alto nível de ruído é gerado durante o jateamento pelo compressor, pela escavadeira, pelo trator agrícola que transporta todos os equipamentos e pelo equipamento de jateamento propriamente dito.

 

Como o trajeto do gasoduto Cacimbas-Barra do Riacho é muito extenso, as atividades pertinentes à sua construção mudavam constantemente de local, tornando-se assim uma obra itinerante. Devido à esta mobilidade, as medições de ruído não foram realizadas sempre no mesmo local mas, sim conforme as equipe se deslocavam ao longo do trecho.

 

Portanto, foram evitadas as medições naqueles trechos onde poderia ocorrer  interferência do meio externo na medição, como por exemplo em locais próximos das rodovias, onde os veículos principalmente os de grande porte emitem um nível de ruído significativo, em locais próximos de fábricas ou perto de atividades ruidosas que poderiam influenciar diretamente nos valores dos níveis de pressão sonora medidos. Desta forma, procurou-se avaliar os ruídos emitidos apenas e tão somente pelos equipamentos específicos da atividade avaliada e sem a interferência de fontes externas.

As principais fontes emissoras de ruído, das atividades de soldagem e jateamento, estão listadas na Tabela 01, juntamente com o NPS emitido por cada uma.

 

Tabela 01 Principais equipamentos emissores de ruído

 

Equipamenteo

NPS em dB(A)*

 

(Em marcha lenta)

NPS em dB(A)*

 

(Em operação)

Escavadeira

83

93

Máquina de solda

89

99

Lixadeira

86

101

Trator agricola

86

92

Compressor de ar

89

98

Equipamento de jatear

79

90

* Níveis de ruído emitidos por equipamento individualmente, medidos a uma distância de

um (1) metro do equipamento.

 

 

Os pontos escolhidos para as medições estavam sempre próximos aos equipamentos ruidosos, mais especificamente onde os trabalhadores realizavam suas atividades e circulavam com freqüência. As medições foram realizadas quando todos os equipamentos estavam ligados ao mesmo tempo, que é a situação mais constante e preocupante, do ponto de vista do ruído.

Os equipamentos utilizados neste trabalho para as medições de ruído foram o Medidor de Nível de Som, modelo 2250 , fabricante Bruel Kjaer e o Dosímetro, modelo DOS 500, fabricante Instrutherm. O uso do Dosímetro se deu por se tratar de um equipamento portátil, projetado para ser colocado no trabalhador, sendo que seu microfone pode ser colocado o mais próximo possível do ouvido do operador ou do trabalhador o qual está sendo alvo de avaliação (NHO 01) .

 

Na execução do trabalho de campo, realizado de julho a outubro de 2009, foram feitas diversas medições, com o intuito de se obter sinais que mais correspondessem ao ruído original, ou seja, ao ruído proveniente somente das atividades de soldagem ou jateamento. Qualquer sinal medido que durante o procedimento tivesse sido contaminado por ruído de fontes não constantes dos equipamentos rotineiros das equipes (como por exemplo: ruído de veículo estranho ou sirene de ambulância passando no local ou mesmo, sinal medido com vento forte soprando frontalmente no microfone ou voz alta demais também perto do microfone), foi descartado.

 

Então, dentre as muitas medições realizadas para verificação de situação de incômodo, foram escolhidas as oito (8) que mais refletiam com fidelidade o problema.  Destas oito (8) medições do ruído produzido nas operações de soldagem e jateamento, cinco (5) delas foram realizadas na operação de soldagem e tres (3) na operação de jateamento. O tempo de medição de cada uma foi variável.

 

Para medição de conforto acústico, todos os sinais foram tomados conforme a NBR10151  e a NBR10152 , que estabelecem que todas as medições para avaliação de conforto acústico devem ser realizadas durante cerca de pelo menos 5 minutos, sendo que os valores devem ser o resultado da média aritmética dos valores obtidos em pelo menos três posições distintas, no mínimo afastadas entre si cerca de 0,5 m.

 

Os resultados destas medições foram comparados com os valores apresentados pela NBR 10151, que determina os valores máximos que podem ser emitidos por estabelecimentos de modo a não causar incomodo à comunidade, e também comparados com os valores estabelecidos pela NBR 10152, que estabelece os níveis de ruído num recinto de edificações, além da NR-17 , destinada à atividades em ambientes laborais que requerem solicitação intelectual.

 

Para tratar o problema da Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), em atendimento aos critérios adotados pela NR-15 , foram realizados procedimentos de medição do NPS, no qual o trabalhador fica exposto durante toda sua jornada de trabalho, ou seja, em torno de 8 horas, medidos em Leq(A), que corresponde a média das medições do ruído durante esta jornada.

 

Tanto a equipe de soldagem quanto a de jateamento utilizavam protetor auricular do tipo plug, marca Pomp, com certificado de aprovação (CA) nº 5748 e, com atenuação nominal de 20 dB(A).

 

Por último, foi aplicado, nos trabalhadores, um questionário com perguntas específicas sobre quais seriam os principais problemas ou incômodos que o ruído por eles sentido provocava, com o objetivo de coletar dados para uma posterior análise sobre a situação da perturbação, do incômodo, do desconforto e dos possíveis problemas auditivos causados pelo ruído em seu  ambiente laboral.

 

Apenas os trabalhadores que ficavam expostos diretamente aos efeitos mais intensos dos níveis de pressão sonora foram slndados e, assim, na equipe de soldagem foram vinte dois (22) e na equipe da jateamento vinte sete (27) funcionários, equivalente à cerca de 84% de cada equipe diretamente exposta ao ruído.

 

RESULTADOS

 

Para avaliação de conforto acústico, a Tabela 03 apresenta, em dB(A), os resultados dos níveis de pressão sonora máximo (NPS max) medidos, dos níveis equivalentes de pressão sonora Leq(A) medidos, dos valores prescritos pelas NBR 10151, NBR 10152 e NR-17 e as diferenças entre estes valores e os de Leq(A) mdidos.

 

Na comparação com a NBR 10151, no caso tomando como exemplo uma área predominantemente industrial, por ser o nível de critério mais elevado, a diferença situa-se entre 16,2 dB(A) (a menor) a 41,0 dB(A) (a maior). É uma diferença muito grande, indicando que o nível de ruído à que os trabalhadores das equipes estão sujeitos é prejudicial à saúde. Claro que todos usam os protetores auditivos mas, sua saúde laboral pode ficar comprometida com o passar do tempo

 

E em relação à NBR 10152, tomando-se como exemplo uma loja de eletrodoméstico que estabelece o maior valor 65,0 dB(A)  e com a NR-17, vê-se que a diferença entre estes valores varia de 21,2 dB(A) (a menor) a 46,0 dB(A) (a maior). Pode-se ver que as diferenças são ainda maiores, indicando também que, para efeito de conforto acústico, as condições de trabalho estão totalmente comprometidas.

 

Tabela 03 Resultados das  medições, valores máximos prescritos pelas normas e diferenças

 

Atividade

NPS max  

dB(A)

 

Leq(A)

 

dB(A)

 

NBR 10151

 

dB(A)

 

NBR

10152          

             NR-17

dB(A)

Diferença

 (NBR10151)

dB(A)

Diferença

(NBR10152) /  NR-17)

dB(A)

Soldagem

111,0

105,5

70,0

65,0

35,5

40,5

Soldagem

109,0

103,7

70,0

65,0

33,7

38,7

Soldagem

121,8

106,6

70,0

65,0

36,6

41,6

Soldagem

109,2

108,0

70,0

65,0

16,2

21,2

Soldagem

111,6

111,0

70,0

65,0

41,0

46,0

Jateamento

99,4

91,7

70,0

65,0

21,7

26,7

Jateamento

105,4

99,9

70,0

65,0

29,9

34,9

Jateamento

121,5

98,9

70,0

65,0

28,8

33,8

 

 

Através da Figura 01, pode-se ver que os níveis medidos estão todos fora dos prescritos pelas normas comparadas, ou seja, todos os níveis medidos são bem maiores que os prescritos nas normas de conforto acústico, NBR 10151, NBR 10152 e NR-17.

 

Figura 01Representação gráfica da Tabela 03

No tratamento estatístico dos dados provenientes das oito (08) medições, para tratar a questão do conforto acústico, o valor da moda é 101,5 dB(A), sendo este portanto, o valor mais freqüente de todos os obtidos nas medições, ou seja cerca de 32,0 dB(A) a mais que o valor de 70,0 dB(A) (nível critério) da NBR 10151 e cerca de 37,0 dB(A) a mais que o valor máximo (65,0 dB(A)) estabelecido pela NBR 10152 / NR 17. O valor obtido para a mediana foi de 104,7 dB(A), indicando que 50% dos valores dos níveis de ruídos medidos estão acima deste valor, cerca de 35,0 dB(A) a mais que o nível critério estabelecido na NBR 10151 e cerca de 40,0 dB(A) a mais que o nível de critério estabelecido na NBR 10152. Em relação aos valores dos quartis, foi observado que 50% dos valores de ruído emitidos nas atividades, ou seja metade dos valores medidos, estão em torno de 95,0  e 105,0 dB(A) e, em relação aos percentis, verificou-se que, para 70,0 dB(A), o percentil maior é P11, indicando que 89% dos níveis de ruído estão acima do nível critério da NBR 10151. Agora, comparando o valor de 65,0 dB(A) o maior percentil é o P1, indicando que 100% dos valores estão acima do valor estabelecido pela NBR 10152 / NR 17.

 

Tomando-se os dados de todas a medições e realizando-se uma distribuição de frequência, verificou-se que esta aproxima-se de uma distribuição normal, como se pode ver na Figura 02.

 

Figura 02 Histograma da distribuição de todos os dados das medições

Sabe-se que ainda não existe uma norma que estabeleça valores para conforto acústico nos ambientes de trabalho que não exijam solicitação intelectual. O que existe é a NR-15 que estabelece valores para níveis de pressão sonora que podem causar PAIR em ambientes laborais em função do tempo de exposição.

 

A Tabela 04 apresenta os valores de Leq(A) obtidos em cinco (5) medições de ruído para PAIR, além do tempo de cada medição, o critério da NR-015 e a Dose equivalente para oito(8) horas de trabalho.

 

     Tabela 04 Comparação entre os valores de Leq(A) medidos e prescritos pela NR-15

Atividade

Tempo de Medição

(horas)

Leq(A)

NR-15

dB(A)

 

Dose para 8 horas

%

Soldagem

11:22

91,2

85,0

238,2

Soldagem

11:30

95,5

85,0

433,0

Jateamento

08:07

87,3

85,0

140,0

Soldagem

08:05

86,5

85,0

135,0

Jateamento

08:33

87,7

85,0

145,7

 

 

Analisando a Figura 03, que é a representação gráfica da Tabela 04, para uma comparação com os valores da NR-15, pode-se verificar que, para todas as medições, o valor de Leq(A), está sempre acima do nível critério estabelecido pela NR-15, especialmente para a medição 2 (atividade de soldagem) em que o valor está cerca de 10,0 dB(A) acima do valor limite da NR-15, de forma que se não houver utilização de protetor auditivo por parte dos funcionários que atuam em todas estas atividades, certamente ocorrerá perda auditiva nos mesmos no decorrer do tempo. Com os valores obtidos e com as medidas adotadas (utilização de equipamento de proteção individual), pela legislação os funcionarios não deverão ter perda auditiva relativa ao ruido emitido.

 

Figura 03 Representação gráfica da Tabela 04

No tratamento estatístico dos dados das cinco (5) medições realizadas para tratar a questão da PAIR, o valor da moda obtido foi de 67,9 db(A), que no caso também é o menor valor de NPS obtido. Isto ocorreu porque o dosímetro utilizado estabelece este como o mínimo valor medido e, mesmo que o NPS emitido pelas máquinas e equipamentos das atividades seja menor, o dosímetro o caracteriza como este valor. Mesmo tomando-se os dados de todas as cinco medições juntas, o valor da moda não se altera e, assim pode-se afirmar que a maior quantidade de NPS medido é igual ou abaixo de 67,9 dB(A), valor no mínimo 17,0 dB(A) menor que o nível de critério da NR-15.

 

O valor da mediana foi de 76,3 dB(A), indicando que 50% dos valores dos níveis de ruídos medidos estão acima deste valor, cerca de 9,0 dB(A) a menos que o nível critério estabelecido na NR-15 e, em relação aos quartis, foi observado que 50% dos valores de ruído emitidos nas atividades, ou seja metade dos valores medidos, estão em torno de 70,0 a 85,0 dB(A). No caso do percentil, comparando com o 85 dB(A), verifica-se que para este valor, o percentil maior é P82, indicando que 18% dos níveis de ruído estão acima deste nível critério. 

 

Finalmente, tomou-se os dados de uma das cinco (5) medições e, realizando-se uma distribuição de frequência, a sua representação gráfica confirma a afirmação que, os dados possuem uma grande aproximação com uma distribuição normal, como se esperava. Attravés da Figura 03, pode-se visualizar-se esta afirmação.

 

Figura 03 Histograma da distribuição de dados tomados para PAIR

 

Sobre o questionário aplicados aos trabalhadores, a Tabela 05 ilustra as perguntas e os percentuais das respostas dadas pelos trabalhadores.

 

Tabela 05 Respostas dos questionários com as perguntas e percentuais das respostas

 

 

Sentem incomodo causado pelo ruído

 

Tiveram treinamento de PCA

 

Não sabem como solucionar o problema

 

Recebem protetor auricular

 

Não gostam de usar o protetor

 

Sentem sensação auditiva após o trabalho

Tem problemas de convivência no lar devido ao ruído

Pergunta

1

2

3

4

5

6

7

Soldagem

95,5 %

90,9 %

86,4%

100,0%

100,0%

36,4%

4,5%

Jateamento

100,0 %

85,2 %

66,6%

100,0%

88,8%

11,1%

3,7%

 

Assim, pode-se afirmar em relação às perguntas, que:

 

1- Os trabalhadores são incomodados pelo ruído e, os índices de insatisfação demonstram que este problema deve ser tratado ou pelo menos ser mitigado.

 

2- Levando-se em consideração que o PCA tem, dentre outras, a finalidade de orientar quanto ao uso correto dos EPI e mostrar os efeitos do ruído no organismo humano, o resultado acima mostra que os funcionários devem usar corretamente os equipamentos de proteção auditiva e tem consciência da sua importância.

 

3- Os trabalhadores da equipe de jateamento possuem um conhecimento técnico melhor dos equipamentos/máquinas de sua área ou tem maior preocupação em solucionar o problema de ruído existente na sua atividade do que os funcionários da equipe de soldagem.

 

4- Como todos os funcionários recebem equipamento de proteção individual e recebem treinamento quanto ao seu uso conforme (item 2), conclui-se que os trabalhadores sabem se proteger para não terem problemas auditivos devido a estas atividades a curto e a longo prazo.

 

5- Os trabalhadores sabem que o protetor auricular é necessário mas que seu uso causa   desconforto e incômodo.

 

6- Na equipe de soldagem, a cada três trabalhadores um (1) sente algum efeito negativo do ruído temporariamente após a jornada de trabalho. Isto mostra mais um tipo de problema gerado na execução da tarefa. Na equipe de jateamento, o número de funcionários que sente efeito negativo devido o ruído temporariamente após a jornada de trabalho é inferior ao da equipe de soldagem. Isto pode realmente ter certo sentido porque nas medições foi constatado que o ruído gerado na atividade de soldagem é realmente superior ao nível de ruído gerado na atividade de jateamento.

 

7- Um pequeno número de trabalhadores afirma ter problemas de convivência no lar com respeito a perda auditiva. Este fato já era esperado tendo em vista a conclusão do item 4, ou seja a atividade a principio, não tem demonstrado que os trabalhadores têm perdas auditivas devido a exposição aos ruídos. Este pequeno número pode ser causado por algum outro tipo de problema

 

DISCUSSÃO

 

De acordo com as medições, pode ser verificado que os níveis de ruído são bastante elevados chegando a valores de pico de 121 dB(A), na atividade de soldagem, com média em torno de 107 dB(A). Já na atividade de jateamento, o maior valor medido foi de 121,5 dB(A), com média em torno de 97 dB(A). Vale ressaltar, mais uma vez, que estes valores não são os valores médios dos níveis de pressão sonora durante toda a jornada diária do trabalhador, de forma que estes não se aplicam para questão de perda auditiva induzida por ruído e sim foram os valores médios apenas durante certo intervalo de tempo da jornada de trabalho, ou seja, somente naqueles momentos em que todos os equipamentos estavam ligados ao mesmo tempo.

 

Para efeito de desconforto, mesmo que as atividades não sejam para tarefas intelectuais, a avaliação das respostas do questionário mostrou que os trabalhadores sentem um incomodo causado tanto pelo ruído, que dificulta a comunicação verbal, como mencionado por Gerges (2000)  ao tratar do Nível de Interferência na Comunicação Verbal (NICV), que determina a qualidade na comunicação verbal e ainda pela necessidade de usar os protetores auriculares que também gera desconforto e insatisfação por ser obrigatório o seu uso. Isso já era esperado, pois a literatura estudada para este trabalho frisa muito este tipo de reclamação.

 

Na equipe de soldagem, os equipamentos que mais contribuem para a alta intensidade de ruído são as lixadeiras, com 101 dB(A), e as máquinas de solda, com 99 dB (A). Estas máquinas por sua vez podem ser enclausuradas o que não acontece com os tratores que as transportam e com as lixadeiras utilizadas para realizar retirada de excesso de material depositado pela solda na tubulação.

 

Na equipe de jateamento o compressor de ar a diesel é a máquina que produz maior nível de ruído, com 98 dB(A) e, como é afirmado por Gerges (2000)  e Nepomuceno (1976) , que a eficácia do enclausuramento numa máquina ruidosa é grande, portanto tanto esta como também outras máquinas utilizadas pelas equipes deveriam ser objeto de estudo para implantação de enclausuramento para diminuição do ruído irradiado.

 

Um ponto positivo é que estas atividades são realizadas em área aberta, o que permite a dispersão do som pois, segundo Gerges (2000) , o NPS cai 6 dB a cada dobro da distância. Há também o fato da obra ser itinerante onde os serviços são realizados quase sempre em áreas rurais, permitindo que o trabalhador, a cada dia, trabalhe em local diferente evitando a monotonia no ambiente laboral e conseqüentemente o estresse.

 

Um fator que pode aumentar o desconforto é que a incidência direta dos raios solares nos trabalhadores, apesar de utilizarem uniformes de mangas longas, gera um aquecimento maior do organismo aumentando a sudorese principalmente nos locais de contato do protetor auricular com o rosto do funcionário.

 

Analisando agora sob o ponto de vista da legislação, a NBR 10152 estabelece um limite máximo de 65 dB(A) para conforto de recintos internos de edificações (Tabela 4.1), a NR-17 estabelece o mesmo valor de 65 dB(A) para atividades que exigem atividade intelectual e a NBR 10151 estabelece um limite máximo de 70 dB(A) para conforto de comunidades de áreas industriais (Tabela 4.2). Tendo em vista que os valores determinados em campo foram em torno de 107 dB(A), pode-se constatar que para a questão de conforto, o ruído emitido por estas atividades está muito acima dos padrões exigidos em lei, mesmo que a atividade não seja para fins de concentração ou descanso.

 

Finalmente, analisando a questão da PAIR, como a NR-15 estabelece para operações insalubres o valor de 85 dB(A) para uma jornada de trabalho de 08 (oito) horas, o ruído de ambas as atividades mostrou-se dentro dos padrões da legislação, conforme foi verificado pelas medições a análises mas, mesmo assim, não se pode desprezar as conclusões de Riffel (2001) , Neto (2007)  e Dias et al. (2006)  em relação às suas pesquisas sobre os protetores auditivos, a falta de eficácia real na atenuação do ruído e os problemas causados pela perda auditiva.

 

CONCLUSÃO

 

Este estudo analisou o incomodo sofrido por funcionários da empresa responsável pela construção e instalação do gasoduto que liga a UTGC (Unidade de Tratamento de Gás Cacimbas) do município de Linhares ao TABR (Terminal Aquaviário Barra do Riacho) em Aracruz, ES, em relação ao nível de ruído  que os mesmos estão expostos.

 

Foram selecionados apenas trabalhadores das atividades que geram mais ruído, como os das atividades de soldagem e de jateamento. A legislação brasileira, especificamente a Lei nº 6.514 de 22 de dezembro de 1977, Portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978 NR17 item 17.5.2 e item 17.5.2.1, relata que os níveis de ruído não devem ultrapassar 65 db(A), assim como, a NBR 10152 e NBR 10151 que os níveis de ruído não devem ultrapassar 65 dB(A) e 70 dB(A), respectivamente, para atividades que exigem solicitação intelectual e conforto.

 

O estudo mostrou que os níveis de ruído ultrapassam em muito os valores estabelecidos nas normas, porém as atividades do estudo deste trabalho não se enquadram nas questões de conforto e solicitação intelectual. Contudo, foi detectado que os trabalhadores se mostram incomodados e, conforme afirma Petian (2008) , tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) reconhecem que o ruído, além dos problemas auditivos, pode afetar o trabalho, o descanso, o sono, a comunicação, causar reações psicológicas, alterações fisiológicas e até patológicas e ainda, na mesma linha de raciocínio, Gerges (2000), afirma que a exposição prolongada afeta o indivíduo sob vários aspectos, além da perda auditiva, causando distúrbios como: aumento da pressão sanguínea, aceleração da pulsação e estreitamento dos vasos sanguíneos, sobrecarga do coração, provocando alteração na secreção de hormônios e tensões musculares, entre outros. Analisando deste ponto de vista fica evidente que são necessárias medidas paliativas ou mitigadoras para tratar o problema.

 

Entre outras, algumas sugestões de medidas alternativas para redução de ruído podem ser implementadas:

 

1) A utilização de equipamentos de solda que emitam menos ruído;

2) A utilização de equipamentos mais novos, tanto na atividade de soldagem como na de jateamento, tais como tratores e lixadeiras que emitam menos ruído, etc;

3) A utilização de anteparos com painéis absorvedores de ruído nas laterais das carrocerias que transportam os equipamentos de solda e de ar mandado para o jateamento;

4) Cabos de solda , cabo elétrico, mangueiras, etc, todos com maior comprimento, para que os equipamentos possam ficar o mais longe possível da equipe de trabalho.

5) O enclausuramento das máquinas e equipamentos mais ruidosos, tais como o motor diesel, o compressor, etc.

6) Mesmo com o alto índice de conscientização do uso do protetor auditivo, devem ser realizadas campanhas permanentes de educação ambiental, especificamente sobre os problemas que o ruído excessivo causado no ser humano.

 

REFERÊNCIAS

 

ANP- AGENCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL e BIOCOMBUSTÍVEIS, Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível, 2009. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/. Acesso em: 20 de setembro de 2009.

 

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO  MTE. NHO 01  Norma de Higiene Ocupacional  Procedimento Técnico  Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído.FUNDACENTRO, São Paulo: 2001.

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10.151:2000. Acústica  Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade  Procedimento. ABNT, Rio de Janeiro: 2000.

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10.152:1987. Acústica  Avaliação do Ruído Ambiente em Recintos de Edificação Visando o Conforto dos Usuários  Procedimento. ABNT, Rio de Janeiro: 1987.

 

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO  MTE. NR-17  Ergonomia. [on-line] Disponível em: http://www.mtb.gov.br/. Acesso em: 18 de julho de 2009.

 

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO  MTE. NR-15  Atividades de Operações Insalubres. [on-line] Disponível em: http://www.mtb.gov.br/. Acesso em: 15 de setembro de 2009.

 

GERGES, S. N. Y. Ruído: Fundamentos e Controle. Florianópolis: 2000.

 

NEPOMUCENO, L. X. Acústica. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1976.

 

RIFFEL, G.; GERGES, S. N. Y. Desenvolvimento de Um Sistema para Medição e Avaliação da Atenuação dos Protetores Auditivos: Estudo de Caso Comparativo em Laboratório e em Campo Tese (Doutorado), Universidade Federal de Santa Catarina  Florianópolis/SC, 2001.

 

NETO, N. A. Verificação dos Níveis de Atenuação de Protetores Auriculares do tipo Concha, utilizando Microfone Sonda. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulistana, Bauru, 2007.

 

DIAS A. et al. Association between Noise-Induced Hearing Loss and Tinnitus, Cadernos de Saúde Pública, vol.22 no.1, Rio de Janeiro, 2006 .

 

PETIAN, A. Incômodo em Relação ao Ruído Urbano entre Trabalhadores de Estabelecimentos Comerciais no Município de São Paulo.  Tese (Doutorado)  Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

 

BRUEL & KJAER. Sound and Vibration Master Catalogue. 2008.


Autor: Rogerio Vieira


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